terça-feira, 23 de setembro de 2025

842 - EMBORA O OUTONO TENHA CHEGADO ...

                                ( EN ESPAÑOL DEBAJO DE ESTE TEXTO )


  Não virás, embora o Outono tenha chegado há poucos dias sei que não virás. Nem preciso consultar o Observatório das Migrações, chegara a tua hora e, talvez temendo que Outono e Inverno trouxessem com eles o insuportável não esperaste, nunca soube o porquê mas a golpes de dor e sofrimento, aprenderas a temer a vida, a temer o futuro e não esperaste.

 Habituara-me a ver todos os dias o teu sorriso álacre, a tua desenvoltura e segurança, a tua presença forte e omnipresente à qual silenciosa ou simbolicamente me encostava. Eras a trave após o dilúvio de que me não recompusera ainda.

Terão sido demasiados Outonos, terá sido muita a dor e o sofrimento. Tinham sido pesados esses dias e esses anos, eu vergara sem que o soubesse, por certo julgando o contrário quando na realidade não lograra endireitar-me, seria cedo ainda, talvez excessivamente cedo.

Cedo pensaste migrar, certamente temeste enlear-te nas névoas que nos enredaram e das quais não soubemos sair, nem lembrámos o truque de Teseu para sair do labirinto ou, tão pouco nos acudiu a solução de Ariadne e deixámos que esses nefastos nevoeiros nos envolvessem e nos cegassem.    



Por tudo que recordo sei que não virás, e apesar do Outono ter chegado não virás. Pelo contrário, partiste e não voltarás. De acordo com o Observatório das Migrações Outono não é hora de chegadas mas hora de partidas. Talvez temesses que o Outono e o Inverno te trouxessem maior sofrimento, talvez temesses o insuportável e por isso não esperaste. Provavelmente estará aí o porquê da tua partida, tu que aprenderas a não temer a vida, a não temer o futuro mas que contudo não esperaste.

 É-me insuportável o vazio que deixaste e muitas vezes me interrogo como não vi, não percebi o espaço oco que o universo criava à nossa volta, que nos sugava como para um abismo, qual buraco negro de onde, diz a física, nunca se sai, nem a luz sai, a luz, precisamente o que nos faltou e nos perdeu. 

Era a essa luz que te admirava com paixão, sim, apaixonado, todavia sempre procurando ver para além da névoa, buscando compreender o toque raro das tuas mãos ternas, buscando preencher o vazio que sentia formar-se em meu redor, entender os mistérios da transformação da luz que agora não víamos mas cujo clarão terá cegado os pastorinhos olhando a tal azinheira onde, sobre uma nuvem pairou a Senhora cuja fé os cegou e, eu, como eles, incapaz de compreender as trevas fechando-me os olhos.

 Os mesmos olhos que me enganaram, que me surpreenderam, que me cegaram a tudo quanto me rodeava e hoje estou disposto a arrancar pois não me deixaram ver, a ver claro, a ver se sim ou não ainda palpitava a mínima luz, não só a ver essa luz mas sobretudo me permitisse que a procurasse até me cansar, até que encontrasse com a paixão que a minha alma encerra e a paixão acicata o teu coração ainda batendo.

 Foras um rumo, um caminho e um exemplo, inda hoje procuro com saudade, com carinho e meiguice o que terá exacerbado a minha calma, ou me terá acomodado a ponto de trair a confiança que me alimentara a esperança pelo tempo fora e que acabou cegando-me.

                                        


Veio o Outono e migraste, acabou-se o milagre. O pensamento e as lembranças confundem-me, todavia acredito, ouvir-me-ás, recordar-me-ás e àquele longínquo dia que começara radiante. A memória traz-me lembranças de dias felizes, de cores e luzes não esfumadas mas intensas, fulgurantes, um dia que começara como um sonho em que estaria na luz, divisando vagamente um vulto a que ainda sinto o perfume e a quem tento segurar a mão, o mundo todo luz, eu uma sombra saindo da escuridão, e quando nem em mim cria sonho, que repentinamente te abraço, te afago a pele morena e, perante mim, qual milagre, vagamente tomando forma uma mulher que aprendi a amar, agora carência, imagem debruada a luz mergulhando como um punhal na minha alma.

 Contigo não, contigo não mais a melancolia, a solidão, agora sei não querer por nada habituar-me à tua ausência, tudo que sou também és, tudo que és também sou, agora sei, o mundo somos tu e eu, e mais ninguém, palpitas em mim, perco-me de mim com lume aceso no peito, imaginando-te, o coração batendo, morreria se não te contasse este anseio, esta verdade, vendo vagamente a luz, alegria imensa, pois por agora a única ponte que nos une é a ausência e, homem sincero como sou, pergunto-me, quando posso gritar aos ventos esta dor esta saudade ?

Sei que não virás. Apesar do dia especial que se avizinha não virás. Sei, por o Outono ter chegado não virás. Pelo contrário, partiste, foi ao aproximar-se o Outono que te foste, que deixaste este vazio, esta confusão, que em solidão me embrulhaste apagando em mim a luz que me guiava.

 A luz que eras ascendeu contigo, subiu contigo, a luz, sim a luz, a mesma luz pela qual lutaram deuses, a luz que encerra a verdade, a ordem, a força, a justiça, o mal, o caos, a ignorância, as trevas, o poder, a destruição e a desordem. Serás tu tão egoísta e tão capaz de aguentar sozinha o archote, a tocha, o farol ?  

