E vai contente ! O futuro é contigo !
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
109 - VARANDIL ... JANELA DE MONSARAZ ...
E vai contente ! O futuro é contigo !
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
108 - QUE ESPERAR DE TUDO ISTO ? NADA ! ....
Tenho
uma dívida de gratidão para com os meus amigos mais chegados. Não imagino por
que carga de água levam-me a sério e assolam-me pontualmente com questões que
só me honram. Por me serem colocadas mor das vezes num ambiente de conspiração, de
secretismo, como se eu fosse o detentor da verdade.
Envaidecem-me
e enobrecem-me. Como não gostar deles sabendo vós quanto gosto de ser
considerado, que sou um homem de paz e que desavenças não são comigo, salvo um
diferendo que se arrasta há anos no Registo Civil, já que teimam não
autorizar-me a mudança de nome por motivos nada justificados, sabido ser que
nessa cena toda a razão me assiste.
A
questão é simples e explica-se em poucas palavras, eu quero desistir do nome de
Humberto e passar a chamar-me Narciso, nome mais bonito, sonante e conforme o
meu modo de ser, mas aqueles burocratas não aceitam a mudança. Mais fácil é,
segundo me parece, mudar de sexo. Quisesse eu ser Miquelina e tudo me seria
facilitado por aquela gentalha.
Desta vez a questão que os rapazolas e amigos me colocaram foi crucial:
- “Que nos espera enquanto portugueses”
?
Nem
tive que pensar, resposta fácil:
-
Nada.
-
NADA? Exclamaram incrédulos em uníssono.
-
Nada, repeti e confirmei.
-
Mais uma bejeca César, copo gelado, tenho os neurónios por excitar, os gaiatos
hoje nem dão para começar.
-
Não nos lixes Baião, tu tens sempre uma teoria qualquer sobre tudo que seja, e agora vens-nos com essa ?
- Mas os meninos pensam que sou bruxo ou quê ? Que as invento ? Que sou o oráculo de Delfos ? Nem sequer tenho idade p’ra vosso pai mas saibam que se fosse haviam de passar mais vinte anos na escola ! No mínimo ! E nem sei se vinte anos chegariam, do modo que as coisas estão, calhando nem valeria a pena.
- E
tu Brites? Que é daquela tua mulatinha ? Vamos começar por ela ?
-
Vai-te lixar devasso do camandro, pensas ke tou pa te aturar ? Porque não
deixas a moça em paz ? - Nem aqui está !
-
Calma rapaz ! Só falei nela porque tudo começou mais ou menos aí, em África, há
bué de anos. Sabes qual é o mal menino ? É que vocês levantam o pelo com
facilidade mas só têm olhos para a FHM, a Play Boy, a Carla Matadinho, as mamas
da Elsa Raposo e merdas dessas, e nem lêem nem quem, nem o que deviam, e depois
a mim é que colocam de serviço para duas ou três explicações breves né ?
Pagam-me ?
-
César, aponta todas as que beber na conta destes moleques e eu falo a noite
toda, de contrário nada feito.
- E
tu mete a mulatinha no cu porque nem estava sequer pensando nela, nem preciso
ouviste ? Mete isso na cabecinha e não me dês lições que dispenso e nem
preciso, e se tiveres que me dar alguma coisa, pois que seja essa mulatinha linda !
kkkkkkkkkkkkkkkk !!!!!!!!!!!!!!!!!
-
Fogo que ainda se arranja aqui uma guerra !
-
Merda ! Porra ! Então não é ela que vem entrando pá ?
Fogo
! E quem ia adivinhar ?
-
Acabou a tourada caraças, caluda ! Respeitem a senhora tá ?
-
Voltemos ao assunto, que aliás é fácil de rematar, vocês do secundário não
recordam Orlando Ribeiro, Fernando Pessoa, António Sérgio, Agostinho da Silva,
ou tipos mais recentes, Eduardo Lourenço e o seu “Labirinto da Saudade”, o
excelso jornalista escritor Fernando Dacosta, que entre muitos outros publicou
“O Viúvo”, ou o nosso mais recente e ilustre filósofo, José Gil, um moço um
nico mais velho que nós ?
- É
que eu sou um curioso do catano e não só pela mulatinha do Brites…
-
psssshiu ! Falem baixo porra ! A gaja inda ouve e vem-me aqui lixar o juízo,
sabem bem como ela é, um qualquer complexo, ou o caraças, qualquer merda pensa
logo que a estão a desvirtuar.
