sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

307 - DEMOCRACIA NÃO É PARA CRIANÇAS *


« A CAMPANHA MAIS INÓCUA DESDE 1976 *

A campanha continua morna e pouco mobilizadora, apesar de o fim dos dez anos de Cavaco encerrar potencialidades que aqui há uns dois ou três meses ninguém suporia poderem vir a ser desprezadas como estão a ser.

Há no entanto uma explicação para o que se está a passar. Uma explicação, mas não uma justificação.

Começando pelo princípio: a eleição presidencial pode ser ganha à esquerda com relativa facilidade se houver um candidato que seja capaz de fazer o pleno dos seus votos ou quase. De uma boa maioria dos votos do PS, dos votos do PCP e do Bloco, bem como o dos independentes de esquerda.

Na escolha desse candidato o PS desempenha um papel fundamental. E se o PS o desempenhar com responsabilidade e sentido democrático a vitória será sempre indiscutível. Acontece que raramente isso sucedeu na história da nossa democracia. Quase se poderia dizer que as três mais significativas vitórias contra os candidatos da direita foram alcançadas apesar do PS. Referimo-nos à reeleição de Eanes, à derrota de Freitas do Amaral e à vitória de Sampaio.

Na reeleição de Eanes, Soares e os seus fiéis apoiantes retiraram o apoio a Eanes com o objectivo (não alcançado graças à outra parte do PS) de impedir a sua vitória, mesmo sabendo que o preço a pagar por esse comportamento poderia ser a eleição do candidato da direita, de passado reconhecidamente fascista.

Na derrota de Freitas, o PS dividiu-se em duas candidaturas (uma de direita, Soares; outra, de esquerda, Zenha), tendo os independentes e católicos de esquerda, na ausência de um candidato consensual, apoiado Lurdes Pintassilgo; o PCP, que começou por apresentar o seu candidato, desistiu na primeira volta a favor de Zenha, não tendo, todavia, esses votos sido suficientes para garantir a Salgado Zenha a passagem à segunda volta. Soares acabou por ganhar, graças aos eleitores que na primeira volta votaram Pintassilgo e ao voto dos comunistas, cujo apoio foi decidido num Congresso Extraordinário, seguido por uma disciplina de voto sem falhas, sem a existência da qual jamais Soares teria sido Presidente da República.

Na vitória de Sampaio concorreram factores difíceis de convergir noutras situações. Em primeiro lugar, Sampaio tendo feito o seu percurso até 1978 à margem do PS e quase sempre, desde muito antes do 25 de Abril, em oposição a Mário Soares, granjeou na restante esquerda uma simpatia e um estatuto como nenhum outro socialista alguma vez teve. Por outro lado, Sampaio, apesar de não gozar da simpatia da maior parte dos “históricos” do PS e de ter rompido com Guterres, conseguiu, numa altura em que Guterres estava politicamente muito ocupado na preparação da campanha para as legislativas (Estados Gerais), antecipar a sua candidatura e impô-la ao PS como um facto consumado. 

Apesar de Sampaio não ser o candidato que Guterres escolheria, se o tivesse podido fazer, o PS (oficial) viu-se obrigado a apoiá-lo seguindo assim a restante esquerda que nem sequer levou qualquer candidato às urnas, já que tanto Jerónimo de Sousa (PCP) como Alberto Matos (UDP) desistiram a seu favor. Em terceiro lugar, Sampaio concorria contra Cavaco de quem uma significativa maioria de portugueses estava positivamente farta após dez anos de cavaquismo com tudo o que isso até hoje representou de negativo para Portugal e para os portugueses.

Depois, bem, depois foi o que se viu. Em 2006 Cavaco foi eleito e em 2011, reeleito. Tanto numa como noutra eleição o PS foi incapaz de apresentar uma candidatura consistente e susceptível de ser apoiada pela esquerda. Na primeira eleição, Sócrates, completamente inebriado com a maioria absoluta que tinha acabado de alcançar (2005), desprezou arrogantemente as presidenciais e minimizou a sua importância, não curando de propor um candidato susceptível de concentrar o apoio da esquerda. 

Soares, já sem fôlego para novo mandato, querendo continuar a “ajustar contas” com Cavaco numa época e num contexto em que já não estava em condições de o fazer, viu-se confrontado com o aparecimento da candidatura de outro socialista, Manuel Alegre, avidamente apoiado pelos que na área do PS e suas proximidades se estavam posicionando contra Sócrates, tendo-se então assistido a uma verdadeira luta fratricida, com corte de relações pessoais e acusações de toda a ordem entre ambos os candidatos. O clima criado pelos dois candidatos e a maioria absoluta de Sócrates desmobilizaram completamente o eleitorado de esquerda, tendo Cavaco sido tranquilamente eleito logo na primeira volta. 

