sexta-feira, 7 de março de 2025

827 ZELENSKY, EU, NÓS E A SOLUÇÃO FINAL ...

 


QUER QUEIRAM QUER NÃO, A GUERRA É A SOLUÇÃO …

  


      A propósito de Zelensky, actor, palhaço ou presidente, herói, o personagem deixa tema á escolha e até eu, que comecei por não ir à bola com ele, agora me penitencio dessa minha avaliação e aceito não estar certo quanto ao lugar onde o colocar mas reconheço que não posso alimentar uma dualidade de critérios e me sinto confundido quanto ao patriotismo, coragem e heroicidade do homem, digo deste senhor.

 

        Tão confundido ando, e tão incerto quanto ao lugar e em que prateleira o colocar que, há uns dias, um meu amigo se serviu dessa minha duplicidade/hesitação para me alegrar a manhã zombando-me e zurzindo-me a torto e a direito. E se dantes era a minha gata Mimi pulando em cima de mim para lhe ir abrir os estores e dar a paparoca, ou a Rádio Comercial e as suas manhãs musicais a acordarem-me e alegrarem-me, desta foi ele, esse amigo de reinar, de adorar o sol, a praia, a paz, o bem-estar e do lirismo.

 

     Chamava-me ele numa mensagem matutina a atenção para o que dizia ser a minha fixação pela guerra, ora só posso deduzir que o ingénuo seja um admirador do sol. Verdade que muitas vezes a refiro, não que a defenda ou a aprecie, porém, e dado que ela se impõe desde que há homens neste planeta não enterro a cabeça na areia. Para além disso gosto de ser claro, faço questão que não confundam o que digo ou o que defendo, não volto atrás nas minhas opiniões a menos que a razão me demonstre estar totalmente enganado, caso em que as revejo, corrijo e altero, o que felizmente acontece poucas vezes.

 


         Como deixei claro atrás não defendo a guerra nem aprecio, porém ela é uma realidade e em simultâneo uma constante transversal a todos os lugares do mundo e a todo o tempo histórico. Já na pré-história o homem resolvia muitos dos seus problemas à traulitada, caso exemplar do Otzi, do homem de Grauballe, do de Lindow, e até hoje se mudanças houve elas se deveram e se concentraram no aperfeiçoar das técnicas e das estratégias a adoptar. A guerra sempre foi vista como um recurso, por vezes o único, por vezes o primeiro, outras vezes o último. É um assunto tão sério que se considera a extensão natural da diplomacia, isto é, se não vai a bem vai a mal, mas irá, e assunto tão sério, tão fulcral, tão importante que a partir de Georges Clémenceau e Carl von Clausewitz a decisão de guerrear deixou de ser deixado em exclusivo nas mãos dos militares, passou para as dos políticos, o que, a julgar pelo que sabemos, não nos deve deixar nem mais descansados nem mais confiantes.

 

        Há várias considerações a considerar, ou, para não cair em redundâncias, vários assuntos a ter em conta, ou vários aspectos, como queiram. Raras nações terá havido ou haverá que não tenham nascido da guerra, e Portugal não foi excepção, D. Afonso Henriques guerreou a mãe, é sabido e é dos livros. A liberdade sempre foi conquistada por meios guerreiros, a revolução francesa não foi um piquenique, nem tão pouco o nascimento da América, digo dos USA, primeiro contra o domínio colonial inglês e depois contra a escravidão do homem.

 

       A este último propósito e dada a imoralidade que neste mundo se tornou epidémica e transversal, talvez esteja na altura de outra guerra como a IIWW, libertadora,… Tal qual a revolução russa de 1917, que contudo o pretendeu ser mas não foi. Andamos perdendo demasiado tempo com o acessório e estamos a descurando o essencial, ninguém imagina o que era a vida do povo russo antes dessa revolta de Outubro, os abusos, a desconsideração, a fome, a miséria, a iniquidade, a desigualdade obscena, um pouco à imagem de hoje, poucos com muito, com demasiado, e muitos sem nada, espoliados até nos direitos que nessa época nem sequer eram um sonho, embora tenha sido aí que esse e outros sonhos começaram.

