A prova
já foi há um mês e uma semana mas a minha mana contínua na dela. Rejeita o
corte a cor e o modelo afirmando não ser este o dela. Mas qual era o dela ? Nem
eu nem ninguém parece entender, e os média continuam tratando-nos como sendo
mentecaptos, os média, os mídia, e os actores em cena.
Primeiro
era que se lixem as eleições, mas quando alguém lhas lixou o rapaz mudou de
opiniões, fazem-lhe a vontade e agradece com uma montanha de ingratidões…
Mas,
retomando o titulo, aquilo era uma corrida ou eram eleições ? Manda a
Constituição que se proceda de acordo com o que a AR entender depois do PR cumprir
a sua obrigação e dever. E assim foi, o PR cumpriu a sua, e a AR cumpriu a
dela, de que se queixam ? Que querem ? Outra Constituição ? Só pode ser isso, e
até PPC por isso a exige, por isso e por ser tolinho mas essa é outra história.
Ninguém
até agora transgrediu a Constituição, apesar de muita demagogia e parvoíce que
se houve e vê durante todo o dia. Ela, a Constituição, foi elaborada por todos
e salvo erro aprovada por quase todos. (penso que com excepção do CDS). Em
relação a ela, Constituição, alguns podem ter sido menos delicados, como Cavaco
e Silva ou PPC, ou oportunistas como A. Costa, mas ainda não foi transgredida. Era
isso que o povo devia saber, ao povo ser ensinado, e não embalado em cantigas
parvas pela esquerda e pela direita. Quanto à tradição é muito bonita mas não
tem força de lei, a menos que se trate de um caso de direito consuetudinário*, ou
usocapião**, casos que ao contrário do que possam pensar a lei (e a
jurisprudência) deveras regulamentam.
Costa
foi oportunista porque a votação por si obtida está longe do poucochinho que
A.J. Seguro apesar de tudo ia conseguindo. Se Costa tivesse brio, honra,
vergonha, caracter e tomates ter-se-ia demitido na hora. Mas a política é isto,
é um jogo de vontades, equilíbrios, manipulações, consensos, mobilizações,
ligações, compromissos, acordos e desacordos, o que se segue é a guerra, a
continuação da política opor outros meios… O que A. Costa está a tentar fazer é
absolutamente licito, legal, constitucional.
Podemos não gostar, poderá não nos
agradar, mas está funcionando a legalidade pois a politica também é
contorcionismo, malabarismo, e engolir sapos. Desconheço se Costa age assim
unicamente para safar o pescoço da guilhotina, é justo que tal pensemos, mas há
mais aproveitadores da situação. Comecemos pelo PCP, porque não cresceu
desmesuradamente apesar da crise, e não só não cresceu como a esquerda cresce
sem ele, e essa esquerda que cresce é para ele uma heresia. O casual e
pontualmente sortudo Bloco de Esquerda porque não deseja desaproveitar o
descontentamento geral da esquerda que contabilizou excepcionalmente (nos dois
sentidos do termo) e nos deseja mostrar estar à altura da situação, que não
está, nem nunca esteve.
Finalmente
o PS, que está a descobrir de uma forma ou de outra que terá que lutar para
reconquistar o eleitorado que julgava seu, que ao longo de quarenta anos em vez
de consolidar perdeu, um caso insólito que o devia obrigar a profunda auto
critica e em que não deixarei de dar razão ao eleitorado. Afinal que nos tem
dado o PS ? Porque havemos de votar PS ? Que nos garante o PS além de NINS, uns
nem sim nem não como é seu apanágio ? O meu problema não está na coligação de
esquerda que já vem com quarenta anos de atraso, que não apoio nem aprovo, e na
qual não creio. As minhas dúvidas não se colocam em relação ao BE ou ao PCP, as
minhas reticências prendem-se com o PS, é este o partido parasita e oportunista
em relação aos outros dois. É este que precisa mais daqueles que aqueles dele,
do PS, que joga o seu futuro e Costa a sua cabeça, ou o pescoço, nesta
coligação original. Havendo razões para duvidar da credibilidade de algum
destes partidos por mim o maior perigo virá precisamente do volúvel PS.
Acresce
a estes contorcionismos o facto de quer o BE quer o PPC terem muito provavelmente
grandes problemas de consciência por terem derrubado o PEC4 e o PS abrindo
caminho à direita que, pasme-se, governou mal mas que apesar de tudo nestas
eleições em que a sua queda era perspectivada até devido ao cansaço natural do exercício
do poder, surpreendentemente cativou mais votos que qualquer outro partido
isoladamente. Este partido, este PS tem que me demonstrar na prática que merece
o meu voto. Há muito que assim procedo, concretamente desde que Guterres fugiu
com o rabo entre as pernas em vez de se ter dedicado a endireitar a vara torta
ou a drenar o pântano que afirmou ter visto. Um partido, qualquer partido, tem que
demonstrar merecer o meu voto, não lho dou incondicionalmente nem ele é
garantido. Não são favas contadas, não contem com ele como com o ovo no cu da
galinha, não o venham buscar, antes o mereçam. Aos meus Juventude e Lusitano é
que amo apaixonadamente e tudo perdoo. Não aos partidos, ou estaria a ser parvo
e a jogar contra mim mesmo.
