sexta-feira, 8 de março de 2019

583 - SOLIDÁRIA, NÃO SOLITÁRIA... by Maria Luísa Baião *


Inquieto-me, em sonhos revolvo a cama. Mesmo a dormir quem me guarda, mau grado muita tisana teima sempre em me acudir. Será porventura algum anjo que desta forma me abana buscando o senso comum ? Na verdade pesa-me fundo tão triste, tão vil espectáculo com que nos carrega o mundo.

Não aprendemos ainda como escrever alegria. Teimamos quais formiguinhas num esforço assaz inglório, embrulhar em fantasia a lufa-lufa diária de nossas singelas vidinhas.

Não entendemos ainda como construir um jardim. Cavamos fundo na alma pois não sabemos que a calma é provinda, via aérea, do aroma do jasmim. São flores etéreas e lindas, não lançam grandes raízes mas alimentam felizes, as que desde mui petizes descobriram ser assim que se geram, quais tenazes, eternas boas vontades e se criam amizades.

Sonho. Percorro um mar de lilases. Estendo o esforço e a razão até ter forças capazes de te acudir, dar a mão. Sou fraca como o lilás, mas como eu qualquer uma desde que o queira é capaz, de imitar esta maneira de pôr em tudo que faz, uma solução eficaz, resultante e prazenteira.

O mundo é já bem azedo, pr’a quem leva o dia-a-dia gizando amanhãs tendo medo. Imaginem só por momentos, que ao invés desses tormentos todas nós num gesto uníssono, como em convés de bulício rumamos contra a maré. Bastará mexer um dedo, crer, ter fé, acreditar, dedicar todos os dias um pouquinho desse querer pr’a ver o mundo mudar.

Quando um arco-íris redondinho riscar os céus delirante, então inda que por um instante, nesse astro galopante seremos nós outra gente. Mais juntinhas à salvação, nos carreiros da redenção e de um futuro radiante. Sentiremos no porvir a consciência contente, nem temeremos ao dormir acordar para a penitência a que o dia-a-dia obriga. Eu que o diga.

É esse esforço mutante o caminho a percorrer por todas que queiram saber o gosto, o aroma, o prazer, da sensação triunfante que se achará a jusante de um outro modo de ser.

A solidão arruína, torna a alma pequenina incapaz de querer, de dar. Mas a gratidão sentida pela dádiva genuína d'os outros nunca olvidar enriquece, enche de calma o sono de quem dormita. E quando a vida é vivida de forma desinteressada, mas em que a dor de qualquer uma que esteja necessitada em nossa mente gravita pr’à tornar menos pesada, podemos então gritar, não que estamos, mas que somos, uma mulher solidária.

É preciso perceber que o mês que está a correr sob este tema tão batido que é a SOLIDARIEDADE, deve ser no meu pensar um mês inteiro a esquecer. O que temos que lembrar é que este tema tão lindo e que a todas é tão caro, não é pr’a comemorar é para fazer valer durante o resto do ano, durante o resto da vida, durante o resto do querer.

O que eu não quero entendam já, é que fiquemos por cá por esta terra tão querida, como ficaram por lá e pelo resto da vida as tristes comemorações dos dias e das cidades sem carrinhos nem carrões, em que um dia tudo anda a pé mas em que no resto do ano se esforçam por demonstrar, quase todas (os) sem excepção, quanto são gente sem fé.

Se é certo que a solidão mata a SOLIDARIEDADE acredite, poderá bem ser a chave do celeiro que a todas (os) farta.

Desde pequena ouvi dizer a quem mui bem o sabia, que a coesão faz a força e só assim se mata caça quem acredite e porfie trilhar por sua autoria caminhos de venturança.

Talvez vá exagerar mas como pr’a vos convencer a tudo vale deitar mão, bem poderá acreditar que, se seguir o meu pregão esbarrará no futuro com toneladas de abastança e um grande grande perdão.

“Solidariedade é caminharmos todos juntos” - Cátia Canelas, 8 anos, EB1, Cruz da Picada, vencedora do concurso “Mês da Solidariedade -  Freguesia da Malagueira” - Évora 2003.
* By Luísa Baião,‎ escrito sexta-feira, ‎16‎ de ‎maio‎ de ‎2003 pelas ‏‎08:19 h e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.

terça-feira, 5 de março de 2019

582 - TIR@PICOS by Maria Luísa Baião * ...................



