terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

310 - CRISE OU OPORTUNIDADE, 危机或机会 .......

                         Genghis Khan montado no seu cavalo e olhando o futuro...

Bento Espinoza, nascido em 1632 na cidade de Amsterdão, filho de Miguel Espinosa, natural da Vidigueira, Alentejo, e descendente dos judeus expulsos daqui em 1497 por El-Rei D. Manuel, era leitor frequente da Biblioteca da sinagoga de Amesterdão, que funciona ininterruptamente desde 1616, é a mais antiga biblioteca judaica em actividade, e na qual, procurando bem entre os banquinhos corridos, com gavetas para guardar uma espécie de cachecóis e os chapelinhos do culto, encontraremos numa placa o nome dos homens que ergueram o templo de que vos falo. O homem pensa, Deus quer, e a obra nasce, esta nasceu pelas mãos e contributos de Moisés Curiel, Daniel Pinto, Moisés Ismael Pereira, Isaac Pinto, José Israel Nunes, Samuel Vaz, David Salom de Azevedo, Abraão da Veiga, Jacob Aboab Osório, Jacob Israel Pereira, Isaac Henriques Coutinho, Isaac Aboab da Fonseca.*

Bento Espinosa era quadrilingue, esse homem ilustre que hoje tão bem conhecemos era descendente de gentes que Portugal não quis, mais tarde o Marquês de Pombal (1699-1782) viria a perdoar-lhes as acusações de que tinham sido alvo desde o tempo de D. Manuel e da posterior Inquisição, a quem nem os cristãos novos escaparam, perdão que já o Padre Jesuíta António Vieira (1608-1697) exigira, padre que se bateu inclusive e muito antes do tempo pela abolição da escravatura, a qual viria a acabar precisamente às mãos de Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, corria o ano de 1761.

Recordo tudo isto pois Bento Espinosa, a quem devemos a “Ética” (em latim: Ethica, ordine geometrico demonstrata), a obra-prima do filósofo holandês de origem portuguesa Bento Espinosa, "Baruch de Espinosa " Benedictus Espinoza, mais conhecido como Benedito Espinoza, obra que está Dividida em cinco partes, a metafísica, tratando do ser, a ética que trata do homem, a terceira que aborda os afectos, a quarta que nos fala da servidão humana, e a quinta, fazendo a apologia da liberdade, obra que foi publicada pela primeira vez em 1677 e que nem por ser antiga, famosa e de leitura altamente recomendável parece ser conhecida dos nossos políticos. Contudo devia ser.

A ignorância da história, da filosofia da ética e da moralidade leva a que façamos figuras de urso, como foi o tristemente caso de Neville Chamberlain, 1869-1940 (que vá lá saber-se porquê confundo sempre com Konrad Adenauer, 1876-1967), e se escrevo tudo isto hoje é por me parecer estar de novo a Europa pejada de Nevilles Chamberlains em tudo que seja lugar decisivo, e o pior é que 80% dos europeus, e talvez 90% dos portugueses nem saibam quem foi esse tal Neville nem em que trabalhos se viu metido ou a figura de parvo que protagonizou e que o remeteram para as notas de rodapé da história. A história devia ser para nós como uma mãe, porém fazemos dela madrasta, esquecemo-la, ignoramo-la, e quanto mais o fazemos mais ela se vinga e se ri de nós a bom rir.

Mas também eu neste momento rio a bom rir, porque a Micas levou demasiado a sério os dois dias seguidos de sol que nos alegraram as manhãs desta semana, e apareceu com umas leggings que lhe moldam até o tutano do escafóide o que, se por um lado a tornam radiante, por outro atestam que ainda vale a pena comprar-lhe os jornais, as revistas, e as flores, mesmo sendo de plástico, pois o resto não é…
O amarelo desmaiado dos leggins da Micas

Quem também se deve estar rindo são os fantasmas daqueles que marcaram a história com um cunho bem vincado, D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães, Pedro Alvares Cabral, Fontes Pereira de Melo, Pombal, Mouzinho da Silveira, Salazar, Franco, De Gaulle, Churchill, Hitler, Mussolini, Tito, Estaline, Lenine, Mao, Putin, Alexandre Magno, Gengis Cão (Genghis Khan), Leif Erikson, e concluo que estes sim, para o bem e para o mal foram líderes que se souberam impor, marcar posição, fazer história, fazer andar o mundo, as coisas, as suas cidades, os seus países, e se me estou rindo é apenas por mentalmente os estar passando em revista e comparando com os pintarroxos que há quarenta anos nos governam e nem merecem uma morte honrosa…

Se PPC era um garoto aldrabão e trapalhão A. Costa não passa de mais um trapalhão aldrabão, quer um quer outro haviam jurado subir o que desceram e descer o que afinal subiram, um e outro navegaram e navegam ao acaso, à bolina, ao sabor do vento, sem rumo e ao sabor das circunstâncias. Nunca iremos longe com caramelos deste jaez, o primeiro ajoelhou ante uma Europa de Nevilles, ela própria, como o FMI, tendo assumido e retractado já quanto aos clamorosos erros cometidos contra nós, agora, e perante Costa, Pedro critica o que devia ter contestado, e Costa enfrenta-a com um programa pouco menos que decalcado do de Pedro, um voltando a dobrar a cerviz e o joelho, outro não sabendo nem ousando sair de um austeritarismo balofo, parvo, inconsequente e inútil.

