quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

799 - O HERBÁRIO DO ASTROFÍSICO ...


 

De vez em quando acontece, acontece-me e, desta vez pensei que assim tivesse sido, tivesse ido ao engano, ou não. 

Bem, para ser franco fui, fui e não fui. 

Sim, porque pensara ser o livro uma coisa e saiu-me outra. 

Não porque embora tendo saído coisa diferente não me desiludiu, antes me deixou inicialmente perplexo e depois admirado, surpreendido e finalmente agradecido.

 

Nunca pensara que o velhinho simpático que nos surge na capa fosse o próprio autor, mas é mesmo ele, e estava mais longe ainda de julgar esse velhinho, com toda uma vida dedicada à infinidade e aos mistérios do universo, se dedicasse e deliciasse com coisas tão prosaicas como as flores que pisamos ao atravessar quaisquer caminhos ou ao cortar a direito pelos campos adentro.

 

Desenhei então um quadro mental em que, uma mente sábia e habituada á grandeza e gigantismo das galáxias se debruçava sobre a singela pequenez da enorme beleza que dia a dia ignoramos. Desse modo fui avançando numa leitura que de início me colocara algumas dúvidas, outras tantas apreensões, e à qual torcera o nariz. Mas valeu a pena. 

 

Gosto de biografias e, não sendo o caso, é lícito acreditar que ao lê-lo saberei como pensa e desenvolve o raciocínio mental alguém à altura de um Einstein, acreditei que tal seria curioso e atirei-me ao livro, que me fora recomendado por quem com eles gosta de brincar, com o afã de um crente agnóstico.

 

Saindo de minha casa e virando à esquerda, entrando na privada pública quinta das Glicínias, propriedade do IEFP e centro de formação na área da agricultura e maquinaria inerente, embrenho-me num campo sem fim, pejado de flores silvestres, tal como Hubert Reeves descreve aqueles em que na Borgonha atravessa durante os seus idílicos passeios.

 

Verdade que já vos falara desses campos e os fotografara para um texto neste blogue sobre um outro livrinho, este, ou melhor esse, da autoria da nossa amiga ACL.

 

https://mentcapto.blogspot.com/2016/04/342-o-livro-da-leonarda.html

 

https://mentcapto.blogspot.com/2016/04/343-leoparda.html

 

Todavia, contudo, mas porém nunca é demais aceitar e anuir que olhava esses campos floridos no seu todo nunca me tendo preocupado com os milhares de individualidades florais que o compõem.

 

Verdade que o autor nos descreve cada flor e cada folha com uma ternura e uma paixão que, mais que nos esclarecer nos emociona e enternece (desculpai-me se isto soar a redundância), verdade que a sua leitura nos embevece, e acalma a alma, o que não deixa de ter o seu mérito considerando que as flores não tinham sido até aqui o meu principal foco de interesse.

 

Durante perto de quarenta e cinco anos vivi com uma tão sapiente quão bela flor selvagem, contida, comedida, diplomata, toda ela bom senso e etiqueta, a quem somente as limitações sociais mantinham dentro da jarra a partir da qual jorrava a luz que iluminou a minha vida.

 

Naturalmente tornei-me dependente dessa única e inigualável fonte de alegria, tão dependente que uma vez perdida iniciei a demanda do santo graal, buscar e colher flor igual que de novo apaziguasse os meus dias.

 

Demanda profícua é certo, tão profícua que hoje posso dizer estar literal e metaforicamente rodeado de flores, porém, foi preciso aparecer Hubert, aparecer e gritar-me que do alto da sua cátedra vira uma flor selvagem para que eu, deitando os olhos ao chão, visse de quanta simplicidade e beleza estou rodeado, tanto no que á flora concerne quanto concerne ao factor humano.

 

“Small is beautiful”, quantas vezes li os ensinamentos deste livrinho de mais de duzentas páginas e nos quais muito reflecti nos tempos da minha juventude, demorei mais de quarenta anos a debruçar-me seriamente sobre essa frase e a dissecá-la.

 

“A beleza das pequenas coisas” surpreende-me hoje que, aposentado, parei de correr para chegar a horas, para não faltar, para estar presente, para não falhar, concluindo ter andado correndo atrás de coisa nenhuma, sem tempo para olhar em meu redor e ver de quanta beleza estava cercado.

 

Que a flora vegetal e a fauna humana me perdoem o desiderato, tão parvo fui que exacerbado com os nossos actuais preconceitos, tabus, castas e iluminada racionalidade, nem ao menos vi nem a liliputiana beleza de que sempre estive rodeado nem o incomensurável infinito que preencheu a vida de Hubert, agora virado para as pequenas coisas, ele também um “Deus das pequenas coisas”.

 

Lendo-o sinto que me tornei outro, mais calmo, melhor pessoa, mais feliz, mais desapegado das coisas mundanas e do consumismo irracional que nos cilindra e, em que o mundo, e muito em especial este meu país são férteis.

 

Uma vez mais constato, isto anda tudo ligado, obrigado Ana por me teres levado ao engano.

Uma vez mais ?

Bom Ano Novo pessoal, cuidai de vós.    





