Mau grado as comemorações diárias de
sucesso no Alentejo, logo rematadas com uma sessão onde o cante alentejano*
nunca falta, as Cassandras da realidade teimam de modo regular repetitivo e
invariável brindar-nos com estudos a que depressa fechamos os olhos pois não
aceitamos que venham beliscar-nos a condição de alentejanos, que como todos
sabemos é sinónimo de perfeição. Até eu, não sou perfeito mas sou alentejano, o
que é quase a mesma coisa.
Desta vez foi um tal Zaask em conúbio
com a Universidade Católica, que nem alentejanos são, gabando-se terem produzido
um estudo (links no fim do texto), estudo esse envolvendo todo o território
nacional e que, uma vez mais e como sempre coloca o Alentejo no fim da tabela,
como se não nos bastasse o Henrique Raposo e o seu rol de idiotices que ninguém
levou a sério. Para com esta parceria Zaask/Católica, a nossa atitude bem
poderá ser a mesmíssima, repúdio total.
Pois o estudo dessa tal Zaask /
Católica avaliou a competitividade regional a nível nacional e como se tivesse
descoberto a pólvora, colocou Évora na cauda dos distritos onde é mais difícil
abrir um novo negócio, uma nova actividade económica, Évora e o Alentejo, todo
ele, no fim da dita tabela territorial. Como se houvesse aí novidade ou nós
próprios não sentíssemos ou não soubéssemos, há bué de décadas que assim é. Não
veio portanto dar-nos novidade nenhuma, outros antes dela o tentaram e levaram
igualmente com o nosso desprezo, alheamento e indiferença. A calma nasceu aqui,
tem aqui pais e avós, tem aqui o seu lugar e o seu futuro e não será um artolas
qualquer a ensinar-nos o que é a vida e o que é viver.
Naturalmente as coisas não vão bem mas
a culpa não é nossa, e mais, duvido bastante de quem sistematicamente nos
coloca no fim de estudos e tabelas, e da desconfiança passei ao creio
firmemente existir uma animosidade lactente e fáctica contra o Alentejo e os
alentejanos, uma ou muitas se considerarmos duas ou três décadas, ou quatro. Muitas
conspirações se ergueram e erguem contra nós, o Alentejo, uma região que tem tudo
para ser rica e não a deixam. O poder central, o capitalismo, o liberalismo,
tudo e todos se têm unido para que ao poder local democrático não seja
permitido realizar as aspirações e a felicidade deste povo, trabalhador,
lutador, sofredor, genuíno, honesto, e crente nas enormes potencialidades do
seu destino.
Esta conspiração contra o Alentejo e
os alentejanos não é de hoje, nem de ontem, podemos mesmo situar o seu começo
no dia em que a Reforma Veiga Simão foi posta de lado. É que nem se dignaram
fazer com essa reforma o que fizeram com a ponte Salazar, que mantiveram a
funcionar mas lhe mudaram o nome para Ponte 25 de Abril. No caso do ensino foi
um verdadeiro regabofe, abriram-se universidades para todos, abertas, fechadas,
particulares, estatais, boas, más, a carvão, a gás, com turbo, ou super turbo,
e turbulentas, a maioria fechou, o número de estudantes com a crise minguou, e
as antevistas potencialidades da produção de doutores, engenheiros, escritores,
artistas e etc. para exportação ou para consumo interno voltaram a ser
quimeras, tornaram a ser de novo potencialidades abertas, futuros em
perspectiva, em aberto, perspectivas, potencialidades, essas coisas que, como
toda a gente sabe os alentejanos ambicionam e em que o Alentejo é riquíssimo. Num
ápice foi-se todo um mundo de potenciais oportunidades em perspectiva que há
séculos se nos abrem e que assim continuarão pelos séculos dos séculos, ámen.
Tal como fizemos com Henrique Raposo,
que abalou daqui com o rabinho entre as pernas depois de uma valente coça, para
aprender a não se meter connosco, também os municípios alentejanos deviam de
imediato contestar os resultados do tal estudo que a Zaask aponta, apresentando
publicamente argumentos convincentes, credíveis, válidos e validados, que
rebatessem as aleivosias que o tal estudo citado apresentou. Quem não se sente
não é filho de boa gente…
Na impossibilidade de o fazerem, isto
é de se demarcarem de tão vergonhosos resultados, então deveriam os municípios
visados despoletar eles mesmos um estudo isento, imparcial, que identificasse
as causas dos estrangulamentos e dos obstáculos a que a actividade económica,
industrial e mercantil está negativa e efectivamente sujeita no respectivo
concelho e tornassem esses resultados natural e igualmente públicos, já que a
Zaask, ou antes o seu estudo, aponta como uma das causas o pequeno ou
completamente inexistente apoio à actividade empresarial por parte das
administrações centrais e locais.
