segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

11 - NÃO FUJAS DE TI...


Carregas sobre ti um céu demasiado pesado ?

Talvez, mas por certo carregas também a esperança.

Atenta ficas aos dias perdidos, passados, parecendo-te terem sido sempre iguais, eternos, símbolos de uma vida frustrada ? E, no centro dessa frustração, os teus anseios, eles sim a mais linda promessa de amor, vogando num mar de temores e incertezas, qual céu cujos horizontes te parecem inacessíveis ? Pois vê-te a ti como num espelho mágico e, verás que essas cores tisnadas, essa cara, o sorriso alegre e perene, não simbolizarão esse temor que carregas, crê.

Os julgas como fruto da frustração que alimentas ?

Não creio, antes os vejo como um convite a que a sensualidade que te é própria nos cative e envolva, nos prometa carícias, meiguices e ternuras sem fim, até que te sonhe, encostando ao teu o meu rosto, e o meu coração palpitando, se excite ao mínimo pestanejar desses olhos que, na tua cara, sempre sorridentes, me enleiam os sentidos, despoletam emoções e confundem o espírito.

Braços abertos, buscando, tacteando a libertação ? Não és livre ?
Mas se ninguém é !

Não temas, esquece as cores apesar de tudo carregadas desses traumas, dessas frustrações. Foi esse pormenor, a tristeza, o motivo de tão grande perturbação em ti ? Mas se a liberdade mais não é que um estado de espírito ! Alguma vez ponderaste ser a tua mente a culpada dos teus próprios medos ? Por que acumulas então em ti mesma, conscienciosa e deliberadamente esses receios ? Vejo em ti tudo quanto te recusas a mostrar, és de uma transparência impensável, e desnudada te vejo, e vejo, claramente, recalcados nesse íntimo, os teus temores e os teus traumas, agigantando-se para fora desse subconsciente que, sem que o saibas, diz mais sobre ti que um cartaz gigante à beira-mar plantado ! Cuidas tu que te resguardas ? Talvez, talvez creias que sim, mas não de mim, para quem o maior de todos os perigos para ti mesma és tu.

E de que te podes acusar ? Desse casamento estiolado ?

Dos teus sonhos frustrados ?

Que exijas dedicação, mimos há tanto esquecidos que só a mente já tos permita obter não é novidade para mim, não, nunca foi, mos contou gritando o teu silêncio, esse mesmo silêncio que te engana quando te diz que os anos já pesam, que a tua vez já foi, que as oportunidades te estão vedadas. Então, nada me admira que te fiques sonhando, entregue a ti mesma, sonhando novelas, almejando outras vidas que gostarias viver ou ter vivido. Garante-me que não é essa a razão pela qual, ansiosa aqui vens, aqui estás, espreitando o único mundo a que podes aceder para fugir dessa prisão em que te encerraste. Sedenta de atenção te vejo e, crê, terás que libertar-te desse refúgio dessa recusa de ti mesma.

Procura a esperança, faz com que as rugas, o peso e o corpo, os medos e receios, tu, acreditem que ainda existe vida e esperança. Não temas a tentação, o sonho, a ilusão, o amor, a paixão, a entrega, a dádiva ! Deita ao chão as barreiras que ergueste em teu redor, em tua mente, liberta-te desse mundo que temes, e o será cada vez mais se não ousares, e no qual inadvertidamente te fechaste, ou deixaste te fechassem. E não sabes agora como derrubar essas grades, esses traumas e temores? Desaprendeste de viver, viver de novo, viver, tão enleada nos teus medos ficaste ?

Leio em ti, sempre li, tudo quanto tentas esconder. Quanto mais escondes mais transparente te tornas. Acredita, não imaginas, nem sonhas, quanta tralha vejo recalcada no teu íntimo, rodeada de teias de aranha e ferrugem, como antigas peças espalhadas pelo chão terroso de um qualquer antiquário, cujos passados adquire para vender como futuros, futuros de que nem te apercebes mas não serão teus, nunca serão, o futuro faz-se, não se compra, por isso vês o teu como se um peso, um estorvo, uma impossibilidade e, tentas nesse mercado de velharias encontrar outro, mais promissor, mais liberto, mais conforme, mais teu, mais tu. Todavia, ainda que não creias, foste tu a obreira da prisão contra a qual agora te debates, e eu, sim, dar-te-ei a mão, ajudar-te-ei a saltar. Quem pretendes enganar quando comigo falas ? A ti certamente.

A verdade é que não encontras modo de te libertar não é ?

Não és única, quem me dera aí, em cada momento, ter ocasião de abraçar-te, envolver-te em meus braços, beijar-te ardentemente, longamente, e, porque não, amar-te aí mesmo, amar-te não com a violência que em mim provocas, mas devagar, somente com esta vontade que em mim encerra a urgência de desejos reprimidos, calados, contidos, num delírio que nos elevasse bem mais alto que os sonhos que partilhamos. Provar-te que te quero, te desejo, que és mulher, que és bonita e gostosa. Que são no caso os tantas e tantas diferenças e obstáculos que nos separam ? Como não lembrar-te se te desejo ?


E é grande o desejo, agora que pressenti o lacrimejar dos teus olhos, que neles me enleei, que por eles perdi os sentidos, a noção de espaço e de tempo, recolhe-te nestes braços abertos, para ti, vê a esperança, a liberdade, poderás ser de novo livre, de novo senhora de ti, não temas, vem a mim, afasta para longe traumas e receios, isto não é um sonho, nem ilusão, é a minha resposta aos teus medos, vem, deixa que te ame, deixa que te abrace, ainda é possível, tem coragem, crê.