Cinco anos depois, apesar de já não haver dúvidas sobre o que seria o segundo mandato de Cavaco (a intentona das escutas e os Estatutos dos Açores eram um bom prelúdio), o PS de Sócrates voltou a menosprezar a importância das presidenciais. É certo que a crispação existente entre Sócrates e os dois partidos de esquerda (PCP e BE) não favorecia um entendimento para fins presidenciais; por outro lado, o facto de ninguém na área da esquerda se ter notabilizado suficientemente para poder facilitar aquele entendimento também dificultava o aparecimento de uma candidatura vencedora. 

Apareceu novamente Alegre, derrotado na eleição anterior, sem chispa de vencedor, sempre com um entendimento épico da derrota, sem capacidade para mobilizar o eleitorado de esquerda, que voltou a ser derrotado como antecipadamente se sabia. Cavaco foi reeleito, deixando logo no dia da vitória um aviso muito claro do que iria ser a sua presidência nos cinco anos subsequentes: mesquinha, vingativa e sectária. Não enganou ninguém! Mas o mal estava feito…

Exactamente por haver uma consciência muito viva do que poderia representar para a esquerda a repetição de uma candidatura tipo Cavaco, ostensiva ou disfarçada, é que se supunha que a experiência acabada de viver iria facilitar o aparecimento de uma candidatura consensual com um perfil reconhecidamente vencedor. Esse candidato existia no seio do Partido Socialista. Existia mas não foi escolhido, nem ele demonstrou publicamente qualquer interesse em desempenhar esse papel.

Na euforia da vitória “interna “de António Costa, supôs-se – as sondagens ajudavam a este entendimento – que facilmente derrotaria a direita nas legislativas, alcançando uma maioria absoluta. E é neste contexto que é incentivada no seio do PS, informalmente, mas com apoios muito claros da actual liderança e de todos os que lhe são muito próximos, a candidatura de Sampaio da Nóvoa.

Acontece que sucedeu o que toda a gente sabe: António Costa não alcançou a maioria absoluta, nem sequer a maioria relativa nas legislativas e aquela candidatura, que havia sido lançada com base numa pressuposição que falhou, passou quase de imediato a ser contestada no interior do Partido Socialista pelos opositores de Costa, pelos adversários da solução governativa entretanto alcançada e pelos ressabiados da ressaca das primárias.


E como sempre acontece no Partido Socialista, também desta vez, os oponentes de liderança não tiveram qualquer problema em “empurrar” para a disputa eleitoral uma personalidade da direita do partido, que não tinha, nem tem, objectivamente, quaisquer condições para ganhar as eleições, mas cuja candidatura teria o efeito – efeito que ninguém com um mínimo de experiência política poderia deixar de antecipar – de desmoralizar e desmobilizar o eleitorado socialista e da esquerda em geral, impedindo desta modo a polarização da eleição entre o candidato da direita e o da esquerda, com vista a obrigar aquele a definir-se politicamente.

Dada a divisão reinante no seio do PS, o candidato da direita pôde fazer uma campanha apolítica como se previa, assistindo de palanque aos ataques cruzados das “candidaturas socialistas”, e ainda teve a sorte de ter sido objectivamente favorecido pelo aparecimento de, pelo menos, dois “candidatos folclóricos”, cujo discurso e a divulgação que os media deles têm feito muito contribuíram para a consolidação da campanha à volta de questões de escasso interesse político.

Perante este quadro só mesmo um altíssimo sentido político do eleitorado poderá remediar o que os “profissionais” da política comprometeram.»

* por José Manuel Correia Pinto in facebook  


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

306 - AI ALPALHÃO, ALPALHÃO.............................


É quarta feira, está um sol maravilhoso e a esplanada desde cedo regista uma inusual animação o que, tendo em conta a debandada que os dias frios tinham provocado é um regresso de louvar.

Ontem deitara-me tarde, ficara vendo o debate na Tv com todos os candidatos, e depois deste terminado, brigando com a Luisinha sobre as virtudes e virtualidade, ou a falta delas em cada proposta presente. Sim, recordo que Maria de Belém não estava, mas nada se perdeu, era já sabido que assinara o pagamento das subvenções e que se furtara de modo matreiro à interpelação de um jornalista sobre as ditas cujas, a senhora já mostrara igualmente de véspera não entender o país em que se move nem o partido em que milita, exigira mesmo ser a candidata oficial do seu partido, que lhe fez orelhas moucas e uma vez mais se ficou pelo habitual e costumeiro NIM, nim Belém nim Nóvoa, o povo que escolha. Invocar a morte de Almeida Santos para se furtar a uma campanha que lhe estava a ser penosa também não achei bem, até por o falecido ser, sem sombra de dúvida, um dos grandes portugueses a quem devemos o Portugal próspero e moderno que temos.

