Não
tenho Francisco Pinto Balsemão* por parvo, aliás tenho-o por pessoa de bem, ao contrário de Durão Barroso
e de Guterres, que fugiram, ou de Passos Coelho, que amouxou subserviente. Ele
e outros, não foi só o Pedrito. Ao contrário deles como ia dizendo, Francisco
Pinto Balsemão provou em 1983 ser um grande homem, com H grande. Então como hoje, e
ante as exigências parvas e desmesuradas do FMI, perante as quais todos se
agacharam, ele mandou-os dar uma volta. Deve ter-lhes dito que ficassem com
isto, ou que tomassem conta desta piolheira, e certamente os mandou à fava ou.... mais não digo que isto é público …
Demitiu-se de PM, mostrou ter alguma dignidade, alguma vergonha e algum
patriotismo, coisa que não se viu em mais lado nenhum ou em alguém, nem na altura nem posteriormente…
Em
pouco mais de quarenta anos Francisco Pinto Balsemão conseguiu erguer um
império da comunicação e um semanário de referência, número um a nível
nacional e premiado varias vezes internacionalmente. Mas envelheceu, Francisco
Pinto Balsemão não o jornal, o Expresso envileceu. Bem sei que o Expresso não
era ele, eram os seus jornalistas, mas a Francisco Pinto Balsemão gabo a
capacidade de o ter mantido um órgão independente. Ao invés de se meter, ou
intrometer, teve a lucidez e a inteligência de deixar os seus jornalistas
fazerem o trabalho bem feito, competia-lhe a ele proporcionar, e
proporcionou-lhes condições para isso, e talvez ou quando muito ter-lhes-á
exigido padrões de qualidade e isenção.
Ora
é precisamente essa qualidade que o Expresso tem vindo a perder. Em primeiro
lugar façamos um desenho geral da coisa, do grupo, grupo que infelizmente se
vai bastando a si mesmo e não só aproveita as sinergias criadas mas as leva
mesmo ao extremo, suga-as. Ignoro quantos trabalhadores tem o grupo, mas qualquer
dia bastam-se a eles mesmos, produzem as noticias e os conteúdos televisivos,
consomem-nos e compram os seus próprios jornais ou revistas, lançam os foguetes
e correm a apanhar as canas.
Estou
ficando saturado de apanhar sempre com as mesmas caras, na SIC os comentadores
convidados são geralmente prata da casa, jornalistas da Visão, da Exame, do
Expresso, e neste as reportagens ou noticias quando saem no sábado já tinham
tido abordagem ou tratamento na quinta-feira no exemplar semanal da Visão, é de
supor que em relação às restantes revistas se verifique ou suceda a mesma
promiscuidade noticiosa.
O
Expresso ganhou vários prémios, em especial virados para o arranjo gráfico,
bonito, com florinhas e floreados, o que enquanto leitor menos me interessa num
semanário não dedicado à flora, mas tirarem das suas páginas a poesia quando
neste mesmo sábado 19 de Março do ano da desgraça de 2016 a página económica de Nicolau
Santos desapareceu ! É demais ! Sem o Nicolau passo, mal mas passo, mas a poesia
Senhor ?
Parece
envilecer entregue a yuppies o Expresso, vergado às teorias da rendibilidade
económica, mas cuidado, o diário económico morreu precisamente este fim-de-semana
apesar de nele pulularem economistas… Há algum tempo que eu vinha condescendendo
com Francisco Pinto Balsemão, ele diminuiu o tamanho dos caracteres na Visão
por duas ou três vezes e da última eu fiz uma conta, consultei o algoritmo
resultante, elaborei algumas projecções, ponderei custos e proveitos e desisti
da assinatura. Lia-a desde quando se chamava Opção, 1977. Estou seriamente
pensando proceder do mesmo modo em relação ao Expresso agora que a net me dá
tudo o que eu possa querer, e por vezes nem quero tudo pois temo que Deus me
faça a vontade.
Francisco
Pinto Balsemão substituiu jornalistas e eu calei-me, aguentei, Cáceres Monteiro
morreu, coitado, o outro parvalhão o Saraiva foi para o Sol e ainda bem,
Fernando Madrinha com pena minha reformou-se, João Pereira Coutinho desapareceu
ou abrasileirou-se, enfim, nomes que tinham moldado personalidades e caracteres
foram levando sumiço ou substituídos por gente nova, geralmente gente parva,
gente demasiado focada ou pretensamente entendida nos temas que aborda,
esquecendo que eu, leitor, pagante, quando abro o jornal não sou o Baião professor
nem o Baião historiador, nem o Baião economista, nem o Baião sociólogo, ou
geógrafo, ou capitalista, adventista, baptista, sou o Baião plural, esse molho
de brócolos de pluralismo que ao primeiro olhar deu com a ausência da poesia na
pagina do jornal do Nicolau, precisamente a poesia, essa coisa que tornava humano
a nossos olhos o Expresso e que o diferenciava do alfa e ómega de noticias que
podemos colher em qualquer lado.
Desta
vez Francisco Pinto Balsemão e a sua ganância e perseguição do lucro a qualquer
preço passaram das marcas, e se já andava farto de o ver abusar da prata da
casa desta vez digam-lhe que partiu a cantareira, eu gosto do humano, da
diversidade riqueza variedade e pluralidade porque sou humano e uno, porque sou
sobretudo uno no meu pluralismo, eu encerro em mim um país, uma cidade, uma
língua, todo um mundo.
A
Visão já era, ou já foi, mais precisamente no dia em que a qualidade do papel ficou abaixo de papel higiénico, e o Expresso põe-se a jeito, será no dia que correrem com a
enciclopédia ambulante que é a Ana Cristina Leonardo, ou a cosmopolita
Clara Ferreira Alves, ou com o super - coerente Miguel Sousa Tavares…
A
civilização desmorona-se, decididamente, não bastava o novel AO, já agora experimentem meter um robot…