Quomodo vales? Scribit ad narrandum, non ad probandum, sine ira et studio. Que nação o meu coração abraçou ? Que razão o meu coração abraçou ? Serão vãos focos, luzes, aplausos, ritmo.

Que nação que não esta tem um sol assim pela manhã ? Vida é babilónia, viver uma insónia. Estás a ver a cena ? Pela rua abaixo, pela rua acima, sempre o mesmo ardina. Por onde entra o sol na peneira ? Como entra o sol na peneira ?

O sistema é um dilema, não será problema quando o dilema é sistema ? Sempre a mesma barulheira ! Sempre a mesma bandalheira ! Nunca haverá caminho se o caminho não for a direito ! Atention ! danger ! Adiante ! Suerte amico cuida-te ! Será culpa minha ? Será culpa tua ? Quem é que ordena ? Quem mais condena ? Quero encontrar a esperança, quando voltará ela ? Quero parar na próxima estação ! Quero mudar na próxima estação !

Quero fugir a esta mão negra, quero correr o meu destino, quero parar apenas e só numa praia, no mar…! Ver perdido o coração, olhar embevecida e gritar;

- Bem-vinda a manhã !
- Não me gritem !
- Cuidado c’o mundo !
- Não me gritem !
- Próxima estação ! Esperança !

Quanto falta para ela? A sangue e fogo a vida será sempre má façamos o que façamos. Qual será a última hora, a nossa última hora, o tempo escoa-se. Carroceiro faz a hora mudar, quero soltar o coração, quero caminhar altiva e segura, segura e altiva que por este solo caminha uma raça.

 Cuidado com a noite, ela ameaça, cuidado com a morte, cuidado com a sorte. A morte vem a sorte vai, já não há que estranhar. Já não espero, é meu destino, já não me enganam. Cresci, amadureci. Vi. Encontro certos dias o demónio, caio sempre na trampa de confiar, não na trampa de amizar, mas na trampa de o encontrar.

Esse negócio me sai mal. Tem cuidado, num país do sul me mato a trabalhar, num país do norte me mato a inspirar. Uma tristeza, longa, que mereci por me agarrar à esperança ? Agora danço assim, já não me engano, vira vira vira vira vira vira vira vira vira.

Que oração cantar ao coração ? A estrela Vega nos guie nesta serenata de ardilas em fantasmática cidade onde, por vezes, dou por mim distanciada, outras esquecida do que sou. Já estou virada ? Já estou curada ? Cá me vou, sempre só com minhas penas, tecendo vivas ao amor que lhe tenho.

Ninguém rouba a Primavera. Não passarão, não, não passarão se não vierem por bem.

- Bem-vinda a minha sorte. Crente, não creio na morte,

- Bem-vindo o amor

sussurrou-me uma cigana, bem-vinda tequilla, macieira e a Maria Joana ! Rádio Bemba… que se passou ? Que passou ? A polícia chegou ! Vai ouvir a Rádio Bemba, presente ! pim ! pam ! Pum !

Cuidado com o barco, não entornes o caldo, como alma perdida neste século, todo mundo nos condena, só desejo correr o meu destino, é desatino ? Que se passou ? Que passou ? O vento sopra pela rua ensaiando uma vaga serenata de amor. Cuidado, ensaiando nos vão dobrando.

Que cidade esta, tem avenidas de amor ! De dor, passemos pela rua, não passemos, não, a mim nada me pára, nada me obriga a mirar, a acreditar.

 Adiante ! Agora danço assim - tira tira tira tira - não quero a morte como futuro, bem-vinda a sorte, o amor, a manhã, para a direita ou para a esquerda, para a esquerda ou para a direita, deixem-me, vou só com as minhas penas.

Corro pela luz, pela esperança, p’la dignidade, paz, saúde, trabalho, independência, liberdade, democracia, educação.

Que nação tem um sol assim p'la manhã ? Vida é babilónia ! Viver uma insónia. Estás a ver a cena ?

P'la rua abaixo, p'la rua acima. O sistema é um dilema, não será problema se o dilema é um sistema. Estás vendo a cena ? Estás a ver a cena ?

Vai ouvir a Rádio Bemba ! **

Será culpa minha ? Será culpa tua ?

