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segunda-feira, 28 de março de 2016

326 - O EGO E O SEU UNIVERSO ..............................

 Arte - Fernando Pessoa, por Afonso Pinhão Ferreira.


“ É preciso uma guerra para que apareçam seres humanos ” dizia-me o meu avô Bernardo. Só na guerra ele encontrara seres humanos,* é triste mas é assim, ele é um dos raros sobreviventes vivos da IGG. Também este é para mim um dia triste, Bruxelas, Paquistão, Iraque, nem sei onde mais uma multinacional anuncia milhares de despedimentos e nem há já dia em que noticias do género não cheguem até nós. Ou se começa depressa uma guerra que apague das estatísticas uns milhões, ou teremos que oferecer a muita gentinha o que foi oferecido apesar da sua manifesta contra vontade a Maria Antonieta em 1793.

O mundo está ficando pequeno para tanta gente. Usem as bombas, será um desperdício não lhes dar uso, foram caríssimas ! Todas elas !  Nem sei para que as quiseram tão grandes, nem às empresas, aos bancos, a todas essas entidades supranacionais, multinacionais, grandes demais para caírem. Amanhã serão robots e mais robots, cada vez mais robots, e mais drones, e mais refugiados e mais despedimentos, e mais miséria, e assim caminhamos alegremente para o cadafalso, como no filme dos Pink Floyd, marchando para o precipício, caminhando amorfos para o abismo, mudos e calados, cobardes, mas frequentando comícios e votando nos alarves que nos trouxeram aqui. Além de cobardes somos uns tristes, uns néscios, uns ignorantes, uns parvos.

Lembro a tropa, a minha guerra, relembro as guerras que vi, e as que vivi, vi homens, vi coragem, vi coerência e consequência. Se não prestam há que matá-los, com vigor, com força, com ímpeto, com vontade, com desejo, exemplarmente, fazer como eles, melhor que eles, quem não é por mim é contra mim, reconquistar o nosso espaço, a nossa dignidade, a nossa honra, não há outra solução, não nos deixam outra solução, outra saída. Quanto mais tarde pior. Já nos vigiam a todos, a todo o momento, com câmaras de vídeo nas cidades e para nossa segurança dizem-nos, ou com drones nos ares. A nossa segurança vai matar-nos a todos, nem teremos tempo de soltar um pio. Temos que lhes declarar guerra aberta, ou aberta ou fechada, ser mais manhosos que eles, ser cuidadosos com os nossos, o mundo está cheio de parvos, e traidores, e colaboradores, e de ignorantes, de delinquentes, de delatores e informadores, de oportunistas, e falsos, e arrivistas, e videirinhos, e de estupidez, e de cartões de crédito a mais, e bancos a mais, e hipermercados a mais, quando o que mais precisamos é de matadouros, de fábricas, de líderes, de ditadores, de guerrilheiros, de carrascos, de assassinos, de espingardas e tiroteios.

O mundo está a ficar bipolar, de um lado eles do outro lado os outros, a grande massa de indigentes, desempregados, mal empregados, precários, excedentes, excedentários, sobreviventes, refugiados. Este mundo tem que mudar, a balança oscila, os pratos pendem para o lado beneficiado, alguém tem que dar um encontrão na balança, um empurrão, um palmadão, um safanão, um tiro de canhão. A guerra é a solução, a guerra é nobre, é preciso não a amar para a julgar mal, a guerra é a paz, é a justiça, é o equilíbrio, é a razão estendida a rolo compressor se preciso for. O meu avô Bernardo tinha razão, eu tenho razão, guerra é bravura, heroicidade, honra, heroísmo, tenacidade, superação, solução, finalidade, igualdade, e depois, quando tudo voltar à bipolaridade, outra guerra redentora, patriótica, pacificadora, purificadora, arrasadora, niveladora, catártica.

A panela de pressão enche, sem válvula, sem vazão, e só uma explosão, uma violentíssima explosão meterá na ordem o patrão, que, então, e só então, aceitará esta aquela ou qualquer outra solução pois não aprendera antes a lição. Tudo queria para ele o egoísta, o egotista, o fascista, o capitalista, onde está o humanista ? O meu avô tinha razão, só a guerra faz emergir o humanista, o ser humano, o altruísta, só na guerra se encontram seres humanos, a guerra é progresso, a guerra é bom senso, guerra é pacifismo, guerra é consenso, a guerra é a paz, faça-se a guerra, guerra é esta paz podre, guerra ao establishment, guerra ao status quo, guerra à imobilidade, faça-se a guerra e a mudança surgirá, proceda-se à matança pois só depois da tempestade vem a bonança. É de lei, é dos livros.  

Segundo as últimas noticias 62 indivíduos serão donos de metade da riqueza mundial, um quarto da outra metade dessa riqueza está nas mãos de fundos de investimento, e financeiros e industrias, portanto de entidades sem cara nem sequer tensão arterial que, não raramente, dispõem de orçamentos muito superiores ao de países pequenos (como Portugal, a quem aliás dão ordens), decidindo sobre a sorte ou a desdita de milhões sem qualquer compaixão ou visão que não o saldo da própria conta bancária. Ou movemos contra esta ausência de razão e estes mentecaptos uma guerra sem quartel ou qualquer dia serão os hooligans que hoje pululam em Bruxelas a despoletá-la por falta dela, dela razoabilidade. Sim, esses e os que esta tarde fogem à frente dos canhões de água da polícia durante o enterro dos 13 escravos e ignorantes portugueses que se mataram numa carrinha de seis lugares, onde se faziam transportar para lá longe irem servir os seus senhores.