 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

798 - COMÉRCIO TRADICIONAL * public. em 2001


                                        COMÉRCIO  &  DINHEIRO *

 

Prezo fazer as minhas compras no comércio tradicional, só a mercearia adquiro, por razões de estacionamento, comodidade e preço, nas grandes superfícies.

Há muito que deixei, porque me prejudiquei e arrependi, de fazer compras significativas nessas grandes superfícies, como electrodomésticos, material de Tv, áudio e vídeo, mobiliário, roupas e quejandos, pois não podemos contar com qualquer garantia ou assistência efectiva, ainda menos com solicitude, atenção e simpatia.

A título de exemplo digo-vos que a fruta em minha casa é excepcional, tão só porque a vou comprar na Senhora da Saúde, ao lugar da D. Vicência. Claro que desde que o faço nunca mais tive que deitá-la fora, quer porque não prestasse, ou porque apodrecesse de um dia para o outro. Ali a qualidade é garantida. D. Vicência não tem coragem para enganar os clientes, tal seria para ela um pecado inconcebível, como o seria para o Senhor António, que nas Corunheiras vela pela qualidade da carne que consumo em minha casa, carne que ele próprio escolhe, embala, e até identifica com etiquetas, para que mais tarde, congelada, me não engane no que pretendo cozinhar.   

Esmeros do comércio tradicional, que me levam muitas vezes também ao mercado municipal.

Talvez haja algo de triste nestas circunstâncias, mas é assim o mundo de hoje e o de amanhã não augura nada melhor. Quantidade não é qualidade, os hiper´s tudo têm em quantidade, mas falham redondamente na qualidade, em especial dos serviços e do relacionamento humano.

É por isso, e só por isso, que vivendo num extremo da cidade, compro a fruta noutro extremo, e a carne mais longe ainda. Mas vale a pena, como vale a pena manter a amizade de toda essa gente que se esfalfa para nos colocar no cesto das compras produtos de primor, e um sorriso agradecido que nos desarma. Que contraste com as caras que nos hiper´s à mínima reclamação nos pedem o “talão ou a factura”, como quem nos pede o cadastro; Qual talão ? Qual Factura ? Quem não os deita fora até sem dar por isso ? modos de ver o mundo, paciência.

Quando por vezes olho para mim, observando o que me rodeia do alto dos meus quarenta e quatro anos, não posso deixar de pensar como a vida é lenta, tão demorado o tempo para que aprendamos qualquer coisa, e como tantas vezes, por comodidade, nos enganamos a nós mesmas (os).

Foi pois com alguma pena que dei conta das noticias assinalando o descontentamento de alguns comerciantes da nossa praça, insurgindo-se com o eterno arrastar das obras no centro histórico, e às quais atribuem as responsabilidades pela queda das suas vendas. Dei para comigo meditando que algo de grave se passaria, pois só isso justificaria que o comércio tradicional, uma classe por natureza tão recatada e comedida, tivesse vindo indignada para a rua fazer ouvir a sua voz.

Nunca como hoje o comércio tradicional esteve sujeito a um cerco tão apertado, resultado do mundo ter rodado mais depressa do que imaginámos, não disse eu atrás que penso ás vezes como a vida é lenta ? Não é contudo pelo facto de eu o pensar que ela se move mais devagar, e se alguém há a culpar por isso, culpemos Copérnico e Galileu, não foram eles quem nos tirou do centro do Universo ?

Mas não desarmem os comerciantes da nossa praça, começada uma luta, mau sinal seria que a não levassem até ao fim. Até porque as suas armas são difíceis de igualar, a cordialidade de um atendimento personalizado, por um lado, com a qual terão que saber combater a hegemonia das grandes superfícies, e a razão por outro, que já há muito deviam ter esgrimido perante quem lhes anda a comer as papas na cabeça.

Não creio, e bem avisados andarão se não acreditarem, que estejam nas obras as culpas das baixas vendas que apontam, ou não é verdade que outros comerciantes, noutras zonas da cidade que pelo contrário nunca viram obras, se queixem do mesmo mal ? A queda das vendas ?

O problema (e a solução), está na economia senhores ! Ou não viram ainda que esta é uma cidade adiada, e, se teimarmos, sem futuro ? Onde está o dinamismo económico desta cidade ? Não se vende ? Mas como vender a quem tem com a habitação mais cara do país um pesado encargo ? Como vender a quem, por culpa dos ineficientes transportes públicos que temos, é obrigado a encalacrar-se para comprar um, quando não dois carrinhos ? E vender a quem, se por causa do estacionamento (e das obras), o pessoal foge da cidade como o diabo da cruz ?

Vejam com os vossos próprios olhos, o Público de Sábado passado, 18 do corrente, pág. 13 do Caderno Mundo, onde o nosso presidente, admite preto no branco, uma …“preocupação quanto ao desenvolvimento económico, que considera “aquém de outros indicadores”... Outros ? quais ? E só agora se preocupa ? Passados quase trinta anos ? Nessa mesma peça jornalística, o nosso presidente caracteriza este mandato como o da modernização, requalificação urbana e afirmação de Évora, afirmações de que me riria, não fosse o receio de o ofender. É óbvio que o nosso presidente nada fez nem conseguirá fazer, já que nenhum governo o deixa fazer o que quer que seja.

Das duas uma, ou escolhe ele o governo, ou escolhemos nós outro presidente.