Aquele partido é mesmo assim, sempre assim foi, em casos decisivos tolhe a liberdade de voto, em assuntos de lana caprina concede-a, estou a lembrar-me dos referendos sobre o Aborto e sobre a Regionalização, e com o mais que nem me ocorre agora, lembro os mais candentes, aliás foi assim, por estas e por outras, que Cavaco e Silva lhes ficou agradecendo duas presidências.

Nóvoa desfez, e bem, as dúvidas que se tinham gerado em torno da sua licenciatura em artes do teatro, e uma coisa lhe concedo, ele tem efectivamente sido escrutinado ao longo da vida, mas devia desde o inicio das dúvidas ter-nos informado que aquela formação teatral não era a sua licenciatura principal, porque à data que foi feita nem concedia tal grau. A sua licenciatura principal e única é em Ciências da Educação, ou seja, na prática, em nada... Foi conseguida em dois anos, na Suiça, inclusivé através de entrevistas avaliadoras, (segundo o método Relvas) admitiu o próprio ao CM.(a) Em países como Portugal tais licenciaturas dão p'ra fazer curriculum e subir na carreira e na vida, mais nada...

Contudo todavia mas porém o que muitos portugueses não sabem é que nem só as formações nas artes do teatro foram, muitos anos mais tarde, consideradas licenciaturas, existem dezenas e dezenas de áreas, para não arriscar centenas, em que formações do mais variado teor, algumas bem  mexerucas, ou de base bastante rasca, a par de outras de notável valia, foram consideradas por decreto e a partir de uma determinada data, equivalentes a licenciaturas. Uma questão de fraquezas governativas, conivências sindicais e direitos adquiridos.

Isto passou-se naquelas áreas, artes do espectáculo ou teatrais, mas também nas áreas de enfermagem, áreas técnicas ligadas à saúde, e no ensino, onde existem mesmo casos caricatos como o dos antigos mestres de oficinas, carpinteiros, serralheiros, electricistas, a quem algumas universidades “ofereceram” de acordo com decretos ministeriais e exigências sindicais, ofereceram dizia eu, cadeiras avulsas que haviam de habilitar esses mestres oficinais com o grau de licenciatura, alguns nem sabendo assinar o seu nome. Todavia logo a seguir ao 25 de Abril o novel ensino de massas exigia professores como pão para a boca, e desta forma se forjaram situações provisórias que, como é habitual neste país se tornaram definitivas e atiraram para o desemprego licenciados de verdade para proteger os “licenciados à força” pois que estes últimos estavam sindicalizados…

As nossas estatísticas sobre os graus de habilitações literárias da população estão todas elas aldrabadas, não só pelo facilitismo das novas oportunidades, ou pelos diplomas dados com passagens administrativas ou sem avaliações no ensino básico e no secundário, pois essas mesmas estatísticas não reflectem o analfabetismo funcional, nem a iliteracia, nem o número de professores cuja ignorância comove, que não lêem, que não compram um livro, que fogem a todas as discussões e assuntos que não a gastronomia, o futebol, a doçaria, conventual ou não, as novelas, o Paris-Dakar, as motas, as bonecas, o ciclismo, as modas, incapazes de analisar uma situação, perspectivar um problema ou formular uma solução, uma grande maioria carrega uma ignorância confrangedora e constrangedora, quantas vezes, muitas vezes, demasiadas vezes na sua própria área de especialização entendem ? Por isso não falam, calam-se a tudo...

E depois ? E depois, por exemplo, quando me vêem, mudam de passeio, evitam os cafés e as mesas que frequento, evitam-me nas redes sociais, afobam-se e afogam-se nas suas banalidades, o que até agradeço pois restringe e selecciona automaticamente as minhas relações, filtrando somente os bons, os melhores, o que contudo não deixa de ter a sua piada. Enfim, uma cambada de ursos e ursas a quem o saber não comcita mas assusta… Não há-de o país ser o que é...

Quem não achou nenhuma piada a estes decretos reguladores regularizadores e promotores da cultura nacional foi o meu, o nosso amigo Alpalhão que há três a quatro anos atrás entrou em depressão, deixou de frequentar a nossa tertúlia, mas se curou com um salto para o Brasil, e os favores de uma brasileira que era criada de servir em sua casa e do qual tivemos noticias há bem poucos dias. Está em Angola, já refeito, já curado, desta vez pelo feitiço de uma preta que, diz quem nos contou e afiançou, o pôs em pé e na perfeição.