Não há muito tempo fui contratado para desenvolver um trabalho para uma agência, não, não era a Agência Gallup era uma outra, paralela, que me solicitou a realização de um inquérito que por razões que descobrirão gostei de levar a cabo. Grosso modo, e não estando a desculpar-me estou porém a clarificar as coisas, as perguntas ou questões usadas na entrevista eram exactamente cinquenta, cuja metodologia e conteúdo vou mental e desordenadamente tentar reproduzir aqui, todavia sem a exactidão a que por força da norma, da lei e do bom senso os questionários ou inquéritos normalmente nos são apresentados no que concerne a estrutura e padronização. No inquérito/questionário era pedido que ao mesmo fosse respondido de forma clara, sucinta e rápida, as respostas às cinquenta questões deveriam ser completadas em cinco minutos, e o tempo também contava.

1.     Sabe o que é um inquérito ?
2.     Diga o que é para si uma sondagem.
3.     Explique o termo sonda espacial
4.     Diga agora o que é um satélite natural.
5.     E um satélite artificial ?
6.     Desenhe com o dedo uma órbita.
7.     Agora desenhe uma elipse.
8.     Como desenharia em segundos uma pequena revolução ?
9.     Situe os Dardanelos no mundo.
10.  Por que é o motor pulso jacto, ou pulsorreactor o engenho com mais peças móveis que se conhece ?
11.  Acha a rega por expressão compatível com as normas ambientais vigentes ?
12.  O universo de uma sondagem tem reverso ?
13.  Os versos de um poema têm anverso ?
14.  Numa tipografia os caracteres têm personalidade ?
15.  "Olho por olho dente por dente", é para si uma força de aspersão corrente ?
16.  Defina metro-padrão.
17.  Explique o padrão-ouro.
18.  Dê um sinónimo de nacionalização.
19.  O que é expropriação ?
20.  E fertilização ?
21.  No espaço o som caminha mais depressa ou devagar que na terra ?
22.  O que é para si uma lua ?
23.  E uma sociedade em comandita ?
24.  Que significa a expressão Ldª ?
25.  E a sigla S.A.R.L. ?
26.  Diga o que em seu entender origina a inflação.
27.  O que é para si a deflação ?
28.  Sociedades por ações são sociedades de gente boa ?
29.  Sabe o que é uma ação ?
30.  Porque valorizam as ações ?
31.  Como e quando desvalorizam e porquê ?
32.  O que pensa ser um misantropo ?
33.  E um misógino ?
34.  A ponte 25 de Abril é uma ponte tênsil ?
35.  Os candidatos a deputados são uma escolha sua ?

Se bem que tenha tentado, não me recordo de todas as cinquenta perguntas não consegui recordar-me senão de apenas trinta e cinco, porém o resultado final era fácil de avaliar e enquadrava-se nestes padrões:

A - 50 respostas certas, eram equivalentes a 100% do inquérito,
B - 25 respostas certas a 50%
C - 13 respostas correctas a 25%
D - naturalmente zero respostas correctas corresponderiam a 0%

Apuradas as percentagens quem se enquadrasse na alínea A era considerado culto, na B mediana ou insuficientemente culto, na C a necessitar seriamente de repetir o liceu, e finalmente a D que considerava quem nela se inscrevesse uma pessoa simplesmente ignorante e um caso perdido. Posto isto, avalie-se, ou considere-se. 

Chegado o leitor aqui já deve ter feito as contas de cabeça, estará a contar a quantas perguntas teria respondido certo, e em qual percentil se enquadrará, A,B,C ou D, ainda bem é mesmo aí que o desejo apanhar a fim de me responder com conhecimento a duas questões que me têm azucrinado a cabeça, será este povo capaz, ou alguém com ele, de algum dia construir aqui uma democracia, ou ainda, será ele capaz algum dia de viver em democracia, está ele preparado para isso ? 

* Svetlana Aleksievitch, “O Fim do Homem Soviético” pág. 352, Editora Bertrand, Lx.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

304 - ÉVORA, ATENTADO TERRORISTA ...............


Em boa verdade ninguém sabe dizer com exactidão donde eles apareceram, eles o grupo, e pelo que foi apurado não seriam mais de meia dúzia. Todos de kispos enormes e escuros, vestimenta precoce para a época, mas ninguém estranhou, habituados que estamos a ver aparecer excursões turísticas eclécticas, até esquimós em pleno verão.

Não esqueçamos que estou tentando reconstituir minuciosamente os acontecimentos com base nas informações colhidas, que embora escassas e contraditórias nessa manhã, se vieram a mostrar numerosas e coincidentes na sua plural ambiguidade. Já lá vão uns cinco meses mas a memória não irá falhar-me, tenho o meu canhenho de apontamentos.