 


     Ninguém dá nada de mão beijada a ninguém, a guerra é uma constante na história do homem e do mundo. Curiosamente durante séculos e séculos foi sobretudo aos guerreiros que se abriram os caminhos da glória e todos os outros. Aos melhores, na Grécia e em Roma tornaram-nos chefes, presidentes, imperadores, não quero cansar-vos mas vejam um dos últimos casos conhecido, o que aconteceu com Eisenhower, com Churchill, aliás com Churchill há uma história curiosa que muita gente desconhece. Durante a IGG fora ele o estratega da tomada dos Dardanelos, operação conhecida como a Campanha de Galipoli, um épico falhanço das forças armadas vitorianas que Churchill assumiu como seu, dado ser ele o Primeiro Lorde do Almirantado, qualquer coisa como Ministro da Marinha, ou Comandante do Estado-maior da Armada, derrota que todavia se deveu à incompetência de generais e almirantes do British Army e da Royal Navy.

 

      Muitos lhe vaticinaram então o fim da carreira politica e militar, o caso era sério e ele sabia não ser para menos, muitos navios afundados, muitas centenas de homens dizimados, todo o seu prestígio estava em causa, demitiu-se de imediato e antes que a sua cabeça fosse exigida numa bandeja, e que fez ele depois de se demitir ? Recolheu-se no conforto material do Parlamento ? Refugiou-se na rectaguarda confortável de uma qualquer universidade ? Nada disso, alistou-se na guerra e pediu que o enviassem para a linha da frente.

 

      Podendo abusar de subterfúgios não meteu cunha nenhuma para que o inscrevessem nos abastecimentos, ele sabia ser na guerra e à sua frente (da guerra) que o homem sempre se superou, superar de superação, no sentido moral, ético, filosófico, ontológico. Claro que sabemos não ter morrido apesar dos muitos riscos que correu, e até conhecemos o fim desta história, ganhou-a. Voltou a merecer a confiança dos ingleses de novo e, surpresa das surpresas, quando Neville Chamberlain fazendo a triste figura que fez colapsou (cá batemos palmas ao Passos Coelho e ao Costa que ajoelharam perante a troika), foi a ele Churchill que o povo inglês entregou a difícil tarefa de enfrentar o nazismo. Guterres e Barroso deviam ter estudado bem esta parte da biografia de Churchill…

 


         Uma constante da historia é que aos artistas e literatos, e aos sábios, raramente honram com mais que a velha coroa de louros que os gregos instituíram há mais de três mil anos como o mais alto louvor, contudo aos guerreiros sempre foram concedidos os maiores encómios e para eles guardados os melhores lugares, olhe-se para a história de Israel, para não irmos mais longe, e veja-se como os lugares de presidente e de primeiro-ministro têm sido preenchidos, e por quem.

 

            Relembremos o caso de De Gaulle, de Kadhafi, de Saddam e, já que em tempos a imprensa não largou a luta de Luaty Beirão em Angola, repare-se como toda aquela macacada assumiu o poder depois da independência. Nem um general sabe ler, nem um conhece uma letra, mas treparam às arvores durante os treze anos de guerras coloniais e mais trinta de guerra civil. Hoje têm as estrelas e detêm o poder, e não são caso único, é o costume, é a praxe em todo mundo, o saque dos despojos, o poder na ponta das espingardas, as fidelidades e os sacrifícios têm que ser recompensados… E quando os povos angolano e moçambicano quiserem libertar-se da tirania dos seus macacos que irão fazer ? Declarar-lhes guerra naturalmente…  

 