Para governar é preciso ter visão, não basta ter lata, onde teriam ido os homens que atrás citei sem essa visão ? Esses homens não avançaram em tempos de vacas magras, todos pegaram o touro pelos cornos quando os seus países ou povos atravessavam crises, fizeram dessas crises oportunidades, oportunidade que quer com um quer com outro nós já perdemos e continuamos a perder, sem que nunca reformemos devidamente Portugal. Arte é isso, começar no fundo de um buraco e erguermo-nos aos céus, nada tem de artístico fazer floreados com uma mão e aumentar os impostos com a outra…

Desta vez a Troika traz essencialmente 3 grandes dúvidas, a primeira quanto ao orçamento, já o sabemos eleitoralista e com mais do mesmo, uma estratégia vergonhosa onde para alimentar a voracidade dos trabalhadores vanguardistas do sector público se esmagam com impostos os eternos escravos do sector privado, a segunda abordando o investimento, que seja público ou privado se resume praticamente a zero há bué de anos e a fiscalidade que nos sufoca e não deixa dar um peido. Não ter reformado o estado está a custar-nos os olhos da cara, finalmente o terceiro ponto de interrogação dos homens de negro, a economia, para a qual há muitos anos há resposta, podemos afirmar que quer anteriores governos quer o actual dedicam à economia uma especial atenção e a encaram e sempre encararam com muita fé, muita esperança, e sobretudo com uma gigantesca e esfuziante confiança na sorte.

De PPC nunca esperei nada, não tem conhecimentos nem cultura para o que quer que seja, mas de A. Costa esperava mais, e esperava sobretudo capacidade para dar um murro na mesa e colocar todos em sentido;

- Quem manda aqui sou eu, e quem não se sentir bem que se mude…

e devia ter começado por Maria de Belém, que não só fragilizou como ridicularizou o secretário geral, o partido e o primeiro ministro, Nóvoa não pontuou mas também não envergonhou. Tal como PPC se deveria calar ele mesmo ou mandar calar Marco António Costa, pois peroram exigindo credibilidade moral aos outros, precisamente aquilo que de modo gritante lhes falta.

Os partidos têm que deixar de ser muletas incondicionais de todos os coxos, cegos e outros deficientes e aleijadinhos que lhes cabem em sorte como presidentes, deputados ou ministros, com gente que só os desprestigia e diminui. Parasitas e inúteis não podem continuar a acoitar-se nos partidos e a viver e sobreviver à custa de gente séria, todos os dias temos exemplos desses, desde o 44 ao 99… De tachistas e comissionistas a ou corta-relvas…

Um PM tem que ser o cavaleiro andante dos interesses do país, de todos, e não do partido ou de facções, não de classes, freguesias ou cidades, tem que saber o que quer e para aonde vai, tem que ter visão e não somente o desejo de se sentar na cadeira do poder por mais enganador que ele seja. Portugal tem que deixar de ser guiado pela UE e pela Troika que parecem saber melhor que  nós, e sabem, não o duvido, os caminhos correctos que deveremos trilhar, começando por produzir, produzir, produzir... O mal deste governo foi começar a distribuir o que custa a arranjar, o que não temos, e ainda por cima de forma grotescamente iníqua... Repondo a meia dúzia de bem aventurados o que nunca suaram para conseguir... Infelizmente caminhamos para uma situação em que já só já falta que as finanças nos assaltem à beira da estrada, como fazia o celebérrimo bandoleiro José do Telhado.
                      Posição a partir da qual se pode imaginar o escafóide da Micas

Ainda é cedo para alças e mangas cava, as tardes ainda refrescam por muito soalheiras que as manhãs sejam. A minha amiga Micas arrisca-se a apanhar uma pneumonia de que nem a fé em Deus a livrará, por enquanto e pelo que vejo é só mostrar saúde e provar ter ainda algo que se veja…

- Olá senhor Baião, por aqui hoje, então o que vai ser ?

Repentinamente fiquei sem fala, não ia dizer-lhe que o conjunto vermelho lhe assenta melhor que o azulão, que por sua vez está longe de igualar a sensualidade do fúxia, ou que aquele corte de cabelo lhe fica a matar e a torna super super sensual, meto a mão ao bolso e agito as massas, isto é faço tilintar as moedas, uma brincadeira para ganhar tempo pois fui apanhado de surpresa e nem sei que responder-lhe.

- Como disse senhor Baião, a Exame, a National Geographic, a Visão Júnior para a netinha, Corte & Costura para se entreter ?

Mas eu não a ouvia, pensava na Carmo que me atirara um “Rezemos Para que esta corja caia rápido, Estes ainda São piores que o outro, Promessas e benesses de quem sempre teve o cu lavado com agua das malvas e ainda assim se queixa, Bardamerda para isto tudo, Na próxima voto MURP”… Enquanto eu lhe concedia razão e me lembrava de quantos e quantos Espinosas não obrigamos, por falta de condições, a fugir de cá…. 

       Não é de partidos da treta, de coligações ou de parlamentares vendidos nem de grupos parlamentares dominados e dóceis que precisamos, é de homens com visão e que saibam ver o futuro.... 

            Decididamente só cá ficou o refugo….

* Pedro Mexia – Os Judeus de Portugal, Revista E 2257, 30-01-2016


                                   A Micas e as amigas dançando em leggins

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

309 - VERGÍLIO FERREIRA, EU E O MONSTRO…..


