Porque
havia sol e a manhã estava clara e luminosa como não se via há muito tempo,
depois da bica dei corda aos sapatos e rumei ao Alto de S. Bento. Depressa me
arrependi e a boa disposição que levava levou sumiço num instante.
Aquela mais grossa, maior, mais parecendo uma árvore de Natal vermelha e branca, está lá há mais de 60 anos, era eu gaiato e subi-a, eu e mais uns quantos, quantos por ali deambulávamos antes de ser solenemente inaugurada. Há registo da ocorrência, uma patrulha da GNR fez questão de nos identificar a todos não fossem surgir no ferro do esqueleto inesperados prejuízos de monta, ficando assim a saber-se desse modo a quem os imputar.
Foi por estarmos tão alto que vimos, sem ser vistos, a Ana C. e uma meia dúzia deles atrás dela mata acima mais parecendo cães atrás de uma cadela aluada, depois foi encontrar a moita certa e aquilo foi à vez, mas isso a patrulha da GNR não viu. Não viu mas a coisa deu brado e um deles acabou por casar com ela, o primeiro ? O que ela apontou ? Não sei nem imagino, mas sei que nunca foi um casamento feliz, não houve filhos, ela acabou por suicidar-se sendo então que eu me meti a pensar quanto de todo aquele amor livre ou amor desregrado, ou dado ao desbarato terá sido culpado pelo fim ou desenlace de tão triste história. É bem verdade que muitas vezes o barato nos sai caro …
Quando
esbarrei no sinal vermelho de trânsito proibido já me tinha confrontado metros
atrás com um outro sinal, azulado e sinalizando um parque de estacionamento, um
sinal todo queimado do sol, a cair, esgarçado como quem o pensou, como mal
pensado foi esse parque de estacionamento, natural, nascido ali há milhões de
anos, agora aproveitado para desenrascar, mal esgalhado, sem piso corrigido,
nem marcado, nem tão pouco cuidado, tal qual o cuidado que os visitantes
merecem por parte do nosso município.
Tudo
ali é mato, tudo é como uma mata porém e apesar disso alguns carros
estacionados, em transgressão claro, na ambição de um fugaz e proibido momento
de fruição da paisagem, paisagem misturada com contentores de lixo, uma
tabuleta apelando ao museu ali atrás, museu também ele conspurcado pelo
ambiente que o rodeia, um ambiente pejado de antenas ao Deus dará, plantadas
sem o mínimo respeito pelo cuidado com o mesmo e salutar ou impoluto ambiente
que querem enfiar à força na cabeça das criancinhas, para além desse
espectáculo um céu truncado de fios e mais fios oferecendo-nos uma visão digna das
favelas brasileiras. Saibam que é por estas e por outras que me estou cagando
para separar o lixo, se os engenheiros e os políticos decisores e as
autoridades competentes não se preocupam com o ambiente por que caralho me
hei-de preocupar eu ?
Dou
mais uns passos e esbarro com mais uma tabuleta, desta vez gritando-me “ Bem
vindo ao Alto de S. Bento, hoje serás um protector da natureza” ! Serei sim,
mas só se for da natureza selvagem do lugar, um lugar com tantas contradições
como a cabeça de quem imagina estas coisas. Em qualquer outro país civilizado
do mundo, qualquer edilidade teria aproveitado as vantagens do terreno, isto é
as vantagens naturais oferecidas de bandeja pela natureza para as fruir ao
máximo, contentando e conciliando natureza e cidadãos, criando parques de
merendas, postos de apoio a caminhantes e escoteiros, varandas e restaurantes
panorâmicos, parques de estacionamento exemplares, estradas como tapetes,
dinamizando o lugar, desenvolvendo a economia local, criando postos de
trabalho, gerando riqueza, satisfação e bem-estar, mas não, disso o último
exemplo que temos tem mais de 50 anos, o “Parque Municipal de Piscinas Eng.º
Arantes e Oliveira” a quem desrespeitosamente tiraram o nome da parede do
complexo. O que os encanita é que em 50 anos de democracia ainda não foram
capazes de fazer um décimo do que foi feito durante o (menor) período do Estado
Novo.