Ao certo ninguém parece saber por ou qual o lado por onde perpetraram o acesso à praça do Geraldo, inda que tudo leve a crer ter sido subindo a Rª da República ou descendo a 5 de Outubro ou da Selaria, digo isto por o agente em frente ao Banco de Portugal ter sido o primeiro a cair e fruto das primeiras contradições. Uns que ele tombou sem um pio e nem se terá dado conta de quem o degolou, outros que embora de boca abafada terá dado luta ao atacante que só dificilmente o subjugou, coisa a que não foi alheia a superioridade do armamento e superior pujança física do agressor. Esta é a versão que corre na esquadra e entre os agentes, o respectivo sindicato já aproveitou o ensejo para lembrar que há mais de dois anos reclama novas pistolas invocando como obsoleto o modelo que equipava o agente barbaramente assassinado (e todos os outros).

De certo apenas se sabe que o agente nem teve tempo de lançar a mão ao coldre e que sangrou como um cordeiro pascal, caído na calçada frente ao Banco de Portugal, o que dá relevo à heroicidade e ao patriotismo do seu sacrifício. 


A segunda vitima desta brutal agressão foi um infeliz e colateral acaso, trata-se de Estevão Horácio, setenta e dois anos, agente reformado e que por ali atalhava caminho vindo do mercado em direcção a casa. A mulher ainda lhe gritou:

- Não te metas Horácio !!

Mas o bom do Horácio ao ver o colega caído no chão e sangrando, não se conteve e espumando de raiva atirou-se de peito aberto ao meliante enquanto respondia à mulher:

- O dever primeiro o dever primeiro...

o terrorista, segundo testemunhos não confirmados, simplesmente terá desencravado o facalhão da goela do agente que atacara, erguido a mão e esperado e aguentado que o precipitado Horácio nele tivesse enfiado a proeminente barriga. Estevão Horácio ainda terá tido um último pensamento para a devota esposa e balbuciado:

- Ai Ester e agora ?

Ficou cadáver no mesmíssimo instante e no local onde tombou, nem terá sequer sangrado.

O resto é por demais sabido de todos. Ter-se-ão dirigido ao centro do tabuleiro da praça onde as esplanadas cheias àquela hora foram um alvo fácil, o matraquear das metralhadoras nem foi de monta, diz quem ouviu. Gente no outro extremo da praça junto à igreja de Stº Antão ou vinda da Rª João de Deus nem se terá apercebido dos tiros, que começaram exactamente ao meio dia, apenas viram o estardalhaço dos corpos, mesas e cadeiras pelo ar, tendo ficado por largos momentos expectante quanto ao motivo do estranho alarido e confusão.

Segundo testemunho não corroborado de Luís Martins, mais conhecido por Beato Salú, depois da matança, que levaram a efeito na maior das calmas, um deles ter-se-á aproximado da agência de Turismo local e disparado uma rajada contra quem de dentro se encostava aos vidros das portadas para ver o espectáculo e atirado uma granada, que os peritos vieram a classificar de ofensiva, e que não deixou vivo nenhum dos curiosos funcionários que no minuto anterior haviam sobrevivido à rajada que estilhaçara as vidraças por, no calor da bizarra cena, esta ter sido disparada demasiado alta, alegaram os mesmos peritos.

Ainda segundo Luís Martins, que especado no meio do tabuleiro aguardava expectante o que se seguiria, um dos elementos do grupo de presumíveis meliantes ter-lhe-á perguntado onde se situava a igreja de Stº. Antão, ao que ele respondeu com um gesto designando e apontando o edifício no outro extremo da praça, para onde os então alegados autores do atentado se dirigiram, armas ainda fumegando, o que não deixou de nos explicar o citado e surpreendido Luís Martins, por acaso o tipo de pessoa a quem nada surpreendia.

Segundo apurado, dezenas de telefonemas terão sido efectuados para os serviços de assistência que, inicial e compreensivelmente, tentaram de inicio canalizar as chamadas para destinos mais competentes dado o elevado numero de feridos que lhes era reportado, ao que há a acrescentar a precipitação, a ignorância e a falta de protocolo e meticulosidade de quem a partir de Évora efectuava as chamadas, confundindo durante bastante tempo os técnicos e agentes de serviço do outro lado da linha, repentinamente bombardeados com pedidos de auxilio em catadupa, o que os desestabilizava e arrancava ao remanso das rotinas protocolares, essas sim propiciadoras do bom andamento e encaminhamento das solicitações dos cidadãos, objecto, motivo e dedicação dos serviços de atendimento, como é bem sabido de todos nós.

Depois de umas trinta a cinquenta sobressaltadas chamadas, inclusivamente reportando mortos às paletes, os serviços de atendimento e assistência aperceberam-se finalmente que algo de irregular acontecera na Praça do Geraldo, e logo fizeram destacar ambulâncias, carros de apoio e um piquete que, equipado com as novas t-shirts de manga curta do fardamento de verão, se pôs a caminho acessando a dita praça pela Rª Nova, que desemboca à lateral da igreja, igreja que os alegados infiéis já tinham visitado. O designado piquete desembocou na praça precisamente no momento em que os supostos meliantes acabavam de banquetear-se com vários bules de chá, para o que intimidaram uma aterrorizada funcionária da Cozinha de Stº Humberto, obrigando-a a servi-los, e carregavam numa carrinha Citroen Berlingo fechada, pintada com motivos e cores de uma florista, à qual ninguém se lembrou de tirar a matricula, carregavam nela dizia eu, mochilas, armamento, kispos, e máscaras ou gorros passa montanhas.