Bem-vindo o amor, bem vinda a cigana, bem-vinda a tequilla, a macieira e a Maria Joana !

It deciphers me. 

* Texto dedicado p'la Luísa ao seu querido e saudoso amigo Tirapicos, escrito ‎a ‎20‎ de ‎Fevereiro‎ de ‎2006, pelas ‏‎12:06h, paz à sua alma. Inédito, não existe certeza quanto a ter sido publicado. 






segunda-feira, 4 de março de 2019

581 - SER OU NÃO SER LIBÉLULA by Luísa Baião*



              Eu não sei por que é que nem todas vós gostais de voar, as coisas vistas de cima são tão bonitas ! Acho que é por medo. Por medo de cair. É pena porque lá no fundo, se não se cai também não se vêem os pássaros nem as borboletas e não se vê nem o luar, nem o arco-íris, nem os campos lindos deste Alentejo mirrado.

É que depois, como quem nunca viu nada fica sempre de fora das conversas, porque não sabe sobre o que falar, fala-se sobre o nada, ora só falam sobre o nada certas pessoas... Que falam por falar… Eu gostava de ser libélula, porque as libélulas falam das nuvens ou da beleza do arco-íris, da brancura do luar ou até das flores dos verdes campos enquanto outras pessoas se perguntam;

- O que é isto ?
Eu nunca vi...

e piscam os seus olhinhos míopes.

Certo dia percebi um alvoroço entre os gentios, e D. Coruja, professora que se especializara nas cousas da noite, disse ter visto uma cujo rabo era tão grande que ia do horizonte até o umbigo do céu, bem acima das nossas cabeças.

- Ele vem de muito longe, de muito longe mesmo. 
  Só passa por aqui de 76 em 76 anos...

vem das lonjuras do céu, é um brinquedozinho do sol. Uma espécie de iô-iô. Nós, aqui na terra, somos brinquedos também, somos um grande carrossel, girando, girando, sem nunca chegar perto, sem nunca chegar longe, sempre no mesmo caminho...

Assim falou D. Coruja, que também disse uma coisa que nos fez pensar;

- O cometa tem poderes mágicos. Ele tem o poder de realizar os desejos de quem o vir. Se alguém, ao olhar para ele, de todo o coração desejar alguma coisa, essa coisa acontece mesmo...


        E foi naquele reboliço, cada qual dizendo aquilo que iria desejar quando visse o cometa que desejei ser uma libélula, para estar mais perto do milagre. Mas o milagre só acontece para aquelas que vêem o cometa.

        Eu queria ser libélula e ver as coisas bonitas do mundo. Não havia nada que desejasse mais do que isso. E com esse desejo imenso adormeci. E sonhei. Sonhei com o que mais desejava e nos sonhos os meus desejos se transformavam em realidades. Sonhei com um céu multicolorido, com o arco-íris, e que em redor tudo ficava luminoso e reflectido na água.


Primeiro vi uma gota de orvalho brilhando e os raios de sol partindo-se nela em sete cores, vi pinheiros verdes, o azul do céu, o brilho do sol, um mundo de coisas bonitas. Então compreendi que só querendo os nossos olhos vêem aquilo que o coração deseja.

Quando o desejo é belo, o mundo fica cheio de luz, mas sendo o desejo ruim, o mundo entristece-se...

E qual libélula sobrevoei uma lagoa, folhas que flutuavam na superfície e deslizavam na corrente como leves barquinhos. E vi peixes sonolentos, de grandes olhos abertos, habitantes das funduras. Vi três mundos: o das coisas de dentro, o das coisas de fora, e o dos reflexos.

Não, a magia não era para ver mais longe. O maravilhoso não estava escondido nas funduras do céu nem nas profundezas da terra. A magia era para ver diferente aquilo que os olhos tinham visto sempre, sem ver.

Ah! De que adiantariam olhos de ver longe se eles não tivessem o desejo de olhar o maravilhoso inda que morando perto ? Sim eu estava vendo como nunca antes este mundo encantado, lindo bastante e do fundo do coração desejando sinceramente que nele haja sempre bondade e beleza.

Para mim o milagre aconteceu... E agora sei, porque vi, qual a razão pela qual a chuva cai aos pinguinhos e não toda de uma vez e descobri o lugar onde podemos encontrar as respostas para as perguntas que temos ou a apreciar a poesia de Fernando Pessoa, as sonatas de Mozart, as telas de Monet, pores-do-sol, beijos, perfumes e outras coisas que apenas nos darão felicidade.