PPC merece esta coligação que contra ele legalmente se
forja, PPC merece a derrota, teve oportunidade e tempo de governar para vencer
e agradar apesar de tudo e não foi capaz. Foi a sua insensibilidade e
inabilidade, a sua trapalhice, o seu jogo de cintura mal enjorcado quem o
perdeu. Foi o ter sido mais papista que o Papa, por ter ido mais longe que a
Troika, o ter falhado praticamente todos os objectivos a que se propusera, mas
sobretudo o não ter nada mais para nos oferecer que o definhar no marasmo
habitual, nem programa ter, nem esperança com que nos acalentar… Nitidamente
governou mal, se o tivesse feito bem teria vencido, ou ganho inequivocamente. Toda
a gente vira o buraco que o PS e o despesismo tinham cavado, toda a gente
estava disposta a aceitar austeridade q.b., austeridade ou bom senso na condução
do orçamento do país, tivessem entregado as finanças a uma dona de casa nos últimos
quarenta ambos e decerto estaríamos melhor, o que se passou foi simplesmente vergonhoso.
Teve na mão uma oportunidade única para ficar na história como o regenerador,
vai ficar nela como o primeiro e único PM que não conseguiu fazer dois mandatos
seguidos… então porque quase ganhou PPC ? É muito simples. As pessoas não são
tão parvas como as julgam. As pessoas viram em PPC um malabarista de ocasião
sem respaldo cultural nenhum nem estrutura moral para erguer um país, porém
também não esqueceram quanto mal o seu principal opositor, o PS, tinha causado
a Portugal.
Este PS não tem de igual modo autoridade moral para
condenar PPC. Um não fez ou fez mal, o outro não tinha nem teria feito melhor. As
largas centenas de milhar de emigrantes, que se não tivessem saído fariam
disparar as taxas de desemprego para 30% ou 40% ou até mais não se devem
exclusivamente a PPC. Metade desses emigrantes pode atirar com a culpa do seu
azar ao PS, a Sócrates, que já ensaiava uma fuga para a frente, a promessa
anedótica da criação dos 150.000 empregos foi já sintoma disso, e bastaria ver
a evolução das taxas de desemprego desde 2000 para se concluir que subia sem
apelo nem agravo sem que ninguém falasse nisso nem se preocupasse ou tomasse quaisquer
medidas.
Ora foi dessa culpa, dessa e da do despesismo excessivo
que o PS nunca se livrou. Meteu-nos no buraco e nem desculpa nos pediu, para
além da corrupção que nunca combateu e cujo paleio alimentou com os casos do
Fax de Macau e do aeroporto e das respectivas luvas, tudo má língua da populaça
que nunca se provou nem foi esclarecida, ou a polémica em torno das acusações das
autoridades Angolanas a Mário Soares e a seu filho João que contrabandeariam
diamantes de sangue, coisa em que eu de todo também não acredito, ou dos
negócios e comissões milionárias de Sócrates, uma mentira velada que vai ser
tão provada como o foi a mentira dos submarinos. Já PPC por seu lado nunca fez
a menor ideia de como sair desse buraco aberto pela crise e sem saber, ou por não
saber, ainda o cavou mais fundo. Quer o PS que o PSD vão ter
que mudar muito. E vão ter que lutar contra a corrupção, fenómeno transversal
aos partidos do arco do poder.
É portanto pelas culpas sempre escamoteadas pelo PS que
eu temo, um dia, se lhe convier, o PS vai sacudir dos ombros os parceiros
ocasionais de coligação, o PS é um náufrago agarrado a tudo que puder para não se
afogar, um dia poderá ser um ingrato e “bater na mulher”… Não acredito neste
PS, acho que necessita urgentemente de uma salutar travessia do deserto para retornar
aos seus princípios e puros valores iniciais, tenho dezenas de razões para não
acreditar nele, vai ter que suar muito para voltar a recolher o meu voto, e eu
até sou socialista, imaginem se o não fosse…
Mas voltando ao bife que já está frio. O acordo à
esquerda apesar de tão contestado de forma demagógica ou imoral, para não dizer
pior, é contudo legal, e é bem vindo, PPC já demonstrou à saciedade ser como
aqueles tipos que nem foder sabem e a quem até os tomates atrapalham, não
tem nada de novo nem de interessante para oferecer, a menos que sejamos
masoquistas, todavia mesmo assim lhe estou grato, foi ele, ou é ele o homem que
vai obrigar todos os políticos e partidos políticos portugueses a mudar, para
melhor, até o dele.
Resta esperar pela reacção do PR, e que não seja ele o
primeiro a transgredir demagógica, desrespeitosa e desavergonhadamente a Constituição,
espero sinceramente que não.
Nota:
Surpreendem-me pela negativa as reacções a este tema vindas de pessoas que
julgava minimamente cultas e instruídas. Fala por elas a emoção em vez da
razão, é triste e poderá conduzir a coisas tão feias como a continuação da política
por outros meios…