             Por falar em macacadas a quem demos ouvidos, quem ouvimos nós a seguir ao 25 de Abril ? Os poetas ? Os escritores ? Os pintores ? Músicos, arquitectos ? Ouvimos Melo Antunes, os Generais Spínola, Costa Gomes, Silvério Marques, Vasco Gonçalves, Galvão de Melo, Soares Carneiro, os almirantes Rosa Coutinho e Pinheiro de Azevedo, foram estes que ouvimos, estes e outros canastrões do género, e como se isso não nos bastasse de seguida demos guia de marcha aos ordenanças, depois ainda se admiram de termos chegado aqui, ou de como foi possível termos chegado onde chegámos…

 


          Na outra face da moeda cientistas, escritores e etc. eram ignorados, até que, pela mão de Alfred Nobel se arranjaram uns dinheirinhos para os parabenizar e honrar. Mas como foi que Nobel arranjou a bagalhoça para tão altruisticamente assim esbanjar ? Cabum ! Com o poder de violentíssimas explosões !  Com material explosivo claro ! Até ali manusear nitroglicerina era assunto sério que anualmente ceifava imensas vidas. Alfred Nobel descobriu uma forma de a estabilizar sem lhe retirar a força destruidora. Criou a dinamite, foi o céu na terra ! Doravante só se morreria, ou mataria, calculadamente e não mais aleatória ou inadvertidamente.

 

            Caricato este caso, contudo, todavia mas porém, de entre todos os nobelizados têm sido mais distinguidos e mais considerados os que surgem ligados a maior força ou capacidade destrutiva, Einstein e a bomba atómica, Edward Teller e Hans Albrecht Bethe e a bomba de hidrogénio, cinquenta vezes mais potente que a anterior, e na generalidade todos os sábios nos ramos da física, da química, da matemática e da física nuclear. Somente atrás desses grandes heróis e guerreiros virão então os Nobel da Paz, da Medicina, da Literatura, da concórdia, da felicidade e do turismo e lazer.

 

         Eu não desejaria vestir a camisola de Zelensky, um homem atormentado com os trabalhos de Sísifo e de Tântalo, um homem que certamente já sabe estar a solução do conflito na continuação da guerra, na guerra, como sempre foi, como é e sempre será pois até quando em vias de conversações de paz os contendores se esforçam ao máximo no seu esforço de guerra lançando ofensivas que lhes permitam alcançar uma posição que lhes permita sentarem-se à mesa desfrutando de uma melhor situação, mais vantajosa, apresentar mais trunfos que lhes garantam sair desses acordos de paz como vencedores. Portanto não sou eu que o digo ou defendo, é a história que no-lo diz, que no-lo conta, a guerra, é a solução, sempre foi e continuará sendo.

 


            O tal meu amigo só tem desculpa porque deve ter passado tempo demais respirando ares e olores que lhe plasmaram na cabecinha a bondade, o altruísmo, a educação, os bons modos, a misericórdia, a dádiva, a entrega, o perdão, o amor, a devoção, a dedicação, a atenção, a deferência, a moral, a ética, enfim, princípios que igualmente partilho mas que nunca moveram o mundo.

 

         Há dois mil anos um tipo, digo um Senhor, apostou em todas essas coisas, e que ganhou com isso ? Nada, népia, nadinha.

 

          Foi crucificado…






sábado, 1 de março de 2025

826 - ADORO MESMO AS ROSAS VERMELHAS

 


 O dia amanheceu luminoso, como quase todos os dias, de um sol amarelo vivo, uma cor de que eu tanto gosto. Também gosto de rosas amarelas, no meu quintal tenho um pé delas, símbolo de franqueza e amizade, porém são para mim um paliativo, placebo que entretém mas não cura, que engana mas não alivia…

 

O que eu adoro mesmo são as rosas vermelhas, de um vermelho sangue aveludado, como o sangue que na minha terra jorra acusador e vermelho do cachaço do touro quando lhe enfiam o escalpelo na nuca e a fera se queda como a minha consciência de menino, que assim ficou desde esse dia longínquo * todavia símbolo outro, símbolo do amor ao bicho, contudo símbolo de todo o amor que sinto.  

 

O meu amor é cor-de-rosa sim, da cor dessas rosas aveludadas que são também a alegria do meu quintal e as primeiras a despontar mas me inibo do colher, até de as fotografar, não vá minh’alma recordar tudo quanto eu quero esquecer.