Ao ver o piquete um deles, calmamente, abriu de novo uma das mochilas ou sacos de onde, segundo testemunhas e a reconstituição levada a cabo posteriormente, com recurso a uma equipa multidisciplinar onde não faltaram artistas, inclusive de teatro, capitaneados pela Sandra e pelo José Fonseca, naturais daqui e que prometeram levar à cena o incidente e conceder-lhe a conveniente abordagem plástica. Mas, retomando os factos, o suposto terrorista retirou uma pequena metralhadora com a qual disparou sobre o grupo de agentes mal este desembocou na praça e se preparava para sacar dos coldres as suas armas, ferindo dois deles e deixando outros tantos estendidos no empedrado, os restantes dispersaram rua acima, sabe-se hoje que em direcção à esquadra, que aquilo afinal era coisa séria e a pedir outro tipo de intervenção e de armamento pesado.

Uma carrinha policial Mitsubishi caixa aberta que descera a rua da Selaria teve igual tratamento, e o vidro do para brisas, tal qual os vidros das montras da papelaria Nazareth, adjacente, foram completamente estilhaçados, tendo os agentes na fuga e marcha atrás encetada atropelado mortalmente dois curiosos, um deles esmagado contra a esquina da Alcárcova de Baixo, fora estas duas vitimas não houve outras dignas de registo a assinalar, nem entre os agentes da autoridade.

Isto é, em súmula, o melhor que consegui apurar sobre o bárbaro atentado e incidente, se vos não deixo mais e melhor informação tal se deve ao facto de a investigação ser omissa num ou noutro aspecto, apesar de profundamente levada a cabo, ou por ter a mesma sido nalguns aspectos inconclusiva. A titulo de exemplo direi que após um momento inicial (e emocional há que assinalar), em que todos tinham plena certeza de ter visto os presumíveis terroristas e nitidamente identificado os mesmos sem qualquer sombra de dúvida, primeiro como árabes, depois como ciganos, e por fim como pretos, se concluiu pela maioria de testemunhos serem os ditos cujos de raça branca, caucasianos, alguns deles louros, alguns baixos, outros nem tanto, testemunhos de todo ao arrepio de quem os catalogava de gigantes, de núbios, e até de marroquinos.

A verdade é que ao certo ninguém sabe como eram ou quem eram, apesar de se terem passeado e demorado na praça com toda a desfaçatez, e nem isso já interessar, visto o terrível incidente ter catapultado o nome da cidade para os noticiários e páginas dos maiores jornais mundiais e o fluxo de turistas atingir picos impensáveis quatro meses atrás. Há quem diga ter sido o melhor que aconteceu à cidade, quem afirme nem terem os setenta e sete mortos sido um preço elevado tendo em conta os benefícios colhidos, tanto mais que noventa por cento das vítimas eram gente de fora. Nos vários serviços do estado vive-se um arrebatamento e entusiasmo como não se via há anos e não há repartição que não esteja genuinamente sedenta de indeferir um ou outro projecto, qualquer que ele seja.

Nos últimos três meses deram entrada nos competentes serviços mais de vinte solicitações para grandes investimentos, entre os quais mais de treze novos hotéis, não considerando projectos de menores dimensões. Um departamento universitário, em parceria com o Grupo PorÉvora, descobriu numa investigação histórica levada a efeito sobre um incunábulo existente na Biblioteca Pública da cidade e sobre o qual pendiam estudos vai para vinte cinco anos, apurou que já há quinhentos anos a.C. e sob o jugo romano, Cartagineses, Fenícios, ou Árabes tinham levado a efeito idêntico atentado, comprovado pelas ossadas encontradas junto à cerca velha e no lugar para onde depois foram chutados os judeus, hoje judiaria, e compreendida entre as ruas Do Raimundo e de Alconchel, actual rua Serpa Pinto. A cidade vive momentos como não vivia há muitas décadas, novas lojas sendo abertas todos os dias, e até a Guilda de comércios e ofícios, cujas direcções nunca primaram pela inteligência, se vê agora disputada com a exigência de participação de todos.

Não há fome que não dê em fartura, há males que vêm por bem, Deus escreve direito por linhas tortas, e Alá talvez um dia nos diga quem, como e porquê aquela gente nos entrou portas adentro.

Até lá, gozemos o momento…

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

290 - ISRAEL 6 X PALESTINA 2 …….............………

Judeus rezando junto ao muro das lamentações

Ora bom dia caros afilhados, boa quarta-feira, aqui faz um sol lindo mas este paleio é só p’ra vos fazer invejinha eheheheheheheheheheh !!!!!