Em vida Vergílio Ferreira foi editado pela Bertrand, que além de editora era distribuidora, a Distribuidora Bertrand, de nível e âmbito nacional e trabalhando com todas as restantes editoras do país, sendo-nos contudo mais familiar como Livraria, pois possuía uma cadeia de livrarias, hoje conhecida como Bertrand Livreiros. 

Em Évora, onde marcou presença em 1993, a Bertrand lançou-me um desafio o qual, após limarmos arestas e acertarmos contas eu aceitei, para o que contaram a minha experiência e conhecimentos de literatura, aliados à rede de contactos no mundo escolar e académico, ou sociais como agora se diz, tornando-me com um contrato sedutor responsável pelo seu investimento nesta cidade, que aplaudi, Évora merecia uma extensão da Bertrand Livreiros, que mais tarde prontamente contestei ao saber a localização prevista para a livraria, o “Centro Comercial Feira Nova”, hoje Pingo Doce, à saída para Lisboa e local bem exterior ao perímetro urbano da cidade. O tempo viria a dar-me razão, as gentes iam ali para o arroz e o feijão, passando ao lado da livraria praticamente sem olharem as montras. Abandonei funções em 1995, embora a Bertrand tenha teimado e tentado subsistir naquele inadequado lugar mais um ano ou dois, não consigo precisar já.

Porém, apesar ou por tudo isso foi entendido propiciar-me formação especifica, mais ainda e mais precisa, pelo que passei algumas semanas por trimestre em Lisboa, nas instalações do Chiado, e na Amadora, onde à época se situava a distribuidora, esta última gerida pelo senhor qualquer coisa Morais, hoje ele mesmo livreiro, para o que adquiriu em Lisboa uma livraria em situação de falência, após a queda do império Bertrand às mãos de gente do calibre daquela que nos tem governado, gente que durante algum tempo se foi sucedendo sucessivamente sem cessar à frente dos destinos do grupo e por pouco não rebentou com ele.

Mas do que vos quero falar é de Vergílio Ferreira, já um homem velho quando o conheci, mas opinioso, garboso e desempenado, que por esses dias e numa dessas formações me foi pessoal e casualmente apresentado pelo citado senhor Morais, não recordo se no Chiado se na Amadora, no momento em que preparavam o lançamento da sua biografia fotográfica, “pois havia que fazer render o peixe antes que se fosse desta para melhor” segundo palavras do próprio Vergílio Ferreira cujo falecimento, um momento infeliz, teve lugar um ano ou dois após este nosso encontro. Dessa biografia guardo ainda hoje com muita consideração, estima e carinho um exemplar autografado por ele mesmo, que ao saber-me de Évora e seu leitor indefectível me abriu a porta da sua amizade com condescendência.



Por duas ou três vezes nos encontrámos, falámos, por junto três ou quatro horas, se não mais, tive pois oportunidade para lhe fazer saber quanto apreciava os seus escritos e volumes do “Espaço do Invisível” e de “Conta Corrente”, memórias que considerava e considero conversas com os leitores e muito para além dos próprios romances, estes mais limitados na amplitude do pensamento e circunscritos a um tema, a uma história ou a um título, no que concordou comigo, pois esses monólogos / diálogos com o leitor encerram um caracter mais intimista que os romances, tolhidos pelos personagens, enquanto no “Espaço” e na “Conta Corrente” o sentia falando comigo liberto de amarras e constrangimentos, enquanto eu, seu leitor, o ouvia e lia permitindo-me simultaneamente desvendar-lhe a intimidade, o âmago, e arrancando desse mistério a luz.

- Acha mesmo que foi um maravilhamento amigo Humberto ? (usou mesmo esta palavra, maravilhamento).

Sim, respondi-lhe, essas obras dão-nos a conhecer e a sentir o prazer da leitura, essas suas confissões proporcionam ao leitor uma, como dizer, iniciação ao pensar, à meditação, ao pensarmo-nos a nós e aos outros, incutem um exercício mental que a convivência torna exigente e que nos força a uma conivência condescendente para com os fundamentos da existência que em cada um de nós existe, independentemente de mais conscientes uns de nós que noutros e da própria avidez com que alimentamos essa moral, essa cumplicidade.

- Os olhos comem, mas o espirito também, felizes os que o alimentam, sussurrou.

Na realidade assim é, pena que os leitores de Vergílio Ferreira lhe procurem sobretudo os fantásticos romances, fenomenais certamente, mas para quem exija mais, encontrará nos volumes de “Espaço do Invisível” e de “Conta Corrente” a alma do mestre, aberta, mostrando-nos com uma terna candura o modo como vê o mundo que nos cerca e por vezes não compreendemos, ou nem sequer vemos, por inexperientes, por desatentos, por ignorantes, por incultos. Com extrema delicadeza diplomacia e grandeza Vergílio Ferreira vai inculcando em nós, seus leitores, a sementinha da inquietação, da curiosidade, da interrogação, e vai sugerindo respostas, caminhos, versões, soluções, sem nunca nos pressionar, sem jamais pretender conduzir-nos, apenas informando, seduzindo não empurrando, mostrando não impondo, e que melhor que nos fazer acreditar e levar a fazer, e a crer, que coisa melhor que ficar vendo-nos por nós mesmos alcançar, descobrir, chegar, concluir ?

