sexta-feira, 13 de novembro de 2015

288 - ERA UMA CORRIDA ?????????????? ...............


A prova já foi há um mês e uma semana mas a minha mana contínua na dela. Rejeita o corte a cor e o modelo afirmando não ser este o dela. Mas qual era o dela ? Nem eu nem ninguém parece entender, e os média continuam tratando-nos como sendo mentecaptos, os média, os mídia, e os actores em cena.

Primeiro era que se lixem as eleições, mas quando alguém lhas lixou o rapaz mudou de opiniões, fazem-lhe a vontade e agradece com uma montanha de ingratidões…

Mas, retomando o titulo, aquilo era uma corrida ou eram eleições ? Manda a Constituição que se proceda de acordo com o que a AR entender depois do PR cumprir a sua obrigação e dever. E assim foi, o PR cumpriu a sua, e a AR cumpriu a dela, de que se queixam ? Que querem ? Outra Constituição ? Só pode ser isso, e até PPC por isso a exige, por isso e por ser tolinho mas essa é outra história.

Ninguém até agora transgrediu a Constituição, apesar de muita demagogia e parvoíce que se houve e vê durante todo o dia. Ela, a Constituição, foi elaborada por todos e salvo erro aprovada por quase todos. (penso que com excepção do CDS). Em relação a ela, Constituição, alguns podem ter sido menos delicados, como Cavaco e Silva ou PPC, ou oportunistas como A. Costa, mas ainda não foi transgredida. Era isso que o povo devia saber, ao povo ser ensinado, e não embalado em cantigas parvas pela esquerda e pela direita. Quanto à tradição é muito bonita mas não tem força de lei, a menos que se trate de um caso de direito consuetudinário*, ou usocapião**, casos que ao contrário do que possam pensar a lei (e a jurisprudência) deveras regulamentam.

Costa foi oportunista porque a votação por si obtida está longe do poucochinho que A.J. Seguro apesar de tudo ia conseguindo. Se Costa tivesse brio, honra, vergonha, caracter e tomates ter-se-ia demitido na hora. Mas a política é isto, é um jogo de vontades, equilíbrios, manipulações, consensos, mobilizações, ligações, compromissos, acordos e desacordos, o que se segue é a guerra, a continuação da política opor outros meios… O que A. Costa está a tentar fazer é absolutamente licito, legal, constitucional. 

Podemos não gostar, poderá não nos agradar, mas está funcionando a legalidade pois a politica também é contorcionismo, malabarismo, e engolir sapos. Desconheço se Costa age assim unicamente para safar o pescoço da guilhotina, é justo que tal pensemos, mas há mais aproveitadores da situação. Comecemos pelo PCP, porque não cresceu desmesuradamente apesar da crise, e não só não cresceu como a esquerda cresce sem ele, e essa esquerda que cresce é para ele uma heresia. O casual e pontualmente sortudo Bloco de Esquerda porque não deseja desaproveitar o descontentamento geral da esquerda que contabilizou excepcionalmente (nos dois sentidos do termo) e nos deseja mostrar estar à altura da situação, que não está, nem nunca esteve.

Finalmente o PS, que está a descobrir de uma forma ou de outra que terá que lutar para reconquistar o eleitorado que julgava seu, que ao longo de quarenta anos em vez de consolidar perdeu, um caso insólito que o devia obrigar a profunda auto critica e em que não deixarei de dar razão ao eleitorado. Afinal que nos tem dado o PS ? Porque havemos de votar PS ? Que nos garante o PS além de NINS, uns nem sim nem não como é seu apanágio ? O meu problema não está na coligação de esquerda que já vem com quarenta anos de atraso, que não apoio nem aprovo, e na qual não creio. As minhas dúvidas não se colocam em relação ao BE ou ao PCP, as minhas reticências prendem-se com o PS, é este o partido parasita e oportunista em relação aos outros dois. É este que precisa mais daqueles que aqueles dele, do PS, que joga o seu futuro e Costa a sua cabeça, ou o pescoço, nesta coligação original. Havendo razões para duvidar da credibilidade de algum destes partidos por mim o maior perigo virá precisamente do volúvel PS.

Acresce a estes contorcionismos o facto de quer o BE quer o PPC terem muito provavelmente grandes problemas de consciência por terem derrubado o PEC4 e o PS abrindo caminho à direita que, pasme-se, governou mal mas que apesar de tudo nestas eleições em que a sua queda era perspectivada até devido ao cansaço natural do exercício do poder, surpreendentemente cativou mais votos que qualquer outro partido isoladamente. Este partido, este PS tem que me demonstrar na prática que merece o meu voto. Há muito que assim procedo, concretamente desde que Guterres fugiu com o rabo entre as pernas em vez de se ter dedicado a endireitar a vara torta ou a drenar o pântano que afirmou ter visto. Um partido, qualquer partido, tem que demonstrar merecer o meu voto, não lho dou incondicionalmente nem ele é garantido. Não são favas contadas, não contem com ele como com o ovo no cu da galinha, não o venham buscar, antes o mereçam. Aos meus Juventude e Lusitano é que amo apaixonadamente e tudo perdoo. Não aos partidos, ou estaria a ser parvo e a jogar contra mim mesmo.

PPC merece esta coligação que contra ele legalmente se forja, PPC merece a derrota, teve oportunidade e tempo de governar para vencer e agradar apesar de tudo e não foi capaz. Foi a sua insensibilidade e inabilidade, a sua trapalhice, o seu jogo de cintura mal enjorcado quem o perdeu. Foi o ter sido mais papista que o Papa, por ter ido mais longe que a Troika, o ter falhado praticamente todos os objectivos a que se propusera, mas sobretudo o não ter nada mais para nos oferecer que o definhar no marasmo habitual, nem programa ter, nem esperança com que nos acalentar… Nitidamente governou mal, se o tivesse feito bem teria vencido, ou ganho inequivocamente. Toda a gente vira o buraco que o PS e o despesismo tinham cavado, toda a gente estava disposta a aceitar austeridade q.b., austeridade ou bom senso na condução do orçamento do país, tivessem entregado as finanças a uma dona de casa nos últimos quarenta ambos e decerto estaríamos melhor, o que se passou foi simplesmente vergonhoso. Teve na mão uma oportunidade única para ficar na história como o regenerador, vai ficar nela como o primeiro e único PM que não conseguiu fazer dois mandatos seguidos… então porque quase ganhou PPC ? É muito simples. As pessoas não são tão parvas como as julgam. As pessoas viram em PPC um malabarista de ocasião sem respaldo cultural nenhum nem estrutura moral para erguer um país, porém também não esqueceram quanto mal o seu principal opositor, o PS, tinha causado a Portugal.

Este PS não tem de igual modo autoridade moral para condenar PPC. Um não fez ou fez mal, o outro não tinha nem teria feito melhor. As largas centenas de milhar de emigrantes, que se não tivessem saído fariam disparar as taxas de desemprego para 30% ou 40% ou até mais não se devem exclusivamente a PPC. Metade desses emigrantes pode atirar com a culpa do seu azar ao PS, a Sócrates, que já ensaiava uma fuga para a frente, a promessa anedótica da criação dos 150.000 empregos foi já sintoma disso, e bastaria ver a evolução das taxas de desemprego desde 2000 para se concluir que subia sem apelo nem agravo sem que ninguém falasse nisso nem se preocupasse ou tomasse quaisquer medidas.