Retomando a vaca fria onde a deixáramos, ké como quem diz voltando aos judeus, esses bandidos dos israelitas, carrascos dos palestinianos, há quem diga c’agora se deve dizer palestinos…. Cada cabeça sua sentença, há gente que cada vez que vai à casa de banho caga uma sentença…. Olha o Blair que há 3 x 15 dias se veio arrepender da merda que fizeram no Iraque, e já na passada semana o Obama fizera o mesmo, desculpando as diarreias de Bush filho…. Doze anos depois, 12 anos depois e milhares de mortos depois…. Milhares de refugiados depois… E ninguém os enforca, nem a ONU nem o TPI (tribunal penal internacional)…

Mas p’ra que vcs saibam o pk das coisas adianto-vos que antes do fim do Império Otomano (vulgo Turquia), o Reino Unido e a França traçaram com régua e esquadro as fronteiras na região no médio oriente e segundo os seus interesses económicos, completamente alheias ao destino das populações e das etnias locais. Aventuras do tempo de Laurence da Arábia,* espião britânico no mundo otomano (leiam “Os Sete Pilares da Sabedoria”, poupem tempo e não busquem pois não há resumos à venda) e essas consequências fazem-se sentir sobretudo hoje. Mas enfim, era uma vez um gato maltez e … e um coronel britânico e um cônsul-geral francês foram os responsáveis pela dramática situação actual, com o Iraque no centro, o mesmo Iraque onde o Padrinho passou umas férias de turismo de guerra… (Padrinho com letra grande, pois o Padrinho sou Eu).

Mark Sykes e François Georges-Picot, um topógrafo (não tipógrafo) e outro agrimensor, desenvolveram em 1916 um documento secreto que acabou levando o seu nome. No Acordo Sykes-Picot, assim ficou conhecido o documento, “eles”, os fascistas / capitalistas da época, regulamentaram a partilha dos territórios do "antigo" Império Otomano, sem que a população local tivesse conhecimento ou tão pouco metesse prego ou estopa no assunto, apesar do assunto serem elas mesmas, essas populações.

O picante da coisa, feita em cima de joelhos, de joelhos de cócoras e deitados, é que naquela altura o Império Otomano ainda existia, nem esperaram pelo seu enterro. Os últimos líderes políticos e espirituais do império foram os sultões Mehmet 5° (1909-1918) e Mehmet 6° (1918-1922). Politicamente, o califado otomano terminou em Novembro de 1922, com a fundação da República da Turquia por Kemal Atatürk. O califado espiritual dos otomanos perdurou contudo e por esquecimento até Março de 1924, quando, por iniciativa desse mesmo Atatürk, uma lei do Parlamento turco o aboliu. As duas principais potências militares da época, Reino Unido e França, tinham grande interesse na região entre o Mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsico por isso havia que legalmente não deixar pontas soltas que mais tarde trouxessem enleios, enredos (pk pensam vcs que em 17-06-1918 os guardas vermelhos acabaram com todos os Romanov a tiro e os atiraram para dentro de um poço?) Em Londres, já no início do século XX os responsáveis haviam reconhecido a importância que poderia ter o acesso às fontes de extracção de petróleo, sempre o petróleo, ou melhor, a partir dali o petróleo que já se adivinhava ir ser mais valioso que diamantes… além disso a região localizava-se precisamente no caminho da principal colónia do império britânico, a Índia.

Paris, por sua vez, possuía uma longa história de relações comerciais com os grandes portos da costa do Mediterrâneo, como Beirute, Sídon e Tiro, as quais queria assegurar por meio do Acordo Sykes-Picot. Para as grandes potências, o destino dos habitantes dessas regiões não importava, que viviam como príncipes dos Saaras e das Mil e Uma Noites e que passaram a viver numa salganhada derivada do estabelecimento de fronteiras a régua e esquadro, vai, ou vão lá ver o mapa e confirmem as rectas traçadas em cima da areia dos desertos….

Quanto aos judeus, dão um travo peculiar à coisa, mas há até quem diga que foi uma pena Hitler não ter acabado com os judeus todos e quem diga precisamente o contrário, eu digo uma coisa nos dias pares e o contrário nos impares… para não contrariar nem uns nem outros e agradar a gregos e a troianos… A verdade atestada pela bíblia, especialmente pelo antigo testamento, o livro mais sensual erótico e violento que conheço, é que os judeus já por ali se arrastavam há mais de 5 mil anos…. Mas… bem…. Os palestinianos palestinos tb… e quando em 14 de Maio de 1948, Israel proclamou sua independência já há anos, séculos ou milénios que travava conflitos com os vizinhos pela posse dessas terras, seu berço histórico…. Seu e dos palestinos….. Menos de 24 horas depois desse golpe cozinhado pela conquista da independência os exércitos regulares do Egipto, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram o país, (conhecedores da manhosa manobra de fuga dos ingleses afim de garantir a vitória da independência aos judeus…) forçando Israel a defender a soberania que acabara de reconquistar, a defender a “sua pátria ancestral” , no que desde sempre e até hoje foi ajudado… Os judeus são os primos ricos na região, quanto aos pobres e miseráveis dos palestinos ninguém passa chapa…

Ora os palestinos só tinham fundas e fisgas, como praticamente acontece hoje, que poderiam ter feito ?? Ficaram um enclave dentro do rico estado israelita para onde tinham confluído os judeus de todo o mundo fugindo à II GG, eles os judeus e as suas fortunas… judeus com uma rede de conhecimentos de familiares e de amigos espalhada por todo o mundo, enquanto os palestinianos só podiam contar com a solidariedade árabe que como temos visto deixa muito a desejar, além de que os palestinos como já disse eram a parte pobre da equação e ninguém gosta dos pobres, cheiram mal dos pés, têm mau hálito, não tratam dos dentes, cheiram mal dos sovacos, e nem usam um reles Rol-On… imaginem meus afilhados a SAAB a governar-se com os pobres…. Já tinha falido…. A sorte dela são os ricos, a dela e do mundo, pobre só serve p’ra carne p’ra canhão…………