 

Sim, o amarelo de um raio de sol, é pujança, é vida, raio de esperança, prosperidade, energia, riqueza, alegria, dança,  amizade e abastança, gratidão e importância mas, p’ra mim é também segredo, testemunho de amores por mim mesmo condenados ao degredo, mácula na consciência, pesadelo, grilheta, a vera prova de que a eternidade é logro, ilusão, desilusão.

 

Gosto de ti, sempre gostei e sempre gostarei, tu és a minha rosa amarela, tu serás sempre um espinho que guardo docemente cravado no coração.

 

Beijosssssssssssss

  

* https://mentcapto.blogspot.com/2014/04/183-aficion-friccion.html

 







segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

825 - AO MEU AMIGO FERNANDO CASTRO

 



Meu querido amigo Fernando, mais um Natal e mais uma vez te estou lembrando. Em cinquenta anos poucas vezes nos vimos, mas jamais deixei de te recordar.

 

Não deixa de ser uma época de aleluia este tempo que dedico especialmente aos não presentes, um tempo de meditação e introspecção, um tempo para deixar a todos os amigos de perto ou de longe votos de Boas Festas e de boa vontade entre os homens.

 

Desta vez sei-te mais perto, voltaste para donde fugiste, voltaste do lugar para onde eu fugiria agora se pudesse, se a idade e a saúde mo permitissem ou aconselhassem.

 

E agora que voltaste, que estás por cá, sinto fazer parte do que penso ser a tua desilusão. Vieste dum mundo justo e certamente ficarás constrangido e confrangido com o que, volvidos mais de cinquenta anos te deparaste.

 

Fugiste do atraso para vires chocar passado meio século com um atraso mais aflitivo e que nos angústia a todos, nos perturba, inda que não nos espante, somos homens de boa vontade.

 


Quero pedir-te desculpa, quero assumir perante ti a minha cota parte no estado a que as coisas chegaram, tu abriste os olhos cedo e abalaste, eu acreditei na democracia prometida e fiquei. Eu com o passar do tempo desiludi-me, tu certamente terás sofrido uma desilusão no regresso, à chegada.

 

Culpa minha que, como muitos outros, também votei e acreditei algumas vezes nos políticos venais que temos. Também eu tenho culpa que a tua cidade, a nossa cidade seja a mais pobre e atrasada deste atrasado país, mea culpa, mea culpa, mea culpa… espero sinceramente que me compreendas e me perdoes.

 

Também eu em 79 podia ter ficado na Suíça e não o fiz por acreditar nas promessas de Abril, mais tarde viria a dar completamente razão a José Mário Branco no seu celebérrimo Lp FMI *

 

Uma porra pá, um autêntico desastre o 25 de Abril

Esta confusão pá, a malta estava sossegadinha.

Estás desiludido com as promessas de Abril, né ?

Com as conquistas de Abril !

Eram só paleio a partir do momento que t'as começaram a tirar e tu ficaste quietinho, n'é filho ? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, não é ? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, n'é filho ? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, hã ?

Extracto da letra de "FMI" por José Mário Branco

 


Claro que me lixei, este país nunca foi nem é para novos, nem para velhos, neste país as oportunidades são para queimar, para perder, por isso se dantes estávamos trinta anos atrasados em relação à Europa agora estaremos cinquenta, talvez mais, há peculiaridades aqui que ninguém já estranha, por exemplo sermos o único país do mundo onde os ladrões não assaltam bancos, aqui são os donos, os banqueiros que os roubam, nós somente somos chamados para pagar os prejuízos, é isto ter juízo ?

 

Talvez até sejamos das poucas cidades e dos poucos países do mundo onde em cinquenta anos não resolvemos um único dos problemas que nos afligiam mas cuidámos de arranjar outros, de arranjar mais, muitos mais. Que desiderato é este que em simultâneo nos cala e anima como se vivêssemos no melhor dos mundos ?