Ora foi dessa culpa, dessa e da do despesismo excessivo que o PS nunca se livrou. Meteu-nos no buraco e nem desculpa nos pediu, para além da corrupção que nunca combateu e cujo paleio alimentou com os casos do Fax de Macau e do aeroporto e das respectivas luvas, tudo má língua da populaça que nunca se provou nem foi esclarecida, ou a polémica em torno das acusações das autoridades Angolanas a Mário Soares e a seu filho João que contrabandeariam diamantes de sangue, coisa em que eu de todo também não acredito, ou dos negócios e comissões milionárias de Sócrates, uma mentira velada que vai ser tão provada como o foi a mentira dos submarinos. Já PPC por seu lado nunca fez a menor ideia de como sair desse buraco aberto pela crise e sem saber, ou por não saber, ainda o cavou mais fundo. Quer o PS que o PSD vão ter que mudar muito. E vão ter que lutar contra a corrupção, fenómeno transversal aos partidos do arco do poder.

É portanto pelas culpas sempre escamoteadas pelo PS que eu temo, um dia, se lhe convier, o PS vai sacudir dos ombros os parceiros ocasionais de coligação, o PS é um náufrago agarrado a tudo que puder para não se afogar, um dia poderá ser um ingrato e “bater na mulher”… Não acredito neste PS, acho que necessita urgentemente de uma salutar travessia do deserto para retornar aos seus princípios e puros valores iniciais, tenho dezenas de razões para não acreditar nele, vai ter que suar muito para voltar a recolher o meu voto, e eu até sou socialista, imaginem se o não fosse…

Mas voltando ao bife que já está frio. O acordo à esquerda apesar de tão contestado de forma demagógica ou imoral, para não dizer pior, é contudo legal, e é bem vindo, PPC já demonstrou à saciedade ser como aqueles tipos que nem foder sabem e a quem até os tomates atrapalham, não tem nada de novo nem de interessante para oferecer, a menos que sejamos masoquistas, todavia mesmo assim lhe estou grato, foi ele, ou é ele o homem que vai obrigar todos os políticos e partidos políticos portugueses a mudar, para melhor, até o dele.

Resta esperar pela reacção do PR, e que não seja ele o primeiro a transgredir demagógica, desrespeitosa e desavergonhadamente a Constituição, espero sinceramente que não.

Nota: Surpreendem-me pela negativa as reacções a este tema vindas de pessoas que julgava minimamente cultas e instruídas. Fala por elas a emoção em vez da razão, é triste e poderá conduzir a coisas tão feias como a continuação da política por outros meios…





terça-feira, 10 de novembro de 2015

287 - CARMENCITA BONITA .....................................


Facto um; Eu chegara atrasado ao café, entretanto já um magote de amigos tomara posições para assistirmos às corridas de motas na Tv e ver a prestação do português Miguel Oliveira, que venceu na sua categoria somando a essa vitória o segundo lugar no campeonato.

Facto dois; Em Valência e nesse mesmo dia, Rossi partiria do último lugar da grelha de partida por razões de todos conhecidas, e esses dois factos conjugados manteriam a malta animada, a cerveja a correr, as gargalhadas soltas e as expectativas ao rubro.

Facto três; Sentei-me no lugar que me tinham reservado e enquanto a coisa aquecia fui debicando o jornal, para ver as grandes já que às pequenas era impossível dar atenção no meio de todo aquele arraial. O Rui Coins o Sousa e um outro até equipados vieram, a rigor, boné e tudo, para colorir a festa, e nisto alguém se encarregou do comando para aumentar o volume e dar mais uma pitada de realismo à coisa.

Facto quatro; Estava eu absorto com tanta autenticidade e colorido quando a realidade se impõe e me arranca bruscamente os olhos do jornal e da Tv, deixando-me extasiado e admirando o estilizado de um sapato de salto em agulha cuja cor, forte e espraiada por todo ele me abanou de supetão, uma cor como aquela, viva, sensual, sensualíssima, lúbrica, não me era dado ver desde que a vira há muitos anos na Carmem, vestindo uma marca que eu nem conhecia, familiarizado que estava com a Wonderbra, a Triumph, a Honda, a Suzuki, a Kawa e a Yamaha, desde nem me lembra já quando, talvez miúdo...

Desta vez não era nada disso, apenas a cor começando no sapato de salto exagerado, altíssimo, onde se anichava um pé libidinoso, escultural, cujo peito o sapato deixava quase totalmente descoberto e terminando em unhas na mesma cor e tratadas, cuidadas a rigor, como se um artista se tivesse debruçado sobre elas. Olhei em redor, receoso de que alguém se encontrasse dando-me atenção e só depois me concentrei naquele par de sapatos e naqueles pés, pois já uma vez vira com atenção um par igual, ou cuja perfeição estaria muito próxima, voluptuosos, e sobre os quais me detivera, observando-os de modo minucioso e concupiscente, aplicando-me no branco puro do mármore e na pureza das formas a cuja pose o artista incutira uma extraordinária leveza, escultura talvez ainda possível visitar e ver, admirar, no museu desta minha querida cidade.

Mas hoje, neste dia de festa, apenas aquele pé lograva captar a minha atenção, aqueles pés de alabastro, lascivos, bamboleando ao ritmo da descontracção dominical num movimento pendular e sensual que uma fina presilha rodeando o tornozelo não obliterava, antes acentuava, tornando-se impossível ante o contraste com essa fina tira ignorar a pele branca e suave de um tornozelo esgueirando-se em linha harmoniosa desenhando a magra barriga da perna, impecavelmente depilada, quase luzidia, lustrosa, macia, acetinada mas firme, não musculada, bem delineada, harmoniosa apenas, ou sobretudo, e tão melodiosa que o joelho um enlevo, sem uma covinha, sem um risco, sem uma cicatriz, sem um alto, ainda levantei o braço da cadeira para dar uma pequena cotovelada e um sussurro ao Flor;

- Florival olha-me aquele par de pernas ! Divinal !

Mas no último momento contive-me, não se incomodam os deuses com brejeirices, no caso a deusa, e que pensaria ele de mim ? Ele e ela, e todos quantos se apercebessem…

Verdade verdadinha é que nem a luta na frente da corrida me distraía das agulhas, do pé divino e da divinal perna, canela, joelho sem mácula, registe-se o pormenor por não ser despiciendo, de somenos importância ou relevo, e aos poucos toda aquela imagem sentada à minha frente balançando o pé, balançando a perna, que gradualmente e na razão inversa da razão em que me perco se tornou imaculada a meus olhos e nem a gritaria me acordou pois já nem os ouvia;

- Miguel Oliveira na frente ! Força campeão ! Dá-lhe gás ! Mostra-lhes como és ! Como somos ! Aperta com ela ! Ela a máquina esclareça-se …