Mas quem é e a que propósito meto aqui a história do Alpalhão ? O meu amigo Alpalhão, nosso amigo, era um engenheiro muito conceituado e respeitado na cidade e na sua rua mas a quem a crise e o último governo não deixaram a vida correr de feição.

Num repente soube-se que afinal o Alpalhão não era engenheiro, era somente agente técnico de engenharia, qualquer coisa assim como se fosse bacharel, e como nenhum decreto o salvou, como acontecera com os carpinteiros, serralheiros e electricistas, e nem o amigo Alpalhão completara os dois ou três anos que lhe faltavam no curriculum para ser engenheiro a valer, acontece que foi ultrapassado pelas normas da União Europeia, viu gaiatolas passarem-lhe à frente no serviço estatal onde se refugiara havia mais de trinta anos, passou a cumprir ordens ao invés de dá-las, viu o vencimento estagnar e o horário alongar, de um dia para o outro viu-se impedido de entrar às nove e sair às nove e meia para ir para casa fazer projectos por sua conta em regime de private travel, e como se todo este azar não bastasse, na rua onde morava passaram a ignorá-lo, a esconder-se quando ele surgia, a não lhe falar primeiro e a desrespeitá-lo depois, até em casa as coisas passaram a andar tremidas, o caldo sempre entornado e, cereja no topo do bolo, quando o bom do Alpalhão foi chutado para o quadro de excedentários e os serviços encerrados ele não aguentou a pressão entrando em depressão profunda da qual só sairia com ajuda da empregada doméstica que tinha em casa a qual estivera por um triz para despedir, uma mulher dedicada que por ele manteve um exemplar desvelo até, já em Campinas, para onde o levou, ter descoberto que o Alpalhão não tinha diploma com equivalência no Brasil e não lhe serviria para nada, pelo que na última consulta o deixou no posto médico com a indicação de:

- Agora faça por você mêu menino pois você já me enganou que chegue, e nem pense se aproximar de mim nem de minha porta ou te meto meus primos no encalço e te partem essa carinha de parvo…

Aqui a história do Alpalhão regista um enorme hiato pois só voltamos a saber dele em Luanda, apaixonado por uma preta, imagine-se, ele que por cá tratava os pretos a pontapé nas obras que dirigiu enquanto o supuseram engenheiro.

A vida tem destas coisas, amigos comuns que se piraram de Cabinda por causa da crise do petróleo trouxeram-nos noticias dele, é chefe de oficinas no importador dos camiões Volvo para Angola, tem dois lindos rebentos mestiços, a Mingas e o Zulu, crianças adoráveis que ora o tratam por paizinho ora por avozinho, refez a vida e, ele que sempre apreciou bumbuns (levaram-no ao Brasil, lembram-se?), é amigado em segundas núpcias com uma preta lindíssima, lindérrima jura o Barrenho, que já a viu, que afiança ter peito e rabo de descaroçoar qualquer um por isso a malta o sabe curado e feliz, cagando para o país e para as eleições e candidatos, se calhar se cá estivesse votaria no Tino de Rans que também não tem diploma

Quanto ao resto do debate eu recomendo a quem votar Nóvoa que comece uma petição para lhe oferecer um smartphone, o homem é um indeciso e um coninhas que vai precisar de telefonar a toda a hora ao Costa dos comandos, Costa assino ? Costa veto ? Costa apoio ? Costa promulgo ? Por mim torci por Henrique Neto, socialista e meu candidato, porque em cada três afirmações que faz acerta em quatro e a Luisinha torceu por quem de direito e, mesmo discordando, e zangados, opinámos e concordámos que o Marcelo tem uma pedalada e um savoir faire que dá para os embrulhar a todos e se dúvidas havia deixou de haver, vai ganhar à primeira volta.


(a) Ver Correio da Manhã de 21- 01-2016

domingo, 17 de janeiro de 2016

305 - A SANTA PADROEIRA E OUTROS SANTOS DE PAU CARUNCHOSO...


Depois de uma noite bem passada estávamos os dois na cama, conversando e esperando que fosse o outro a levantar-se para abrir o estore, mas como nenhum desse sequer intenções de o fazer, escondemo-nos de novo do frio deste Janeiro gelado, sumimo-nos debaixo das mantas e demos mais uma. Mais uma volta na conversa e na risota, o que esperavam ?

