E assim a saudade o desejo e a tua ausência em simultâneo evoluem num sonho lindo que alimento, mais acordado que dormindo, estendido a teu lado em Matalascañas, recordações que me trazem encantado há tanto tempo, esquecido de tudo e de todos, e de mim, que me não penso, já que somente nesse sonho vertido em esperanças inverosímeis me é possível acalentar-te e ter-te.
Tu
na janela olhando o mar, a lua, tu empinando, eu por trás de ti, abraçando-te,
desvairando com o calor do momento, o odor do momento, tu entreabrindo as
coxas, eu aspirando sôfrego a fragrância que trouxeste do banho, colando-me a
ti, sentindo-te o desejo sem que consiga segurar o meu, colo-me mais, abraço-te
e tomo nas mãos o teu peito, o coração batendo-te descompassadamente, os
mamilos endurecendo, o peito inchando, sinto-te separar os pés, ouço as
pulseiras tinindo, tu abrindo as carnes, o mesmo cheiro de novo, inebriando-me,
puxando de mim a força do romance, tomo-te de assalto, tu suspiras, gemes, a
lua parece maior e mais brilhante, sou teu, e tu minha, estou em ti, todo, não
já colados mas pegados umbilicalmente, sinto-te contrair e relaxar enquanto eu
pulso dentro de ti, o teu calor me queima e me espremes a vontade delirando
mais, mais, mais, eu empurrando-te contra o parapeito da janela procurando ir
cada vez mais fundo.
Aspiro
o ar do mar, afogo-me em ti, sinto o fluir das ondas, a espuma delas
escorrendo-te coxas abaixo e tu, não pares não pares agora e eu não paro, antes
aperto o abraço empurrando-me p’ra dentro de ti, todo dentro de ti, pulsando e
golfando, jorrando amor enquanto cravas as unhas nas minhas coxas e me puxas
mais e mais, eu fechando os olhos, cegando, sussurrando minha querida não pares
aperta tudo,
agoraaaaaaaaaaa,
agoraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa,
vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv,
e assim ficámos, abraçados e
tão inverosímeis quanto o futuro que nos aguarda, quais castelos de nuvens
engalanados de boas intenções e suspiros, e ais, e tu, e eu, em posições tais
que o melhor é esquecer, não lembrar mas esquecer simplesmente que não podemos
sequer augurar, sorrir, sorrir desta ironia que nos juntou sem juntar e contudo
durante tanto tempo logrou enganar estas mentes ávidas, carentes, iludidas,
sofridas, alienadas de si por vontade própria, agora cônscias de que contudo, todavia,
valeu a pena esta impossibilidade tornada agora uma realidade eterna,
inesquecível, perene…
tornada uma paixão, um amor
eterno, uma promessa.