COMÉRCIO
& DINHEIRO *
Prezo
fazer as minhas compras no comércio tradicional, só a mercearia adquiro, por
razões de estacionamento, comodidade e preço, nas grandes superfícies.
Há
muito que deixei, porque me prejudiquei e arrependi, de fazer compras
significativas nessas grandes superfícies, como electrodomésticos, material de
Tv, áudio e vídeo, mobiliário, roupas e quejandos, pois não podemos contar com
qualquer garantia ou assistência efectiva, ainda menos com solicitude, atenção
e simpatia.
A
título de exemplo digo-vos que a fruta em minha casa é excepcional, tão só
porque a vou comprar na Senhora da Saúde, ao lugar da D. Vicência. Claro que
desde que o faço nunca mais tive que deitá-la fora, quer porque não prestasse,
ou porque apodrecesse de um dia para o outro. Ali a qualidade é garantida. D.
Vicência não tem coragem para enganar os clientes, tal seria para ela um pecado
inconcebível, como o seria para o Senhor António, que nas Corunheiras vela pela
qualidade da carne que consumo em minha casa, carne que ele próprio escolhe,
embala, e até identifica com etiquetas, para que mais tarde, congelada, me não
engane no que pretendo cozinhar.
Esmeros
do comércio tradicional, que me levam muitas vezes também ao mercado municipal.
Talvez
haja algo de triste nestas circunstâncias, mas é assim o mundo de hoje e o de
amanhã não augura nada melhor. Quantidade não é qualidade, os hiper´s tudo têm
em quantidade, mas falham redondamente na qualidade, em especial dos serviços e
do relacionamento humano.
É
por isso, e só por isso, que vivendo num extremo da cidade, compro a fruta
noutro extremo, e a carne mais longe ainda. Mas vale a pena, como vale a pena
manter a amizade de toda essa gente que se esfalfa para nos colocar no cesto
das compras produtos de primor, e um sorriso agradecido que nos desarma. Que
contraste com as caras que nos hiper´s à mínima reclamação nos pedem o “talão
ou a factura”, como quem nos pede o cadastro; Qual talão ? Qual Factura ? Quem
não os deita fora até sem dar por isso ? modos de ver o mundo, paciência.
Quando
por vezes olho para mim, observando o que me rodeia do alto dos meus quarenta e
quatro anos, não posso deixar de pensar como a vida é lenta, tão demorado o
tempo para que aprendamos qualquer coisa, e como tantas vezes, por comodidade,
nos enganamos a nós mesmas (os).
Foi
pois com alguma pena que dei conta das noticias assinalando o descontentamento
de alguns comerciantes da nossa praça, insurgindo-se com o eterno arrastar das
obras no centro histórico, e às quais atribuem as responsabilidades pela queda
das suas vendas. Dei para comigo meditando que algo de grave se passaria, pois
só isso justificaria que o comércio tradicional, uma classe por natureza tão
recatada e comedida, tivesse vindo indignada para a rua fazer ouvir a sua voz.
Nunca
como hoje o comércio tradicional esteve sujeito a um cerco tão apertado,
resultado do mundo ter rodado mais depressa do que imaginámos, não disse eu
atrás que penso ás vezes como a vida é lenta ? Não é contudo pelo facto de eu o
pensar que ela se move mais devagar, e se alguém há a culpar por isso, culpemos
Copérnico e Galileu, não foram eles quem nos tirou do centro do Universo ?
Mas
não desarmem os comerciantes da nossa praça, começada uma luta, mau sinal seria
que a não levassem até ao fim. Até porque as suas armas são difíceis de
igualar, a cordialidade de um atendimento personalizado, por um lado, com a
qual terão que saber combater a hegemonia das grandes superfícies, e a razão
por outro, que já há muito deviam ter esgrimido perante quem lhes anda a comer
as papas na cabeça.
Não
creio, e bem avisados andarão se não acreditarem, que estejam nas obras as
culpas das baixas vendas que apontam, ou não é verdade que outros comerciantes,
noutras zonas da cidade que pelo contrário nunca viram obras, se queixem do
mesmo mal ? A queda das vendas ?
O
problema (e a solução), está na economia senhores ! Ou não viram ainda que esta
é uma cidade adiada, e, se teimarmos, sem futuro ? Onde está o dinamismo económico
desta cidade ? Não se vende ? Mas como vender a quem tem com a habitação mais cara
do país um pesado encargo ? Como vender a quem, por culpa dos ineficientes
transportes públicos que temos, é obrigado a encalacrar-se para comprar um,
quando não dois carrinhos ? E vender a quem, se por causa do estacionamento (e
das obras), o pessoal foge da cidade como o diabo da cruz ?
Vejam
com os vossos próprios olhos, o Público de Sábado passado, 18 do corrente, pág.
13 do Caderno Mundo, onde o nosso presidente, admite preto no branco, uma …“preocupação quanto ao desenvolvimento económico,
que considera “aquém de outros indicadores”... Outros ? quais ? E só agora
se preocupa ? Passados quase trinta anos ? Nessa mesma peça jornalística, o
nosso presidente caracteriza este mandato como o da modernização,
requalificação urbana e afirmação de Évora, afirmações de que me riria, não
fosse o receio de o ofender. É óbvio que o nosso presidente nada fez nem
conseguirá fazer, já que nenhum governo o deixa fazer o que quer que seja.
Das
duas uma, ou escolhe ele o governo, ou escolhemos nós outro presidente.