Mas agora que vos dei o contexto histórico vou dar-vos uma data de pensamentos avulso para cogitarem e formarem a vossa própria opinião que eu não quero influenciar-vos, são ainda umas crianças e a Rosinha poderia mais tarde vir pedir-me satisfações…ui ui …

1 - Os árabes são uns coitadinhos ignorantes, menos os ricaços com carros forrados a folha de ouro com petróleo no quintal e um harém no sultanato…

2 - Os árabes são um povo pragmático que detesta a burocracia (ihihihihihihih) , não acreditam na democracia e cortam mãos e cabeças a título exemplar e por dá cá aquela palha pk o respeitinho é muito muito bonitinho…

3 -  Como nós tivemos a nossa época áurea, à volta do ano 1500, eles tb tiveram a sua, sua deles, e muito antes ainda de nós, e muito a civilização ocidental lhes deve, mas por causa do muito chá e do muito bom haxixe já se esqueceram de tudo isso e agora são só burkas e camelos…

4 - Esventrados na sua ontológica essência, por causa das divisões cegas que os ocidentais praticaram à força nos seus reinos, humilhados e ofendidos, criaram frustrações, traumas e taras sendo agora uns revoltados e ainda por cima ruins como cães…

5 - Não querem trabalhar, e com um deserto tão grande nem arranjam onde, são uns madraços, e nas suas Madrassas pregam o ódio ao ocidental que acusam de tudo fazer para lhes roubar o ouro negro, e todos querem é um bom emprego no aeroporto do Dubai…

6 - A verdade é que os ocidentais toda a vida lhes têm lixado os países, as economias, a esperança e o futuro. E eles, famintos, em vez de comerem a areia do deserto, e há tanta, ainda se viram contra nós numa atitude de ingratidão impossível de compreendermos ou aceitarmos…

7 - Não há entre eles, há séculos, um único prémio Nobel, o último terá sido no ano 2.500 a.C. e já ninguém se recorda, há meses na Turquia um grupo ganhou o Nobel da Paz, mas o nosso turismo é que tem ganho com as revoltas deles, deles e da primavera árabe, o nosso turismo e os nossos hoteleiros… para a maralha não houve ganhos, continua a lavar pratos e a limpar a merda nos hotéis por 500 euros ao mês, ou menos…. Devíamos emigrar todos ou fazer uma intifada contra eles… eles os hoteleiros…

8 - Alguns árabes são ricos, podres de ricos, mas é só com eles, nem sabem que fazer ao dinheiro, uns constroem auto estradas com princípio e fim no mesmo local depois de terem dado uma volta em círculo pelo deserto, outros financiam a “al queda”, outros o Arafat que já lá está, outros compram loiras para desfastio…. Outros armam o Hamas ou o Hezbollah para se vingarem dos israelitas que lhes roubam as terras (e roubam) e destroem as cidades….

9 - Os israelitas são os escorpiões da região e toda a gente sabe que esse bicho é um animal terrível, sofreram muito às mãos dos alemães coitados, mas mais hão-de sofrer os desgraçados dos palestinos, os israelitas são muito compreensivos e jamais esquecerão o olho por olho dente por dente…

10 - Desde os tempos bíblicos os judeus são uma sociedade militarizada, ainda hoje os presidentes e primeiros-ministros na generalidade antes de o serem todos foram militares, generais, comandantes etc…

11 - Os judeus são inteligentes à brava e já ganharam muitos prémios Nobel, e contam com apoios em dólares e apoios de costas quentes nos EUA ricos…. Por isso fabricam, inventam, produzem ou compram muito e bom material de guerra, e tb contam com muitos apoios em numerário… enfim, fazem pela vidinha e trabalham, e isso em certos meios é considerado uma ofensa, a nós por exemplo corre-nos sangue árabe nas veias e não judeu, tudo por culpa do Marquês de Pombal…

12 - Os judeus não sabem o que seja dar a outra face (desde os trinta dinheiros só conhecem as faces das moedas) nem sabem o que seja a proporcionalidade, e ripostam a fisgas com bombas atómicas e batalhões de tanques blindados… e  com misseis teleguiados…

13 - Durante a guerra do Vietname os comunistas do norte queixaram-se na ONU de que os EUA não respeitavam a proporcionalidade, e os USA foram obrigados a emendar o seu mais recente e moderno caça, o Phantom F4, e a adaptarem nele metralhadoras e canhões, o caça só tinha mísseis e rockets, e radares, que lhe permitiam reconhecer e abater o inimigo a 50 km de distância, os comunas nem sabiam quando nem do que morriam, o que era tremendamente injusto…. A ONU obrigou a combates à vista, só podiam abater-se mutuamente à vista um dos outros, como durante a II GG, essa lei da proporcionalidade tornou mais justas e menos desiguais as “justas” (justas neste caso= a lutas). Foi por não ter percebido isto, ou ter estado distraído nas aulas de formação de “condicionalismos ao uso e porte de arma” que o cabo Hugo Ernandez se fodeu e agora tosse… atirou contra um homem desarmado e atirou contra uma criança…. O resto são circunstancialismos do contexto, ou são opiniões de malta ignorante….  Um blindado contra uma fisga… ou, à falta de melhor, um judeu com uma bomba atómica na intifada contra quem lhe atira pedras…..