É bom lê-lo, mas melhor ainda é “falar” com ele, percebê-lo, entendê-lo, vivê-lo, porque depois de lido é o mestre que vive em nós, que vive por nós, se eterniza em nós. Devemos-lhe isso pois nos seus escritos jamais nos ocultou a sua mente ou nos fechou o coração. É o meu Nobel, será sempre o meu Nobel ainda que as circunstâncias tenham concorrido em contrário.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

308 - OS NETOS E AS NETAS DE MARCELO …......

                                         

A Beatriz é filha da minha primeira mulher, prantei-lhe Beatriz que era como se chamava a minha primeira avó, Beatriz Sánchez Glória, sim, primeira, pois tive tantas quantos os meio irmãos e irmãs que tive e tenho, mais que as madrastas.

À primeira da segunda pus Isabelinha e à primeira da terceira achei engraçado Zezinha, e foi assim que a baptizei.

O meu pai era guarda-fios, e o meu avô Bernardo telegrafista* (ver texto 127, link no final), e naqueles tempos a vida tinha muito de provisório, hoje é tudo à farta, à fartazana como dizem os meus netos, tantos que se me torna difícil à primeira vista dizer de qual filha, ou filho.

Ainda que a vida continue rodeada de incertezas, também está pejada de certezas, tanto que ontem, dia de eleições, nem tirei o cu da cadeira, quer dizer, eu poderia ter argumentado nem ter tirado o pijama, o que vinha a dar no mesmo mas não seria a mesma coisa.

Fiz o meu giro normal, padaria pão, café e bica, só o jornal é que não por ser domingo, ainda que tivesse por ali feito caminho e dado os bons dias à Micas, cujo quiosque fica a meio do percurso, quiosque que anima a rua cujo sorriso ela ilumina, é uma simpatia, sempre atenta, sempre disponível

- Guardei-lhe o Expresso senhor Baião, Não me esqueci da Visãozinha senhor Baião, Esta semana traz um suplemento que o vai surpreender e agradar senhor Baião, Não se esqueça de o levar…

E eu comovido digo-lhe pela enésima vez que já nos conhecemos há décadas, que me pode tratar por Humberto, ou Berto, ou Bertinho, afinal somos velhos vizinhos e amigos, e nem as idades serão assim tão diferentes, ela rasgando o sorriso e fazendo-se de mouca mas ajeitando as melenas e as alças do sutiã, compondo a camisa, desabotoando o botão de cima, e eu; sabe Micas cheguei a temer que com a abalada do amigo Amadeu o quiosque fechasse, que você soçobrasse, mas tenho que dar a mão à palmatória, a Micas aguentou e traz isto num brinco, num mimo como diria o saudoso Amadeu.

- Enquanto há vida há esperança senhor Baião, não tive outro remédio senão arregaçar as mangas, os clientes merecem-me toda a dedicação e esforço, vivo para eles sabe ?

E eu se não sabia bem desconfiava, e com vontade de perguntar-lhe se sentia saudades do Amadeu, falta do Amadeu, necessidade do Amadeu, e que para o que desse e viesse cá estava, que contasse comigo, mas ela, sabida e batida mudou o disco num instante e disparou-me:

- E votar senhor Baião, já foi votar ? Não se esqueça, vá antes que chova !

Como quem diz pága e desampara-me a loja, quero dizer o quiosque, e trata lá da tua vidinha que tens muito com que te entreter e não me faças perder tempo que tempo é o que eu tenho menos e gosto de o aproveitar.

Não Micas nem fui nem vou, com o meu candidato preferido a não ir além dos 1% nas sondagens que se há-de fazer ?

- Quem ? O tal velhote ? O avô Henrique Neto ? Olhe que também gosto muito dele senhor Baião, dele e do Tino de Rans, são os dois mais sérios que ali aparecem.

Verdade Micas, verdade minha amiga, mas digo-lhe que desta nem me vou incomodar a votar, só havendo necessidade de uma segunda volta lá irei desempatar e botar a cruzinha no Marcelo, e ela:

- NO MARCELO SENHOR BAIÃO ?
Ai Jesus que nunca mais lhe guardo a Visão !

Olaré Micas, no Marcelo, muita gente estará enganada com ele, vai ver que com ele ninguém vai fazer farinha.

- O professor Martelo, o filho ou neto ou herdeiro ou delfim do Marcelo Caetano que eu bem vejo as capas das revistas senhor Baião.

Exacto Micas, e pode crer que será isso a dar-lhe a vitória, o pessoal está farto de políticos como a Maria de Belém, sem conteúdo, só fingimento, que se coçam, para dentro, que só vêem os seus direitos e esquecem os direitos dos demais, que entram em contradição a cada coisa que dizem, o pessoal bispa-os em menos de um farol.

- E ao Martelo não bispam ? Olhe que você também me saiu um pregador, votar Martelo, confesso que não esperava isso de si.

Calma Micas, o professor Marcelo não é o Cavaco mesquinho e vingativo, Cavaco e Silva é que não passa de uma estrondosa montanha de ignorância, o professor Martelo é o contrário, é um homem culto, viajado, sabido, vivido, sapiente, moderno, cosmopolita, e tido como um moderado.

