domingo, 25 de setembro de 2011

90 B - A ACELGA E CEBOLINHA .............................

                                                          Pablo Picasso "Mulher nua numa poltrona vermelha"



- Cebolinha você anda comendo acelga ?
- Ando sim Mónica !
  Celga, sulda, mulda, mim nã tel pleconceitos !

Naquele dia a anedota que acabei de vos contar foi a única coisa na mesa que em comum partilhámos, rindo todos do espirito e da maldade intrínseca à coisa, pois de resto foi essa mesma coisa que, nesse mesmo dia, para além das impressões com que cada um ficou dos demais e do extremo a que as expressões de outros chegaram, tendo sobrado e no mínimo sendo suficientes para que um mais entusiasta e mais dotado, o Anacleto, tivesse dado inicio a nova cena pintando no ar e em gestos esfusiantes um quadro abstracto.

- Ou psicadélico atirou o Angélico.

Isto por na sequência da cebolinha e da acelga, o Souto que é mouco e o Saúl que é surdo, terem dado origem a um debate acerca das virtualidades da cozinha vegetariana ou vegan, recordando as receitas para diarreias (1), para a prisão de ventre (2), para a obstipação (3) a que o outro contrapunha a alfarroba para os nervos e o raciocínio célere (4). Até o apóstata do Baptista veio à liça com os orégãos e os brócolos (5), ideais para a próstata e a bexiga. - E para os rins apressou-se a acrescentar o Martins.

Ultrapassada esta querela originada pela secção senil da mesa número quatro do nosso habitual café das terças, onde participo mas não me incluo, e se querem saber do que padeço aduzirei ser simplesmente de priapismo sazonal, aliás como toda a família por parte do lado materno. Dizia eu que ultrapassada esta fase da querela hipocondríaca, o pessoal se virou então para a discussão das impressões e expressões sentidas e usadas, o que por sua vez levou a conversa para o campo do impressionismo / expressionismo, na senda das achegas introduzidas pelo Anacleto e o Angélico, que naturalmente vieram desestabilizar as coisas e gerar a habitual confusão, não sem que anteriormente tivesse ficado assente tratar-se de matéria de alta subjectividade e especialmente volúvel, nas palavras do Amável que me deu uma cotovelada capaz de meter as costelas para dentro a um urso, só porque a Micas do Quiosque Primavera veio à rua em mini-saia desatar os fardos de jornais deixados encostados ao rodapé do balcão.

- Topa-me aquelas trancas, o peito e aquelas ancas de égua ó Baião !

E eu – Xi pá ! Olha que há gente ouvindo-te, não me comprometas porra, tem modos e maneiras caraças ou saltas dessa cadeira.

E enquanto o Amável olhava para a Micas e só via o pernão, o rabo e as mamas, eu era incapaz de ver o que a ele tanto exacerbava vendo na pessoa em causa uma mulher trabalhadora, sofrida, sensível, simpática, prestável, altruísta e amável como ninguém, enfim uma pessoa com todas as qualidades para fazer um homem feliz e a quem eu jamais pensaria deixar de comprar os jornais, revistas e por vezes uma ou outra pastilha elástica só para não ficar ali pasmado olhando tão bondosa quão prestimosa figura, sem pedir nada, sem fazer despesa, sem uma qualquer desculpa por muito esfarrapada que fosse.

Logo o Duarte, que é versado em arte e lobrigando a nossa conversa, sacando do telemóvel veio com o exemplo de “Mulher nua numa poltrona vermelha”, uma tela nitidamente expressionista e em que o artista, tal qual o Amável, pintara o que o sensibilizara, pintara o que vira, pintara o que fixara, para Picasso a mulher seria reduzida a mamas e pernas, o resto eram peanuts, mulher objecto alguém diria hoje.

- E com alguma razão, atirou o Semião. - Tenham paciência mas quanto a mim só foi exaltada a beleza, disse loquaz a Leonor Beleza. – Não me sinto minimamente diminuída por essa tela, vocês homens são um poço de contradições, ou elas são umas felosas e raquíticas, pau de virar tripas ou esqueléticas sem ponta por onde se lhes pegue ou são objecto, como disse e desdisse o Duarte e o Semião. Quanto a mim o pintor pintou a beleza, uma mulher nutrida, com formas, cheia, cheiinha, como na época eram preferidas, que mais querem vocês, um atestado da paróquia garantindo o cadastro limpo, o bom comportamento e idoneidade do pintor junto com a tela ? Vão-se catar.