14 - Parece haver uma conspiração judaica no mundo, há quem atire todas as culpa aos judeus, eles só fazem como nós, pela vidinha, acho que os árabes têm inveja de tudo que lhes devemos, deve ser isso, inveja do petróleo deles que faz andar as nossas motas e carros, inveja dos empregos que temos como militares, nos exércitos, nas forças aéreas e nas marítimas, para nos resguardarmos deles, idem para as policias, civis e marítimas, judiciárias e secretas, o que eles têm é inveja dos bons empregos que temos nas fábricas do armamento que lhes cai em cima, no fundo tudo eles nos dão e como retribuímos tanta amabilidade ?? Deixamos-lhes o Saara todo só pra eles !!! Podem empanturrar-se de areia fininha ! Areia de primeira !! Queriam brioches !!!??? Ingratos é o que  são…

15 - Mal entendidos que geram frustrações, aquela malta já nem ginásios têm, nem prédios, nem cidades, está tudo arrasado, e quem nada tem a perder tudo tem a ganhar…. Lugares no paraíso ou no céu…. 72 Virgens…. Não lhe deixamos nada a que se agarrarem agarram-se ao imaterial, ao materialismo dialéctico, à metafisica, nós damos a outra face mas eles querem tudo, a nossa religião tem regras, e mandamentos, ama o próximo, e se formos mulher amaremos mesmo, amaremos as próximas se formos homens, para nós é democracia, e repartição, para eles é perdição, dissolução de costumes, eles dão muito valor aos costumes pk já nem isso vão tendo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

16 - Razão têm os chineses, uma mulher tem que dar para dois homens ou mais, temos que saber gerir os recursos, os outros e os humanos, há que evitar frustrações, traumas, rentabilizar o capital humano, é a vida….  Que mais dizer ??? Que apesar de tudo ainda há gente boa felizmente, o Padrinho por exemplo  :D

17 - Mas já agora perguntemo-nos também porque não fogem os refugiados para os outros países árabes…. Porque não são assim tão solidários os outros países árabes…. Ou porque ao fim de algum tempo a maioria dos imigrantes ou refugiados que Portugal tem recebido o abandonam na procura de outras paragens…. Será pela mesma razão pela qual os tugas abalam daqui ?? E nem isto ainda está de rastos como outras cidades e outros países que vemos na Tv se não imaginem…..

Bem meus afilhados, espero que isto seja suficiente, e espero que se aguentem aí pela Suécia muito tempo, pois os nossos democratas apesar de quatro décadas de paz e abundância na Europa o melhor que conseguiram foi mandar-nos para o fundo de um valente buraco... Não acredito que os próximos quarenta anos sejam de paz, nem de paz nem de abundância, mas sim de individualismo, fecho da Europa sobre si mesma, terrorismo, deriva securitária, autoritarismo, fascismo, etc. por isso o melhor será irem ficando por aí... Pressinto que desta vez não haverá cenários em que este ou quaisquer outros governos consigam doravante fazer-nos crescer… Aguentem-se enquanto puderem que Salazar já morreu há muitos anos e por muito que nos custe não voltará segunda vez para endireitar esta merda...











                                      Recreio numa Madrassa palestiniana

                          
                                          Combatente judia defendendo um colonato

            
                                                   Judia saindo do Mar Morto

domingo, 15 de novembro de 2015

289 - O CARLOS GARDEL DO ISIS ……...................


Amigo meu solicitou-me um dia destes, cortêsmente, uma breve explicação sobre este personagem. Verdade que, entretido com outras coisas li superficialmente a sua mensagem e dei comigo pensando de mim para mim o que quereria o caramelo saber sobre Carlos Gardel... Por quê ?

Com delicadeza chutei-o para depois, para ocasião em que o vagar e a disposição sobrassem e a paciência sobejasse, as duas coisas, o que não deixa porém de ser uma e a mesma merda. No day after ou no outro acedi a responder-lhe e fui novamente olhar a sua mensagem. Afinal a rapidez e leviandade com que eu a lera induzira-me em erro, não era sobre Carlos Gardel que ele manifestara curiosidade, mas sim sobre Carlos Martel, o que alterava todas as premissas em especial a da oportunidade do tema e a pertinência da observação.

Essa mudança de apelido mudara radicalmente o panorama, de um cantor de tangos, naturalizado argentino e dançarino, para uma das figuras de maior relevo da história medieval europeia que, por um triz milagroso evitou que hoje todos nós adorássemos Alá… Como sabemos da história o islão ocupou a Península Ibérica, teve califado em Córdova e os pés assentes nas terras transtaganas (as a sul do Tejo), terras de onde só foi expulso no reinado de D. Afonso III, o Bolonhês, em 1249.

Reza a história que por volta do ano de 700 da nossa era, e pujante na península, o islão tentou a expansão para a Europa, tendo avançado pelos reinos francos, actual França, após ter conseguido ultrapassar com êxito a barreira natural e defensiva que os Pirenéus constituem. Contudo o sucesso perdeu-os, perdeu-os a eles homens do islão, e digo que o sucesso os perdeu pois de sucesso em sucesso, reinos francos adentro, foram indo cantando e rindo até se confrontarem com as tropas de Carlos Martel que em Tours, ou em Poitiers, aqui as opiniões dividem-se, lhes infligiu uma memorável derrota.