 


* Crónica publicada no Diário do Sul, coluna Kota de Mulher, em 24 do 8 de 2001


domingo, 10 de dezembro de 2023

797 - ALTO DE S. BENTO, UM VERO DESASTRE....

 



Porque havia sol e a manhã estava clara e luminosa como não se via há muito tempo, depois da bica dei corda aos sapatos e rumei ao Alto de S. Bento. Depressa me arrependi e a boa disposição que levava levou sumiço num instante.

 À medida que subia a mesma estrada cada vez mais mal enjorcada que calcorreio há sessenta anos fui ficando revoltado até me quedar surpreendido por um sinal de trânsito proibido que, na cabeça dos seus mentores terá sido ali colocado para resolver os problemas e dores de cabeça que o Alto de S. Bento lhes deveria dar.

                

 Na cidade resolvem os problemas de estacionamento colocando pilotes às centenas passeios fora e desfeando-a, ali bastou um sinal, "proibido avançar, só para residentes"... Portanto esquece que o Alto de S. Bento existe e pira-te, vai chatear outro, agora só criancinhas para verem o moinho a trabalhar, a farinha no ar, um museuzinho de brincar, ervas, arbustos, rochas, pedras, mato, e as célebres antenas supremo símbolo e ícone da nossa revolução tecnológica e do progresso de que Évora se arvora.

Aquela mais grossa, maior, mais parecendo uma árvore de Natal vermelha e branca, está lá há mais de 60 anos, era eu gaiato e subi-a, eu e mais uns quantos, quantos por ali deambulávamos antes de ser solenemente inaugurada. Há registo da ocorrência, uma patrulha da GNR fez questão de nos identificar a todos não fossem surgir no ferro do esqueleto inesperados prejuízos de monta, ficando assim a saber-se desse modo a quem os imputar.




Imputar, Input output, décadas mais tarde esse esqueleto haveria de alojar também e para além das que já tinha em cima as antenas parabólicas e outras que permitiriam os sinais da G1 da primeira geração, já vamos na G5 não é ? Pois fiquem sabendo que do varandil que essa antena tem em cima já eu caguei, eu, o Abel, o Bento, o Barnabé e não sei quem mais, já lá vão muitos anos, eu deveria andar pelos meus 14 ou 15 já nem sei, só sei que a panorâmica alcançada lá do cimo é lindíssima e uma cagada feita a partir do céu é divinal !



Foi por estarmos tão alto que vimos, sem ser vistos, a Ana C. e uma meia dúzia deles atrás dela mata acima mais parecendo cães atrás de uma cadela aluada, depois foi encontrar a moita certa e aquilo foi à vez, mas isso a patrulha da GNR não viu. Não viu mas a coisa deu brado e um deles acabou por casar com ela, o primeiro ? O que ela apontou ?  Não sei nem imagino, mas sei que nunca foi um casamento feliz, não houve filhos, ela acabou por suicidar-se sendo então que eu me meti a pensar quanto de todo aquele amor livre ou amor desregrado, ou dado ao desbarato terá sido culpado pelo fim ou desenlace de tão triste história. É bem verdade que muitas vezes o barato nos sai caro …




Quando esbarrei no sinal vermelho de trânsito proibido já me tinha confrontado metros atrás com um outro sinal, azulado e sinalizando um parque de estacionamento, um sinal todo queimado do sol, a cair, esgarçado como quem o pensou, como mal pensado foi esse parque de estacionamento, natural, nascido ali há milhões de anos, agora aproveitado para desenrascar, mal esgalhado, sem piso corrigido, nem marcado, nem tão pouco cuidado, tal qual o cuidado que os visitantes merecem por parte do nosso município.




Tudo ali é mato, tudo é como uma mata porém e apesar disso alguns carros estacionados, em transgressão claro, na ambição de um fugaz e proibido momento de fruição da paisagem, paisagem misturada com contentores de lixo, uma tabuleta apelando ao museu ali atrás, museu também ele conspurcado pelo ambiente que o rodeia, um ambiente pejado de antenas ao Deus dará, plantadas sem o mínimo respeito pelo cuidado com o mesmo e salutar ou impoluto ambiente que querem enfiar à força na cabeça das criancinhas, para além desse espectáculo um céu truncado de fios e mais fios oferecendo-nos uma visão digna das favelas brasileiras. Saibam que é por estas e por outras que me estou cagando para separar o lixo, se os engenheiros e os políticos decisores e as autoridades competentes não se preocupam com o ambiente por que caralho me hei-de preocupar eu ?


Dou mais uns passos e esbarro com mais uma tabuleta, desta vez gritando-me “ Bem vindo ao Alto de S. Bento, hoje serás um protector da natureza” ! Serei sim, mas só se for da natureza selvagem do lugar, um lugar com tantas contradições como a cabeça de quem imagina estas coisas. Em qualquer outro país civilizado do mundo, qualquer edilidade teria aproveitado as vantagens do terreno, isto é as vantagens naturais oferecidas de bandeja pela natureza para as fruir ao máximo, contentando e conciliando natureza e cidadãos, criando parques de merendas, postos de apoio a caminhantes e escoteiros, varandas e restaurantes panorâmicos, parques de estacionamento exemplares, estradas como tapetes, dinamizando o lugar, desenvolvendo a economia local, criando postos de trabalho, gerando riqueza, satisfação e bem-estar, mas não, disso o último exemplo que temos tem mais de 50 anos, o “Parque Municipal de Piscinas Eng.º Arantes e Oliveira” a quem desrespeitosamente tiraram o nome da parede do complexo. O que os encanita é que em 50 anos de democracia ainda não foram capazes de fazer um décimo do que foi feito durante o (menor) período do Estado Novo.