- Pois ! E um facista ! Que eu bem vi as capas com ele no Brasil, ele e o Relvas, outro aldrabão, e o Salgado Espirito Santo do BES, e no carro com Marcelo Caetano… Um facista é o que ele é !!

Ó Micas não podemos sair por aí chamando fascistas a toda a gente ! O eleitor também viu e sabe tudo isso tudo Micas, e a julgar pelas sondagens não o reprovam, afinal metade de nós nascemos ainda no tempo da outra senhora, sucede que são tempos que comparados com os actuais são igualmente genuínos, era como era, e agora nada, agora nem genuidade, veja o Donald Trump, quanto menos politicamente correcto mais eleitores arrasta, o pessoal está farto de fingimentos como os da tal Maria de Belém... O Trump é desbocado ? E os anteriores a ele eram ou foram mais recomendáveis ? O Bush filho foi um dos maiores mentirosos que o mundo conheceu, nós próprios somos governados por trapaceiros há quarenta anos…

- São todos iguais, uns aldrabões ! Já o meu Amadeu o dizia, e com razão !

Lá serão Micas, mas por certo alguns mais iguais que outros. Não me parece que nas circunstâncias haja outro mais indicado ou melhor preparado.

- Que circunstâncias? Ele vai trazer-nos mais dinheiro ? Já nem os jornais da bola vendo como dantes ! Nem uma revista pornográfica sequer que ainda as tenho quase todas aqui debaixo do balcão ! Nem pastilhas compram aos miúdos senhor !

Pois é Micas, mas veja, a gaffe da Maria de Belém e o Centeno com o orçamento e mais impostos, e as reversões e as renacionalizações e o aumento da factura a pagar em mais onze mil milhões, e mais os trinta e cinco dias para os privilegiados e os quarenta para os escravos vão ser fatais ao Nóvoa, na minha mesa do café uns já apostam que o Costa cairá primeiro que o país e outros que o país cairá primeiro que o Costa, uns com receio que o PS nos atire novamente para dentro de outro buraco, outros com medo que quem vier atrás salvar-nos tenha tão pouco tacto como os que nos calharam a seguir… Duvido muito que o professor Marcelo, um homem que é capaz de mostrar, viver e brincar com a sua autenticidade não venha a ganhar folgadamente.

- Eu só vejo senhor Baião é as minhas despesas a aumentar e as receitas a encolher e só impostos só impostos, parece que passo a vida encerrada neste quiosque só para pagar impostos… e não vejo ninguém a mobilizar ninguém para trabalhar, isso não vejo não, devem estar todos pensando que ele cai do céu com certeza…

É mesmo por isso que o pessoal da minha mesa vai votar Marcelo Micas, vão tentar a todo o custo evitar o despesismo do Costa e do PS, vão tentar meter o Marcelo para equilibrar as coisas dizem, evitar que fiquem todos os ovos no mesmo cesto, travar o desvario da esquerda, o seu idealismo louco, ou não tarda estaremos agarrados a outro resgate, não há um deles que acredite no pau-mandado do Nóvoa, nem um deles sequer crê que o governo de A. Costa concite o investimento … Afinal o homem tem direito a ser eleito ou não tem ? Quer votemos em partidos de direita ou de esquerda não somos todos portugueses ?

- Olhe lá senhor Baião o professor Marcelo tem netos ?

Não sei amiga Micas, acho que não mas que eu saiba não sei responder-lhe a essa, mas porquê ?

- Porque os seus vêm todos aí senhor Baião ! Olhe lá para ali !

E lá vinham aos pulos atrás dos cães, que nunca largam, a Beatriz, a Nonocas, o Bila, o Toy, a Sissi, a Zézinha e o Fané, mais que as mães…


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

307 - DEMOCRACIA NÃO É PARA CRIANÇAS *


« A CAMPANHA MAIS INÓCUA DESDE 1976 *

A campanha continua morna e pouco mobilizadora, apesar de o fim dos dez anos de Cavaco encerrar potencialidades que aqui há uns dois ou três meses ninguém suporia poderem vir a ser desprezadas como estão a ser.

Há no entanto uma explicação para o que se está a passar. Uma explicação, mas não uma justificação.

Começando pelo princípio: a eleição presidencial pode ser ganha à esquerda com relativa facilidade se houver um candidato que seja capaz de fazer o pleno dos seus votos ou quase. De uma boa maioria dos votos do PS, dos votos do PCP e do Bloco, bem como o dos independentes de esquerda.

Na escolha desse candidato o PS desempenha um papel fundamental. E se o PS o desempenhar com responsabilidade e sentido democrático a vitória será sempre indiscutível. Acontece que raramente isso sucedeu na história da nossa democracia. Quase se poderia dizer que as três mais significativas vitórias contra os candidatos da direita foram alcançadas apesar do PS. Referimo-nos à reeleição de Eanes, à derrota de Freitas do Amaral e à vitória de Sampaio.

Na reeleição de Eanes, Soares e os seus fiéis apoiantes retiraram o apoio a Eanes com o objectivo (não alcançado graças à outra parte do PS) de impedir a sua vitória, mesmo sabendo que o preço a pagar por esse comportamento poderia ser a eleição do candidato da direita, de passado reconhecidamente fascista.