Só muito mais tarde viria a saber a novidade, o Miguel vencera o grande prémio, a KTM estava eufórica, para além disso o portuga subira ainda ao lugar de vice-campeão no campeonato da sua categoria, a manhã tinha sido entusiástica e eu nem dera por ela, mas por ela sim, divinal, imaculada naquela saia curta a condizer, tal qual a Carmencita que adorava conjuntos e a quem nunca vira duas peças que não casassem, enfim, gostos não se discutem e cada um tem os seus e as suas manias, as suas pancadas, e nem o alarido por o Rossi ter perdido me arrancou da abstracção ou o berreiro ao aplaudirem Jorge Lorenzo, pedrado que estava, fixado que estava nos meus pensamentos e naquela coxa sublime, certamente torneada por Deus, não me convencem que um simples mortal seja capaz de tal, de obra tão bela e quanto mais a perna balançava mais eu, entorpecido, me deixava carrear para um mundo onírico onde ninguém apostaria encontrar-me ou não estivesse acordado, tudo porque o pêndulo que me prendia como um relógio de cuco me submergia em inconfessáveis pensamentos, como se estivesse ligado a uma roda dentada em que, a cada movimento um avanço no mecanismo e eu, automaticamente vencido e arrasado por tamanha beleza me deixasse ir, vogando ao sabor das badaladas de um tempo que para mim deixara de existir, deixara de contar no momento em que o brilho diamantífero da fivela daquela presilha naquele sapato calçando tal pé me chamara a atenção, me prendera a atenção, me bloqueara o pensamento, me fixara o olhar no turbilhão de uma galáxia em que eu, orbitando o sol, esperava em cada elipse do balançar do astro no cosmos ver o que já antevia grudado que me encontrava nas inimagináveis imagens do Hubble e na beleza estonteante dos pilares da criação, cuja cor se confundia com o resto do conjunto, com a saia curta, a blusa justa e escorreita, nem ousei levantar os olhos, não se olha Deus de frente, nem Deus nem os santos nem Nossa Senhora a quem, como ante esta divindade só nos cumpre ajoelhar.

E repentinamente a lembrança da liberalidade do Papa Francisco, pergunto-me se estarei a seus olhos livre de pecado, ainda que navegando em pensamentos que nem me atrevo a confessar-vos à vista daquela coxa, mais antevista que vista, despertando em mim os melhores dos meus sentimentos, o amor, a ternura, a compaixão por mim mesmo, a piedade por este desvario momentâneo tão raro em mim, eu que me considero um pilar da sociedade, um exemplo cívico de probidade para a comunidade, e quando num repente aquela santa descruzando as pernas se levanta um relâmpago atinge-me em cheio, e por um milésimo de segundo o céu envolve-me e absolve-me numa volúpia inacreditável que nem ouso sacudir prolongando o gozo de tal aparição e deixando que o torpor me embale pois me foi dada a certeza de que o menor dos meus pensamentos e impressões estavam certos, porque sim, aquela cor dominava, é então que me envolvem anjos e querubins, ouço trombetas e cornetins, a alma no firmamento, pairando absorta no meio dos mortais que, aos tropeções e encontrões me arrancam deste sonho sonhado, sem delicadeza ou respeito como se embriagados com os resultados do derby.

- Foste mamado Baião, acorda pá ! O Rossi levou uma banhada ! Viva Lorenzo ! Viva o rei !

E lentamente, levado de arrastão por aquela turba prenhe de arrebatamento e paixão, abandonei os meus pensamentos, abandonei a Triumph, a Wonderbra, o vencedor era Lorenzo ao comando de uma Yamaha na categoria rainha e na 3 o compatriota Miguel Oliveira, vice-campeão do mundo na sua classe e para o ano guindado à categoria 2, isto promete, olho com inveja o entusiasmo desta gente e por um momento lamento não ter visto as corridas. Para o ano há mais e se o tempo ajudar pegarei na minha Suzuki e uma vez mais rumarei a sul, Puerto de Santa Maria, Jerez de La Frontera, divina Espana… Será divinal …


sábado, 7 de novembro de 2015

286 - OUTRO SALAZAR PRECISA-SE ......................


Concedo ser o título bombástico. Destina-se a chamar a atenção, e não é uma afirmação, considera-o antes uma interrogação, pois não passa de uma análise, ou, se quiseres, da busca de uma explicação para quem esteve tanto tempo entre nós. Considera este texto uma pesquisa sobre os factos que poderão explicar esse fenómeno e a sua longevidade, uma abordagem que permita compreender, para além da espuma, as dinâmicas sociais do poder, dos poderes que conduziram e conduzem amiúde os países, as empresas, as instituições e associações etc etc. Dinâmicas essas que poderão conduzir à assumpção de formas de poder como a que em Salazar observámos, o poder ditatorial.

Será este tipo de poder um estigma que marca o tipo de sociedades que se arrisquem a cair ou a enfermar de certas e determinadas características propiciadoras à instalação deste modo de governar ? Estaremos hoje inadvertida, inconsciente e levianamente conjugando de novo particularidades e peculiaridades que facilitem pressionem, despoletem ou apelem a este tipo de poder ?  

Será esse tipo de poder uma fatalidade, um determinismo ? Uma consequência ? Um desastre? Uma vantagem ? Um benefício ?

Não deixarei de vos confessar que, ao ter ouvido da boca de Manuela Ferreira Leite o desabafo que constituíria a interrupção da democracia por seis meses, a coisa me ficou zumbindo atrás da orelha. Antes de mais nada porque a senhora tinha carradas de razão, tinha e tem, ainda que o grosso da ignorância nacional lhe tenha caído em cima, à vez e por junto, numa demonstração alarve que vai sendo mais normal entre nós do que seria desejável. Ainda esperei que viessem de imediato em auxílio da madame, explicar à turba porque tinha a senhora razão, mas ninguém se levantou ou deu um passo em frente, nem ela se dignou adiantar mais quaisquer explicações por mínimas que fossem. E fez bem.

É notório, assistimos diáriamente à descoordenação vergonhosa entre os países da EU no que toca à tomada de posições em tempo útil, de soluções ou resoluções, quer quanto aos refugiados, quer quanto a outros itens, como a Ucrânia, a Grécia, os eurobonds, a inflação, o investimento, o desemprego ou a compra de dívida. São milhentas situações necessitando de respostas imediatas, mas a que a profusão de estadistas e organismos não permite dar resposta atempadamente. A democracia tem as suas desvantagens, compreendamo-lo e aceitemo-lo, desvantagens que já há dois mil e quinhentos anos Platão apontava nos escritos que nos deixou e onde a classificava como “o governo duma baixa multidão sem leis nem disciplina” (Platão, escritos Políticos, pág. 291 e seguintes, 301 e segts). Sabemo-lo não por acaso mas devido a ser citado por Heródoto, o pai da história, na sua História dos Persas (III, pág. 80’ e seguintes).

Ora no meu entender, que a par de Heródoto, Platão, Cícero, Plínio e tantos outros autores e obras que consultei, desde sociólogos a politólogos e juristas (não gosto de ver a minha argumentação apodada de ligeira ou leviana), a indisciplina a que Platão alude não se resume à das ruas, ou cívica, mas igualmente aos fundamentos éticos e à boa gestão económica da República, factores onde a nossa indisciplina orçamental campeia a par de uma moral decadente ou em decadência e uma ética diariamente atropelada parecendo não servir para mais que atrapalhar…

A nossa conduta em sociedade não parece actualmente orientar-se por qualquer modelo, desígnio ou objectivo, e, incluo os normativos de natureza jurídica que são ignorados todos os dias, de todos os modos. Ignorados quando convém, afastados pela força do dinheiro, torpedeados com falta de meios para serem fiscalizados e exercidos, de que resulta um corrupio de casos gritantes, se não obscenos, que as televisões e jornais diariamente reportam.