- Porra pá ! Esse tal Pablo faz uns desenhos do caraças ! Impressionam mesmo ! Tou a gostar ! – Isto babou o alarve do João Jessé ao ver o quadro que o Casimiro lhe mostrara no télélé, enquanto lhe repetia o caracter expressionista da pintura, mais o confundindo o facto de estar aludindo a uma pintura que o impressionara.

- Toma lá nota ó JJ para ver se entendes desta vez, o expressionismo é a expressão do que o artista captou, ele viu uma mulher e não viu, talvez fosse um tipo novo esse Pablito e estivesse na força da idade quando pintou esse quadro e então, cheio de força na verga o que ele enxerga são só pernas, cu e mamas entendes ó paspalhão, vê lá se aprendes duma vez por todas ó meu c _ _ _ _ _ _ Esta última explicação deu-lha, quer dizer enfiou-lha na mona o Ramalho, que tinha sido prof. de artes visuais e era tu cá tu lá com Picasso, Kandinsky, Monet, e outros que tais. 

Van Gogh, “Noite estrelada sobre o Ródano”

- Mas afinal o que é essa coisa do impressionismo que tanta controvérsia e confusão gera, é que não entendo, não me entrou ainda no crânio. Gritou-nos o Epifânio num apelo, agitando-se na cadeira em que se mexia e remexia visivelmente transtornado e a quem o Amado explicou e pacientemente acalmou:

Olha lá ó Epifânio, isto é fácil de entender, e uma pintura não é uma epifania e, virando-se para a Maria Surumenho, sim essa mesmo, casada em terceiras núpcias com o Barrenho, tendo-lhe solicitado cortês e amavelmente que puxasse no télélé a imagem da “Noite estrelada sobre o Ródano” de Van Gogh, o que ela fez com inusitada destreza para a idade mas uma rapidez e sageza de quem é vezeira nestas coisas dos museus, das vitrinas e patine.

- Topa aí ó caramelo, Van Gogh olhou o céu numa noite limpa e viu estrelinhas, estrelas cadentes, galáxias, planetas e cometas, e que fez, não nos pintou o céu, pintou o que o impressionou, pintou estrelas brilhando, irradiando e correndo, movendo-se na abóboda celeste, girando e rodopiando, percebeste agora ou é preciso fazer-te um desenho ou mandar-te para o Jardim da Celeste ouvir o “Na Loja Do Mestre André” ? Van Gogh pintou a impressão que colheu topas ?

Van Gogh, “Noite Estrelada”

 Estavam eles embrenhados nesta frutuosa discussão quando apareceu a Etelvina, em surdina fez-me sinal para que atirasse os olhos para o saco que trazia, lá dentro duas garrafas de aguardentes caseiras, poejo e medronho que ela sabia eu apreciar sobremaneira sobretudo no inverno. Conseguimos escapulir-nos ainda antes da chegada dos Giões, a Ana e o Hugo, os Reis da Cãozoada como carinhosamente lhes chamamos, porém um perigo para qualquer garrafeira, quer um quer outro não aguentam o inverno … Não são menos confusos nem menos difíceis de aturar que os pintores, uns pintam expressões, outros impressões, uns riem, há-os sérios, naturalistas, ou futuristas, ou ainda surrealistas, isto quando não se abstraem de todo ou ficam apanhados da psique...

 Vincent Van Gogh "O Semeador"  

 (1) Bom para diarreias - Fazer uso de alimentos obstipantes: maçã sem casca, banana prata, caju, goiaba, lima, laranja-lima, banana da terra cozida, pêra; Dar preferência a vegetais cozidos como: cenoura, batata, chuchu, beterraba, vagem, batata-doce, inhame; Preferir pão torrado, biscoitos (água e sal); Ingerir leite desnatado ou produtos fermentados; Utilizar os queijos com baixo teor de gordura.
(2) e (3) Prisão de ventre e obstipação - A ingestão de fibras é fundamental para o bom funcionamento intestinal. As fibras são carboidratos não digeríveis, ou seja, elas passam por todo o trato gastrointestinal e chegam no intestino grosso. Bactérias adoram fibras. O intestino grosso é o local do nosso corpo onde as bactérias existem em maior abundância. Assim, quando as fibras chegam no intestino grosso, as bactérias começam a "trabalhar" nessas fibras, produzindo, dentre outras coisas, glicose.
(4) Nervos e raciocínio - A alfarroba é um alimento saudável e de elevado valor nutritivo. Contém vitamina B1- colaboradora para o bom funcionamento do sistema nervoso, músculos, coração e melhora na atitude mental e o raciocínio
(5) Orégãos e brócolos - Os brócolos são uma fonte de benefícios nutricionais muito importantes, normalmente não descritos numa tabela nutricional convencional. Sendo um membro da família das crucíferas (que engloba as couves, a couve-flor), os brócolos contêm uma grande quantidade do fitonutriente sulforane, que apresenta propriedades anti-cancerígenas. O sulforane promove a actividade das enzimas desintoxicantes do organismo, o que ajuda a eliminar mais rapidamente elementos potenciadores de cancro.