- Se
fosse a desvirginar ainda admitiria a gritaria … mas onde é que isso já vai….
Caluda.
-
Olhem que o Brites ouve porra ! Ou ela, o que é pior !
-
Bem, agora só lembro os gajos que vos referi, haverá mais, outros, mas todos
eles são unânimes, duma forma ou de outra, a explicarem as razões da nossa
razão como povo, ou melhor, das nossas características, o que quer dizer que
explicam o porquê da nossa falta de razão, de racionalidade, da nossa
incapacidade.
Todos
sabemos ter Portugal dado mundos ao mundo, a gesta das descobertas e das
especiarias, os entrepostos de Malabar, Mina, Ormuz, Benin, Arzila, Goa, Damão
e Diu foram apenas momentos e pontos da nossa grandeza e riqueza. Um tempinho
pa emborcar esta né César ?
Como
o foram mais tarde, Ambriz, Cabinda, Molembo, Angola, Moçambique, Cabo Verde e
toda a costa ocidental de África no tempo do comércio triangular com o Brasil e
mais tarde com a América do Norte, continente que povoámos de escravos cuja
venda nos enriqueceu.
Não
estou a inventar, está nos livros, mas saberão vocês que o reino que Portugal
era então, não contava mais que três milhões de almas ?
E
como foi que tão poucos fizeram tanto ?
Simples.
Na generalidade foram embarcados nas naus os pedintes, alcoólicos, vagabundos,
ladrões, presos, condenados e toda a escória possível de imaginar que, livres e
com possibilidade de enriquecimento rápido, se tornaram tão ferozes que tomaram
praças sem um único tiro, já que nem perdiam tempo a tirar os anéis e pulseiras
ou fios preciosos aos vencidos, a quem de imediato cortavam um ou mais dedos,
um ou os dois pulsos, o pescoço, levando tão longe nessa época o horror aos
portugueses como hoje o manifestamos quanto à responsabilidade, à
solidariedade, à produtividade, à seriedade.
Aventureiros
por natureza, com o reino cheio de escravos, que chegaram a constituir grande
parte da população, em algumas zonas um terço, noutras por vezes mais, o país
caiu no laxismo, os costumes no abastardamento, na licenciosidade, na falta de
disciplina e de valores morais, na ociosidade, enfim, aí começaram os nossos
males, os quais se estenderam como devem aperceber-se, até aos nossos dias.
Isto
é ciência certa meus moleques, pois a escravatura só foi abolida em finais do
séc. XIX, pelo que o que nos espera é nem mais nem menos o que a história já
nos revelou sobre civilizações clássicas assentes no esclavagismo, os egípcios,
gregos, os romanos e a queda desse império a que pertencemos, e se julgava
imortal.
Creiam-me,
os homens de valor, como os Castros, os Almeidas e os Albuquerques por lá
ficaram, pela estranja, por cá o reino ficou povoado de ociosos, dos quais
descendemos e cujo nome honramos, pelo que, caros amigos, não querendo ser
escravos mas esperando fazer dos outros tal ou que como tal se comportem,
resta-nos orgulhosamente fenecer-mos ás nossas próprias mãos.
Sendo
uma opinião muito minha, baseia-se contudo em factos verídicos do nosso passado
próximo.
Somos
oportunistas por natureza, corruptos por vocação, malandros por opção,
tachistas devido a um forte instinto de compadrio e sobrevivência, (noutros
povos é a coesão social a garantir este aspecto das suas vidas), insensíveis
por ambição, calculistas devido a ausência de escrúpulos, más-línguas por puro
prazer e maldade, velhacos, biltres, calaceiros, daí a minha resposta quando
colocada a questão;
-
Que nos espera ?
–
Nada - Pois nem eu acredito que Deus seja tão distraído que nos assegure o
futuro sem que tenhamos que, como todos os outros povos, pagar as favas pelo
pecado que O levou a expulsar-nos do Paraíso.
Vá,
agora contestem-me se tiverem razões.
César,
mais uma e bem fresquinha que a garganta me secou amigo…
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
107 - UM POLICIA COM OLHO DE LINCE...
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
106 - AMAR, SONHAR......................
Que algo haveria de acontecer sabia-o de antemão, com tanta coisa a passar-se nos trezentos e sessenta graus em seu redor e mesmo ao pé da porta, era uma questão de espera.