E sabem por quê ? Porque esta gente não tem somente falta de inteligência, tem sobretudo falta de mundo, falta de visão, e tem um acentuado deficit de imaginação e quando falo desta gente quero ser claro, refiro-me a presidentes e técnicos, sobretudo técnicos, classe arregimentada, engajada ao podre poder que nos governa e de onde poucos, muitíssimo poucos se podem gabar de ter escapado ou de não estar com esse poder comprometidos ou a esse poder vendidos. 




É esse o mal de Évora, falta de inteligência, de visão, de mundividência e imaginação, mas há salvação, querendo e sendo capazes, havendo coragem, marquem uma entrevista comigo, uma bica, dois dedos de conversa e sairão outros dessa experiência...

Bom Natal e reformem-se, não nos fodam mais… Na sua maioria são demasiado caros para a merda de serviço que prestam à cidade.

             

ADITAMENTO: Com mais delicadeza ou menos, com mais paixão ou revolta, com mais comedimento ou atrevimento, com mais ou menos educação e modos, passadas que são 11 horas sobre a publicação desta postagem tenho recebido de vários quadrantes diversas criticas (por mensagem privada ou telefonema pois há nas pessoas mais medo de se pronunciarem em público agora que no tempo da outra senhora) diversos apoios e as mais diversas opiniões, às quais, com o bom modo que me caracteriza vou responder: - Sim, depois do 25 de Abril nenhuma obra municipal de vulto foi erguida tendo o parque das piscinas municipais Arantes e Oliveira sido a última delas, inauguradas a 5 de Setembro de 1964.

 

Quer o terminal rodoviário, quer a pista de atletismo junto da Vila Lusitano (à qual falta uma pista pra ali poderem ser homologados records ou ter lugar provas de nível internacional) quer a estação da CP alvo de melhorias significativas são obras de cariz NÃO municipal, tal qual algumas circulares externas do domínio da empresa Infraestruturas de Portugal EP.

 

Na realidade existe um mão cheia de entidades quer públicas quer privadas cuja função é prover à melhoria do nosso bem-estar e nível de vida que parecem não funcionar quando deviam era articular-se de modo rápido e eficiente para responderem às nossas necessidades. Ao invés disso vivem cada uma para si, de costas voltadas e o mexilhão que se foda e espere e desespere. São o Caso da CCDRA da CME do CIMAC Do Instituto do Desporto, da CP, das Infraestruturas de Portugal EP, da EDP, das Águas do Alentejo ou de Portugal, das empresas de telecomunicações, um exemplo dessa demora e falta de articulação parecem-me ser as actuais obras da circular externa do Continente à antiga Siemens e que tantos engarrafamentos e aborrecimentos têm provocado por toda a cidade….

 

O pomo da discórdia assenta no facto da cidade não ter lugares aprazíveis, não ser alvo de melhoramentos e de embelezamentos pragmáticos, ter estagnado no tempo, não ser gerida com rasgo, risco e ousadia, e o facto, grave, de não haver um plano conhecido que para tal aponte. Em 50 anos nações e cidades têm-se erguido do nada para hoje serem estrelas em vários campos.

 

Évora, cidade da cultura, pratica isso sim uma cultura cega, passadista, vendendo a turistas e nacionais um mundo monumental com 2 mil ou poucos menos anos nada tem de novo de que se possa gabar, tem vindo a regredir, a qualidade de vida dos seus cidadãos está pela hora da amargura, ou da morte e, se há 2 ou 3 anos disse a uma eleitora que mandasse fazer á sua medida e nas Caldas da Rainha um candidato à presidência da CME hoje digo sem rebuço que muito eleitor e eleitora eborense deveriam mandar fazer um boneco das caldas no Redondo ou em S. Pedro do Corval e o pusessem num altar perante o qual orassem. Talvez assim a cidade finalmente se livrasse das cataratas que muita gente tem nos olhos. Bom Natal.

  

























domingo, 12 de novembro de 2023

796 - FAZER DESPESA OU NÃO A FAZER ? A DESPESA BOA E A DESPESA MÁ....

 




Vai um reboliço com a discussão do OE para 2024. Só me admira que quer as premissas quer as projecções não sejam mais negras, mais fatalistas. Este governo tem sido hábil, e lábil, em adoçar a pílula e fingir que faz, não fazendo nada.

 

Mas que devia ele fazer que tanto receio tem em fazê-lo ?

 

Despesa. Cortar na despesa, nos gastos da república.

 

Toda a gente clama haver necessidade de cortar na despesa, nas gorduras, e certamente haverá muito por onde cortar, mas onde ? Quem ?

E é aqui que a porca torce o rabo.

