terça-feira, 15 de julho de 2025

835 - ABRE-TE SÉSAMO !!! ABRACADABRA !!!!

 


Não era a fé que me movia, nunca a tive, aliás, peço desculpa, uma vez houve em que me vi tão atrapalhado que supliquei perdão por todas as minhas faltas e roguei pela minha salvação daquele inferno, tudo prometi e todo esse empenho ficou por cumprir. Sou portanto devedor, devedor de mim mesmo, que me obriguei num momento de aflição para depois aligeirar o fardo, quando sobre as costas me não pesavam já os receios, os medos, os terrores.

 No fue la fe lo que me movió, nunca la tuve. De hecho, me disculpo, pero hubo un momento en que me sentí tan confundido que pedí perdón por todos mis pecados y recé por mi salvación de ese infierno. Lo prometí todo, y todo ese compromiso quedó incumplido. Por lo tanto, soy un deudor, un deudor conmigo mismo, quien en un momento de angustia me obligó a aligerar la carga después, cuando los miedos, temores y terrores ya no pesaban sobre mis hombros.


Não era o caso agora, agora tratava-se de cumprir um mandamento tão velho quanto o mundo, tratava-se de dobrar-me sob o jugo de uma força maior que eu, de soçobrar perante o instinto inato que protege as espécies e lhes garante sobreviverem e multiplicarem-se.

 Ahora no era así, ahora se trataba de cumplir un mandamiento tan antiguo como el mundo, se trataba de doblegarme bajo el yugo de una fuerza superior a mí, de sucumbir al instinto innato que protege a las especies y asegura su supervivencia y multiplicación.


Nesse momento mágico, como um crente ante sacra imagem, entrei em transe e, mais que a vergasta com que o desejo soe golpear-me nesse recolhimento, o corpo se me verga sob o truísmo encantado da minha devoção, digo-to para que saibas desta fé em mim e me ofereças o linimento das águas desse cálice que sedento busco, sequioso, na mira de abafar as tormentosas chamas que me queimam e me não trazem nunca a quietude que desejo e só alcanço quando em ti me dessedento.

 En ese instante mágico, como un creyente ante una imagen sagrada, entré en trance y, más que el látigo con que el deseo suele golpearme en este recogimiento, mi cuerpo se dobla bajo la verdad encantada de mi devoción, te lo digo para que sepas de esta fe en mí y me ofrezcas el linimento de las aguas de ese cáliz que busco sediento, sediento, con el fin de sofocar las llamas tormentosas que me queman y nunca me traen la quietud que deseo y sólo logro cuando tengo sed de ti.


Compreende então que não suportando a angústia me ajoelhei ante ti numa penitência de mártir, te abracei como um náufrago suspenso do salvador, arrastando-o na espiral da morte, na vertigem dos abismos em que a redenção não é o meio mas o fim último da submissão, do gesto e da catarse.

Entiende entonces que, incapaz de soportar la angustia, me arrodillé ante ti en penitencia de mártir, te abracé como un náufrago suspendido del salvador, arrastrándolo a la espiral de la muerte, al vértigo del abismo en el que la redención no es el medio sino el fin último de la sumisión, del gesto y de la catarsis. 


Por isso te abri como a um sacrário, ávido de maravilhar-me no teu santo graal, como quem sucumbe ao encanto duma odalisca, ao aroma adocicado das amêndoas, ao sabor agridoce de travo suave dos pêssegos rosa, por isso me quedei como se ante um cibório, não antevendo mas vivendo os prazeres do êxtase, vogando no paraíso prometido por todos os profetas em todos os sonhos e em todas as vidas.

 Por eso te abrí como a un tabernáculo, deseoso de maravillarme ante tu santo grial, como quien sucumbe al encanto de una odalisca, al dulce aroma de las almendras, al sabor agridulce del suave regusto de los duraznos rosados, por eso permanecí como ante un copón, no previendo sino viviendo los placeres del éxtasis, navegando en el paraíso prometido por todos los profetas en todos los sueños y en todas las vidas.


