De uma
amiga confinada de surpresa em Marrocos, onde desenvolvia a sua actividade
profissional, restauradora de arte, mester que a tem afastado de Portugal e a
tem levado a todos os países que valorizam e defendem preservando-o o seu
património cultural, artístico e arquitectónico, recebi esta manhã o testemunho de que
vos dou conta, brevemente trocado numa conversa no Messenger e somente para que possam comparar atitudes, acções e modos de
fazer a mesma coisa…
Aqui vai a conversa tal qual a trocámos esta manhã:
Ela -
Estamos a atravessar tempos muito complicados e não vejo que tão cedo se volte
à normalidade, se é que ela alguma vez virá a existir como a conhecíamos.
Aqui, (em
Marrocos, esclareço eu), as medidas tomadas foram e são extremamente duras. Ninguém se
pode deslocar para fora da área de residência, há barreiras policiais em todas
as ruas e avenidas para controlar o tráfego quase inexistente. Os transportes
públicos foram suprimidos, ficou um autocarro eléctrico para Menara e outro não
sei bem para onde. circulam muito poucos táxis, apenas os de 7 lugares porque
todos os outros foram proibidos. Foi imposto o uso obrigatório de máscaras,
tudo foi fechado à excepção de hipermercados, farmácias, bancos e estações de
correios. uma ou outra empresa de comunicações, algumas lojas de frutas e
legumes, mercearias e venda de pão estão semi abertas nos souks.
Temos um
documento para poder sair de casa e adquirir bens alimentares, medicamentos e
serviços médicos. Como estou dentro da Medina há em todas as portas e também
espalhados pelas ruas ajudantes de polícia, o equivalente aos moços de esquadra
espanhóis, para controlar os documentos e também o uso da máscara. As ruas são
fortemente policiadas, tanques militares fazem giro pelas grandes avenidas e é
visível por todo o lado a presença da guarda real.
Por aqui
não se brinca. Nos bancos e correios por exemplo, só entra uma pessoa de cada
vez, têm porteiro devidamente protegido para abrir e fechar a porta,
estabeleceram barreiras a 1,5m dos balcões e somos desinfectadas à entrada
assim como nos supermercados.
Nunca nos
faltou nada desde máscaras a luvas, gel ou álcool. Nas caixas multibanco
existem prateleiras com frascos de desinfectante e caixas de kleenex. As
distâncias são respeitadas e sinto que aí vivo no terceiro mundo. Nas famílias
marroquinas (se tivesse aqui a minha seria igual), só um membro de cada família
tem o documento/passe que permite ir à rua, os restantes não podem sair de
casa. Soube a semana passada que quando a pandemia começou em Itália o governo
daqui colocou todos os embaixadores e cônsules a negociar com outros países
materiais médicos, daí estarmos tão bem preparados.
Tenho
amigos tão confinados como eu, vamos falando pelo telefone, mas nada de
encontros.
O Rei
Maomé VI, foi ele que tomou as rédeas, antes de fechar fronteiras conversou com
o Marcelo, o Filipe VI, Macron e o presidente de Itália de quem não sei o nome,
a avisá-los, todos concordaram, quanto ao resto da Europa e restantes países
deve ter seguido uma informação idêntica via diplomática, suponho. Marrocos
sofreu pressões imensas e vergonhosas da União Europeia porque ao fecharem
fronteiras estavam a prejudicar a economia através das companhias aéreas e do
turismo, mas aqui mantiveram-se firmes.
Na passada
semana chegaram os grandes elogios de Bruxelas pelo comportamento exemplar tido
por Marrocos e ofereceram 420 milhões de euros para ajudar a combater a
epidemia, penso até que irão libertar mais dinheiro para o mesmo fim.
Sinto que
é o único país que tomou as medidas certas no tempo certo, e apesar de os
números graves irem subindo demonstram como os marroquinos fizeram um bom
trabalho. Para 30 milhões de habitantes há cerca de 2500 contagiados, o que os
deixa de cabeça perdida, imagine se estivessem como aí. o mal começou por dois
turistas vindos de Itália, mas uma vez detectado o vírus rapidamente dividiram as
possibilidades deste surto em 3 áreas e fases de cerco e combate. estamos neste
momento na terceira, isto há cerca de uma semana. Perdão foram dois marroquinos
vindos de Itália e não turistas (acho que viviam lá).