 

Cortar despesa implica em grande parte dos casos despedir pessoal, à bruta ou com indemnizações, (geralmente a coberto de um qualquer programa de nome pomposo e virtuoso) qualquer das opções conduz a mais despesas, em rescisões, subsídios, etc. etc. etc. para além de arrastar à colecta de menos receita, menos contribuições para a SS, menos impostos, IRS, IVA etc. etc. etc.

 

 Quem não recebe não gasta, e quem não gasta não paga impostos, nem directos nem indirectos, ou passa a pagar muitos menos, enquanto por outro lado pode vir a ser beneficiário de isenções ou subsídios diversos.

 

Por aqui se vê que reformar implicará desgraçar ainda mais o país, o que o partido no governo não quer, e reformar a parte que não obrigue a despedimentos exige inteligência, precisamente o que este governo não tem. Nem este nem os anteriores. E seja dito em abono da verdade que reformas exigidas pela realidade há mais de quarenta anos, ninguém as promoveu.

 

E então ? Não há soluções ? Não há reformas ? Verdade verdadinha é que este governo, ao contrário do que apregoa não tem desenvolvido nenhumas. Tem-se limitado a medidas pontuais e esporádicas, mais das vezes com pior resultado que o pretendido.

 

Há soluções. Mas tb há que ter em conta padecermos de muitos outros males, e que quem quer que pegue nisto terá que conjugar economia, moral e ética, e um mix de educação, motivação e saúde que nos ajude a sair do buraco. Rezar a Nossa Senhora pode convir mas não é condição sine qua non.

 

Tão simples assim ?

Não.

Complicadíssimo até.

 

Porque o país está moribundo. Carente de reformas há mais de quarenta anos. Descapitalizado. Vendemos os anéis mas as dívidas continuam, e é inegável a necessidade de diluir a divida no tempo. Dívidas assumidas no fim da monarquia princípio da 1ª república, foram final e totalmente pagas somente e se não me engano já neste milénio, há não mais que uma dúzia de anos, sem que aparentemente nada tenhamos aprendido com isso.

 

Há que forçar o crescimento. Só o crescimento do PIB, da economia, nos pode salvar e tirar do buraco. Para isso é urgente começar a premiar o mérito, a competência e a assumpção de responsabilidade, apoiar as empresas, e em especial as PME que garantem emprego a 98% da nossa população, apoiar os empresários com medidas fiscais e financeiras, indexar os salários, o seu crescimento e a redistribuição de riqueza aos ganhos de produtividade e ao crescimento do PIB, tudo clarinho e preto no branco num contrato social envolvendo e assinado entre as partes, para que todos ganhem e todos saibam quanto têm a ganhar se o país evoluir. Mobilizando-os…

 

Há que dignificar o trabalho e a inovação, tal desiderato passa por permitir que sejam melhor remunerados os ganhos do trabalho que os ganhos financeiros, o que não acontece actualmente, em que o rendimento obtido pelas aplicações de capital estão claramente acima das obtidas com trabalho mental ou suado, o que é um mau sinal.

 

Temos que premiar o empreendedorismo, os ganhos de eficiência, penalizar a inércia e a inacção, oferecer aos empresários condições que lhes permitam capitalizar-se, ou recapitalizar-se, a fim de que actuem antes que os chineses comprem de vez isto tudo e encham o país de chinocas trabalhando 18 horas por dia por meia dúzia de patacas, yuans ou renmimbis.

 

Haverá que taxar fortemente o financiamento ao crédito e consumo de bens supérfluos e de luxo, incutir razoabilidade moralidade e educação neste povo, promover uma profunda reforma politica e social, (social, de mentalidade civil, cívica) definir regular e reformar o sector empresarial estatal e a respectiva gestão, estabelecer objectivos e metas responsabilizando as pessoas e exigindo o seu cumprimento não se permitindo jamais que a culpa morra solteira, estabelecer criteriosamente as áreas de actuação do sector público empresarial estatal e do sector privado, a fim de evitar promiscuidades e tentações pecaminosas.

 

Haverá tantas soluções possíveis como cabeças pensantes, mas teremos que estabelecer um despique saudável entre distritos, incluindo nele responsabilidades sociais que são assumidamente um dever de todos, particulares e empresas. É inaceitável que não cuidemos dos velhos, ou que deixemos abalar os mais novos, ou que chantageemos jovens mães para que não engravidem, tem que ser estabelecido um contrato social abrangente, onde todos se sintam incluídos.

 

Exigir-se-á moralidade e solidariedade a todos para que sejam desbloqueados milhentos processos, na banca, na autoridade tributária, pairando sobre a cabeça de inocentes que se viram sem rendimentos, sem emprego, e agora ameaçados na sua própria pátria de perder a casa ou forçados a emigrar, terão que ser travados em ministérios e municípios esse processos originados por burocratas e técnicos inumanos, incompetentes, por vezes excedendo ou exorbitando funções, querendo impor uma visão e agenda pessoal aos contribuintes e munícipes sem que muitas vezes para tal tenham sido eleitos, o que terá que ser feito quer desburocratizando quer “simplexificando” procedimentos.