O que o traía era a constante tensão a que estava submetido, não seria contudo o constante afinar do mecanismo da sua Nikon que lhe devolveria a paz e o sossego por que ambicionava e havia muito não o deixava dormir um momento descansado.
As saudades de Pilar também mexiam com o seu íntimo. Mais que da família era dela que constantemente se lembrava, a tal ponto que, certas necessidades psico-fisiológicas regular e atempadamente satisfeitas quando na Galiza, o traziam agora num estado de espírito que lhe toldava a concentração.
Não havia dúvidas que um homem se completa numa mulher, talvez por isso milhões de homens em Bagdade, mantivessem apesar da guerra, uma calma que chegava a invejar. Mais a mais, e se era como se dizia, teriam bem guardadas em casa duas, três ou quatro para cada um, o que só podia redundar numa calma exagerada, mais a atirar para o cansaço, pois estas coisas de alcova também têm os seus custos energéticos.
Com o estômago já habituado à frugalidade própria do lugar, José deixou-se afundar lentamente no sofá do quarto, mais para dedicar a Pilar alguns momentos oníricos de que andava precisado, que propriamente para descansar, embora desse modo almejasse juntar o útil e necessário ao agradável. Não dormia, como pensaria qualquer um que o visse assim descontraído e de pálpebras fechadas.
Sonhava, sonhava acordado, sonhava com o seu amor e os descampados por onde comummente se passeavam, e tão nítida lhe parecia a lembrança que julgou sentir a humidade do chão nos cotovelos e joelhos, tal qual como quando pelo mesmo se rebolava, arrastando Pilar no abraço estreito com que aconchegava a si o seu peito, numa esperança incontida de fusão a que por norma punham cobro com uma prolongada comunhão.
Tão concentrado estava na ilusão, que nem o barulho dos colegas logrou desviar noutro sentido o seu pensamento. Ademais, a confusão reinante, acabou por se confundir até com os gritos das crianças numa escola que, quando na volta do prado, costumavam ver e ouvir brincando no adro.
Ouviram-se gritos e labéus, as objectivas destroçadas, janelas estilhaçadas, por todo o quarto uma sinistra pintura de sangue, apercebe-se de vários feridos e, jazendo no chão, inanimado junto de si, Taras Protsyuk da “Reuters”.
Todo o hotel em alvoroço, gente entrando e saindo gritando, só então se deu conta que também estava sangrando. Quis levantar-se mas não, a perna pendia-lhe, presa ainda por um tendão, fora isso e não seria sua.
Esvaía-se-lhe a vida e a alegria, alguém o socorria sem lograr estancar o sangue que corria, - um garrote depressa !, qualquer um gritou, - não que isso importe, - outro rematou, tal era a ferida de que padecia.
Vieram amigos acudir, cada um deles, sem esperança, acabando por fugir daquele inferno, cedendo lugar a bombeiros e enfermeiros. Uma maca, uma ambulância, uma corrida. Um corpo chegou quase sem vida ao hospital.
Ali ficou, ali se finavam vida e sonhos enquanto lembrava os filhos, pequenos, pois por um daqueles azares medonhos em que ninguém quer crer, no meio de uma contenda e na cidade das mil e uma noites, os hospitais nada têm que a qualquer um possa valer.
O que matou José Couso, ali, naquele idade, foi tão só o facto de não estar naquele momento numa qualquer outra cidade, onde por mais modestas que fossem as urgências, por certo teriam ao dispor as competências banais e necessárias para acudir a casos tais.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
105 - DEDICA-TE À POESIA…................................. *
Toma mas é juízo pá, e porque ela estava logo ali do outro lado do monitor, e porque o perfil a dizia online, e tu sem saberes o correio electrónico dela, e tu agarrado ao monitor, beijando o monitor…
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
104 - A LIBERDADE AO VIVO.........
Ficámos no Hotel Faraó, no centro da velha cidade, mesmo no centro da baixa, cosmopolita como poucas cidades do médio oriente, simultaneamente moderna na parte alta, mesmo muito moderna.
O hotel era barato mas acolhedor e muito asseado, ali voltei a encontrar muitos outros companheiros de Bagdade e também Haniko, ainda zangada com o mundo.
Matámos saudades enquanto embalámos e preparámos cuidadosamente, para uma viagem de quase dez mil quilómetros, um presépio artesanal iraquiano que eu trazia, de propósito, para um homem bom cuja colecção de presépios, mais de mil, de todo o mundo, é uma das maravilhas da terra.