Na derrota de Freitas, o PS dividiu-se em duas candidaturas (uma de direita, Soares; outra, de esquerda, Zenha), tendo os independentes e católicos de esquerda, na ausência de um candidato consensual, apoiado Lurdes Pintassilgo; o PCP, que começou por apresentar o seu candidato, desistiu na primeira volta a favor de Zenha, não tendo, todavia, esses votos sido suficientes para garantir a Salgado Zenha a passagem à segunda volta. Soares acabou por ganhar, graças aos eleitores que na primeira volta votaram Pintassilgo e ao voto dos comunistas, cujo apoio foi decidido num Congresso Extraordinário, seguido por uma disciplina de voto sem falhas, sem a existência da qual jamais Soares teria sido Presidente da República.

Na vitória de Sampaio concorreram factores difíceis de convergir noutras situações. Em primeiro lugar, Sampaio tendo feito o seu percurso até 1978 à margem do PS e quase sempre, desde muito antes do 25 de Abril, em oposição a Mário Soares, granjeou na restante esquerda uma simpatia e um estatuto como nenhum outro socialista alguma vez teve. Por outro lado, Sampaio, apesar de não gozar da simpatia da maior parte dos “históricos” do PS e de ter rompido com Guterres, conseguiu, numa altura em que Guterres estava politicamente muito ocupado na preparação da campanha para as legislativas (Estados Gerais), antecipar a sua candidatura e impô-la ao PS como um facto consumado. 

Apesar de Sampaio não ser o candidato que Guterres escolheria, se o tivesse podido fazer, o PS (oficial) viu-se obrigado a apoiá-lo seguindo assim a restante esquerda que nem sequer levou qualquer candidato às urnas, já que tanto Jerónimo de Sousa (PCP) como Alberto Matos (UDP) desistiram a seu favor. Em terceiro lugar, Sampaio concorria contra Cavaco de quem uma significativa maioria de portugueses estava positivamente farta após dez anos de cavaquismo com tudo o que isso até hoje representou de negativo para Portugal e para os portugueses.

Depois, bem, depois foi o que se viu. Em 2006 Cavaco foi eleito e em 2011, reeleito. Tanto numa como noutra eleição o PS foi incapaz de apresentar uma candidatura consistente e susceptível de ser apoiada pela esquerda. Na primeira eleição, Sócrates, completamente inebriado com a maioria absoluta que tinha acabado de alcançar (2005), desprezou arrogantemente as presidenciais e minimizou a sua importância, não curando de propor um candidato susceptível de concentrar o apoio da esquerda. 

Soares, já sem fôlego para novo mandato, querendo continuar a “ajustar contas” com Cavaco numa época e num contexto em que já não estava em condições de o fazer, viu-se confrontado com o aparecimento da candidatura de outro socialista, Manuel Alegre, avidamente apoiado pelos que na área do PS e suas proximidades se estavam posicionando contra Sócrates, tendo-se então assistido a uma verdadeira luta fratricida, com corte de relações pessoais e acusações de toda a ordem entre ambos os candidatos. O clima criado pelos dois candidatos e a maioria absoluta de Sócrates desmobilizaram completamente o eleitorado de esquerda, tendo Cavaco sido tranquilamente eleito logo na primeira volta. 

Cinco anos depois, apesar de já não haver dúvidas sobre o que seria o segundo mandato de Cavaco (a intentona das escutas e os Estatutos dos Açores eram um bom prelúdio), o PS de Sócrates voltou a menosprezar a importância das presidenciais. É certo que a crispação existente entre Sócrates e os dois partidos de esquerda (PCP e BE) não favorecia um entendimento para fins presidenciais; por outro lado, o facto de ninguém na área da esquerda se ter notabilizado suficientemente para poder facilitar aquele entendimento também dificultava o aparecimento de uma candidatura vencedora. 

Apareceu novamente Alegre, derrotado na eleição anterior, sem chispa de vencedor, sempre com um entendimento épico da derrota, sem capacidade para mobilizar o eleitorado de esquerda, que voltou a ser derrotado como antecipadamente se sabia. Cavaco foi reeleito, deixando logo no dia da vitória um aviso muito claro do que iria ser a sua presidência nos cinco anos subsequentes: mesquinha, vingativa e sectária. Não enganou ninguém! Mas o mal estava feito…

Exactamente por haver uma consciência muito viva do que poderia representar para a esquerda a repetição de uma candidatura tipo Cavaco, ostensiva ou disfarçada, é que se supunha que a experiência acabada de viver iria facilitar o aparecimento de uma candidatura consensual com um perfil reconhecidamente vencedor. Esse candidato existia no seio do Partido Socialista. Existia mas não foi escolhido, nem ele demonstrou publicamente qualquer interesse em desempenhar esse papel.

Na euforia da vitória “interna “de António Costa, supôs-se – as sondagens ajudavam a este entendimento – que facilmente derrotaria a direita nas legislativas, alcançando uma maioria absoluta. E é neste contexto que é incentivada no seio do PS, informalmente, mas com apoios muito claros da actual liderança e de todos os que lhe são muito próximos, a candidatura de Sampaio da Nóvoa.

Acontece que sucedeu o que toda a gente sabe: António Costa não alcançou a maioria absoluta, nem sequer a maioria relativa nas legislativas e aquela candidatura, que havia sido lançada com base numa pressuposição que falhou, passou quase de imediato a ser contestada no interior do Partido Socialista pelos opositores de Costa, pelos adversários da solução governativa entretanto alcançada e pelos ressabiados da ressaca das primárias.