“Não nos governamos sozinhos nem nos deixamos governar”, e em 1926, quando Salazar foi convidado, sublinhei convidado, convidado e chamado a reorganizar as nossas finanças, a nossa democracia vivia num desregramento equiparado ao que actualmente atravessamos. Salazar foi o homem providencial que os militares encontraram para nos safar desse aperto, os democratas de então, tal como os de hoje, mostraram-se incapazes de sair do buraco onde se tinham metido, isto é, de dar ordem aos caos que eles mesmos tinham instalado.

Já Cícero por volta do ano 80’ AC nos alertava nos seus trabalhos "De Republica" (Da República I, pág. 51) e "De Legibus" (Das Leis), para o facto de a liberdade e a democracia não sobreviverem caso o governo da República fosse entregue a incapazes ou incompetentes, “nesse caso sobrevirá um fracasso tão rapidamente como num navio a cujo comando subisse homem sorteado entre os passageiros”, caracterizando a democracia como “um capricho desordenado, sem freio, da população, o qual, por sua vez, abre de novo o caminho à tirania de um só”. (I, pág. 44, 68, 69). Tenhamos em conta que um dos seus livros, “De Natura Deorum”, sobre teologia, foi muito elogiado e considerado por Voltaire, provavelmente o melhor livro de toda a Antiguidade Clássica. 

Os nossos problemas não são portanto novos, nem são novidade, serão sim novidade para a elite ignara que nos conduz. São problemas velhos como o mundo, que já foram abordados desde S. Tomás de Aquino, (Summa Theológica) a Maquiavel, no seu “Príncipe”, etc, etc, etc. A este propósito adiante-se a quem o não saiba que já em Roma o Senado podia entregar, e no período anterior a Sila (ver Direito Constitucional Romano, II1, 1951, pág. 141 e seg., 703 e sgts), entregou várias vezes o poder ditatorial a um cônsul. A ditadura romana era prevista e regulamentada pelas próprias leis da República, que em certos casos a instituía com um fim preciso. Tal assumpção ditatorial tinha por objectivo tornar possível uma actuação política rápida, eficaz e enérgica a fim de vencer uma determinada crise ou ameaça interna ou externa. Um só individuo pode agir, actuar mais rápida e eficazmente que qualquer órgão colegial, o qual exigirá conversações, concertações, tempo, compromissos, órgãos que na generalidade pecam por falta de coordenação. Atentemos que os romanos tinham aprendido tal ensinamento com a experiência, e que o direito romano nunca teve quem o superasse …

Fundamentalmente o Senado romano atribuía o poder ditatorial condicionado a um período temporal e ao cumprimento específico de uma tarefa a equacionar, sendo que posteriormente o Senado retornava às funções normais da democracia da república. Neste aspecto os romanos divergiram imenso por exemplo, de outros casos conhecidos, na Alemanha o Presidente do Império na Republica de Weimar, 1919 - 1933 (assim mesmo, Presidente do Império na Republica de Weimar), ao abrigo do Artº. 48, §2 da Constituição do Império de Weimar, pura e simplesmente dispunha de poderes ditatoriais constitucional e incondicionalmente. Logo de seguida foram outorgados pelo parlamento e legalmente, a Hitler, em 24-3-1933, poderes excepcionais, e anunciados como tal para acorrer às necessidades do povo e do império, decorrentes da "traição" da IGG, digo dos condicionalismos exagerados do Tratado de Versailhes. .

O estabelecimento de tiranias era, segundo Platão (Estado, pág. 562 e seguintes) “uma necessidade justificada por uma democracia desregrada”, pois segundo ele o “excesso de liberdade redundaria em excesso de servidão” logo a tirania seria uma necessidade imposta pelos excessos libertários da democracia. . 

Não me furtaria a dar-vos uma aula sobre este tema cuja matéria adoro, confesso que me agradaria e libertaria dos condicionalismos que uso ao escrever, pois ainda que vos poupe a longas ou profusas citações e notas de rodapé, não poderei deixar de indicar no fim do texto as fontes que cito e nas quais baseei este trabalho, tal consideração vos devo, e é de lei. Espero contudo não vos aborrecer ou cansar, e avisar que todo o texto foi alvo de aturado estudo e consulta, de muitas, variadas e diversas obras, de que poderei a qualquer momento dar-vos testemunho. 

A verdade, p’ra voltar à vaca fria, é que, com diferentes nuances ou modalidades, ou pela força das armas, o caso mais espectacular será o da Revolução Russa de 1917, (cuja efeméride agora se comemora) em que foi instaurada uma ditadura do proletariado, que colheu a simpatia de todo o mundo do trabalho e solidificou as teses comunistas, e indirectamente as socialistas e social democratas. As ditaduras sempre constituíram um último recurso dos poderes do estado ou a ele se substituíram quando este era inexistente, fraco, inconveniente ou incapaz. Para grandes males sempre existiram grandes remédios diz o povo na sua sabedoria. Alguns sociólogos cujas obras consultei justificam as ditaduras inclusive como as únicas saídas por vezes existentes, ou única solução deixada para a resolução de problemas candentes e aparentemente sem que haja quem queira dar-lhes solução, (sociólogos que não aplaudem nem tomam posição, explicam e justificam). O mesmo digo eu, que não me considero fascista, nem saudosista, nem salazarista, estou a tentar compreender como se instalou Salazar entre nós durante os quarenta anos em que anuímos tê-lo connosco, ou por nós, ao mesmos tempo que tento antecipar como iremos acabar, analisando e dissecando a história, não faço, nunca fiz e jamais farei futurologia…

Durante quarenta longos anos Salazar contou, senão com o apoio, pelo menos com a indiferença tácita de todo um povo, com a oposição a resumir-se exclusivamente quase aos comunistas, de igual forma eram eles preferencialmente os alvos da violenta resposta da ditadura contra a subversão e os insurrectos. Contudo era uma revolta pontual, de acções propagandísticas e de mobilização, nunca tendo tomado dimensão de verdadeira e sistemática contestação ou luta armada, como aqui ao lado a ETA desenvolveu contra o regime de Franco que registou muitos mortos de ambos os lados. Ao longo de 40 anos conhecem–se 32 mortos no Tarrafal, alvo da violência do regime e das condições do campo, para além deste número outras mortes pontuais há a registar de Catarina Eufémia ao General Humberto Delgado,  aproximando-se da meia centena. Qualquer morte é lamentável, e uma que seja já é demais, a oposição ao regime era fraca e a ditadura branda, temos que ponderar bem este facto mau grado todos os atropelos e sevícias cuja prática conhecemos, pois o número de vítimas consideradas está longe de se comparar aos morticínios gerados por Videla, Franco, Pinochet, Estaline, Mao, Hitler, Pol Pot ou outros carniceiros cujas mortes se contam aos milhares, às centenas de milhar e aos milhões.

No aspecto quantitativo o nosso ditador foi um menino de coro e neste aspecto dos mortos arrolados nem me alongo mais, nem avanço para as guerras ultramarinas pois até nessas as comparações favorecerão o regime salazarista se colocado lado a lado com a França e o seu comportamento na Indochina ou na Argélia, ou o dos americanos no Vietname, etc etc etc. Nem eu estou aqui para desculpar Salazar ou lavar, digo branquear o salazarismo. E para aqueles que alegarem ter-me pronunciado levemente sobre este tema das nossas guerras coloniais, adianto não ser propósito deste texto analisá-las sob quaisquer prismas. Talvez um dia o faça, no entretanto quem tiver pressa, se faz favor, chegue-se à frente agarre na caneta e força.