E feliz sucumbo à minha voracidade, por ser aí que finalmente me perco e me encontro, porque então, sim, só então sublimo a tentação que me arrastara, sôfrego, ao âmago de ti, por em ti encontrar o carrasco e a salvação dos tormentos em que me deleito e suplício, qual cilício e cura desta paixão que me consome.

 Y yo sucumbo felizmente a mi voracidad, pues es allí donde por fin me pierdo y me encuentro, porque entonces, sí, sólo entonces sublimo la tentación que me había arrastrado, ávidamente, hasta el núcleo de ti, pues en ti encuentro al verdugo y la salvación de los tormentos en que me deleito y torturo, como cilicio y remedio para esta pasión que me consume.


Somente isso explica a profusão de beijos com que, enlouquecido, numa fúria aparente, cubro o objecto da minha fé, da minha devoção, da minha entrega, ciente de ser este paroxismo avassalador que simultaneamente me subjuga e liberta da sensação, em mim somatizada,* que me guia e me cega enquanto se não cumpre o destino, a sina, o fado, e os lábios te tocam, a língua te procura, porque a sede é tortura consumindo-me as entranhas.

 Sólo esto explica la profusión de besos con que, enloquecido, en una aparente furia, cubro el objeto de mi fe, de mi devoción, de mi entrega, consciente de que es este paroxismo abrumador el que a la vez me subyuga y me libera de la sensación, somatizada dentro de mí,* que me guía y me ciega mientras el destino, la suerte, el sino no se cumplen, y mis labios te tocan, mi lengua te busca, porque la sed es una tortura que consume mis entrañas.


Apazigua-me esta dor o néctar dos deuses, ou d’uma flor, é vibrando que o procuro, e então, num estremecimento, guloso, sorvo-o num estertor, alarvemente, esquecido do tempo e do lugar, esquecido de mim precisamente quando eu um outro, quando e se ousas derramar sobre mim essa taça, ou me obrigas, também tu já toldada, já possuída da mesma fé, da mesma devoção, a beber do cálice a cicuta da vida, por sentires e saberes que só a ressurreição nos limpa do pecado se por amor nele mergulhámos.

 El néctar de los dioses, o de una flor, me alivia este dolor, es vibrando que lo busco, y entonces, en un escalofrío, ávido, lo sorbo en un estertor de muerte, tontamente, olvidando el tiempo y el lugar, olvidándome de mí mismo precisamente cuando otro, cuando y si te atreves a derramar esa copa sobre mí, o a obligarme, tú también ya cegado, ya poseedor de la misma fe, de la misma devoción, a beber del cáliz la cicuta de la vida, porque sientes y sabes que sólo la resurrección nos limpia del pecado si nos sumergimos en ella por el amor.


Cegamo-nos, cegamo-nos, e só o turbilhão da nossa mente nos acompanha, não nos guia, mas acompanha-nos, enquanto a nossa língua tacteia o caminho, o cruzamento, enquanto a nossa boca clama, vorazmente, por veneno e paz, por tudo e por nada…

Nos cegamos, nos cegamos, y sólo la mente en torbellino nos acompaña, no guía, acompaña, mientras la lengua tantea el camino, la intersección, mientras la boca clama, voraz, por veneno y paz, por todo y nada...


E antes que tudo termine caio a teus pés, prostrado, numa pausa redentora, porque agora sim, estamos prontos, pois a tarde é nossa e chegada a hora de nos cumprirmos,

           Y antes de que todo termine caigo a tus pies, postrado, en una pausa redentora, porque ahora sí estamos listos, porque la tarde es nuestra y ha llegado el momento de realizarnos,     


                   seja...

                   así sea

* NOTA: Em psicologia, "somatizar" significa manifestar problemas emocionais ou psicológicos através de sintomas físicos. É o processo em que a angústia ou dor psíquica é expressa através de sensações e dores corporais, muitas vezes sem a pessoa ter consciência disso.

A somatização, então, ocorre quando a mente, incapaz de lidar com o sofrimento emocional, o transforma em sintomas físicos. Isso pode acontecer em casos de transtornos mentais, dependência química, traumas, ou quando a pessoa está tentando ignorar ou evitar a dor emocional.