 

Deveriam ser estabelecidos rácios para orçamentos camarários e para os quadros de pessoal do funcionalismo publico, enfim, moralizar-se o viver neste país, por agora todo ele enleado em enganos em que metade de nós sobrevive de esquemas precários ou parasitando o aparelho de estado e em que a outra metade simplesmente não aceita pagar os excessos inúteis, os chulos, os afilhados. As gorduras…

 

É dos livros, temos que crescer, ou crescemos todos ou morremos todos, estamos ligados umbilicalmente. Como estamos só nos resta sobrecarregar cada vez mais de impostos os poucos que ainda trabalham ou desenvolvem uma área de negócio, e no dia em que forem só dois ? É notório que só o crescimento permite obter valor e riqueza para fazer face às despesas que temos, e que temos que controlar e valorizar. A título de exemplo, o Ensino Público ou o SNS não podem ser buracos onde simplesmente se despeja dinheiro, é dinheiro nosso, dinheiro de todos, que custa a arranjar e faz suar, o seu consumo tem que ser moderado, fiscalizado, mas sobretudo rentabilizado. São valores inestimáveis e sagrados.

 

É forçoso remunerar bem as poupanças, e permitir que as aplicações de capital obtenham mais-valias não especulativas, incentivando estes mecanismos através de isenções ao reinvestimento de capital e penalizando proporcionalmente a distribuição de dividendos. Todos temos que ser mobilizados, que fazer parte da solução, e todos temos o direito (cumpridos que estejam os deveres) de esperar ser justamente beneficiados quer pelo esforço quer pela mudança. Qualquer português que se negue a este esforço repartido não merecerá a consideração dos demais.

 

Um burocrata ou um técnico que boicotem um processo estão a contribuir para a eliminação do seu emprego e dos demais. Se o processo não andar não criará riqueza nem emprego, não se pagarão impostos, os tais impostos que no fim do mês lhe pagarão o ordenado ou vencimento, e que, quando todos pagarmos e trabalharmos, calhará pagar uma menor parte a cada um, enquanto por outro lado deixaremos de exaurir por culpa dos subsídios, de desemprego e outros que tais, permitindo o seu uso em áreas mais reprodutivas.

 

E por falar em reprodutivos, lembremos o termo “divida virtuosa” porque tb existe tal. Dívida virtuosa é aquela que permite multiplicar por 2 ou 3 ou 4 ou 5 ou 10 cada unidade aplicada, o que decididamente não tem preocupado os nossos decisores nos últimos 40 anos, quarenta anos em que o estado não ganhou um euro sequer em negócio algum e perdeu milhões em muitíssimos !!

 

É hora de acabar com as PPP e lançar as O.C.F. simplesmente “Obras de Compromisso com o Futuro” …

 

Parece ser já pacífico para os portugueses que os diversos governos e a generalidade dos deputados, desde o 25 de Abril, se preocuparam excessivamente com os respectivos partidos, ou as respectivas pessoas, deixando para as calendas gregas o governo da nação e o bem-estar e futuro dos portugueses. Agora que os credores o exigem apercebemo-nos terem sido demasiado bem pagos para a pouca produtividade alcançada, tudo está por fazer, e em “N” aspectos nada se avançou de então para cá.

 

Não temos uma fiscalidade atractiva para o investimento, temos uma justiça digna da idade da pedra, o ensino teima em não proporcionar as condições de formação e especialidades ideais e fico-me por aqui. Isto parece o oeste selvagem, é o salve-se quem puder, sendo que padrinhos e cunhas se substituíram ao justo fruir da igualdade que a AR deveria ter acautelado para todos.

 

Em Portugal o Poder Local parece sofrer na generalidade do mesmo mal, partidarismo, clientelismo, e um rácio de funcionários muito superior ao que seria natural e ideal, disso nos deu conta há poucos dias a divulgação de uma completa e meticulosa infografia. (link para consulta no final do texto).

 

De uma média ideal de funcionários por cada mil habitantes exorbita-se para números carentes de toda a lógica. (Évora 21,1 por 1.000 habitantes, um exagero !!! Aconselho a que veja o gráfico cujo link se encontra no fim do texto).

 

E nem são mais eficientes nem menos custosas para as munícipes estas equipes de gestão da coisa pública, demasiadas mantêm um grau de despesismo elevado, muitas estão endividadas, e raras se distinguiram na criação de condições para o desenvolvimento de uma actividade económica salutar e geradora de emprego. Ao invés e enganadoramente tornaram-se o principal empregador da sua área. Com o inerente peso burocrático e financeiro.

Um município não gera riqueza ainda que para ela contribua criando condições para que tal ocorra... (quando cria), e sendo em simultâneo um foco de despesa, há que gerir muito bem os respectivos orçamentos para que não se tornem um peso excessivo. Estrangulador. Todos os municípios ajudados, intervencionados, foram obrigados a aumentar, para o escalão máximo, taxas e derramas, o que decididamente não é da simpatia do investimento ou da criação de emprego. Nem dos munícipes.

 

Do exposto resulta que os municípios podem ter uma importância transcendental na captação de investimento, na criação de condições para que o desenvolvimento económico aconteça, e para que o desemprego se mantenha baixo. Podem, mas o que os números nos indicam é que o não conseguem. Porquê deixo à consideração de cada leitor pois cada um certamente conhecerá o seu concelho melhor que eu. Contudo arrisco avançar que nem todas as responsabilidades caberão ao presidente ou aos vereadores, embora a maioria seja a eles que as imputo.