Salazar surgiu, como já devem ter deduzido, numa altura em que os partidos parlamentares, tal como agora, eram incapazes de se entender e muito menos de resolver uma crise por eles aprofundada e oriunda da Monarquia Constitucional, portanto igualmente parlamentar. Salazar apanhou em andamento o comboio da miséria, da desgraça, da fome, da desorganização, da pobreza e do caos, o que o obrigou a começar do zero.

Já o tenho dito noutros escritos meus sobre o nosso ditador em que sou bastante crítico, existe uma necessidade imperiosa de, academicamente se estudar de modo isento, profunda e apaixonadamente Salazar, que parece ter sido erigido em bode expiatório das nossas incapacidades e, se bem que não esteja isento de erros, o que de positivo engendrou deve e tem igualmente de ser tomado em linha de conta ou em consideração, atendendo a que pegou num país sem nada. Salazar não nos submeteu ou conquistou, respondeu a um convite excepcional que lhe fora endereçado… Portugal de então não dispunha sequer de organização administrativa, nem de transportes, nem de indústria, e vivia agarrado a uma agricultura de subsistência.

A animosidade dos nossos políticos contra Salazar parece portanto advir da inveja, António de Oliveira Salazar passou quarenta anos a erguer o que se encontrava de rastos deixando os cofres cheios, ao passo que os democratas actuais durante igual período falharam, mentiram, e afundaram o país, o que aos olhos da população os descredibiliza, e os resultados da abstenção estão aí á vista, para que nos interroguemos. Em caso de dúvida consultai o INE pois não é minha intenção fazer aqui a apologia de Salazar, que também cometeu erros, muitos erros, mas que nunca vendeu empresas nacionais a estrangeiros, nunca permitiu que a finança ou a banca ditassem ordens ou prejudicassem o país.

Salazar foi em determinados aspectos pioneiro, criou uma rede social de Casas do Povo, as primeiras Caixas de Previdência Social, incluindo as do funcionalismo público, ergueu 12.000 escolas primárias das quais o ministro Crato recentemente encerrou metade, e a par de imensos erros passou quarenta anos a erguer obra, caminhos-de-ferro, estradas, pontes, silos, portos, aeroportos, estaleiros, num país que de nada dispunha, errou mas fez, fez sem que Portugal tivesse vivido acima das suas possibilidades, sem que o país se endividasse, nem ele, nem os privados. Resumindo, foram quarenta anos a crescer, em oposição aos quarenta últimos anos em que nos entretivemos a descer, de novo e em caso de dúvida consultem-se as estatisticas do INE. Salazar errou mas fez, e poder-se-ia explicar (não justificar ou perdoar e muito menos louvar) cada passo dele, mas não é essa a intenção deste texto, nem a minha.

Somente pretendo alertar para o facto de os ditadores aparecerem sempre como homens providenciais, foi assim com Salazar e com outros que já aqui citei. Somente pretendo perguntar-vos se não achais estarem sendo criadas de novo as condições para o aparecimento de outro homem providencial. Encontramo-nos num labirinto muito perigoso. Deixo-vos a interrogação e a explicação de como e quando ou desde quando as ditaduras são vistas como ferramenta politica não mais prejudicial que muitos e legais partidos com um ainda mais legal assento parlamentar, ou como diz a piada que corre, “para lamentar”.

O nosso país apresenta actualmente todas as características que conduzem ao caminho em que uma ditadura que se queira instalar contará, uma oposição popular inexistente e que poderá mesmo vir a aplaudir essa ditadura como o aparecimento de Salazar o foi. Somos um país disfuncional. Talvez mesmo a democracia seja entre nós inviável, somos um país desestruturado social e economicamente, somos um campo fértil para o surgimento de um ditador sabido e esclarecido poder campear. Será tarefa fácil num país como este, incapaz de gerar riqueza para todos, incapaz de produzir, de competir, de se organizar. Não faço ideia de quem seria a personalidade que avançaria disposta a pegar no facho mas teria que ser sábia e sabida como Salazar era, terá que estar livre e disponível para a nação, liberta de constrangimentos, liberta de culpas e sem ligação às finanças e ao mundo empresarial, enfim, capaz de cortar a torto e a direito para endireitar isto e dar-nos de novo, no mínimo, outros quarenta anos de paz e já agora de abundância. É hoje necessário, senão imprescindível e como nunca, marcar e atingir objectivos e metas, forçar concertações e coesões, aglutinar vontades, gizar e fomentar consensos, obter compromissos, à força se necessário. E tudo em menos tempo que a piscadela de um farol !

A democracia não pode passar o tempo a desculpar-se do que devia fazer e não fez, ou não faz, ao contrário dela as ditaduras impõem-se, afirmam-se e não perdem tempo com salamaleques desnecessários. Em política não há espaço para o vazio, alguém, de algum modo o há-de ocupar, a história assim no-lo diz, assim o ensina, quando a ignorância toma conta da cidadela então tudo se torna mais fácil de manipular e se continuarmos brincando, até ver onde tudo isto nos levará, poderemos acabar muito mal. Não esqueçamos que Salazar foi aplaudido pelas populações, e ainda hoje goza de admiradores tais que há poucos anos ganhou um concurso televisivo de popularidade. Quer à esquerda quer à direita olhamos e é uma lástima. Dá pena, mas a verdade é que este país está de tal modo embrulhado em contradições que somente uma pessoa excepcional, isenta e com tomates lhe poderá agarrar as rédeas. Fechamos maternidades, escolas, linhas e ramais de caminho-de-ferro e postos de saúde. Temos arrendamentos habitacionais de valor superior ao que aufere um membro da maior parte das famílias, sobram auto-estradas caríssimas e desertas envelhecendo sem trânsito por não haver dinheiro para portagens ou sequer gasolina para se circular nelas, mantemos abertas universidades funcionando aos sábados e domingos e fornecendo diplomas em saldos… damo-nos ao luxo de manter milhares sem emprego num país que compra quase tudo lá fora e que quase nada produz podendo, potencialmente dar emprego até a marcianos.

Há muito que tenho para mim que o problema nem estará tanto nos regimes mas nas pessoas, a URSS nunca teria vencido a guerra sem a personalidade forte de Estaline e a sua capacidade, que deslocou as indústrias para o interior e oriente poupando-as aos bombardeamentos, e que tornou a URSS uma potencia industrial em poucos anos. Mas adianto também ter sido enormemente ajudado pelos fascistas capitalistas americanos que para ali canalizaram camiões, milhares deles, canhões, botas e todo o tipo de ajuda incluindo alimentar. Já a China soube aproveitar o melhor de cada regime e casou o comunismo com o capitalismo. O problema são as pessoas, a solução estará nas pessoas, umas complicam enquanto outras descomplicam, quanto a nós portugueses o pior inimigo que enfrentamos somos nós mesmos, somos uns cães uns para os outros, creiam-me, e fico-me por aqui.