 

Nem sei nem consigo imaginar quantas oportunidades terão sido perdidas nesta cidade e neste país por incúria, cegueira, incompetência, ignorância, arrogância e estupidez das autoridades instituídas e, por que não dizê-lo, dos cidadãos, dos intelectuais, dos sábios, dos académicos, dos eleitores e tutti quanti preenche a fauna da urbe e do rectângulo…

 

Quanta gente pessoalmente irrealizada ? Frustrada nos seus sonhos ? Travada nas suas aspirações ? Quantos caminhos barrados ? Quanta pesporrência ? Prepotência ? Partidarismo ? Seguidismo ? Sectarismo ? Nem Estaline alguma vez terá ido tão longe quanto por aqui, por cá, e é esta a democracia que nos querem impor ?

 


Lamento Fernando, lamento que te tenhas vindo meter na caverna de Ali Babá. Por aqui só há ladrões, tratantes, patifes, agiotas, facínoras, gatunos, biltres, sicários, salafrários, especuladores, usurários e, nem o facto de te teres recolhido e isolado te safará desta cáfila que de há cinquenta anos para cá tomou conta da nação. Quantas vezes não me interroguei já se terá valido a pena aquela madrugada **

 

… que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo …

 

Lamento que o padre Alegria não me tenha dado mais e com mais força, pois decerto te teria seguido as pisadas no ir, não no voltar. Ele bem tentou descobrir vocações para a música entre todos nós, hoje se alguém as tiver o mais certo é que lhas abafem, se não essas, muitas outras.  

 

Adeus caro amigo até que nos vejamos de novo, grande abraço e votos sinceros de Boas Festas.

 

** Sophia de Mello Breyner Andresen

 



2 exemplos ....

https://www.publico.pt/2024/12/15/ciencia/noticia/cientistas-portuguesas-figuram-ranking-melhores-mundo-2024-2114764?utm_content=manhas&access_token=vDLcx1AdRoMmWasROGhi94DPDCZQE6nY%2FfhiW98Q%2BOA%3D&e=da7f79386a&open=true&utm_source=e-goi&utm_medium=email&utm_term=S%C3%B3+24%25+dos+projectos+para+resolver+crise+habitacional+s%C3%A3o+constru%C3%A7%C3%A3o+nova&utm_campaign=55&fbclid=IwY2xjawHNf-hleHRuA2FlbQIxMQABHUzgOoKabHQqCeMbAsSTQxnC0uE8qRFVSBgfF58ga1J5c-Z4CHs2iNrTeg_aem_-Uk_WahVpBIC--s9iPtnwg


 

https://www.publico.pt/2024/12/16/economia/noticia/so-quarto-59-mil-casas-resolver-crise-serao-novas-2115649?fbclid=IwY2xjawHNgAxleHRuA2FlbQIxMQABHdivdWO7QV-y2f-kCPMCP-knRLsn4C9sbZg69UNjmAEVPymN7ijvX3ofgw_aem_Shzp5yAYwXvEKAevE17llQ


quinta-feira, 28 de novembro de 2024

824 - A LADROAGEM E A SACANAGEM, SUAS DIFERENÇAS…

 


Amiúde, por um motivo ou por outro, somos confrontados com protestos, contestações e até condenações fantasiosas de ciganos, vulgo nómadas ou vice-versa.

 

Por sorte ou azar este grupo étnico, minoritário, é quase sempre o mais evocado e, tal como no velho adágio, todos os pássaros se atiram às searas mas só os pardais é que pagam… Isto para vos dizer que gatunos há muitos, ladrões há muitos, larápios há muitos, bandidos há muitos, mas só os ciganos é que pagam as favas.

 

Todo este arrazoado mais não é que intróito para uma redacção sobre a ladroagem e a sua participação quiçá positiva, valiosa mesmo para o ideal funcionamento da nossa sociedade.

