Inquieto-me, em
sonhos revolvo a cama. Mesmo a dormir quem me guarda, mau grado muita tisana
teima sempre em me acudir. Será porventura algum anjo que desta forma me abana
buscando o senso comum ? Na verdade pesa-me fundo tão triste, tão vil
espectáculo com que nos carrega o mundo.
Não aprendemos ainda como escrever alegria.
Teimamos quais formiguinhas num esforço assaz inglório, embrulhar em fantasia a
lufa-lufa diária de nossas singelas vidinhas.
Não entendemos ainda
como construir um jardim. Cavamos fundo na alma pois não sabemos que a calma é
provinda, via aérea, do aroma do jasmim. São flores etéreas e lindas, não
lançam grandes raízes mas alimentam felizes, as que desde mui petizes
descobriram ser assim que se geram, quais tenazes, eternas boas vontades e se
criam amizades.
Sonho. Percorro um
mar de lilases. Estendo o esforço e a razão até ter forças capazes de te
acudir, dar a mão. Sou fraca como o lilás, mas como eu qualquer uma desde que o
queira é capaz, de imitar esta maneira de pôr em tudo que faz, uma solução eficaz,
resultante e prazenteira.
O mundo é já bem
azedo, pr’a quem leva o dia-a-dia gizando amanhãs tendo medo. Imaginem só por
momentos, que ao invés desses tormentos todas nós num gesto uníssono, como em
convés de bulício rumamos contra a maré. Bastará mexer um dedo, crer, ter fé,
acreditar, dedicar todos os dias um pouquinho desse querer pr’a ver o mundo
mudar.
Quando um arco-íris
redondinho riscar os céus delirante, então inda que por um instante, nesse
astro galopante seremos nós outra gente. Mais juntinhas à salvação, nos
carreiros da redenção e de um futuro radiante. Sentiremos no porvir a
consciência contente, nem temeremos ao dormir acordar para a penitência a que o
dia-a-dia obriga. Eu que o diga.
É esse esforço
mutante o caminho a percorrer por todas que queiram saber o gosto, o aroma, o
prazer, da sensação triunfante que se achará a jusante de um outro modo de ser.
A solidão arruína, torna
a alma pequenina incapaz de querer, de dar. Mas a gratidão sentida pela dádiva
genuína d'os outros nunca olvidar enriquece, enche de calma o sono de quem
dormita. E quando a vida é vivida de forma desinteressada, mas em que a dor de
qualquer uma que esteja necessitada em nossa mente gravita pr’à tornar menos
pesada, podemos então gritar, não que estamos, mas que somos, uma mulher
solidária.
É preciso perceber
que o mês que está a correr sob este tema tão batido que é a SOLIDARIEDADE,
deve ser no meu pensar um mês inteiro a esquecer. O que temos que lembrar é que
este tema tão lindo e que a todas é tão caro, não é pr’a comemorar é para fazer
valer durante o resto do ano, durante o resto da vida, durante o resto do
querer.
O que eu não quero
entendam já, é que fiquemos por cá por esta terra tão querida, como ficaram por
lá e pelo resto da vida as tristes comemorações dos dias e das cidades sem
carrinhos nem carrões, em que um dia tudo anda a pé mas em que no resto do ano
se esforçam por demonstrar, quase todas (os) sem excepção, quanto são gente sem
fé.
Se é certo que a
solidão mata a SOLIDARIEDADE acredite, poderá bem ser a chave do celeiro que a
todas (os) farta.
Desde pequena ouvi
dizer a quem mui bem o sabia, que a coesão faz a força e só assim se mata caça
quem acredite e porfie trilhar por sua autoria caminhos de venturança.
Talvez vá exagerar
mas como pr’a vos convencer a tudo vale deitar mão, bem poderá acreditar que,
se seguir o meu pregão esbarrará no futuro com toneladas de abastança e um
grande grande perdão.
“Solidariedade é caminharmos todos juntos” - Cátia Canelas, 8 anos, EB1, Cruz da Picada, vencedora
do concurso “Mês da Solidariedade - Freguesia da Malagueira” - Évora 2003.
* By Luísa Baião, escrito sexta-feira, 16 de maio de 2003 pelas 08:19 h e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.