 

A existência de boas equipas técnicas é fundamental. Sem elas o resultado obtido é igual ao obtido por um qualquer primeiro-ministro rodeado de ministros incapazes. Parece ser já demasiado evidente para todos nós que estamos no mesmo barco e que só sairemos daqui produzindo, produzindo muito, produzindo bem e depressa, não há outro modo de se obter criação de riqueza e de emprego para todos. Claro que a par disso muita coisa mudará, mas o essencial assenta na organização colaboração e produção. Cada um que faça o melhor no seu posto. A bem ou a mal, alegres ou contrariados só nos resta produzir urgentemente, de modo que os ganhos supram e superem largamente os custos, de modo que não haja necessidade de despedimentos nem de encerramento de serviços empresas ou fábricas.

 

 É tudo por hoje. Obrigado pela seca.


http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/infografia_saiba_quantos_funcionaacuterios_trabalham_na_sua_autarquia.html


https://mentcapto.blogspot.com/2014/10/206-despesa-boa-despesa-ma-fazer.html

                                                      

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

795 - TODOS OS ANJINHOS TÊM UMA PORRA DESSAS, E EU P'RÀQUI CHEIO DE PORRINHAS ...


Hoje é dia de “finados”, dia de lembrar os mortos, as queridas e os queridos, as amigas e os amigos e as conhecidas e os conhecidos que já se foram. Ontem foi dia de “todos os santos”, em memória de boa gente que se pensa ter alcançado o céu. Quer um quer outro foram dias de muito significado para mim, tanto mais significado que relembro quem sempre lembro, ou quem sempre guardarei na memória, como a minha querida Luisinha e alguns de que aleatoriamente me recorde, caso do amigo José de Fonseca, que lembrei por me ter cruzado com ele no dia em que foi pintada esta caixa eléctrica da EDP.

Calhou a encontrarmo-nos e quase esbarrámos um no outro, eu quando vou dedicado à minha caminhada só a marcha me importa, olho em frente mas só vejo a passadeira vermelha ou o sofrido alcatrão da Ecopista. Mas o boneco pintado suscitou conversa e eu, cujo passeio frente a casa está sempre pejado de tralha dessa, trotinetas abandonadas ao calhas e incomodando toda a gente, não me contive:

 - Não há maricas que não tenha uma coisa dessas !

 - Tu não Baião, toda a gente sabe seres tu um santo !



O Zezinho atirou-me a matar, mas essa verdade toda a gente a sabe, até por eu mesmo costumar afirmar, na brincadeira claro e somente junto do meu círculo de amizades íntimas, que sou um santo. E nem me admira que não abram a boca de espanto, conhecem-me…

 Dei-lhe como resposta o que digo a todos eles tantas vezes, que somente não uso a auréola, não porque a não tenha, mas por ser incómoda, por demasiado pesada e me ficar ligeiramente apertada, o que ao fim do dia se torna extremamente doloroso, mas sobretudo por ser demasiado exuberante e dar imenso nas vistas, razão pela qual a guardo na bagageira do carro para não enferrujar, mas estar sempre à mão.

 - Com a verdade me enganas Baião !

 Ninguém desconhece quantas vezes ser a brincar que as verdades se dizem, retrucou o Zezinho, ouvi-o com a assertividade aconselhada ao momento, os amigos são para mim tão importantes quanto o melindre da questão o exige, por isso fui condescendente com ele, até por eu mesmo estar convencido do facto, em tantas ocasiões uma mera suposição é afirmada que se converte numa verdade aceite, absoluta, sobretudo quando sou eu mesmo quem melhor me conhece as virtudes e os defeitos e cujo saldo reputo de singularmente positivo e me incita a continuar e a superar-me a cada dia que passa.




- Sim Baião, por vezes, muito remotamente, uma ou outra alma lá reconhece pública ou pessoalmente que sim, que se não és santo andarás lá muito perto, adiantou o Zezinho sorrindo melifluamente para o colega fazendo com que a conversa se estendesse e viesse a dar pano para mangas...

 Agradeci, intui a responsabilidade inerente, que assumi ou assimilei e continuarei a minha saga procurando não desiludir quem quer que seja mostrando-me digno da confiança em mim depositada passando a responder ao Zezito, um rapazito capaz de ser meu filhito, que me considero à altura do repto, digo da santidade, por ter já há muito constatado não primarem as pessoas, na generalidade e actualmente, por predicados que bons anos atrás faziam parte da formação ou do saber de qualquer um. 




A maioria das pessoas hoje em dia não conseguem ter uma conversa, uma atitude correcta, agir em conformidade no momento próprio, resumindo, não sabem ser nem estar, não sabem o que dizer ou fazer perante uma qualquer situação por mais banal que ela seja. As pessoas actualmente não agem, reagem, reagem não emotivamente mas emoticamente, cagam likes e emoticons. Agirão como quem depois de olhar em frente e p'ra trás vai largando marmelos enquanto marcha ecopista adiante, para se vingarem e aliviarem do stress do dia.