 

Diária e ordinariamente vejo apodar o capitalismo com os mais sórdidos epítetos, naturalmente vindos dos lados de uma esquerdalhada de incompetentes e fracassados, ou frustrados, os quais acham que as pessoas de sucesso lhes devem alguma coisa, mas onde senão no seio do capitalismo se encontram as condições, as possibilidades e oportunidades de realização e de sucesso ? Não foi a China, possuidora de uma sabedoria milenar a última grande potência a adoptar o capitalismo e a avançar rumo ao sucesso, à riqueza e glória que só este sistema permite ? Ainda que, como sabemos, sic transit gloria mundi … *

 

O ladrão, o gatuno, o larápio, tem na nossa sociedade um importantíssimo papel que, contudo não tem sido valorizado e todos se recusam a reconhecer ainda que muitos dele beneficiem.

 

Esta “categoria profissional” é alavanca, o motor duma série de importantes fileiras da economia, fileiras que por sua vez geram ramificações sem fim e de não menor mérito ou relevância.

 

Vejamos, a nível público temos todo um conjunto de instituições civis e militarizadas dedicadas à segurança de pessoas e bens, a PSP, a GNR, a Judiciária, os Tribunais e outras derivações. A nível privado um não acabar de empresas de segurança que igualmente dão emprego a milhares de portugueses.

 

Como se isto não bastasse há ainda quem mate a cabeça a criar câmaras de vigilância e alarmes diversos, a vender, a instalar, a reparar a transportar, a manter em bom funcionamento etc etc etc

 

As próprias forças de segurança exigem uma série de veículos e outros equipamentos das armas às fardas, meios de comunicação, que, a exemplo da vigilância em vídeo e dos alarmes terão que dispor de um exército a cuidar que funcionem bem e a tempo e horas…

 

Para os mais tementes ou medrosos seguradoras experientes prometem compensações em caso de furto ou dano, movimentam como outros as fileiras da informática, mexem com a energia, com o hardware e o software, comunicações, advogados, detectives, laboratórios, custos e factores aliás transversais a todos os envolvidos e, quer queiramos quer não são largos milhares de empregos a tornar seguras as vidas de milhões de portugueses.


Será caso para dizer que, se se roubasse mais talvez o desemprego baixasse, a democracia fosse mais justa, as riquezas melhor repartidas, mais gentes satisfeitas, mais bem-estar, menor consumo de consultas e de remédios e naturalmente menos subsídios e um melhor equilíbrio das finanças da Segurança Social e da Autoridade Tributária. 

 

Claro que não estou a incluir aqui  a sacanagem, os políticos venais, esses não se limitam a roubar biciclatas, nem roubam para o bem-estar de todos nós, roubam para satisfazer ambições pessoais e estão-se nas tintas pra o povo que sugam. São vampiros, sanguessugas perigosas, ladrões não, até por políticos e certa gente de elite quando roubam roubarem milhões, triliões, já os ciganos e os larápios roubam umas roupas esquecidas no arame, uns rádios, uns catalisadores, umas jantes, uns carritos, tudo coisas que afinal têm o mérito de ajudar a fazer rodar, fazer funcionar um sistema gigantesco montado para os prevenir e às suas excentricidades …

 

Em boa verdade nunca vi em toda a vida quaisquer ladrãozecos enricar, já quanto aos políticos é o que a gente sabe… Só espero que me prometam que da próxima vez que falarem em ladrões se lembrem deste texto….

 Obrigado, se assim for não darei o meu tempo por perdido.



* “Toda a glória do mundo é transitória” possivelmente uma adaptação de uma frase na obra “Imitação de Cristo” do monge agostiniano Tomás de Kempis e datada de 1418, em que ele escreve: "O quam cito transit gloria mundi" frase que foi utilizada no ritual das cerimónias da coroação papal até 1963. Esta frase tem igualmente e por vezes sido traduzida ou interpretada como "as coisas mundanas são passageiras".

 

terça-feira, 26 de novembro de 2024

823 - A VIDA É UM PALCO ... by Maria Luísa Baião, inédito, escrito em 02-09-2002 e nunca publicado.