Adeus.  **

* By Maria Luísa Baião,‎ escrito ‎ quarta-feira, ‎31‎ de ‎agosto‎ de ‎2005 ‏‎pelas 15:46 horas e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.


‎** Texto inspirado pelos lindíssimos contos de R. A., colectânea “A Toupeira”

580 - HÁ HOMENS TESOS ! by Maria Luísa Baião *



Ricas férias passei, mas em abono da verdade vos digo que, se do Carnaval de Évora tivesse sabido, teria sido aqui por mim vivido, e não noutras paragens com tamanha antecedência marcado.

Não vale a pena chorar no molhado, até porque molhados estiveram quase todos os galegos dias que em férias andei. Mas valeu a pena, descomprimi, descansei e ri, remédios essenciais a um bom arbítrio dos humores, já que de amores me quer parecer, nunca padecerei.

Ginguei e passeei p’las bandas de Finisterra, lá onde o mar começa e se acaba a terra, palmilhei os “caminhos de Santiago”, o tal que volveu santo, de apelido Compostela, por alcunha o “Mata Mouros”, e que, decerto não por milagre, me poupou a aziagos dias, apesar do tenebroso frio que por todas aquelas cidades se sentia.

Muitos tesouros vi nem todos brilhando de fulgor, alguns, bem poucos com pena o digo, tendo mais a ver com honor e perigo, audácia, coragem, visão, castigo e recompensa, cuja riqueza está mais no que exemplificam e se pensa, que na falácia de quem muito e em vão grita.

Vim contrita, contrita e meditabunda, revendo planos, projectos e, de forma rotunda revendo e reinventado, reinventando e revendo o que nos separa dessas gentes, tão formigas, tão contentes, tão amigas, alegres, nunca displicentes. Hereges não são por certo, visto existir sempre por perto lugar de recolhimento, meditação ou oração, seja monumento ou não que lhes permita sentir, pensar e melhor agir.

Foi em Vigo que espantada,vi uma estrutura criada, melhor, uma escultura moldada por quem dessas coisas sabe. Vigo, cidade entalada entre o mar e a serra, cujas gentes, num truísmo, renegaram o determinismo que esse fado lhes traçava, roubando ao céu o espaço que a terra lhes negava. Testemunha-o essa escultura, que apontando para a altura, dá conta do querer e saber de quem procura a fortuna com seus braços e mister.

Quatro garanhões pujantes, trepando impantes por base que a escultura ergue às alturas em espiral mais do que instável, subindo com virtual ímpeto e quase se atropelando, num equilíbrio precário, parecendo quererem ultrapassar-se na estreita faixa que pisam. Tal milagre termina com o primeiro, o que conduz essa tão destemida quão desabrida corrida, sem chão debaixo dos pés, empinado no precipício que lhe serve de edifício, só lhe faltando ganhar nessa corrida imparável, céu e espaço adjacentes. Que imponentes, que lindos, que vivos, que impressionantes os traços desse artista que a tal beleza deu vista.
 
         Claro, logo ali quis saber o querer de tão nobre gesto em ferro e aço tornado. Pois há pouco que dizer, simboliza tal delícia a vontade de um autarca, de um povo que em terras da Galícia ousou pensar e fazer, ousou trabalhar e querer. 

Simboliza essa expressão, que fado algum parará quem em si mesmo acredite. Que mesmo faltando o chão, nada, nada fará parar quem recuse ouvir um não. Vigo recuperou numa década o atraso que a separava do desenvolvimento de muitíssimos anos que a afastava do resto de Espanha e da Europa. Por cá, muita gente se prepara já para apostar ou penhorar o capital de crédito, o muito ou pouco que lhe resta e quase em cima de eleições.