E como sempre acontece no Partido Socialista, também desta vez, os oponentes de liderança não tiveram qualquer problema em “empurrar” para a disputa eleitoral uma personalidade da direita do partido, que não tinha, nem tem, objectivamente, quaisquer condições para ganhar as eleições, mas cuja candidatura teria o efeito – efeito que ninguém com um mínimo de experiência política poderia deixar de antecipar – de desmoralizar e desmobilizar o eleitorado socialista e da esquerda em geral, impedindo desta modo a polarização da eleição entre o candidato da direita e o da esquerda, com vista a obrigar aquele a definir-se politicamente.

Dada a divisão reinante no seio do PS, o candidato da direita pôde fazer uma campanha apolítica como se previa, assistindo de palanque aos ataques cruzados das “candidaturas socialistas”, e ainda teve a sorte de ter sido objectivamente favorecido pelo aparecimento de, pelo menos, dois “candidatos folclóricos”, cujo discurso e a divulgação que os media deles têm feito muito contribuíram para a consolidação da campanha à volta de questões de escasso interesse político.

Perante este quadro só mesmo um altíssimo sentido político do eleitorado poderá remediar o que os “profissionais” da política comprometeram.»

* por José Manuel Correia Pinto in facebook  


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

306 - AI ALPALHÃO, ALPALHÃO.............................


É quarta feira, está um sol maravilhoso e a esplanada desde cedo regista uma inusual animação o que, tendo em conta a debandada que os dias frios tinham provocado é um regresso de louvar.

Ontem deitara-me tarde, ficara vendo o debate na Tv com todos os candidatos, e depois deste terminado, brigando com a Luisinha sobre as virtudes e virtualidade, ou a falta delas em cada proposta presente. Sim, recordo que Maria de Belém não estava, mas nada se perdeu, era já sabido que assinara o pagamento das subvenções e que se furtara de modo matreiro à interpelação de um jornalista sobre as ditas cujas, a senhora já mostrara igualmente de véspera não entender o país em que se move nem o partido em que milita, exigira mesmo ser a candidata oficial do seu partido, que lhe fez orelhas moucas e uma vez mais se ficou pelo habitual e costumeiro NIM, nim Belém nim Nóvoa, o povo que escolha. Invocar a morte de Almeida Santos para se furtar a uma campanha que lhe estava a ser penosa também não achei bem, até por o falecido ser, sem sombra de dúvida, um dos grandes portugueses a quem devemos o Portugal próspero e moderno que temos.

Aquele partido é mesmo assim, sempre assim foi, em casos decisivos tolhe a liberdade de voto, em assuntos de lana caprina concede-a, estou a lembrar-me dos referendos sobre o Aborto e sobre a Regionalização, e com o mais que nem me ocorre agora, lembro os mais candentes, aliás foi assim, por estas e por outras, que Cavaco e Silva lhes ficou agradecendo duas presidências.

Nóvoa desfez, e bem, as dúvidas que se tinham gerado em torno da sua licenciatura em artes do teatro, e uma coisa lhe concedo, ele tem efectivamente sido escrutinado ao longo da vida, mas devia desde o inicio das dúvidas ter-nos informado que aquela formação teatral não era a sua licenciatura principal, porque à data que foi feita nem concedia tal grau. A sua licenciatura principal e única é em Ciências da Educação, ou seja, na prática, em nada... Foi conseguida em dois anos, na Suiça, inclusivé através de entrevistas avaliadoras, (segundo o método Relvas) admitiu o próprio ao CM.(a) Em países como Portugal tais licenciaturas dão p'ra fazer curriculum e subir na carreira e na vida, mais nada...

Contudo todavia mas porém o que muitos portugueses não sabem é que nem só as formações nas artes do teatro foram, muitos anos mais tarde, consideradas licenciaturas, existem dezenas e dezenas de áreas, para não arriscar centenas, em que formações do mais variado teor, algumas bem  mexerucas, ou de base bastante rasca, a par de outras de notável valia, foram consideradas por decreto e a partir de uma determinada data, equivalentes a licenciaturas. Uma questão de fraquezas governativas, conivências sindicais e direitos adquiridos.

Isto passou-se naquelas áreas, artes do espectáculo ou teatrais, mas também nas áreas de enfermagem, áreas técnicas ligadas à saúde, e no ensino, onde existem mesmo casos caricatos como o dos antigos mestres de oficinas, carpinteiros, serralheiros, electricistas, a quem algumas universidades “ofereceram” de acordo com decretos ministeriais e exigências sindicais, ofereceram dizia eu, cadeiras avulsas que haviam de habilitar esses mestres oficinais com o grau de licenciatura, alguns nem sabendo assinar o seu nome. Todavia logo a seguir ao 25 de Abril o novel ensino de massas exigia professores como pão para a boca, e desta forma se forjaram situações provisórias que, como é habitual neste país se tornaram definitivas e atiraram para o desemprego licenciados de verdade para proteger os “licenciados à força” pois que estes últimos estavam sindicalizados…

As nossas estatísticas sobre os graus de habilitações literárias da população estão todas elas aldrabadas, não só pelo facilitismo das novas oportunidades, ou pelos diplomas dados com passagens administrativas ou sem avaliações no ensino básico e no secundário, pois essas mesmas estatísticas não reflectem o analfabetismo funcional, nem a iliteracia, nem o número de professores cuja ignorância comove, que não lêem, que não compram um livro, que fogem a todas as discussões e assuntos que não a gastronomia, o futebol, a doçaria, conventual ou não, as novelas, o Paris-Dakar, as motas, as bonecas, o ciclismo, as modas, incapazes de analisar uma situação, perspectivar um problema ou formular uma solução, uma grande maioria carrega uma ignorância confrangedora e constrangedora, quantas vezes, muitas vezes, demasiadas vezes na sua própria área de especialização entendem ? Por isso não falam, calam-se a tudo...