Vincent Van Gogh, "O Terraço do Café à Noite"

90 A ................... MAHINGA MAMI * .......................


Os últimos dois botes a tocar a praia. 

Tudo começou durante as compras de Natal ao queixar-me à Margarida, numa resposta que curiosamente era até concordante com a posição dela;

- Pois ! Por isso detesto o Natal, tudo que nem um louco comprando o que pode e o que não pode... Eu tenho lá paciência... Imagina tu que uma amiga até tentou engatar-me há quinze minutos ali atrás no corredor das águas e dos Ice Tea... Eu seria a prenda de Natal dela... Não fosse ela ter mau hálito e ainda a teria ouvido até ao fim mas detesto maus cheiros sobretudo desde que andei com um preto morto nas traseiras dum Unimog quase uma semana.

Nós nem dormiu, por uma semana toda inteira eles e os brancos terem dado reboliço na sanzala. Ele veio soldados e armas, e jipes, tudo em carradas, todos em festa, brancos e negros todos bebendo e enxotando nós para longe. Nem soba tinha mão nos festivaleiros e quando a xaranga calou-se nós todos desconfiados né ? Por isso hoje ter acordado cedinho p’ra juntinhos seguir eles, que estão todos se levantando no silêncio e se metendo ao caminho sem estrampido que acorde um babuíno e todo mundo sabe dormir ele cum olho fechado e outra orelha levantada. Nós entreolhámos entre a neblina e nós viu, soldados em barcos saindo do mar como feitiço e pisando no areia e abraçando os nossos sem pio, tudo ali pela calada por isso a Djá estava desconfiando-se e cuidando de nós não piar. Uns dias atrás Kima ameaçara e assustara ela lhe dizendo que se gaiato nom dispersar vai levar ai vai vai e nós saber que ele ser duro e bruto como búfalo em desvario. Tipo aquele grande e alto ali no meio do negros dando ordens é m’ermão Zé Rosa por isso cala gaiato e cuida de não dar estrilho agora ou m’ermão vai afogar a gente p’ra ficar calados. Quando gente for grande gente vai lutar como ele e honrar esta nossa terra pátria mãe e enxotar branco daqui p’ra longe.

No entretanto ondulávamos ao sabor das vagas mansas e apressávamo-nos a remar em direcção a terra antes que o sol rompesse e nos pudesse denunciar. Quatro pneumáticos por pequenos que sejam seriam uma mancha negra no mar azul e passível de ser vista a milhas de distância por isso havia que remar direitinhos ao grupo dos Unimogues que nos esperava na praia. Para trás era impossível voltar e as ordens tinham sido bem claras, submergir e zarpar mal largados os homens, um submarino ali se descoberto daria um escândalo de nível mundial.        
               
                               Rasto dos jipes  numa das extensas praias.

Vista do mar a costa da Namíbia era linda, praias douradas escondidas entre falésias negras, orla costeira com milhas e milhas a perder de vista ou penhascos caindo abruptamente sobre o mar. Não fosse o receio de sermos descobertos, os Unimogues poderiam atingir quase cinquenta milhas por hora, e galgaríamos imenso terreno em pouco tempo. Em vez das praias e do areal a prudência aconselhou contudo o caminho pela savana, o resguardo do capim alto e das árvores, ainda que poucas, por entre as quais a coluna de Unimogues serpenteava lentamente com paragens escassas, a fim de aferirmos a posição, calcularmos a distância ao alvo e os tempos de deslocação necessários para o alcançar. O objectivo era um acampamento militar a partir do qual os sul-africanos lançavam raids que massacravam toda a zona da fronteira sul. Os serviços secretos cubanos não tinham falhado, o acampamento, cuja acção mortífera se fazia sentir em todo o sul da província estava agora sinalizado, marcado. Contávamos com o efeito surpresa de uma operação relâmpago e o êxito da nossa missão estava pouco menos que exclusivamente dependente disso. 
              