E à falta de comando para subir ou baixar o estore lançámos mão do comando da televisão, para de imediato nos confrontarmos com as primeiras notícias da manhã ainda no remanso quentinho dos lençóis. Maria de Belém prometia ser a “padroeira” dos estudantes do ensino superior, e pelas imagens visitava uma das repúblicas dos ditos nesta República das bananas e de bananas. Ri-me a bom rir, e ganhei forças para ir abrir a janela, o Domingo estava limpo mas frio, valia-me a Tv que me cutucava o humor e me fazia rir logo cedinho.

Já ontem ou anteontem Sampaio da Nóvoa criticara o facto de Marcelo desprezar, desdenhar, rejeitar, depreciar, ou escornar os apoios do PSD e do CDS, o que igualmente me fizera rir a bom rir. Se Nóvoa não entendia o Grito de Ipiranga de Marcelo então será mais estupido do que na generalidade possamos pensar, logo ele, Nóvoa, que tanto chorou e clamou pelo apoio do PS, como quem diz aqui estou às ordens, aqui me têm, a vós me entrego, me submeto, dou as duas faces, fazei de mim o que entendeis… Fazendo assim tábua rasa da independência do lugar / cargo, de PR e dando-nos de barato o conceito que ele, Nóvoa tem do cargo naquela sua nevoenta cabecita, cabecita a que agora não dão descanso com as alegações de que a sua licenciatura será alegadamente manhosa, ver link abaixo, no fim do texto.

Melhor cabecita não terá PPC que, no mesmo dia ou no dia seguinte foi ao beija-mão e entregou a Marcelo, salvo erro em Viseu, o apoio incondicional do PSD, manchando dessa forma o ar impoluto e descomprometido que o professor tanto se esforçara por dar à sua candidatura. Mas o professor passou-lhe logo o sermão, aliás dois sermões, o da incompetência política (o PPC politico sempre foi um, elefante numa loja de porcelanas), e o responso pelo alarde do seu apoio, aliás do apoio do PSD, e que PPC e o PSD nada deveriam esperar em troca desse apoio, Marcelo aposta portanto em manter o seu grito de Ipiranga que PPC também nunca entendeu, ver link do responso em baixo no texto. Marcelo a esgrimir e a tentar fazer-se passar por independente e PPC feito parvalhoco, estragando-lhe a estratégia e comprometendo-o... Não se faz. 

Claro que nada disto foi no momento, nem sequer no dia objecto de interrogação por parte de quem quer que seja, Marcelo, o “herdeiro” como alguns agora lhe chamam, e eu gostaria de saber quem foi o idiota que se lembrou de o apodar de herdeiro de Marcelo Caetano, de delfim, pensando que isso o iria denegrir, quem assim pensou cometeu um sério engano, denegri-lo seria compará-lo com todos ou algum dos políticos do pós 25 de Abril, deste Abril que nos levou ao tapete, o que ele está apostado em não permitir. Marcelo, o delfim, o herdeiro, vai mesmo herdar o cargo, não só por ser o único que sobre as candidaturas concorrentes nunca se pronunciou ou lançou a mais pequena ofensa, mas também porque os portugueses nunca gostaram de colocar todos os ovos no mesmo cesto, e para tal têm ou deram-lhes sempre boas razões. Não será somente por uma questão de equilíbrios de poderes, mas porque Marcelo, o herdeiro, o delfim, coisa que o engrandece, sabe mais a dormir que todos os restantes candidatos juntos, acordados.

Eu direi como disse António Costa, Marcelo na presidência será coisa que não me tirará o dormir… Mas sinto pena, porque o meu candidato é Henrique Neto, eu voto socialista, eu torço pelo idoso socialista Henrique Neto, e sou dos que pensam que a idade não o molesta, afinal todos os PR anteriores foram gente mais nova e vejam o buraco onde chegámos… Ele é o único que nos quer pôr todos a trabalhar e a produzir, o único com um discurso coerente e sério, o único com carradas de razão, paletes de razão no que diz. Mas a vida é assim e o herdeiro, o único que como atrás disse e curiosamente ainda não denegriu uma vez que fosse quaisquer das candidaturas adversárias, vai ganhar, não por isso, não por ser correcto ou mais novo, nem porque saiba mais a dormir que os outros acordados...

