sábado, 7 de janeiro de 2012

102 - SE ME DEIXASSEM…. SE ME AMASSEM ...



Sempre gostei de flores, gostará ela também ? E de quais ? Certo é não sermos excepção à regra. Não embarco nos pensamentos negativos que me assaltam, estou a ficar irritado, não costumo descontrolar-me, nem lembro já quando isso aconteceu a última vez, mas esta Gi dá-me cabo da paciência, precisará meter férias para escrever uma resposta ? Mandar uma mensagem por pequena que seja ? Que razão me assiste ? Talvez nenhuma ! Não é ela maior e vacinada ? Não é ela independente, inteligente ? Não defende ela o seu mundo com unhas e dentes ?

Não posso irritar-me, descontrolar-me, e logo pela manhã, o excesso de adrenalina, o excesso de gente e de carros, o excesso de restaurantes, sempre excessivos na falta de modos e profissionalismo, que a minha actual falta de paciência faz com que abomine, que os ache inexpressivos, exagerados, começando logo nos preços, desmedidos, na exigência de moedas e eu sem trocos, que se lixe o café, que se lixem todos !

Estou sem paciência, pachorra como por aqui se diz, hoje tudo é exagero, tenho que fugir daqui, dar um passeio pela costa, o que a costa ainda tem de bom que me seduz é todo o mar, por vezes a perder de vista, de impressionantes e caprichosas ondas, que para mim são uma delícia de mirar até onde logro espraiar o olhar, pois pois…

Logo eu, que fugi a uma bica em Setúbal, que me iludi, me enganei, não, não, não tenho que pensar para mim meu Deus o que eu fiz ! No que eu me meti ! Enchi-lhe a cabeça de sonhos, desassosseguei-a…

Eu nem sabia ter este poder !

Mas que culpa tenho ?  E será que tenho ? Não, não fui eu, digam-me que não fui eu, ela não é parva, eu não medi o alcance das palavras, que é que eu fiz ? Agora empato, não sei como sair desta, ela não é parva, o que eu disse não teve importância, ela não se deixa levar, porque não me acalmo ? Porquê esta sensação de culpa ?

Não é ela maior e vacinada ? Não é ela independente, inteligente ? Não, não fui eu, digam-me que não fui eu, ela não é parva, eu não medi o alcance das palavras, que é que eu fiz ? Agora embaraçado não sei como sair desta, nem como nela me meti, agora embico e alego falta de tempo, de disponibilidade e indeciso, tanto mais empato quanto mais vontade tenho de correr até lá e cobrar aquele abraço prometido, tenho é medo de a encarar, as mulheres inteligentes sempre me meteram medo, e se ela faz o mesmo ? Se espaçou as mensagens para me arrefecer ? Se as tornou mínimas para me afrouxar ? Para refrear estes ímpetos ilógicos de um amor serôdio ?

Passei ontem todo o dia tratando do jardim fronteiro à casa. Arranquei ervas, alguns arbustos em excesso, para quê ? Para arranjar espaço para as flores, que foram trazidas daquele viveiro/estufa ali aos Canaviais e irão alegrar solenemente as minhas chegadas a casa.

Tudo porque ela não escreve e me desespera, e cuidar das flores é ajudar-me a passar o tempo que a resposta tarda em chegar.

É isso ! É por isso que ela fala pouco ! É por isso que as mensagens são pequenas sabendo ela que tal detesto !

Está a colocar-me no meu lugar, está a colocar-me à distancia, ela sabe como lidar com estes desvarios, com parvos como eu, quem o não sabe sou eu, que não sei nada de mulheres, são para mim um cada vez maior mistério, serão sempre…

E as flores, que flores ? Flores alentejanas concerteza, daquelas que vimos a alegrar os nossos campos agora que a Primavera vai chegar mas se antecipa, tudo se antecipa, o tempo anda, como gosto de dizer, cambalhotando os nossos dias, só uma mensagem dela se não antecipa, flores amarelas, violetas, rosas, lilases e vermelhas, brancas e azuis, porque é assim com estas cores que pintamos quando meninos ou apaixonados o Arco-íris.

Um aroma salutar e alegre inebria, fará mesmo com que o carteiro se demore um pouco descansando da labuta, a minha amiga Gi não manda cartas, nem flores, flores que me vou habituando a tratar cada uma pelo nome próprio e de família, terei que estudar de novo a botânica das roseiras de todo o mundo, o que não consegui até aqui.

Talvez um dia traga do Algarve uma amendoeira, talvez venha a contribuir para preservar a espécie, talvez à sua volta falemos do que não devíamos fazer, talvez... mas que fiz ? Que estou a fazer ? Que nos estamos fazendo ?

Estou incapaz de imaginar a beleza do Algarve na Primavera, nada de excessos, de excessivo só mesmo aquele mar de pétalas branco-rosa, tornando exuberante a mesma paisagem que no verão se nos mostra árida, seca, agreste. Como estes dias, estas horas, crestadas pelo desespero de um sinal. Olho o céu na esperança, como se dali viesse, pelo éter, o fluxo virtual que aguardo ansiosamente, vejo aves, caminhando para sul, aves de arribação a quem solstícios e equinócios traçam os rumos.

Contristado, pela primeira vez na vida sem um rumo que me guie, voltarei com a alma por preencher mas desperta ao meu jardim, ao meu Eden.

Se me deixassem encheria toda a cidade de flores, flores e mais flores, de todas as cores e espécies, até que alguém notasse que aqui se teima pela vida e que não, não estou maluco.