                         O fantástico todo o terreno Unimog. 

O facto de sermos em menor número que aqueles contra quem nos esperávamos confrontar seria contrabalançado pelo efeito surpresa, pelo moderno equipamento e armamento indicado que carregávamos e pela superior preparação, treino e capacidade dos homens da nossa coluna, todos eles seleccionados entre os melhores, eles e elas. Não poderíamos dar-nos ao luxo de correr o menor risco ou a nossa retirada estaria comprometida. Todas as vozes daquele acampamento teriam que ser caladas, os hélis sabotados e o posto de rádio destruído sem que restasse a mínima dúvida. Um clique do rádio e teríamos os hélis do South African Army à perna e isso era o que todos nós mais temíamos.
           
                             Rasto dos jipes  noutra das extensas praias.

Após meia semana de penosa e sigilosa marcha passámos a avançar a coberto da noite, a pé e com a segurança de dois batedores duas horas à frente do grupo de guerrilha. Finalmente ao quinto dia ainda o sol não tinha despontado e o objectivo estava à nossa frente, nem escondido a coberto do mato, na orla do Calaári e fora da savana, inconcebível, todos naturalmente o buscariam e esperariam encontrar rodeado de mato. Optámos por não atacar ao amanhecer como seria normal, com toda a gente dormindo e as sentinelas cansadas e sonolentas. A nossa coluna estava exausta, homens e mulheres necessitavam de descanso, de recuperar forças, e as armas de limpeza, manutenção, pelo que unanimemente escolhemos atacar ao cair da noite e quando todos eles, obedecendo às ordens de recolher estivessem já deitados e adormecidos. As sentinelas seriam silenciadas à vez. A táctica surtiu efeito, o ataque foi desencadeado e uma hora depois gritávamos êxito. Fiz soar um assobio para rescaldo, concentração e reunião do pessoal.

Quando grande mim querer ser guerrilheiro, Djá e Cila Cumaio também quererem ser como meu grande ermão Zé Rosa. Família Rosa lutar há vinte anos sempre com seus melhores filhos e guerreiros na luta e na frente. Família ter pergaminho desde tempo do avô Rosa que ser dos primeiros a ter dado corpo nas balas e primeiro caindo na honra da Pátria mãe, avô Rosa se finou em confrontos de má memória lá no ano longe de 61. Depois da vez dele família sempre seguiu na sua coragem e exemplo se valorando e se adentrou sempre na luta portanto subiu alto na disciplina e na escala ascendente do coturno do partido. 
             
        Unimogues todo terreno utilizados nas guerras de Àfrica.

Uma vez reunidos contámo-nos e recontámo-nos, foi feita chamada e apreciação de danos, Micolo, Chicoti, Gourgel, Mutinde e Canga estavam feridos ainda que sem gravidade, elas tiveram menos sorte, Kussumua e Muandumba apresentavam ferimentos que exigiam mais atenção e inspiravam maiores cuidados. Dificuldade acrescida para chegarmos de novo aos Unimogues, escondidos na mata e a um dia de viagem a pé. Zé Rosa o grande não aparecia, dez dos mais novos foram colocados de vigilância e os restantes empenhados na busca apesar da noite de breu. O gigante negro foi encontrado passado algum tempo, pelo cenário defendeu cara a vida mas acabou esventrado, por baixo dele um oficial do SAA jazia morto, mas antes de morrer estripara-o. Dei ordens para que lhe metessem tudo no buxo e o corpo fosse levado numa padiola, alguém a improvisasse com dois paus e lona das tendas. Que aproveitassem parte da lona para cobrirem o corpo. Aquela baixa ditara uma vitória amarga, levar o corpo, que carregámos durante quase uma semana num jipe para entregar ao soba e à família a fim de lhe darem descanso à alma e fazerem o luto foi o mínimo que a decência, consciência e solidariedade exigiam...

Passado ano e meio, famintos, sedentos e cansados, a bem dizer fugidos duma outra operação que ao contrário desta correra mal** e em que perdêramos dois homens, todas as viaturas e muito material, embora tivéssemos safado o coiro, revisitámos a mesma aldeia donde Zé Rosa o grande era natural e fora enterrado. Notava-se ainda no ar a dor da sua perda, noite dentro e ignorando a bela voz que a cantava ouvi pela primeira vez cantar "Mahinga Mami" (Meu Sangue) uma velha canção de dor e de saudade. 