Digo que as opiniões se dividem porque então, como agora, as opiniões podem ser tantas quantas as cabeças que as emitem ou formulam. À falta de jornais e televisões, máquinas fotográficas, telemóveis e selfies que provem a veracidade da coisa, os de Poitiers puxam pela brasa à sua sardinha, fazendo os de Tours o mesmo. Um pouco à imagem do nosso Vasco da Gama, 1.º Almirante-Mor dos Mares da Índia, que nos afirmam ser natural da terra dos bons vinhos, a Vidigueira (e o Gama era um apreciador do néctar dos deuses), enquanto outros afirmam com a mesma convicção ser o Gama natural de Sines, terra e águas onde terá aprendido as lides de marear e a não temer o rei Neptuno nem o mar tenebroso, certeza que inequivocamente conhecemos.

Apesar de também eu ser um apreciador dos vinhos da Vidigueira, se me perguntarem direi que sob o patrocínio deles o Gama não teria ido mais longe que o sofá da sala, já quanto a Sines, chamo à colação António Sérgio * e Orlando Ribeiro ** (obrigado professora Elsa), não terei a menor dúvida em aceitar as explicações destes dois grandes mestres em como a vila piscatória terá sido o seu berço, seu do Gama. A morte ocorreria em Cochim, India, nas vésperas de Natal do ano de 1524, cidade que foi a sua honrosa tumba. Em 1539 os restos mortais foram transladados para Portugal, mais concretamente para a Igreja de um convento carmelita, conhecido actualmente como Quinta do Carmo, próximo da vila alentejana da Vidigueira. Aqui estiveram até 1880, data em que foram trasladados de novo para o Mosteiro dos Jerónimos. Há quem continue defendendo que os ossos de Vasco da Gama ainda se encontram na vila da Vidigueira, e daí a polémica existente quanto à sua naturalidade.

Mas voltando a Carlos Martel e ao sucesso que perdeu os islamitas, tal deve ficar-nos na memória como exemplo para que não sejamos invejosos, ambiciosos ou materialistas. Os soldados do islão irromperam pelos reinos francos numa campanha vitoriosa que contava anos e anos de lutas, e anos de lutas significam anos e anos de proveito de saques, de despojos, que é como quem diz toneladas e mais toneladas de despojos, a sua riqueza, a sua fortuna pessoal. Resumindo, desfizeram-se do essencial (armamento) para manter o acessório, que contudo lhes garantiria uma reforma digna. No ano de 732 Carlos Martel investiu contra um exército de soberbos a quem faltava o elementar, o tal armamento, e apesar da diferença numérica chacinou-os obrigando-os a recuar para aquém Pirenéus, até hoje.

Até hoje ou de véspera, em que bem vestidos e alimentados e melhor municiados chegam de avião a Paris, ou já por lá vivem nalgum apartamento arrendado, como fizera o 44, para no dia seguinte estarem fresquinhos e robustos a fim de continuarem a sua gesta. É tudo uma questão de logística, a logística ditou a sorte de Carlos Martel, a logística ditou a desdita de Paris.

Há pormenores, particularidades, detalhes, elementos e circunstâncias de que raramente nos lembramos, ou desconhecemos, mas que se revestem de crucial importância. Naquela época não se viajava de avião, nem de TGV ou ferryboat, naquela época os exércitos arrastavam-se penosamente sobre estradas por construir, em carroças rudimentares puxadas por cavalgaduras e carregadas de trigo, aveia, cevada, favas, alfarroba, tecidos, panos, toldos, tendas, vasilhame, pregos, ferramentas, pedras de esmerilar, fogões, fogareiros e forjas, carne salgada e fumada, cestos de costura, temperos, ervas medicinais, poções, amuletos, etc, etc, etc …

As carroças lá seguiam guinchando, ladeadas de carpideiras profissionais, “parteiras”, “enfermeiras”, poetas e trovadores, jograis e escribas, os soldados atrás carregando todo o seu armamento e o seu espólio, ou os seus despojos, e atrás destes as mulheres, as suas e as outras, e as crianças, os sapateiros, os ferreiros, os físicos (médicos), os ferradores, e evidentemente o putedo, as putas, a mais velha profissão do mundo e presença incontornável pois havia que manter o exército permanentemente animado e entusiasmado, nem todos eram casados ou amigados e o casamento como hoje o conhecemos nem sequer tinha nascido por esses dias… Quem já viu o filme “Aníbal e os Elefantes”, ou leu “A Viagem do Elefante” de José Saramago, terá uma ideia da dificuldade com que os exércitos se debatiam enquanto marchavam.

Hoje, apesar dos esforços de Carlos Martel, agraciado pelo Papa Gregório III e a quem este concedeu o título de Herói da Cristandade, hoje dizia eu, com passaporte ou sem passaporte, movemo-nos quase à velocidade da luz se comparando com essa época recuada, depois de jantarmos num restaurante de luxo, num qualquer boulevard perto da Ópera do Fantasma, ou do Bataclan, retiramos as ferramentas da mala do carro e vamos “trabalhar”… o mundo está a ficar impossível…