Quando esta crónica vir a luz do dia
serão vésperas do momento de reflexão que antecederá as eleições para a
Presidência da República. Espero sinceramente que os portugueses não se demitam
das suas responsabilidades e compareçam em força no dia das urnas, debitando o
seu precioso voto nas mãos do candidato que melhor preencher as suas
aspirações.
É
que a nossa democracia não pode contar com mais ninguém que nós próprios, e se
é verdade que através do voto elegemos os nossos representantes, é também
verdade que não o fazemos para que eles venham a votar por nós. Não devemos
aceitar ter passado cinquenta anos a exigir eleições livres para que agora nos
venhamos a dar ao luxo de as menosprezar, Salazar daria certamente duas voltas
na cova, morreria mesmo de riso se não estivesse já morto, ao constatar que
afinal ele é que tinha razão e conhecia os portugueses melhor que qualquer um.
Abominemos
portanto a abstenção, utilizemos o voto, que é a arma do povo, castiguemos com
mão pesada todo o político que nos mereça indiferença, mas por amor de Deus não
brinquemos ás democracias ! A menos que a nossa revolta seja tão grande e a
indignação tão profunda que só pela força nos possamos ressarcir da
desconsideração sofrida. Mas aí atenção, teremos que trilhar caminhos mais
duros, porventura mais trabalhosos que o simples acto de votar, caminhos que
nos poderão tragar, caminhos de revolta, de revolução, e é por demais sabido
que os primeiros que uma revolução devora serão sempre os seus filhos mais
dilectos.
Mas
se não é esse o caminho escolhido, se a ETA ou o IRA, (para não citar outras
fontes de luta e sublevação violenta) não seduzem, então leitora ou leitor
aproveite, dê um passeio com o seu marido ou esposa, leve as crianças ao parque
ou ao jardim, beba uma bica, converse com os amigos, e de caminho dê um
saltinho ao local habitual e vote. Lá encontrará outras amigas e amigos com
quem poderá carpir as mágoas desta tão pesarosa democracia. No entretanto terá
cumprido o seu dever de eleitora, ou eleitor, terá colocado um ponto final nas
suas apreensões, por agora o seu dever cívico está cumprido, não esgotado, tudo
tem um fim, por esta vez a tarefa estará terminada. E bem vistas as coisas não
custou nada e até foi agradável não foi ?
Na
realidade tudo tem um fim, também irá deixar de contar com estas minhas
crónicas que semana a semana tanto prazer me têm dado. Como bastas vezes
afirmei, elas são, foram, o meu modo de estar consigo, de privar consigo, de
superarmos o tempo que não temos para que possamos, pudéssemos desfrutar de
alguns momentos de conversa, de intimidade, que em especial a mim tanta
satisfação têm dado. Outros compromissos me obrigam a esta atitude, ponderada,
reflectida, difícil, mas inadiável. A todas as leitoras e leitores deixo a
minha consideração e o meu agradecimento pelo carinho e compreensão que sempre
me demonstraram, creiam que não vos esquecerei.
A
este semanário, que de forma tão desinteressada me abriu as suas portas muito
tenho a agradecer, da disponibilidade à aceitação incondicional dos meus
escritos, que nunca foram objecto da mais pequena observação, critica ou
censura, até a alguma notoriedade e reconhecimento público que o IMENSO SUL me
permitiu, tudo isso lhe devo, e respeitosamente agradeço.
Nunca
esquecerei terem sido aqui as minhas iniciação e exposição pública de quanto de
íntimo me ía na alma, uma aventura que se transformou numa necessidade e mais
tarde num vício do qual tiro o maior prazer, o prazer de poder estar com todos
vós. A este semanário, a todos os seus elementos e colaboradores, deixo o meu
muito obrigado e os votos das maiores felicidades. O IMENSO SUL será para mim
eternamente um ponto de referência, que, como habitualmente, não deixarei de
acompanhar como leitora todas as sextas-feiras.
A
todos vós um grande xi coração.
* By Luísa Baião, escrito domingo,
7 de Janeiro de 2001, pelas 22:22h e a última publicação no
semanário IMENSO SUL, tida lugar a 12 desse mês.