Ficámos somente os dias necessários à obtenção de visto para entrar na Síria, os bilhetes de avião tinham o regresso marcado a partir de Damasco, pelo que o tempo urgia, havia à nossa frente mais quinhentos quilómetros para fazer em contra relógio e com o dinheiro a escassear nos bolsos, então sim seria uma aventura não ficarmos pelo caminho.
Apanhar um avião de Ammã até Damasco estava fora de hipótese e fora do orçamento, um carro, um táxi seria muito mais barato mas muito mais lento, na fronteira seríamos por certo retidos mais tempo que o que fôramos pelos americanos quando entrámos na Jordânia, as probabilidades de perdermos o avião eram enormes, a minha esposa tinha entrado no Hospital do Espírito Santo, em Évora, para ser operada, e eu sem qualquer nave espacial à mão.
Valeu-nos Alá, que na pessoa do Counter Agent da Air France em Ammã, o Senhor Suhail Halaseh, Senhor com letra grande, nos salvou de todas essas vicissitudes, por gentileza sua e da companhia aérea, na qual procurarei viajar o resto dos meus dias. Depois de saber a nossa história, colocou-nos num avião direitinho a Paris, sem escalas nem pagamentos suplementares. A esse homem e à Air France, os meus mais sinceros e maiores agradecimentos, nunca o esquecerei.
Foram mais de doze horas de viajem até aterrar em Lisboa, onde me esperava o meu filho, a namorada e dezenas de órgãos de informação.
A todos cedi uns minutos, para me arrepender nos minutos seguintes. Ainda as palavras não me tinham saído da boca e já estavam a ser deturpadas. Fiquei para sempre com a sensação que os repórteres são capazes de cortar palavra por palavra o nosso discurso, voltar a colá-las e colocar-nos na boca coisas que nunca sonhámos dizer.
Por essa e por outras parecidas é que hoje tenho, da comunicação social, a imagem que tenho, por essa e por outras é que a minha luta só terminará quando este livro vir a luz do dia, estou curioso em saber como vão reescrevê-lo.
Quando parti, meti férias e vi-me forçado a uma adaptação repentina a uma situação que nunca imaginara, uma coisa é o que vemos na Tv, outra, completamente diferente, a realidade. A diferença entre o que nos deram a conhecer e a verdade foi, neste caso, abissal. Hoje, refeito dessa surpresa, confesso não me ter adaptado ainda e de novo a este mundo. Estou muito mais calmo, sou quase outro, não sou decerto o mesmo.
Apesar deste testemunho, por hábito, não comento nem partilho a minha experiência com ninguém, não vejo necessidade disso, as mentiras sobre a guerra, que começaram muito antes dela, e as contradições em que mais tarde ou mais cedo todos os mentirosos acabam por cair, farão esse trabalho por mim. Limito-me a contar o que vi e vivi, em vez de armas de destruição maciça, miséria, muita miséria e um tirano destronado por Bush, um vencedor cem vezes mais perigoso que o vencido.
Hoje os iraquianos resistem, chamam-lhes terroristas, não digo que não haja por lá terroristas, decerto muitos mais que haveria antes da guerra, mas haja a coragem de lhes chamar, pelo menos à maioria, patriotas ou nacionalistas.
È certo que parti para o Iraque com o espírito de um militar, disposto a aguentar contratempos e contrariedades, não foi uma vida de lorde mas não passei fome, nem sede, não senti necessidades prementes. Como a restante população, que por não ter dinheiro não tinha vícios, nem com que os alimentar se os tivesse, também eu não achei falta do que não esperava encontrar, em compensação sobrou-me muito com que não contava, e isso, folgo em repartir convosco.
5820
domingo, 15 de janeiro de 2012
103 - CEGOCENTRISMO.......................
Gosto de falar com o Paulo P. e com o
Baptista, além de revelarem maturidade, revelam também, coisa rara nos dias de
hoje, uma preocupação e visão do futuro não desfocada da realidade.
Numa dessas nossas conversas, e a propósito de uma peça que o primeiro viu no “VILLARET”, consagrada aos usos e costumes nacionais, em vez de nos ficarmos pela rama, derivámos mesmo para uma apreciação mais objectiva, racional e baseada em factos concretos, tal como aconteceu após o experimentalismo português, com o nascimento do racionalismo, do positivismo, dos enciclopedistas, da ciência em geral, assuntos que vínhamos discutindo há dias.