 Posso não ser o santo que pensam, mas sou coerente, resoluto e até convencido, sou seguro de mim e acredito piamente vir um dia a ser canonizado. É que há muito me dei conta que, pelo lado masculino (não exijo que sejam santos) infelizmente existe um deficit de cavalheirismo, de etiqueta, até de romantismo, para não dizer de educação e formação, coisa que mal nenhum faria a que homem fosse e por certo deixaria as damas felicíssimas.

 Mas não, isso não acontece e, ao invés, infelizmente, chegam-me quotidianamente aos ouvidos notícias de falhas de educação raiando a alarvice, o que, convenhamos, nada dignifica os machos das nossas urbes.




Não vou aqui discutir feminismos nem machismos, igualdades de direitos ou de géneros, santos ou anjinhos, apenas evidenciar um pensamento e os inerentes comportamentos, atendendo a que estão em causa os caracteres e personalidades dos envolvidos, elas e eles ou eles e elas, para o efeito qualquer ordem ou prioridade serve perfeitamente.

 É certo que eles também protestam quanto à falta de feminilidade actual do sexo oposto, ao deficit de sensualidade, ao abuso pelas mulheres de atitudes, poses, posturas, vestuário e terminologias pouco dignas do seu estatuto e da etiqueta, enfim, penso que também eles nos merecem compreensão. 



          
             Verdade que falo de generalidades, excepções sempre haverá ou tudo estaria negro mas, o que me chega aos ouvidos, mais não é que fruto do analfabetismo funcional e da iliteracia que tanto teimam vingar entre nós e onde, para nosso azar, encontraram terreno fértil. A tolice deve dever-se aos neurónios, que, curto-circuitados não funcionarão, simplesmente não existirão ou terão as conexões tão falhadas quanto um fusível queimado. Talvez esteja aí a razão, eu é que não entendo nada de entomologia, de electricidade ou electrónica, e de neurologia ainda menos.

 Mas que o Zezito tenha que se socorrer de mim, e eu dele, é indicador preocupante do modo como o nosso mundo se encontra e, tal atitude vinda dele, se bem que me honre, mostra-me sobremaneira o estado de desespero em que se encontra e o desânimo que sobre o mundo se abateu. E ele confessou-o, é cada vez mais difícil encontrar alguém inteligente com quem simplesmente se possam trocar dois dedos de conversa. 

Por mim aqui declaro por minha honra estar disposto a continuar tentando manter a paciência, esperando a esperança (não a Esperança) a ser tolerante e compreensivo, enfim, pegando ou dando continuidade às palavras do Zezinho, um incréu assumido, ter fé e aguardar um milagre. 




É que do mal que ele se queixa também eu padeço, infelizmente depois de ficar viúvo parece-me todo o mundo ter ruido em meu redor, tenho além disso uma desagradável sensação de que vivi p’ra nada. Ao desaparecer um elemento da equação a estrutura colapsa, casais amigos, amigos, familiares, amigas, família, casa o prédio, os carros (das motas já me desfiz), ficou-me a sensação de ter passado anos a construir algo de raiz que repentinamente se foi.



Senti então e pela primeira vez na vida um enorme vazio dentro de mim, tornei-me azedo para com as pessoas, indiferente, alheio, sem paciência para as ouvir, para as aturar, suportar, acho que para estupidez basta-me a minha. 




Mas contudo, todavia, porém, para além do tesouro que perdi continuo adorando uma jóia que ficou, a minha gata Mimi, esta noite deixei-a dormir aos meus pés. Fiel desde o início, desde pikinina, fiel que nem um cão...  Enfim, tenho-a a ela, resta-me ela, fora escolhida ainda pela dona na sequência de uma outra que morrera de cancro e à qual é quase igual. Ela a dona, e a Mimi, tal como muitas e gratas recordações são o que me resta de tantos anos de construção duma família e dum casamento tão sólidos quanto possível.

 



Passei nesses tempos não tão longínquos mas que nem quero lembrar a interrogar-me diariamente mas sem esperar pela resposta, nunca esperei nem esperarei, confiei no tempo, o tempo, como sempre, se encarregará de preencher o vazio, de instalar a ordem no caos, de colocar a coisa certa no lugar certo e na hora exacta. Construção de quê interroguei-me ? Que andei eu construindo ? Quem ocupará o vazio que ficou ? Quem se julgará capaz ? Quem se atreverá ? Quem avançará ? Quem se arriscará ? Nunca tive a ousadia de pedir uma igual, queria somente uma igualmente inteligente, tenho esse direito ou não ?


É que se assim não fosse …………………..    e acabou-se !! 

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E para cúmulo do azar até tu te foste, até tu partiste, tu com quem eu poderia desabafar, contar-te dos meus segredos, com quem podia falar dos nossos mistérios como tu te referias a esses choques sociais e aos teus problemas, aos teus difíceis equilíbrios, à tua tortura, instabilidade, erosão, desgaste, stress, inadaptação, inconformismo,. Como eu te compreendo melhor agora Zezito, que falta me fazem agora aqueles tempos, aquele tempo, aqueles minutos em que, desabafando expurgávamos o fel acumulado, limpávamos a alma, e eu me ia com a sensação de ter puxado o brilho à auréola, a sensação de ir à minha vida com a aura limpa, e agora só saudades, saudades dela, saudades de ti, Deus vos guarde.