O mencionado estudo, de que também o
Diário do Sul fez capa (enganadora) no dia 21, alude a um alegado ou denominado
pessimismo dos empresários e eu direi que a ser assim será feito à boca
pequena, pois desde sempre aqui vivi e nunca os vi ou ouvi reclamar,
recalcitrar, admoestar ou ameaçar quem quer que seja, o que me leva a crer que
a economia local estará mal mas para os outros, não para eles, para os outros
sim, para os que fazem fila ou já perderam a fé nos Centros de Emprego, como se
coubesse a estes fazer mais que afixar nos seus placards os anúncios de emprego
que com desvelo recortam das páginas desse mesmo Diário do Sul.
O empobrecimento que o estudo menciona
é culpa nossa e só nossa, com CEE ou sem CEE, com euro ou sem euro, o país, a
região, as regiões, nunca produziram ou produzirão o suficiente. Um fraco rei
fará fracas as fortes gentes diz o refrão e com razão. É o nosso velho e eterno
problema de chefias, de vanguardas, de patrões, de empresários, de elites, é um
problema velho e que se tornará velhíssimo, um problema que sempre se agarrará
a muletas para deitar acima dos outros as culpas da sua inabilidade, de que são
exemplos os apelos de saída da CEE, ou da moeda única, como é o apelo à
Regionalização. Nada resultará, o nosso problema é só um, é um problema de
produção, produção, produção, o resto é areia deitada para os nossos olhos. Só
a produção gera empregos e riqueza, e o aumento da produção nada tem que ver
com CEE, com o euro ou com a Regionalização, tem a ver com atitudes,
mentalidades e estruturas de produção.
Claro que com o Alentejo a
despovoar-se, os salários em queda livre, os municípios quase sem excepção
atolados em dívidas ou pessoal, ou nas duas coisas, a verdade é que nem há
gentes nem dinheiro que possam valer a qualquer economia, a menos que façamos
como Malta e Chipre, vendamos isto aos russos ricos, aos chineses ou aos
árabes, ou aos indianos ou paquistaneses. A não ser assim isto, o Alentejo, não
terá solução. Teria tido se o caminho trilhado há vinte ou trinta anos tivesse
sido outro, agora é tarde, nem com vistos gold lá iremos. Emigrem…
Há que reconhecer todavia alguma coisa positiva ter vindo a ser feita pelo Alentejo, aqui, ali, acolá, de vez em quando surgem ideias e obras, porém são acontecimentos pontuais e de tímido volume, e nada de dimensão que nos leve a pensar e a reconhecer tratar-se de um movimento de fundo, mobilizador da execução de um grande plano ou estratégia, infelizmente termos que os classificar como iniciativas meritórias, sem duvida, mas claramente insuficientes. Para qualquer lado que nos viremos falta-nos massa crítica, e disso se encarregou ao longo de décadas a autofagia política vigente, acabou com o que havia e impediu novas afirmações ou poersonalidades de encontrarem o seu lugar...
Há que reconhecer todavia alguma coisa positiva ter vindo a ser feita pelo Alentejo, aqui, ali, acolá, de vez em quando surgem ideias e obras, porém são acontecimentos pontuais e de tímido volume, e nada de dimensão que nos leve a pensar e a reconhecer tratar-se de um movimento de fundo, mobilizador da execução de um grande plano ou estratégia, infelizmente termos que os classificar como iniciativas meritórias, sem duvida, mas claramente insuficientes. Para qualquer lado que nos viremos falta-nos massa crítica, e disso se encarregou ao longo de décadas a autofagia política vigente, acabou com o que havia e impediu novas afirmações ou poersonalidades de encontrarem o seu lugar...
Uma breve nota, apesar de ter tentado
há pequenos grandes problemas que os links não mostram, caso do universo em que
assenta a amostra ou amostragem do estudo, que publicamente a não apresenta, o
que não significa que não exista, estará junto da documentação original.
Observando as variáveis e condicionantes que nos são apresentadas e se
atendermos ao facto de quer a Zaask quer a Universidade Católica deterem um
historial de verdade nos seus estudos pelo qual poderemos balizar a nossa
apreciação, fácil se torna concluir que se compararmos o que observamos com a
realidade diariamente confrontada, depressa faremos um juízo sobre o que é dito
e forçosamente concluiremos não andar o referido estudo longe da realidade, antes
bem perto dela aliás, e infelizmente.