 A revista do Expresso de ontem, sábado, 16 de Janeiro, na sua página 12, canto inferior direito, trazia uma curiosa noticia estatística; “ Em Portugal 47% dos trabalhadores não têm o ensino secundário, segundo o Anuário Estatístico de 2014, publicado pelo INE. Na União Europeia, em média, essa percentagem é de 17,3% “. Assinava uma tal Raquel Albuquerque. É muito trabalhador, e é muita ignorância passados que são quarenta anos sobre o 25 de Abril, Salazar teria rejubilado com estes números… Se a estes números juntarmos o analfabetismo funcional existente e gritante, e a ignorância permitida por anos e anos de passagens e de escolas sem avaliação, nem de alunos nem de professores, resulta um povo que pouco ou nada mais saberá que aquele que existia antes do 25A dirão alguns, um povo de longe muito mais estupido e ignorante, e menos desperto, que o que havia antes da revolução direi eu. Antes do 25A todos nós sabíamos para onde queríamos ir, agora cada um quer ir para seu lado com a agravante de poucos conhecerem ou saberem o que seja “lado”… Salazar construi 12.000 escolas primárias em quarenta anos, Nuno Crato fechou 6.000 em quatro anos… 

O resto são cantigas de maus perdedores, pois a única coisa em que esta democracia parece gerar consensos é o de que estamos sempre a descer, a perder, a falir, a fechar, a encerrar, a desfazer, a desmobilizar, a desacreditar, a destruir, a contribuir como contribuintes para o desastre geral, a privatizar e a desprivatizar, a nacionalizar e a desnacionalizar, é um carrocel ou montanha russa de faz e desfaz, e agora são quarenta horas e amanhã trinta e cinco, e assim deste modo simples se garante que os escravos do sector privado terão que ganir para pagar os benefícios ou privilégios dos chulos do sector público, não se percebendo por que não são 40 ou 35, ou 37, ou 20 ou 50 horas iguais para todos.

Ora Marcelo vai vencer porque este é o povo que temos, este é o povo que ele conhece melhor que ninguém, e se não o querem eleito (ou elegido), mudem de povo… Marcelo vai vencer porque os portugueses têm o hábito de não colocar todos os ovos no mesmo cesto... Os portugueses, que nem são parvinhos de todo, irão esforçar-se por contrabalançar os excessos desta "esquerda" dando votos à direita, tal qual como compensaram há bem pouco tempo a falta de razoabilidade da direita, votando à esquerda... Que esperavam ? Não é assim há quarenta anos ?



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

304 - ÉVORA, ATENTADO TERRORISTA ...............


Em boa verdade ninguém sabe dizer com exactidão donde eles apareceram, eles o grupo, e pelo que foi apurado não seriam mais de meia dúzia. Todos de kispos enormes e escuros, vestimenta precoce para a época, mas ninguém estranhou, habituados que estamos a ver aparecer excursões turísticas eclécticas, até esquimós em pleno verão.

Não esqueçamos que estou tentando reconstituir minuciosamente os acontecimentos com base nas informações colhidas, que embora escassas e contraditórias nessa manhã, se vieram a mostrar numerosas e coincidentes na sua plural ambiguidade. Já lá vão uns cinco meses mas a memória não irá falhar-me, tenho o meu canhenho de apontamentos.

Ao certo ninguém parece saber por ou qual o lado por onde perpetraram o acesso à praça do Geraldo, inda que tudo leve a crer ter sido subindo a Rª da República ou descendo a 5 de Outubro ou da Selaria, digo isto por o agente em frente ao Banco de Portugal ter sido o primeiro a cair e fruto das primeiras contradições. Uns que ele tombou sem um pio e nem se terá dado conta de quem o degolou, outros que embora de boca abafada terá dado luta ao atacante que só dificilmente o subjugou, coisa a que não foi alheia a superioridade do armamento e superior pujança física do agressor. Esta é a versão que corre na esquadra e entre os agentes, o respectivo sindicato já aproveitou o ensejo para lembrar que há mais de dois anos reclama novas pistolas invocando como obsoleto o modelo que equipava o agente barbaramente assassinado (e todos os outros).

De certo apenas se sabe que o agente nem teve tempo de lançar a mão ao coldre e que sangrou como um cordeiro pascal, caído na calçada frente ao Banco de Portugal, o que dá relevo à heroicidade e ao patriotismo do seu sacrifício. 


A segunda vitima desta brutal agressão foi um infeliz e colateral acaso, trata-se de Estevão Horácio, setenta e dois anos, agente reformado e que por ali atalhava caminho vindo do mercado em direcção a casa. A mulher ainda lhe gritou:

- Não te metas Horácio !!

Mas o bom do Horácio ao ver o colega caído no chão e sangrando, não se conteve e espumando de raiva atirou-se de peito aberto ao meliante enquanto respondia à mulher:

- O dever primeiro o dever primeiro...

o terrorista, segundo testemunhos não confirmados, simplesmente terá desencravado o facalhão da goela do agente que atacara, erguido a mão e esperado e aguentado que o precipitado Horácio nele tivesse enfiado a proeminente barriga. Estevão Horácio ainda terá tido um último pensamento para a devota esposa e balbuciado:

- Ai Ester e agora ?