Sendo uma questão que por norma eu não tenderia a abordar aqui, já que pode ser considerada melindrosa por alguns leitores, mas sem querer deixar sem resposta os meus amigos, abordarei o assunto de forma isenta, e de cujas observações não me excluo.
Assente portanto a ideia que sou
pecador, mortal e falível quanto qualquer de vós, vamos ao que interessa.
Consultado o tira teimas de um Dicionário, logo concluímos, sem dúvida, metódica ou não, o seguinte: “ Egocentrismo; Ego; “eu”, o nosso eu “. Tendência para referir tudo a si mesmo, atitude normal para a infância, ausência de distinção entre realidade pessoal e realidade objectiva, ou seja ver as coisas como nos convém, não como são, e geralmente com uma análise muito infantil e nada profunda.
“ Etnocentrismo; atitude baseada na convicção de que o povo a que se pertence, com suas crenças, tradições e valores é um modelo a que tudo deve referir-se, Etno; povo, nação, raça “. Que é o mesmo que dizer que quem não for como nós é contra nós, e não é perfeito.
“ Narcisismo; amor excessivo e
doentio à própria pessoa, caso em que o objecto do amor é a personalidade
própria, homem enamorado de si próprio, vaidoso, adamado “. Aquele que se revê
na sua beleza ou nos seus méritos pessoais, méritos que normalmente nega ver
nos demais.
Ora estas qualidades, ou a falta delas, são infelizmente comuns a muitos de nós. Ainda muito recentemente a imprensa se referia a um inquérito efectuado junto de gestores estrangeiros em Portugal, incidindo sobre a sua visão do gestor português. O resultado, divulgado junto do público, mostrou-se arrasador para os nossos homens, cuja única nota positiva apareceu no item do “improviso”, o que não abona nada em seu favor nem conduz a proveito palpável ou duradouro.
Acontece que o nosso planeta é hoje um vasto reservatório de saber, e nos países mais evoluídos, a palavra-chave tem sido, na última década, a descoberta de competências, nos outros, e que se possam misturar com as nossas, empatia na acção.
As competências individuais, ou nucleares já não chegam, (nunca chegaram), hoje impõe-se o trabalho em parceria, a recombinação de competências, (as nossas e as dos outros) e de capacidades para atingir objectivos comuns e mais elevados.
A inovação, área em que somos pobres, só de mãos dadas se consegue, longe vão os tempos das descobertas e invenções isoladas, hoje tudo se complicou, no sentido de maior complexidade, e globalizou. A modernidade, a concorrência, a produtividade, não se compadecem com amadorismos ou improvisos.
Há que estabelecer estratégias de intervenção que forçosamente contem com as capacidades dos outros, aquilo a que chamamos trabalho de equipa. O português dá-se mal com o trabalho de equipa, e as razões podem ser variadas, tais como a fuga de cérebros ou a ausência deles no momento e no lugar, ou baseadas na justificada falta de confiança e capacidade nos que nos rodeiam por muitos que sejam.
Uma outra faceta que ao português tolhe a capacidade é o facto, muitas vezes assumido, de se ver ele como o único capaz, com razão, conhecedor dos factos, e sem o qual nada é possível fazer-se, ou fazer-se bem feito, são, no caso, tarefeiros e individualistas assumidos.
Temos por um lado o improvisador nato, e no extremo oposto o perfeccionista empedernido.
Entre um e outro encontraremos a razão, talvez não a virtude, nem sempre necessária, mas pelo menos o motivo para que em conjunto consigamos transpor obstáculos que pela sua natureza serão impossíveis de galgar sozinhos, esse sim, o nosso calcanhar de Aquiles.
Por estas e por outras, uma vezes nada fazemos, outras fazemos menos do que seria útil ou possível, outras ainda, fazemos alguma coisa que, posteriormente e para que lhe não percamos o controle, não deixamos crescer, ou seja, limitamos-lhe o crescimento.
Tal qual como os pais que, não reconhecendo capacidades aos filhos, os tratam sempre como se fossem crianças, incapacitando-os de se tornarem homens autónomos, confiantes, capazes e empreendedores.
Muitos acomodam-se a esta situação e viverão sempre à sombra sem que nada criem, outros sentir-se-ão limitados, desmotivados e logicamente acabarão por produzir tanto quanto os primeiros.
Entre uma atitude e outra, e apesar da aparente complexidade da coisa, entre um extremo e outro diria, venha o diabo e escolha ...