                             

 

                 NO VENDRÁS, AUNQUE EL OTOÑO HAYA LLEGADO

No vendrás, aunque el Otoño llegó hace unos días, sé que no vendrás. Ni siquiera necesito consultar el Observatorio de Migraciones; tu hora había llegado, y quizás temiendo que el Otoño y el Invierno trajeran consigo lo insoportable, no esperaste. Nunca supiste por qué, pero a través de golpes de dolor y sufrimiento, aprendiste a temer la vida, a temer el futuro, y no esperaste.

Me había acostumbrado a ver tu alegre sonrisa cada día, tu tranquilidad y confianza, tu presencia fuerte y omnipresente en la que me apoyaba silenciosa o simbólicamente. Eras la viga después del diluvio del que aún no me había recuperado.

Debieron haber sido demasiados Otoños, debió haber sido demasiado dolor y sufrimiento. Esos días y esos años habían sido pesados; me había encorvado, y sin saberlo, seguramente pensando lo contrario cuando en realidad no había logrado enderezarme, aún era demasiado pronto, quizás demasiado pronto.

Pensaste en migrar desde el principio. Sin duda, temías quedar atrapado en las nieblas que nos atrapaban y de las que no podíamos escapar. Ni siquiera recordábamos el truco de Teseo para escapar del laberinto, ni la solución de Ariadna nos venía a la mente, y dejamos que esas nieblas ominosas nos envolvieran y cegaran.

Por todo lo que recuerdo, sé que no vendrás, y aunque el Otoño ya ha llegado, no vendrás. Al contrario, te has ido y no volverás. Según el Observatorio de Migraciones, el otoño no es tiempo de llegadas, sino de partidas. Quizás temías que el Otoño y el Invierno te trajeran mayor sufrimiento, quizás temías lo insoportable y por eso no esperaste. Probablemente por eso te marchaste, tú que habías aprendido a no temer a la vida, a no temer al futuro, pero aun así no esperaste.

El vacío que dejaste me resulta insoportable, y a menudo me pregunto cómo no vi, no percibí, el espacio vacío que el universo creó a nuestro alrededor, que nos absorbió como un abismo, como un agujero negro del que, según la física, nunca se escapa, ni la luz, la luz, precisamente lo que nos faltó y perdimos.

Era esta luz la que admiraba apasionadamente, sí, con amor, pero siempre buscando ver más allá de la niebla, buscando comprender el roce excepcional de tus tiernas manos, buscando llenar el vacío que sentía formarse a mi alrededor, buscando comprender los misterios de la transformación de la luz que ya no veíamos, pero cuyo brillo debió cegar a los pastorcitos que contemplaban aquella encina donde, sobre una nube, flotaba la Señora cuya fe los cegó, y yo, como ellos, incapaz de comprender la oscuridad, cerrando los ojos.

Los mismos ojos que me engañaron, que me sorprendieron, que me cegaron a todo lo que me rodeaba y hoy estoy lista para arrancármelos porque no me dejaron ver, ver con claridad, ver si aún latía la más mínima luz, no solo ver esa luz, sino sobre todo permitirme buscarla hasta el agotamiento, hasta encontrarla con la pasión que mi alma alberga y la pasión que impulsa tu corazón aún palpitante.

Fuiste una dirección, un camino y un ejemplo; aún hoy busco con anhelo, con cariño y ternura aquello que pudo haber exacerbado mi calma, o quizás haberme complacido hasta el punto de traicionar la confianza que había alimentado mi esperanza a lo largo del tiempo y terminó cegándome.

Llegó el otoño y emigraste, el milagro terminó. Pensamientos y recuerdos me confunden, pero creo que me escucharás, me recordarás y ese día lejano que había comenzado radiante. La memoria me trae recuerdos de días felices, de colores y luces no apagados sino intensos, deslumbrantes, un día que comenzó como un sueño en el que yo estaría en la luz, distinguiendo vagamente una figura cuyo aroma aún huelo y cuya mano intento sostener, el mundo entero iluminado, yo una sombra emergiendo de la oscuridad, y cuando ni siquiera dentro de mí crea un sueño, de repente te abrazo, acaricio tu piel oscura y, ante mí, como un milagro, vagamente tomando forma una mujer que aprendí a amar, ahora una necesidad, una imagen bordeada por la luz que se hunde como una daga en mi alma. 

No contigo, no más melancolía, no más soledad, ahora sé que no querré acostumbrarme a tu ausencia, todo lo que soy tú también lo eres, todo lo que eres yo también lo soy, ahora lo sé, el mundo somos tú y yo, y nadie más, late dentro de mí, me pierdo con un fuego encendido en mi pecho, imaginándote, mi corazón latiendo, moriría si no te dijera este anhelo, esta verdad, viendo vagamente la luz, inmensa alegría, porque por ahora el único puente que nos une es la ausencia y, hombre sincero como soy, me pregunto, ¿cuándo podré gritarle a los vientos este dolor, este anhelo?

Sé que no vendrás. A pesar del día especial que se acerca, no vendrás. Lo sé, porque el Otoño ha llegado, no vendrás. Al contrario, te fuiste, fue con la llegada del Otoño que te fuiste, que dejaste este vacío, esta confusión, que me envolviste en soledad, extinguiendo en mí la luz que me guiaba. La luz que fuiste ascendió contigo, ascendió contigo, la luz, sí, la luz, la misma luz por la que lucharon los dioses, la luz que contiene la verdad, el orden, la fuerza, la justicia, el mal, el caos, la ignorancia, la oscuridad, el poder, la destrucción y el desorden. ¿Eres tan egoísta y tan capaz de soportar el arco solo?