Sempre gostei de
flores, gostará ela também? E de quais? Certo é não sermos excepção à regra. O
que eu procurei no “Gifs Flash do ORKUT”, um ramo inimitável de rosas que a
fizesse vibrar e lhe desse testemunho do meu querer, e esta porcaria de pc volta
a colocar-me mal, volta a não funcionar, tudo parece rebelar-se contra esta tão inesperada quão inusitada amizade.
Não embarco nos
pensamentos negativos que me assaltam, estou a ficar irritado, não costumo
descontrolar-me, nem lembro já quando isso tão surpreendente quão aberrante e
contra natura amizade. Aconteceu a última vez, mas esta Gi dá-me cabo da paciência, precisará meter férias para
escrevinhar uma resposta ? Mandar uma mensagem por pequena que seja ? Que razão
me assiste ? Talvez nenhuma ! Não é ela maior e vacinada ? Não é ela
independente, inteligente ? Não defende ela o seu mundo com unhas e dentes ?
Não posso irritar-me,
descontrolar-me, e logo pela manhã, o excesso de calor, excesso de gente e de
carros, excesso de restaurantes sempre excessivos na falta de modos e
profissionalismo, a minha actual falta de paciência fazendo com que os abomine,
que os ache inexpressivos, exagerados, começando logo nos preços, exagerados na
exigência de moedas e eu sem trocos, que se lixe o café, que se lixem todos !
Estou sem paciência,
pachorra como por aqui se diz, hoje tudo é exagero, devia era fugir daqui, dar
um passeio pela costa, a costa ainda me seduz, todo aquele mar a perder de
vista, um mar de impressionantes e caprichosas ondas, uma delícia para mim, miro-as
até onde logro espraiar o olhar.
Pois pois, romantiza
filho, logo eu fugido a uma bica em Setúbal, iludido, enganado, não, não, não
tenho que pensar para mim meu Deus o que eu fiz ! No que eu me meti ! Enchi-lhe
a cabeça de sonhos, desassosseguei-a,
- EU NÃO SABIA QUE
TINHA ESTE PODER !
mas que culpa tenho ? E será que tenho ? Não, não fui eu, digam-me não
ter sido eu, ela não é parva, eu não medi o alcance das palavras foi o que foi,
e afinal o que fiz eu ?
Agora empato, não sei
como sair desta, ela não é parva, tudo que eu disse não teve a mínima importância, ela não
se deixará levar, então por que não me acalmo ? Porquê esta sensação de culpa ?
Não é ela maior e
vacinada ? Não é ela independente, inteligente ? Não, não fui eu, digam-me que
não fui eu, ela não é parva, eu não medi o alcance das palavras mas ela não é
nada parva, e então o que é que eu fiz ?
Agora empato, não sei
como sair desta nem como nela me meti, mas empato e alego falta de tempo, de
disponibilidade, e empato. E mais empato quanto mais vontade tenho de correr
até lá e cobrar aquele abraço prometido, tenho é medo de a encarar, as mulheres
inteligentes sempre me meteram medo, e se ela faz o mesmo ? Se espaçou as
mensagens para me arrefecer ? Se as tornou mínimas para me afrouxar ? Para
travar estes meus ímpetos ilógicos de um amor serôdio ?
Passei ontem o dia
tratando do jardim fronteiro à casa. Arranquei ervas, alguns arbustos em
excesso, para quê ? Para arranjar espaço para as flores, trazidas daquele
viveiro/estufa ali aos Canaviais a fim de alegrar solenemente as minhas
chegadas a casa. Tudo porque ela não escreve e isso desespera-me, e cuidar das
flores é ajudar-me a passar o tempo que a resposta tarda em chegar. É isso !
É por isso que ela
fala pouco ! É por isso que as mensagens são pequenas sabendo ela eu detestar
tal ! Está a colocar-me no lugar, está a colocar-me à distância, ela sabe como
lidar com estes desvarios, com parvos como eu, quem o não sabe sou eu, não entendo mesmo
nada de mulheres, são para mim um cada vez maior mistério, serão sempre.
E as flores, que
flores ? Flores alentejanas com certeza, daquelas que vimos alegrando os nossos
campos agora que a Primavera vai chegar e se antecipa. Tudo se antecipa, o
tempo anda como gosto de dizer cambalhotando os meus dias, só uma mensagem dela
se não antecipa, flores amarelas, violetas, rosas, lilases e vermelhas, brancas
e azuis, porque é assim, com estas cores que pintamos quando meninos ou
apaixonados o Arco-íris.
Um aroma salutar e
alegre inebria-me, fará mesmo com que o carteiro se demore um pouco descansando
da labuta, a minha amiga Gi não manda cartas nem flores, flores que me vou
habituando a tratar, cada uma pelo nome próprio e de família, terei que estudar
de novo a botânica das roseiras de todo o mundo, o que não consegui até aqui. Talvez
um dia traga do Algarve uma amendoeira, talvez venha a contribuir para
preservar a espécie, talvez debaixo dela falemos do que devíamos ou não devíamos fazer,
talvez... Mas que fiz eu ? Que estou a fazer ? Que nos estamos fazendo ?
Estou incapaz de
imaginar a beleza do Algarve na Primavera, nada de excessos, de excessivo só
mesmo aquele mar de pétalas branco-rosa tornando exuberante a mesma paisagem
que no verão se nos mostra árida, seca, agreste. Como estes dias, como estas
horas, crestadas pelo desespero de um sinal. Olho o céu esperançado, como se
dali viesse pelo éter o fluxo virtual que aguardo ansiosamente, vejo aves voando
para sul, aves de arribação a quem os equinócios traçam os rumos. Só a mim falta um solstício.
Contristado, e pela
primeira vez na vida sem um rumo que me guie, recolherei com a alma por
preencher porém desperta ao meu jardim. Se me deixassem encheria toda a cidade de
flores, flores e mais flores, de todas as cores e espécies até alguém notar-me teimando
pela vida e reparar que não, ainda não estou maluco.