Ficou cadáver no mesmíssimo instante e no local onde tombou, nem terá sequer sangrado.

O resto é por demais sabido de todos. Ter-se-ão dirigido ao centro do tabuleiro da praça onde as esplanadas cheias àquela hora foram um alvo fácil, o matraquear das metralhadoras nem foi de monta, diz quem ouviu. Gente no outro extremo da praça junto à igreja de Stº Antão ou vinda da Rª João de Deus nem se terá apercebido dos tiros, que começaram exactamente ao meio dia, apenas viram o estardalhaço dos corpos, mesas e cadeiras pelo ar, tendo ficado por largos momentos expectante quanto ao motivo do estranho alarido e confusão.

Segundo testemunho não corroborado de Luís Martins, mais conhecido por Beato Salú, depois da matança, que levaram a efeito na maior das calmas, um deles ter-se-á aproximado da agência de Turismo local e disparado uma rajada contra quem de dentro se encostava aos vidros das portadas para ver o espectáculo e atirado uma granada, que os peritos vieram a classificar de ofensiva, e que não deixou vivo nenhum dos curiosos funcionários que no minuto anterior haviam sobrevivido à rajada que estilhaçara as vidraças por, no calor da bizarra cena, esta ter sido disparada demasiado alta, alegaram os mesmos peritos.

Ainda segundo Luís Martins, que especado no meio do tabuleiro aguardava expectante o que se seguiria, um dos elementos do grupo de presumíveis meliantes ter-lhe-á perguntado onde se situava a igreja de Stº. Antão, ao que ele respondeu com um gesto designando e apontando o edifício no outro extremo da praça, para onde os então alegados autores do atentado se dirigiram, armas ainda fumegando, o que não deixou de nos explicar o citado e surpreendido Luís Martins, por acaso o tipo de pessoa a quem nada surpreendia.

Segundo apurado, dezenas de telefonemas terão sido efectuados para os serviços de assistência que, inicial e compreensivelmente, tentaram de inicio canalizar as chamadas para destinos mais competentes dado o elevado numero de feridos que lhes era reportado, ao que há a acrescentar a precipitação, a ignorância e a falta de protocolo e meticulosidade de quem a partir de Évora efectuava as chamadas, confundindo durante bastante tempo os técnicos e agentes de serviço do outro lado da linha, repentinamente bombardeados com pedidos de auxilio em catadupa, o que os desestabilizava e arrancava ao remanso das rotinas protocolares, essas sim propiciadoras do bom andamento e encaminhamento das solicitações dos cidadãos, objecto, motivo e dedicação dos serviços de atendimento, como é bem sabido de todos nós.

Depois de umas trinta a cinquenta sobressaltadas chamadas, inclusivamente reportando mortos às paletes, os serviços de atendimento e assistência aperceberam-se finalmente que algo de irregular acontecera na Praça do Geraldo, e logo fizeram destacar ambulâncias, carros de apoio e um piquete que, equipado com as novas t-shirts de manga curta do fardamento de verão, se pôs a caminho acessando a dita praça pela Rª Nova, que desemboca à lateral da igreja, igreja que os alegados infiéis já tinham visitado. O designado piquete desembocou na praça precisamente no momento em que os supostos meliantes acabavam de banquetear-se com vários bules de chá, para o que intimidaram uma aterrorizada funcionária da Cozinha de Stº Humberto, obrigando-a a servi-los, e carregavam numa carrinha Citroen Berlingo fechada, pintada com motivos e cores de uma florista, à qual ninguém se lembrou de tirar a matricula, carregavam nela dizia eu, mochilas, armamento, kispos, e máscaras ou gorros passa montanhas.

Ao ver o piquete um deles, calmamente, abriu de novo uma das mochilas ou sacos de onde, segundo testemunhas e a reconstituição levada a cabo posteriormente, com recurso a uma equipa multidisciplinar onde não faltaram artistas, inclusive de teatro, capitaneados pela Sandra e pelo José Fonseca, naturais daqui e que prometeram levar à cena o incidente e conceder-lhe a conveniente abordagem plástica. Mas, retomando os factos, o suposto terrorista retirou uma pequena metralhadora com a qual disparou sobre o grupo de agentes mal este desembocou na praça e se preparava para sacar dos coldres as suas armas, ferindo dois deles e deixando outros tantos estendidos no empedrado, os restantes dispersaram rua acima, sabe-se hoje que em direcção à esquadra, que aquilo afinal era coisa séria e a pedir outro tipo de intervenção e de armamento pesado.

