sexta-feira, 15 de julho de 2011

70 - O NOME DELA ERA GI, SIMPLESMENTE GI...


Sempre gostei de flores, gostará ela também? E de quais? Certo é não sermos excepção à regra. O que eu procurei no “Gifs Flash do ORKUT”, um ramo inimitável de rosas que a fizesse vibrar e lhe desse testemunho do meu querer, e esta porcaria de pc volta a colocar-me mal, volta a não funcionar, tudo parece rebelar-se contra esta tão inesperada quão inusitada amizade.

Não embarco nos pensamentos negativos que me assaltam, estou a ficar irritado, não costumo descontrolar-me, nem lembro já quando isso tão surpreendente quão aberrante e contra natura amizade.  Aconteceu a última vez, mas esta Gi dá-me cabo da paciência, precisará meter férias para escrevinhar uma resposta ? Mandar uma mensagem por pequena que seja ? Que razão me assiste ? Talvez nenhuma ! Não é ela maior e vacinada ? Não é ela independente, inteligente ? Não defende ela o seu mundo com unhas e dentes ?

Não posso irritar-me, descontrolar-me, e logo pela manhã, o excesso de calor, excesso de gente e de carros, excesso de restaurantes sempre excessivos na falta de modos e profissionalismo, a minha actual falta de paciência fazendo com que os abomine, que os ache inexpressivos, exagerados, começando logo nos preços, exagerados na exigência de moedas e eu sem trocos, que se lixe o café, que se lixem todos !

Estou sem paciência, pachorra como por aqui se diz, hoje tudo é exagero, devia era fugir daqui, dar um passeio pela costa, a costa ainda me seduz, todo aquele mar a perder de vista, um mar de impressionantes e caprichosas ondas, uma delícia para mim, miro-as até onde logro espraiar o olhar.

Pois pois, romantiza filho, logo eu fugido a uma bica em Setúbal, iludido, enganado, não, não, não tenho que pensar para mim meu Deus o que eu fiz ! No que eu me meti ! Enchi-lhe a cabeça de sonhos, desassosseguei-a,

- EU NÃO SABIA QUE TINHA ESTE PODER !

mas que culpa tenho ?  E será que tenho ? Não, não fui eu, digam-me não ter sido eu, ela não é parva, eu não medi o alcance das palavras foi o que foi, e afinal o que fiz eu ?

Agora empato, não sei como sair desta, ela não é parva, tudo que eu disse não teve a mínima importância, ela não se deixará levar, então por que não me acalmo ? Porquê esta sensação de culpa ?

Não é ela maior e vacinada ? Não é ela independente, inteligente ? Não, não fui eu, digam-me que não fui eu, ela não é parva, eu não medi o alcance das palavras mas ela não é nada parva, e então o que é que eu fiz ?

Agora empato, não sei como sair desta nem como nela me meti, mas empato e alego falta de tempo, de disponibilidade, e empato. E mais empato quanto mais vontade tenho de correr até lá e cobrar aquele abraço prometido, tenho é medo de a encarar, as mulheres inteligentes sempre me meteram medo, e se ela faz o mesmo ? Se espaçou as mensagens para me arrefecer ? Se as tornou mínimas para me afrouxar ? Para travar estes meus ímpetos ilógicos de um amor serôdio ?

Passei ontem o dia tratando do jardim fronteiro à casa. Arranquei ervas, alguns arbustos em excesso, para quê ? Para arranjar espaço para as flores, trazidas daquele viveiro/estufa ali aos Canaviais a fim de alegrar solenemente as minhas chegadas a casa. Tudo porque ela não escreve e isso desespera-me, e cuidar das flores é ajudar-me a passar o tempo que a resposta tarda em chegar. É isso !

É por isso que ela fala pouco ! É por isso que as mensagens são pequenas sabendo ela eu detestar tal ! Está a colocar-me no lugar, está a colocar-me à distância, ela sabe como lidar com estes desvarios, com parvos como eu, quem o não sabe sou eu, não entendo mesmo nada de mulheres, são para mim um cada vez maior mistério, serão sempre.

E as flores, que flores ? Flores alentejanas com certeza, daquelas que vimos alegrando os nossos campos agora que a Primavera vai chegar e se antecipa. Tudo se antecipa, o tempo anda como gosto de dizer cambalhotando os meus dias, só uma mensagem dela se não antecipa, flores amarelas, violetas, rosas, lilases e vermelhas, brancas e azuis, porque é assim, com estas cores que pintamos quando meninos ou apaixonados o Arco-íris.

Um aroma salutar e alegre inebria-me, fará mesmo com que o carteiro se demore um pouco descansando da labuta, a minha amiga Gi não manda cartas nem flores, flores que me vou habituando a tratar, cada uma pelo nome próprio e de família, terei que estudar de novo a botânica das roseiras de todo o mundo, o que não consegui até aqui. Talvez um dia traga do Algarve uma amendoeira, talvez venha a contribuir para preservar a espécie, talvez debaixo dela falemos do que devíamos ou não devíamos fazer, talvez... Mas que fiz eu ? Que estou a fazer ? Que nos estamos fazendo ?

Estou incapaz de imaginar a beleza do Algarve na Primavera, nada de excessos, de excessivo só mesmo aquele mar de pétalas branco-rosa tornando exuberante a mesma paisagem que no verão se nos mostra árida, seca, agreste. Como estes dias, como estas horas, crestadas pelo desespero de um sinal. Olho o céu esperançado, como se dali viesse pelo éter o fluxo virtual que aguardo ansiosamente, vejo aves voando para sul, aves de arribação a quem os equinócios traçam os rumos. Só a mim falta um solstício.

Contristado, e pela primeira vez na vida sem um rumo que me guie, recolherei com a alma por preencher porém desperta ao meu jardim. Se me deixassem encheria toda a cidade de flores, flores e mais flores, de todas as cores e espécies até alguém notar-me teimando pela vida e reparar que não, ainda não estou maluco.