Convivemos com uma direita que numa semana não quer o que aceita na seguinte e que depois de um mandato trapalhão em que nos promete mais austeridade mais divida e mais dificuldades, sem um programa, sem um desígnio, sem metas nem objectivos, se admira por ter ficado aquém da maioria absoluta, a par duma esquerda sem clientela por ter andado quarenta anos enganando-se a si mesma e aos outros com nins atrás de nins e que nos meteu num buraco, por negar a austeridade quando era precisa e que agora aposta nela de novo e em cheio, traumatizando meio mundo, mas que espera ganhar calando-se bem caladinha para que ninguém repare e votem nela como no tempo das favas contadas. De um lado e de outro só conseguimos vislumbrar falta de bom senso e a negação de um despesismo corrupto, corrupção aliás transversal aos dois maiores partidos e que nos atira para o buraco mantendo-nos um pé em cima. De um lado um partido em que os portugueses não confiam e do outro lado um em quem confiam ainda menos, é este o panorama…

Onde havíamos de ter nascido meu Deus, foi azar, num país de irresponsáveis onde a desresponsabilização fez doutrina gerando iniquidades e desigualdades que uma justiça podre jamais colmatará, uma catrefa de deputados regra geral infantilóides e mentecaptos submetidos a uma disciplina partidária castradora e obscena, e para rematar um PR que nunca ouviu falar de Adam Smith e confunde Thomas More com Thomas Mann … O diplomata e historiador Filipe Ribeiro de Meneses lançou há tempos uma óptima biografia de Salazar, talvez há um ano ou dois, porém editada em inglês e exclusivamente distribuída nos países de língua anglo saxónica, ele lá saberá por que não editou a obra cá, cujos direitos o semanário Expresso adquiriu e editou há uns meses em fascículos. Distribuídos gratuitamente com o semanário chegou a muita gente, contudo duvido que todos os tenham lido, quero crer que a ignorância se mantém mesmo que os testemunhos estejam à mão de semear. É uma obra que finalmente foi editada em português e pode ser adquirida, certamente por encomenda, em qualquer livraria, recomendo-a vivamente.

Sendo que o país não andará longe do modo como o pintei, não se admirem se um dia vier o tal “homem” e seja recebido de braços abertos quer seja do Benfica, do Sporting, Portista ou do Boavista, começando por meter uma centena de juízes no Aljube e em Caxias para exemplo dos outros e os motivar a trabalhar com mais afinco que uma mulher-a-dias… E tudo isto em menos de um farol… 


P.S. Este texto foi escrito sábado, constatei que nem o exercício da NATO e a sua suposta ameaça alterou os resultados de domingo, se dantes tínhamos um governo minoritário sem apoio parlamentar, agora teremos um governo minoritário com apoio parlamentar, a coisa terá ficado mais estável, porém não abandono os meus receios...


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

285 - MESSAGE TO GENOVEVA MARUJO, STOP


Lembro-me tal qual aquele dia estivesse sendo vivido hoje, ela mirando-me de cara espantada e sustendo a custo a risota, eu um pouco surpreendido ouvindo uma pormenorizada explicação. Para ser franco nem estava à espera, mas ouvi-a com agrado e a coisa ficou, e de tal modo ficou gravada na minha memória que hoje, passadas quatro décadas, mais coisa menos coisa, a recordo como naquele dia e me socorro dela, dela da explicação, lembrando-lhe a voz grave e sonora, vibrante de empatia.  

- Qual quê meu menino, (avançou ele para mim) nem tu nem ninguém seria capaz de tal, há modos de se fazerem as coisas, já viste alguém subir a um telhado sem a ajuda duma escada ?

Tudo porque me ouvira murmurar ao ouvido da Genoveva Marujo, que se sentava a meu lado, qualquer coisa do género de:

- Grande cabecinha, como é que este caramelo foi capaz de tamanho poema ? Terá sido escrito de rompante ? De seguida ? Foi inspiração ? Foram carradas de inspiração decerto.

E o caramelo era nem mais nem menos Fernando Pessoa, em cuja quarta ou quinta aula já íamos e que fazia a Genoveva Marujo parecer um peixe, tantos os bocejos que a coisa lhe dava. No seu mister nem tempo tinha para bocejar, nas horas livres tirava cafés atrás dum balcão ali à “Estrela da Mouraria”, um pequeno mas convidativo café que em tempos existiu, e entre uma bica e outra nem vagar teria para se coçar.

- Pois meu menino (continuou ele explicando) o autor não fez nenhuma escada mas terá elaborado um esquema a partir do qual e aos poucos foi construindo o seu poema, não esqueçamos que demorou vinte anos a escrevê-lo, vinte aninhos.

Ninguém tem capacidade ilimitadas, continuara ele, até a NASA concebeu o TITAN com vários andares pois de outro modo nunca conseguiria chegar onde chegou, com o TITAM ou com o SATURNO V, o segredo está em dosear as coisas, disse muito convicto.

E, pegando no giz, traçou no quadro vários traços, uns verticais, outros horizontais e em meia dúzia de palavras expõe ante a turma toda a estrutura ou o esquema do poema a “Mensagem” e fê-lo com uma desenvoltura e uma simplicidade tais que só não me surpreendeu por já o ir conhecendo e aos seus modos de fazer de nós a obra que certamente Deus teria ambicionado e de que ele seria na terra um mero obreiro.

De seguida perdeu-se, ou melhor, esqueceu-se do tempo na descrição de pormenores sobre o dito poema, o facto de o regime não o ter acolhido com bons olhos e devido a isso Fernando Pessoa não ter ganho mais que o segundo prémio na categoria do SPN, (mais tarde SNI) que contudo o premiou com  um valor em numerário idêntico ao primeiro lugar. “Na primeira categoria de poesia” ficaria o poema “A Romaria”, do padre Vasco Reis, um jovem missionário de Moçambique. O padre Reis na altura com vinte e quatro anos, passaria o resto da vida com um peso na consciência por ter ganho ao grande Fernando Pessoa.

O padre Geraldes alongaria ainda a sua explanação fazendo-a recair sobre a idoneidade e até capacidade dos próprios juízes para avaliarem e classificarem um poema muito acima de tudo e todos, talvez mesmo das suas próprias capacidades. A corruptela ou enviesamento dos critérios de avaliação foram sobejamente torcidos para que o primeiro lugar não fosse atribuído a um critico do regime, mas sim a um outro que de honesto pasmou com a marosca.

- Enfim meus filhos, preparem-se pois a vidinha é isso é mesmo assim, em maior ou menor grau todos vocês correm o risco de vir a ser mandados por gente incapaz, que não estará à altura, por vezes estará abaixo de vós mesmos, mas é a vida, manda quem pode e a quem não pode só lhe restará obedecer…

E também nos explicou ir rareando gente assim honesta, coerente, competente, consequente, alertando-nos para o facto de, infelizmente Deus andar distraído há muito tempo. Enquanto isto a Genoveva colando a perninha e cochichando para mim:

- Ainda aparece a PIDE e o leva preso…

E enfiando-me o cotovelo pelas costelas encostava à minha a sua coxa roliça que mais parecia uma botijinha cheiinha d’águinha quentinha, e agora desculpem-me mas até me perdi, de repente esqueci aquele bom padre, amigo, simpático, ele e as suas lições, isto passa-me, é um bloqueio passageiro, nunca mais vi a Genoveva e as tranças que adorava destrançar e desfazer, chamava-lhe Eva quando todo aquele cabelo lhe cobria os seios alvos, de grandes auréolas. Uma vez quando estava na marinha a fragata em que me encontrava embarcado beijou o Circulo Polar Árctico, o Tenente Ginete alvoroçado:

- Olhem-me aquela auréola boreal ! 