O maior
problema aqui é o fato de muitas famílias viverem em casas extremamente
pequenas onde se concentram pela força do confinamento várias gerações, avós,
pais, filhos ... Veremos como vai continuar. Meios não faltam, inclusivamente
todas as clínicas privadas mesmo francesas e espanholas abriram neste momento
as portas para o que for necessário gratuitamente, tão pouco custará algo ao
governo. Uma extrema solidariedade.
Não se
esconde nada, todos os dias o ministro da saúde dá uma conferência de imprensa
a dizer o que se passa, relatar as medidas já tomadas ou a implementar,
divulgar os números de contagiados, de recuperados, de mortos no dia e hora,
localização geográfica e hospitais onde se encontram. encontravam… Estou
fascinada mesmo sendo tudo por uma razão tão grave e triste.
Claro que
os dias custam muito a passar, não é o mesmo que estar em casa de todos os
dias. Tenho pouco ou nada com que me entreter porque quando estou aqui em
Marrocos não venho para ficar em casa. O que me vale é que trouxe 3/4 livros e
terão que chegar. costumo passar os dias na rua, como sempre fora e as noites
são para os amigos. Agora tudo mudou. Amanhã começa o Ramadã e as mesquitas não
abrirão.
Aqui dá-se
uma ordem por exemplo às 10h da manhã para ser cumprida até às 18h. e é
exemplarmente cumprida Só soube que iam cancelar eventos e encerrar os
restaurantes, cafés, escolas, mesquitas, cinemas, museus quando cheguei para
almoçar ao restaurante de um amigo por volta das 2h. Disseram-me para ir
comprar umas coisas de alimentação para ter em casa e lá fui nas calmas. Quando
dei por ela todo o restante comércio fechara por recriação própria, todas as
lojinhas do Souk fecharam, foi impressionante. Nem no supermercado se entra sem
controlo de temperatura. Tão pouco tive tempo para comprar mais livros,
material de pintura, enfim coisas de que necessito e gosto para ajudar a passar
o tempo. E assim vai a vida por aqui.
Vou ver os
números hoje e já te digo. Tinha isto escrito para te enviar há uns dias…
Neste
momento são 2900 contagiados,
143 mortos
350 e tal
recuperados.
Os números
têm vindo a aumentar também devido ao maior número de testes efectuados.
Provavelmente
haverá sítios onde possam faltar determinadas coisas, aqui ainda não me faltou
nada. A indústria têxtil está a fabricar máscaras, há também fabrico de
ventiladores ...
Olha, e já
agora qual a tua opinião quanto à origem do Covid ?
O grande problema
aqui é a escassez de médicos de reanimação e anestesistas, além de
evidentemente haver ainda pobreza entre a população residente em pequenos
lugares sem hospitais.
Eu - Olá
Mariazinha, ou Fátima, ou Beatriz, ou Leonor, ou Zézinha, voltei. Desculpa a demora e interrupção da conversa mas teve que
ser, e depois meteram-se outras coisas no meio…. Olha até às compras já fui 😛
Acerca do
aparecimento do vírus contam-se muitas coisas como sabes, vão desde teorias da
conspiração, que não desprezo pois nos laboratórios de guerra biológica um vírus
pode escapar-se, é um bichinho tão pequenino que dez milhões podiam dançar na
cabeça de um alfinete, por isso imagina quão difícil é segurá-los ou
confiná-los.
Pode ter
acontecido um descuido e ter havido uma fuga pois não creio que tenham metido o
vírus á solta propositadamente ou tenha aparecido de geração espontânea na
natureza, provavelmente brincavam a Deus e Deus lixou-os...
Aparentemente
trata-se de um simples vírus da gripe de uma nova estirpe portanto diferente,
mas cuja diferença faz toda a diferença, tal como Pizarro e Cortez fizeram
diferença para Maias e Aztecas…
De resto
Eu sei lá, tu fazes com cada pergunta, eu não sou Deus, ando lá perto mas ainda
não me foi dado foral.
Olha
Desolha
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Cuida-te
Bjs nossos
❤ ❤ ❤ ❤