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domingo, 20 de março de 2016

323 - CARTA ABERTA AO EXPRESSO ......................


Não tenho Francisco Pinto Balsemão* por parvo, aliás tenho-o por pessoa de bem, ao contrário de Durão Barroso e de Guterres, que fugiram, ou de Passos Coelho, que amouxou subserviente. Ele e outros, não foi só o Pedrito. Ao contrário deles como ia dizendo, Francisco Pinto Balsemão provou em 1983 ser um grande homem, com H grande. Então como hoje, e ante as exigências parvas e desmesuradas do FMI, perante as quais todos se agacharam, ele mandou-os dar uma volta. Deve ter-lhes dito que ficassem com isto, ou que tomassem conta desta piolheira, e certamente os mandou à fava ou.... mais não digo que isto é público … Demitiu-se de PM, mostrou ter alguma dignidade, alguma vergonha e algum patriotismo, coisa que não se viu em mais lado nenhum ou em alguém, nem na altura nem posteriormente…

Em pouco mais de quarenta anos Francisco Pinto Balsemão conseguiu erguer um império da comunicação e um semanário de referência, número um a nível nacional e premiado varias vezes internacionalmente. Mas envelheceu, Francisco Pinto Balsemão não o jornal, o Expresso envileceu. Bem sei que o Expresso não era ele, eram os seus jornalistas, mas a Francisco Pinto Balsemão gabo a capacidade de o ter mantido um órgão independente. Ao invés de se meter, ou intrometer, teve a lucidez e a inteligência de deixar os seus jornalistas fazerem o trabalho bem feito, competia-lhe a ele proporcionar, e proporcionou-lhes condições para isso, e talvez ou quando muito ter-lhes-á exigido padrões de qualidade e isenção.

Ora é precisamente essa qualidade que o Expresso tem vindo a perder. Em primeiro lugar façamos um desenho geral da coisa, do grupo, grupo que infelizmente se vai bastando a si mesmo e não só aproveita as sinergias criadas mas as leva mesmo ao extremo, suga-as. Ignoro quantos trabalhadores tem o grupo, mas qualquer dia bastam-se a eles mesmos, produzem as noticias e os conteúdos televisivos, consomem-nos e compram os seus próprios jornais ou revistas, lançam os foguetes e correm a apanhar as canas.

Estou ficando saturado de apanhar sempre com as mesmas caras, na SIC os comentadores convidados são geralmente prata da casa, jornalistas da Visão, da Exame, do Expresso, e neste as reportagens ou noticias quando saem no sábado já tinham tido abordagem ou tratamento na quinta-feira no exemplar semanal da Visão, é de supor que em relação às restantes revistas se verifique ou suceda a mesma promiscuidade noticiosa.

O Expresso ganhou vários prémios, em especial virados para o arranjo gráfico, bonito, com florinhas e floreados, o que enquanto leitor menos me interessa num semanário não dedicado à flora, mas tirarem das suas páginas a poesia quando neste mesmo sábado 19 de Março do ano da desgraça de 2016 a página económica de Nicolau Santos desapareceu ! É demais ! Sem o Nicolau passo, mal mas passo, mas a poesia Senhor ?

Parece envilecer entregue a yuppies o Expresso, vergado às teorias da rendibilidade económica, mas cuidado, o diário económico morreu precisamente este fim-de-semana apesar de nele pulularem economistas… Há algum tempo que eu vinha condescendendo com Francisco Pinto Balsemão, ele diminuiu o tamanho dos caracteres na Visão por duas ou três vezes e da última eu fiz uma conta, consultei o algoritmo resultante, elaborei algumas projecções, ponderei custos e proveitos e desisti da assinatura. Lia-a desde quando se chamava Opção, 1977. Estou seriamente pensando proceder do mesmo modo em relação ao Expresso agora que a net me dá tudo o que eu possa querer, e por vezes nem quero tudo pois temo que Deus me faça a vontade.

Francisco Pinto Balsemão substituiu jornalistas e eu calei-me, aguentei, Cáceres Monteiro morreu, coitado, o outro parvalhão o Saraiva foi para o Sol e ainda bem, Fernando Madrinha com pena minha reformou-se, João Pereira Coutinho desapareceu ou abrasileirou-se, enfim, nomes que tinham moldado personalidades e caracteres foram levando sumiço ou substituídos por gente nova, geralmente gente parva, gente demasiado focada ou pretensamente entendida nos temas que aborda, esquecendo que eu, leitor, pagante, quando abro o jornal não sou o Baião professor nem o Baião historiador, nem o Baião economista, nem o Baião sociólogo, ou geógrafo, ou capitalista, adventista, baptista, sou o Baião plural, esse molho de brócolos de pluralismo que ao primeiro olhar deu com a ausência da poesia na pagina do jornal do Nicolau, precisamente a poesia, essa coisa que tornava humano a nossos olhos o Expresso e que o diferenciava do alfa e ómega de noticias que podemos colher em qualquer lado.

Desta vez Francisco Pinto Balsemão e a sua ganância e perseguição do lucro a qualquer preço passaram das marcas, e se já andava farto de o ver abusar da prata da casa desta vez digam-lhe que partiu a cantareira, eu gosto do humano, da diversidade riqueza variedade e pluralidade porque sou humano e uno, porque sou sobretudo uno no meu pluralismo, eu encerro em mim um país, uma cidade, uma língua, todo um mundo.

A Visão já era, ou já foi, mais precisamente no dia em que a qualidade do papel ficou abaixo de papel higiénico, e o Expresso põe-se a jeito, será no dia que correrem com a enciclopédia ambulante que é a Ana Cristina Leonardo, ou a cosmopolita Clara Ferreira Alves, ou com o super - coerente Miguel Sousa Tavares… 

A civilização desmorona-se, decididamente, não bastava o novel AO, já agora experimentem meter um robot…