Uma carrinha policial Mitsubishi caixa aberta que descera a rua da Selaria teve igual tratamento, e o vidro do para brisas, tal qual os vidros das montras da papelaria Nazareth, adjacente, foram completamente estilhaçados, tendo os agentes na fuga e marcha atrás encetada atropelado mortalmente dois curiosos, um deles esmagado contra a esquina da Alcárcova de Baixo, fora estas duas vitimas não houve outras dignas de registo a assinalar, nem entre os agentes da autoridade.

Isto é, em súmula, o melhor que consegui apurar sobre o bárbaro atentado e incidente, se vos não deixo mais e melhor informação tal se deve ao facto de a investigação ser omissa num ou noutro aspecto, apesar de profundamente levada a cabo, ou por ter a mesma sido nalguns aspectos inconclusiva. A titulo de exemplo direi que após um momento inicial (e emocional há que assinalar), em que todos tinham plena certeza de ter visto os presumíveis terroristas e nitidamente identificado os mesmos sem qualquer sombra de dúvida, primeiro como árabes, depois como ciganos, e por fim como pretos, se concluiu pela maioria de testemunhos serem os ditos cujos de raça branca, caucasianos, alguns deles louros, alguns baixos, outros nem tanto, testemunhos de todo ao arrepio de quem os catalogava de gigantes, de núbios, e até de marroquinos.

A verdade é que ao certo ninguém sabe como eram ou quem eram, apesar de se terem passeado e demorado na praça com toda a desfaçatez, e nem isso já interessar, visto o terrível incidente ter catapultado o nome da cidade para os noticiários e páginas dos maiores jornais mundiais e o fluxo de turistas atingir picos impensáveis quatro meses atrás. Há quem diga ter sido o melhor que aconteceu à cidade, quem afirme nem terem os setenta e sete mortos sido um preço elevado tendo em conta os benefícios colhidos, tanto mais que noventa por cento das vítimas eram gente de fora. Nos vários serviços do estado vive-se um arrebatamento e entusiasmo como não se via há anos e não há repartição que não esteja genuinamente sedenta de indeferir um ou outro projecto, qualquer que ele seja.

Nos últimos três meses deram entrada nos competentes serviços mais de vinte solicitações para grandes investimentos, entre os quais mais de treze novos hotéis, não considerando projectos de menores dimensões. Um departamento universitário, em parceria com o Grupo PorÉvora, descobriu numa investigação histórica levada a efeito sobre um incunábulo existente na Biblioteca Pública da cidade e sobre o qual pendiam estudos vai para vinte cinco anos, apurou que já há quinhentos anos a.C. e sob o jugo romano, Cartagineses, Fenícios, ou Árabes tinham levado a efeito idêntico atentado, comprovado pelas ossadas encontradas junto à cerca velha e no lugar para onde depois foram chutados os judeus, hoje judiaria, e compreendida entre as ruas Do Raimundo e de Alconchel, actual rua Serpa Pinto. A cidade vive momentos como não vivia há muitas décadas, novas lojas sendo abertas todos os dias, e até a Guilda de comércios e ofícios, cujas direcções nunca primaram pela inteligência, se vê agora disputada com a exigência de participação de todos.

Não há fome que não dê em fartura, há males que vêm por bem, Deus escreve direito por linhas tortas, e Alá talvez um dia nos diga quem, como e porquê aquela gente nos entrou portas adentro.

Até lá, gozemos o momento…

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

303 - FORMATADO * ................................................


FORMATADO *

Ajusta-te à fatiota,
com um sorriso idiota,
e olhas, rindo, o futuro à tua frente,
parecendo-te fluir alegremente,
dinâmico,
compelindo-te ao atrevimento,
atreve-te ! manda-te !

Mas já no ar sentes um certo constrangimento,
reparas então que o movimento que visionaras,
não é em crescendo,
nem em comprimento,
e te deparas com o chão fugindo-te debaixo dos pés,
em regressão dás-te então conta estares noutra dimensão.

Primeiro curtes um susto, medo, apreensão e aos poucos,
vais desvendando a trela curta,
a liberdade parca,
o horário cheio,
o contrato a prazo,
o recibo verde,
               o escravo da gleba
um precário, ordinário,
com emprego ao candeio,
a jorna encolhendo,
o soalho regredindo,
já te vês pedindo,
entrando em pânico,
concorrendo à panrico,
e a um milhão idêntico,
nem respostas levas...

Ficas invisível no seio das trevas,
e já não és jovem,
nem sequer assertivo, ou optimista,
ou dinâmico, ou surrealista,
nem materialista, nem consumista,
és excedente,
poluente,
um problema incongruente,
já nem és gente, já nem és nada,
és merda formatada *
por esta sociedade demente e tão excelente !

Humberto Ventura Palma Baião, Évora, 7 de Janeiro de 2016