E nem sei por que carga de água ainda hoje quando se fala em auroras boreais me lembro logo das auréolas da Genoveva Marujo, como lembrei naqueles dias e dias seguidos no enorme e vasto mar salgado, quando toda a gente se fechava em si mesma depois de quase quatro meses seguidinhos de mar. Eu confesso, por vezes fechava-me sonhando com a Genoveva, com Deus, com o padre Geraldes, com Fernando Pessoa, com Eva de cabelos soltos e eu, eu e ela pecando, nós dois de maçã na mão ora dando eu ora dando ela uma dentadinha e assim passei aquele exercício da NATO em alto mar e em mares hostis, na peugada e caça de um inimigo inventado pelos almirantes e que no-lo vendiam em sermões e palestras p’ra justificarem as suas alegres vidinhas, sendo nesses momentos em especial que recordava o Padre Geraldes e quanta razão ele tinha quando:

- Preparem-se meus filhos pois a vidinha é mesmo assim, em maior ou menor grau todos vocês correm o risco de vir a ser mandados quantas vezes por gente incapaz, mas é a vida, manda quem pode e quem não pode obedece… E também eu recordei mais uma vez quanto e infelizmente Deus há muito tempo andaria distraído.

Era nessas horas mortas, em que o inimigo nem se dignava aparecer que eu, sobremaneira me isolava em oração e deixava divagar o espírito pelo paraíso, ou fechado na camarata ou embrulhado em tudo que pudesse e, sentado no chão da varanda da ponte olhando o mar e as vagas, encolhendo-me cada vez que a proa do navio cortava uma onda maior distribuindo salpicos pelo convés, pelas armas e até por mim que nem na ponte estava a salvo das águas geladas, nem da Genoveva quentinha cujas maminhas, perdão, cujas auréolas tinham marcado a minha memória a ferro e fogo de tal modo que nas noites geladas em que o navio ludibriando os inimigos cortava silencioso o mar de Barents rasgando a aurora boreal com as antenas e os mastros, imperando o silencio absoluto e total da rádio, do radar, do sonar e até do cagar, ai de quem se atrevesse a bater o pé com mais força não fosse algum submarino inimigo ouvir-nos e no meio de todo aquele silêncio só Deus e o cortar do fio das aguas geladas pela proa do navio se ouvia, isso e o meu coração batendo descompassado traço ponto traço stop ponto ponto stop traço traço stop traço traço ponto ponto stop, num morse sem fim que as minhas mãos em oração debitavam, esperançadas que a mensagem chegasse a Genoveva Marujo que nunca mais vi, mas cujo sonho me levou a ganhar aquela batalha e vencer os inimigos da pátria mãe, mãe há só uma e foi precisamente essa que após seis duros meses no mar me esperava na Base Naval do Alfeite, essa e aquela que hoje está a meu lado e nunca me abandonou, a minha Luisinha, cujas ordens suplantaram há muito as dos almirantes que se lembravam de brincar às guerras com barquinhos e inventavam inimigos que inda hoje combatemos apesar de velhinhos aposto, e aposto que sentados numa esplanada solarenga em redor de uma mesa onde Genoveva, solicita e de peito generoso, lhes servirá refrescos de alcaparra, salsaparrilha, capilé e groselha acompanhados de uma palhinha e se entretem a enfunar-lhes as velas e a levantar-lhes os mastros dos barquinhos senis carregados de Parkinson e Alzheimer a fim de atirarem bazucadas e estalinhos de carnaval para cima do inimigo.  

Nunca mais vi a Genoveva, nem o padre Geraldes, lembro vagamente termos posteriormente passado ao estudo de Raul Brandão e a dormir as sestas na garagem dela, depois, só muito depois foi a vez de Almeida Garrett, Eça, Aquilino; Cesário Verde, Branquinho da Fonseca, Namora, Soeiro, Régio, a literatura é um mundo não é ?

Obrigado por tudo quanto me ensinou padre Geraldes.



Fernando Pessoa - Pintura Luiza Caetano - Portugal



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

284 - DEMOGRAFIA SEM FIOS... 3 LINHAS…...

                 
                 A manhã sorriu-me, sexta-feira, final de semana, um belo dia de sol e, mal olho as noticias, uma delas incontestavelmente hilariante...

“Governo estuda medidas de apoio à demografia”, não me contive sem soltar duas valentes gargalhadas, nem parei de cantarolar durante a barba e o banho. Para ser franco ainda estou a rir-me. Isto das medidas demográficas não é como as fitas de apanhar moscas que vemos nos cafés, não é atar e pendurar como o chouriço da preta, não se penduram sem mais articulações com outras medidas cuja acção tem que ser despoletada com anos, senão décadas de antecedência. Governar é saber cantar e assobiar ao mesmo tempo e esta gente há quarenta anos que não me alegra. Só como anedotário.

Agora fazemos filhos, e daqui a vinte anos estarão a engrossar as estatísticas do desemprego que ainda deve andar pelas ruas da amargura, ou enxotam-se os ditos para a emigração, ou, pior ainda, pelo caminho que a Europa leva estaremos a empurrá-los para carne de canhão. Sublime, nem o Lomba teria tido ideia melhor. Santa ingenuidade.

Já que vem a propósito conto-vos a história, verídica, do meu vizinho e amigo Guedes, homem probo, exemplar, desempregado há meia dúzia de anos, e que festejou há poucos meses o seu cinquentenário. Desde aí que ninguém o vê, não sai à rua, nem do sofá, nem toma banho, não lava a boca nem se barbeia ou penteia, um verdadeiro troglodita diz a D. Ermelinda, que apesar dos seus quarentas e muitos é linda, está cada vez mais linda, e mais inacessível. Nem pára em casa, isto é um corrupio de carros a ir e vir deixá-la ou buscá-la, ninguém diria que a mestiça geraria tanta empatia, é a mestiça mais branquinha que já vi, mais branquinha que muitas branquinhas mas estou a divagar, estou a perder-me, onde é que eu ia, na D. Ermelinda que de mãos na cabeça vitupera o troglodita que tem lá em casa, não há quem aguente, isto é impossível, até me envergonho de levar alguém a casa, e não havia necessidade, o pior já passou, graças a Deus não devemos um tostão a ninguém e a Belinha já vai orientando a vidinha.

A linda Belinha sai ao pai, nota-se bem que é mestiça embora tal se confunda com um bronzeado imaculado, no resto sai à mãe, aliás sai muito com a mãe, quero dizer saía, já vai saindo sozinha e se em algo difere da mãe é nas preferências quanto a automóveis, D. Ermelinda pendendo mais para carros grandes, Mercedes e BMW, e a Belinha mais modesta, mais pragmática, mais virada para a classe B, Golfs, Nissans, Méganes, Toyotas, Astras e assim. A malta nova tem uma visão variada e mais dilatada dos horizontes desta vida, muito desigual até do irmão, que vive do RSI e não se sabe mais de quê, mas lhe chega para as roupas e ténis de marca que eu nem a invejar me atrevo, é gémeo da Belinha mas ninguém diria, ela uma mulheraça assumida ele um gaiatão ainda, vivendo todos do RSI, nem sei de onde vem tanta fartura naquela casa onde só o vizinho Guedes trabalhava e durante anos e anos vi aguentar com uma pernas às costas aquela casa feliz que contudo, e para falar verdade nunca vi tao feliz como agora, à excepção do Guedes, precisamente ele que era o apoio da família, o cabeça de casal, o pilar, o alicerce e a força daquela casa que parece ter aprendido a viver sem ele, viveria melhor sem ele que agora só “estrova” como a D. Ermelinda de vez e quando lhe atira à laia de motivação fazendo com que todas as cabeças assomem à janela na nossa rua.