A ninguém parecemos querer dar nem o beneplácito da dúvida, nem tempo para galgar o precipício, parecemos mesmo mais seduzidas (os) por nos atirarmos dele abaixo que em saltá-lo. Não nos precipitemos, saibamos aguardar………….….………
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* Por María Luisa Baião, escrito el jueves 26 de Febrero de 2004, a las 17:50 horas y publicado en el Diario del Sur, rúbrica "KOTA DE MUJER" en los días siguientes.


domingo, 3 de março de 2019

579 - PARABÉNS MARIANA, by Maria Luísa Baião *


Mãe babosa me enviou notícias de prisão afectuosa e nesse preciso instante me lembrou momentos que, quando o vagar permite, por distantes, saudosa e de rompante acodem ao meu espirito. É um bem-estar infinito e prolongado este mister, de, sendo mãe se prolongar o querer, se amar por vezes calando fundo a dor, de não regatear nunca nem a ambição nem o amor. É isto ser mulher.

Incontida força de vida nos assalta. A cada momento traçar metas mais altas nos leva esse milagre, porque alimentamos nos peitos ufanos chama que arde desde os primeiros instantes, até que Deus nos guarde. A cada dia que passa lutamos mais e mais por essa nova razão que carregamos nos braços, nos enche o coração, nos envolve como mago manto que tantas e tantas vezes nos serve igualmente p’ra esconder o pranto.

Sim, é verdade que a vida nos tornou mais sorridentes, que a toda a gente mostramos vaidosas esse torrão bonito que nos prolonga o sorriso deixando ver os dentes. Receosas o guardamos mesmo quando a brisa do amor nos pinta o lar e, rodopiando à nossa volta, etérea e volátil do perfume das rosas nos esparge.

É nesses momentos que, cavalgando delirantes sonhos de tudo e para tudo nos sentimos prontas, nos tornamos capazes. Como esta menina que sua mãe envaidece outras houve já que mulheres audazes se tornaram. Uma, vinda de Espanha se casou em Elvas e nossa rainha veio a ser, pois quis a tradição que de D. José viesse a ser mulher. Que tempos esses em que não a razão mas o interesse ditava cartas, calava lamúrias, forçava ao dever. Foi essa espanhola trocada pela nossa D. Maria Bárbara quem, nesse mesmo dia hora e local desposou D. Fernando, Príncipe das Astúrias, para onde foi viver.
Ganhámos nessa troca que na história não foi única, D. Vitória Mariana de Espanha veio e nos trouxe qual tesouro de filigrana o amor ao Teatro, às Artes e à Música.

Mas Mariana não é nem nome nem caso isolado no passado. Já Fernão de Magalhães jovem dotado, com esse nome baptizara por motivos que não sei, um arquipélago de ilhas no Pacífico e que resolveu oferecer ao nosso rei. Homem de guerra, imagino-o, com saudades de Portugal e de alguém mais que não confessa pois poder-lhe-ia ser fatal. Consta que ao avistar no mar esperança de terra e, antes provavelmente que a razão se sobrepusesse ao coração, logo se apressa a dar-lhe tão querido nome que levaria pregado na lembrança.

No mesmo mar oceano cujo fundo é de certeza abismal, alguém pôs ao sítio em que a maior profundeza registou, o nome de alguma Mariana que por certo uma vez na vida amou. Amar amar amou Soror Mariana Alcoforado, a um oficial estrangeiro afrancesado, Marquês de Chamilly, que por nós lutou nas guerras da Restauração. A ele dirigiu cartas de amor cujas palavras, por terem saído da sua própria mão, a levaram a tornar famoso o Convento da Encarnação, em Beja, em terras aqui tão perto e que ela por amor nunca viu como um deserto.

Que a esta Mariana que ora aqui chamo, porque ainda não há uma semana fez um ano e sua mãe por certo embala embevecida Deus conceda muitos e muitos anos de vida, tenha tantos motivos para ser amada como as outras de que reza a história e atrás foram chamadas. Que nunca sobre ela caiam as suspeitas que tornaram mártir uma outra Mariana, esta esposa do tão odiado rei Herodes “ o Grande “, da Judeia, o qual por razões com mais de dois mil anos conhecidas o tornaram tristemente grande e célebre entre os grandes homicidas.

Que a nossa Mariana possa ter quem a ame e estime com grandezas tais que dela se possa dizer o mesmo de “Mariana”, decerto por amor tornado nome de cidade brasileira em Minas Gerais, cuja história não conheço, mas a quem por ter nome de mulher dou grande apreço.


* By Luísa Baião,‎ escrito ‎ terça-feira, ‎27‎ de ‎maio‎ de ‎2003, pelas ‏‎15:09h e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.

** https://pt.wikipedia.org/wiki/Mariana#Funda%C3%A7%C3%A3o