E depois ? E depois, por exemplo, quando me vêem, mudam de passeio, evitam os cafés e as mesas que frequento, evitam-me nas redes sociais, afobam-se e afogam-se nas suas banalidades, o que até agradeço pois restringe e selecciona automaticamente as minhas relações, filtrando somente os bons, os melhores, o que contudo não deixa de ter a sua piada. Enfim, uma cambada de ursos e ursas a quem o saber não comcita mas assusta… Não há-de o país ser o que é...

Quem não achou nenhuma piada a estes decretos reguladores regularizadores e promotores da cultura nacional foi o meu, o nosso amigo Alpalhão que há três a quatro anos atrás entrou em depressão, deixou de frequentar a nossa tertúlia, mas se curou com um salto para o Brasil, e os favores de uma brasileira que era criada de servir em sua casa e do qual tivemos noticias há bem poucos dias. Está em Angola, já refeito, já curado, desta vez pelo feitiço de uma preta que, diz quem nos contou e afiançou, o pôs em pé e na perfeição.

Mas quem é e a que propósito meto aqui a história do Alpalhão ? O meu amigo Alpalhão, nosso amigo, era um engenheiro muito conceituado e respeitado na cidade e na sua rua mas a quem a crise e o último governo não deixaram a vida correr de feição.

Num repente soube-se que afinal o Alpalhão não era engenheiro, era somente agente técnico de engenharia, qualquer coisa assim como se fosse bacharel, e como nenhum decreto o salvou, como acontecera com os carpinteiros, serralheiros e electricistas, e nem o amigo Alpalhão completara os dois ou três anos que lhe faltavam no curriculum para ser engenheiro a valer, acontece que foi ultrapassado pelas normas da União Europeia, viu gaiatolas passarem-lhe à frente no serviço estatal onde se refugiara havia mais de trinta anos, passou a cumprir ordens ao invés de dá-las, viu o vencimento estagnar e o horário alongar, de um dia para o outro viu-se impedido de entrar às nove e sair às nove e meia para ir para casa fazer projectos por sua conta em regime de private travel, e como se todo este azar não bastasse, na rua onde morava passaram a ignorá-lo, a esconder-se quando ele surgia, a não lhe falar primeiro e a desrespeitá-lo depois, até em casa as coisas passaram a andar tremidas, o caldo sempre entornado e, cereja no topo do bolo, quando o bom do Alpalhão foi chutado para o quadro de excedentários e os serviços encerrados ele não aguentou a pressão entrando em depressão profunda da qual só sairia com ajuda da empregada doméstica que tinha em casa a qual estivera por um triz para despedir, uma mulher dedicada que por ele manteve um exemplar desvelo até, já em Campinas, para onde o levou, ter descoberto que o Alpalhão não tinha diploma com equivalência no Brasil e não lhe serviria para nada, pelo que na última consulta o deixou no posto médico com a indicação de:

- Agora faça por você mêu menino pois você já me enganou que chegue, e nem pense se aproximar de mim nem de minha porta ou te meto meus primos no encalço e te partem essa carinha de parvo…

Aqui a história do Alpalhão regista um enorme hiato pois só voltamos a saber dele em Luanda, apaixonado por uma preta, imagine-se, ele que por cá tratava os pretos a pontapé nas obras que dirigiu enquanto o supuseram engenheiro.

A vida tem destas coisas, amigos comuns que se piraram de Cabinda por causa da crise do petróleo trouxeram-nos noticias dele, é chefe de oficinas no importador dos camiões Volvo para Angola, tem dois lindos rebentos mestiços, a Mingas e o Zulu, crianças adoráveis que ora o tratam por paizinho ora por avozinho, refez a vida e, ele que sempre apreciou bumbuns (levaram-no ao Brasil, lembram-se?), é amigado em segundas núpcias com uma preta lindíssima, lindérrima jura o Barrenho, que já a viu, que afiança ter peito e rabo de descaroçoar qualquer um por isso a malta o sabe curado e feliz, cagando para o país e para as eleições e candidatos, se calhar se cá estivesse votaria no Tino de Rans que também não tem diploma

Quanto ao resto do debate eu recomendo a quem votar Nóvoa que comece uma petição para lhe oferecer um smartphone, o homem é um indeciso e um coninhas que vai precisar de telefonar a toda a hora ao Costa dos comandos, Costa assino ? Costa veto ? Costa apoio ? Costa promulgo ? Por mim torci por Henrique Neto, socialista e meu candidato, porque em cada três afirmações que faz acerta em quatro e a Luisinha torceu por quem de direito e, mesmo discordando, e zangados, opinámos e concordámos que o Marcelo tem uma pedalada e um savoir faire que dá para os embrulhar a todos e se dúvidas havia deixou de haver, vai ganhar à primeira volta.


(a) Ver Correio da Manhã de 21- 01-2016