Há meia dúzia de anos existia já, frente à casa onde vivo, um pátio com uma série de barracões que seriam para demolir, assim me disseram na altura em que visitei a casa, que estava à venda havia algum tempo apesar de barata, mas na qual ninguém pegava. Mostraram-me inclusive uma muito pormenorizada, muito colorida e muito bonita planta de um parque ajardinado previsto para a área dos ilegais e infectos barracões, uma coisa linda, e, ao ouvido, confidenciaram-me não estar ali a piscina por motivo de taxas e taxinhas camarárias mas que, mal o projecto aprovado ela seria concluída, para gáudio e regalo de todos os moradores desta minha linda urbanização. Comprei a casa sem pensar duas vezes nem olhar para trás, e tivesse eu amigos na banca, como o Joe Berardo ou o Vara ou tantos outros, e não teria adquirido unicamente a minha casa mas toda a fiada delas, todas perspectivadas para a zona mais linda do bairro e igualmente à venda.

Aldrabice, tudo aldrabice e todos uns aldrabões. Quando a comissão de moradores suportando mal os verões, se chegou ao município reclamando da demora no licenciamento do projecto que poria fim aos barracões, ficou sabendo nunca ter entrado ali projecto nenhum, nada, nada mais que conversa fiada e um desenho muito bonito e muito colorido no papel e, claro, uma confidência soprada amigavelmente ao ouvido e acompanhada de uma palmadinha nas costas. Uma pechincha aquela casa, eu que aproveitasse, e aproveitei, eu e mais uma dúzia de parvos.

Mas os tais infectos barracões, ilegais, erguidos em zona agrícola onde a construção estava terminantemente proibida, albergavam uma série considerável de negócios, oficinas e escritórios, dando emprego a um magote de gente. Tanta que na rua inteira e arredores depois das nove da manhã não havia onde estacionar. Era numa dessas oficinas que o preto trabalhava de mecânico, era até muito considerado o meu vizinho Guedes, um dos primeiros moradores da minha rua, muito anterior a mim e feliz proprietário de um T1, lá mais abaixo, onde a avenida faz uma curva. Lembro-me ainda de ver a família feliz, aos fins-de-semana, toda enfiada num Mercedes preto já com uns bons aninhos mas cujo motor e mecânica o Guedes mantinha funcionando como um relógio suíço, a D. Ermelinda na frente, sempre ajeitando as alças do sutiã, tinha um peito admirável, ainda tem mas não é para os dentes de qualquer um, e agora muito menos que refinou o gosto e a auto-estima, esta coisa do desemprego ser uma oportunidade que se abre não é para toda a gente, nem toda a gente entenderá a coisa. O que lhes valia era o carro ser grande, os gémeos atrás e os outros três miúdos, pouco mais que bebés espalhados por ali com as bolas, as bóias, o cão e o gato e nem me alembra mais o quê.

A oficina do Guedes, do Guedes é como quem diz, onde o Guedes trabalhava, foi das primeiras a falir e o preto dos primeiros a ir para a rua. Paulatinamente quase todos os barracões foram fechando e hoje só não sobram os lugares de estacionamento na rua porque alguns vizinhos mantêm os carros parados meses inteiros, por vezes empurrados para ali com os depósitos vazios.

Desse dia em diante a auto-estima do Guedes foi-se apagando até se transformar no trapo que hoje para ali está. Graças a Deus a auto-estima de D. Ermelinda foi aumentando na proporção directa em que o Guedes a perdia e a casa aguentou-se, diria até estarem melhores agora que dantes, por vezes até eu duvido se este ajustamento não terá sido o sucesso que dizem, passo devagar frente à casa e pelas janelas abertas e convidativas vejo o Guedes esparramado num belo sofá de couro, invariavelmente agarrado a uma garrafa de uísque das que nem me atrevo a comprar, nem em promoção, na parede um plasma gigante, cortinados de renda, e não fosse o Guedes por vezes vir desabafar à sacada juraria tudo ir bem no reino da Dinamarca mas ele:

- Apoio demográfico o caralho que os foda ! Cabrões de merda, aldrabões, demografia a puta que os pariu ! Quantas vezes já me foderam o abono de família ? Sempre a reduzir a reduzir ! Nada devo a ninguém ! Cumpram que eu já cumpri e nem devo um tusta que seja a cabrão nenhum !

Acontece que frente ao Guedes vagara um T5, propriedade de um engenheiro incapaz de o pagar, que acabou por se pirar para o Canadá com a famelga e de cujo prédio o banco tomara conta. Ora a D. Emília já tentara com o banco proceder a um ajuste, entregar o T1 pelo T5 e pagar o remanescente, mas o banco não aceitara as condições e cometera a asneira (não confirmada) de estar por obrigação com a Misericórdia guardando o T5 para uma família numerosa de refugiados… A tampa saltou ao Guedes:

Refugiados o caralho ! A caridade deve começar em casa ! Toda a vida paguei os meus impostos e agora para aqueles cabrões tudo e para os tugas nada ! Puta que os pariu ! Também tenho uma família numerosa ! Se fosse no tempo de Hitler já teria ganho uma medalha ! Deus me dê paciência para aturar estes cabrões de merda, paneleiragem ! Vão todos para a cona da mãe !

Realmente ninguém se admira que D. Ermelinda tenha reservas quanto a levar alguém a casa… Com um marido assim coitada… Não entra gente mas sai ela, e sai muito em visitas e cada vez sai mais.

A Belinha segue os conselhos e as passadas da mãe e lá se vai orientando, está bonita, está alta, está altiva, está uma senhora. É ver a deferência com que todos os cavalheiros a tratam quando a vão deixar ou buscar ali, ao princípio da rua, a cinquenta metros de casa.

O mais velho não dá preocupações a ninguém a não ser aos técnicos do RSI que semana sim semana não lhe entram em casa, por ele e por toda a família, todos vivem do RSI e sei que votaram nos mesmos porque várias vezes os ouvi: 

- É preciso não perder o que já conseguimos… diziam.

É boa gente, gente que cumpre o seu dever cívico, gente que conta, gente que vota, as pessoas não são números, as pessoas contam, e os Guedes têm-se orientado bem nos difíceis caminhos que a nossa democracia nos oferece.

Cá por mim acho que deviam legalizar a prostituição. Gosto do meu vizinho e amigo Guedes e sei que seria um estigma que lhe tirariam de cima. Afinal fazem-se tantas leis parvas que a gente nem percebe a urgência, leis para a paneleiragem, p’ra adopção ou coisas do género e de género, da regionalização, da poupança e das gorduras do estado, tudo leis de merda a que ninguém liga, enfim é a nossa sina…

….. Apoio à demografia…. hihihihihihihihihi !

Como diria o Guedes vão-se todos foder………….…..