Passadas foram as férias, e com gosto regresso a velhas  amigas e amigos, até porque algumas e alguns, me fizeram já sentir estar a faltar às minhas obrigações.

 

 Entre eles um que há muito conheço e por quem tenho grande apreço, a quem os deuses por razões que ninguém sabe deram o castigo de Tântalo, vê a vida escapar-se-lhe entre grades que o não cercam, mas que vorazes lhe tolhem os passos do desejo, do sonho, da liberdade que a alma em chama clama, surda, muda e moribunda, cega ao passar das horas, dos dias, da vida.

 

Outro, que conheço menos bem e nem me lembra desde quando nem porquê, não mais felizardo que o primeiro, padece do tormento de Sísifo, tendo penado toda uma vida, carregando pesado fardo, numa gruta em que passou a vida desfiando uma roca a que os fios do destino nunca permitiram compor mais obra que a um artesão, ainda que suas mãos sejam capazes de milagres sem os quais a técnica que tantas vezes nos deslumbra, pararia.

  

Boas almas a quem a vida enganou sempre, engana ainda e enganará mais, mesmo que o não creiam, enredados em coisas tais como um dedal de linhas amarelas ou num engenho capaz de tornear as peças mais singelas.

 

Não sou diferente, quem me dera, também eu carrego a minha cruz. Quantas crónicas não compus eu já, que por pudor não coloquei nesta janela semanal, tão só para que não me julguem mal.

 

 Tântalo reparou na máscara que eu levava afivelada nesse dia, é verdade, não era realmente eu mas era eu só, a quem os deuses forçam a tantos papéis desempenhar que me vejo grega para os desembrulhar.

 

 Sou mulher, sou filha, esposa, mãe, terapeuta, voluntária, autarca, cronista e... É tão vasta a lista... Que de assistente social a psicóloga, não há maleita que me não bata à porta. 



Não são máscaras que empunho no dia-a-dia, são diferentes papéis a que o teatro da vida obriga, e vos garanto que entre o riso e o pranto, busco metodicamente que a comédia o drama e o trágico que em mim vivem não vos arrastem no momento ou no lamento que calada sofro.

  

A vida é um palco, procuro dar o meu melhor mas por vezes interrogo-me se valerá a pena, se conseguirei, mas nunca se me esforço. Sempre dei o melhor de mim, será que serei mais feliz assim ? serei mais feliz no fim ?

 

 A Personalidade é tão de cada um de nós como uma impressão digital, é fruto de contactos e experiências pessoais, é feita também de desilusões e ais, de frustrações, traumatismos e algumas doses de contentamento por vezes tão banais que, melhor seria dar outro rumo à vida, sair do palco, de cena, buscar noutras paragens suspiros e futuros que aqui de reais têm somente difusos estigmas virtuais.

  


 Nem só os amanhãs que cantam se ouvirão jamais, a dignidade, a solidariedade, a igualdade, a competência, o mérito, o esforço, a recompensa, onde param ? Quem os viu passar ? Onde ? Quando ? Não foi para ver assim este país e dez milhões de almas que chorei de alegria em 74 

  

Que pensaram nesse dia Tântalo e Sísifo ? Que pensam hoje, agora ? Valeu a pena ? Por que não se encerraram as portas do Teatro ? Por que se arrasta a peça ? Por que há cada vez mais quem peça ? Quem nesta peça corre tão depressa que ultrapassa os demais sem que repare no seu atraso ? Quem cava as distâncias ? 

 


 As páginas da nossa vida teimam não correr mas simplesmente passar… Não no palco mas nos bastidores, melífluos deuses nos cortam cerce legitimas ambições, quantas vezes manobrando com arte o silêncio, vendendo cara a esperança...

  

Cada vez mais a natureza humana me decepciona.


 Como marionetes nas mãos de redutores maniqueístas nos sentimos, alvo de crueldades, intolerâncias, complexos, provincianismos, à mercê dos quais nos sentimos pequeninos, sentimos não ser nada, não valer nada. Valerá a pena a vida assim? 

  


Acho que não, vão por mim...