E
sabem por quê ? Porque esta gente não tem somente falta de inteligência, tem
sobretudo falta de mundo, falta de visão, e tem um acentuado deficit de
imaginação e quando falo desta gente quero ser claro, refiro-me a presidentes e
técnicos, sobretudo técnicos, classe arregimentada, engajada ao podre poder que
nos governa e de onde poucos, muitíssimo poucos se podem gabar de ter escapado
ou de não estar com esse poder comprometidos ou a esse poder vendidos.
É
esse o mal de Évora, falta de inteligência, de visão, de mundividência e
imaginação, mas há salvação, querendo e sendo capazes, havendo coragem, marquem
uma entrevista comigo, uma bica, dois dedos de conversa e sairão outros dessa
experiência...
Bom
Natal e reformem-se, não nos fodam mais… Na sua maioria são demasiado caros
para a merda de serviço que prestam à cidade.
ADITAMENTO: Com mais
delicadeza ou menos, com mais paixão ou revolta, com mais comedimento ou
atrevimento, com mais ou menos educação e modos, passadas que são 11 horas
sobre a publicação desta postagem tenho recebido de vários quadrantes diversas criticas
(por mensagem privada ou telefonema pois há nas pessoas mais medo de se
pronunciarem em público agora que no tempo da outra senhora) diversos apoios e
as mais diversas opiniões, às quais, com o bom modo que me caracteriza vou
responder: - Sim, depois do 25 de Abril nenhuma obra municipal de vulto foi
erguida tendo o parque das piscinas municipais Arantes e Oliveira sido a última
delas, inauguradas a 5 de Setembro de 1964.
Quer o terminal rodoviário,
quer a pista de atletismo junto da Vila Lusitano (à qual falta uma pista pra
ali poderem ser homologados records ou ter lugar provas de nível internacional)
quer a estação da CP alvo de melhorias significativas são obras de cariz NÃO
municipal, tal qual algumas circulares externas do domínio da empresa
Infraestruturas de Portugal EP.
Na realidade existe um mão
cheia de entidades quer públicas quer privadas cuja função é prover à melhoria
do nosso bem-estar e nível de vida que parecem não funcionar quando deviam era
articular-se de modo rápido e eficiente para responderem às nossas
necessidades. Ao invés disso vivem cada uma para si, de costas voltadas e o
mexilhão que se foda e espere e desespere. São o Caso da CCDRA da CME do CIMAC
Do Instituto do Desporto, da CP, das Infraestruturas de Portugal EP, da EDP,
das Águas do Alentejo ou de Portugal, das empresas de telecomunicações, um
exemplo dessa demora e falta de articulação parecem-me ser as actuais obras da
circular externa do Continente à antiga Siemens e que tantos engarrafamentos e
aborrecimentos têm provocado por toda a cidade….
O pomo da discórdia assenta
no facto da cidade não ter lugares aprazíveis, não ser alvo de melhoramentos e
de embelezamentos pragmáticos, ter estagnado no tempo, não ser gerida com
rasgo, risco e ousadia, e o facto, grave, de não haver um plano conhecido que
para tal aponte. Em 50 anos nações e cidades têm-se erguido do nada para hoje
serem estrelas em vários campos.
Évora, cidade da cultura,
pratica isso sim uma cultura cega, passadista, vendendo a turistas e nacionais
um mundo monumental com 2 mil ou poucos menos anos nada tem de novo de que se
possa gabar, tem vindo a regredir, a qualidade de vida dos seus cidadãos está
pela hora da amargura, ou da morte e, se há 2 ou 3 anos disse a uma eleitora
que mandasse fazer á sua medida e nas Caldas da Rainha um candidato à presidência da CME hoje digo sem
rebuço que muito eleitor e eleitora eborense deveriam mandar fazer um boneco
das caldas no Redondo ou em S. Pedro do Corval e o pusessem num altar perante o
qual orassem. Talvez assim a cidade finalmente se livrasse das cataratas que
muita gente tem nos olhos. Bom Natal.