           Hoje passados cerca de 40 anos é cantada por Jorge Rosa* que a retirou do Youtube sendo cantada por ele somente em privado. Compreenderão porque não consigo ouvi-la sem que me cheguem as lágrimas aos olhos.

Atenção ! Submergir !


* Num vídeo cuja canção é aparentemente filmada e cantada nas praias e falésias onde há 40 anos um grupo de guerrilheiros desembarcara de madrugada a partir de um submarino para fazerem frente à África do Sul que nunca apresentou publicamente protestos pelo ataque de que o SAA foi alvo. Por seu lado o ataque embora com inegável e incomparável sucesso também nunca foi reivindicado por ninguém pelo que tecnicamente a história que acabou de ler nunca teve lugar. Uma das primeiras versões desta canção, cantada por Fernando Sofia Rosa pode ser ouvida neste link: - https://youtu.be/haN4r-zIqeo  A versão de Jorge Rosa, mais sentimental vi-a e ouvi-a há alguns dias no programa RTP África, foi essa a razão na origem do desenterrar destas saudosas e penosas recordações.  




Um perigoso desembarque.


90 - MANU CHAO – RÁDIO BEMBA .........................


Destinado a uma apreciação pessoal, elaborei em tempos um estudo sincrónico e transversal das canções e respectivas letras do CD Rádio Bemba, ( La Radiolina no original) do agrupamento musical de Manu Chao, artista que até aí conduzira o grupo Manu Negra e do qual se separa para uma aventura a solo.

O referido CD, lançado em 2008, expressa a realidade de um concerto ao vivo a que tive a casual oportunidade e felicidade de assistir na cidade de Paris, na já distante noite de uma quarta-feira, 29 de Agosto de 2007, numa sala por lá chamada de “ La Boule Noire “, A Bola Negra, por ocasião da comemoração dos vinte anos da estação de radiofónica “ OUI FM “, o grupo, claro, já devem ter reparado, é um dos meus favoritos.

1 - É visível em toda a extensão da obra uma defesa dos fracos e oprimidos, em especial daqueles que, partindo de um país em que as condições de vida são insuportáveis, buscam em outro, as possibilidades de realização que lhes são negadas na própria pátria de origem.

2 – Encontra-se detalhadamente identificado nestas canções o drama da emigração, em especial a magrebina, em direcção à Europa, mormente a Espanha e à grande capital que é Barcelona e a mexicana cujo fluxo é quase exclusivamente direccionado para as cidades dos EUA.

3 – A condição do migrante, o drama da migração e as condições de acolhimento que os aguardam estão nítida e inteligentemente retratadas na maioria das canções, bem como a violência para com eles observada.

4 – Essas condições estão expressas em relação igualmente aos Peruanos, Bolivianos, Nicaraguenses, Argelinos, Marroquinos, Guatmaltecos e Albanezes, não significando que todos os outros sejam excluídos por não estarem citados.

5 – As canções fazem da fronteira simultaneamente um lugar mítico a atingir mas também o lugar de pavor que efectivamente são e onde muitos encontram a morte. Caso da canção “ Clandestino “.

6 – Entre o México e os EUA a estrada pan-americana parece ter somente um sentido, vindo os “gringos”, todos considerados “coiotes”, mostrar em Tijuana, cidade mexicana fronteiriça, toda a depravação da sua sociedade e a busca de excessos e de uma liberdade que a sua sociedade de origem lhes não prodigaliza, que combatem e contestam, proíbem mesmo.

7 – Outra conclusão a que as canções nos levam é a de que existe um mar de diferença entre as sociedades ocidentais desenvolvidas e as de origem dos emigrantes quanto a níveis e qualidade de vida, sendo que nos países ricos a vida é entendida cheia de “facilidades”

8 – A denúncia das forças da ordem, ou de segurança, sempre do lado dos mais fortes, é elaborada através do relato das chacinas por elas praticadas um pouco por todo o mundo e do uso de armas, nitidamente ouvidas um pouco por todo o CD, quer sejam usadas pela esquerda ou pela direita.

9 – É feita a apologia do EZLN Exército Zapatista de Libertação Nacional, como exército de libertação, contrariado pelas democracias musculadas, capitalistas e subservientes a interesses poderosos que têm agrilhoado a América latina e o mundo. Idem na apologia feita á “ Rádio Bemba “, não por acaso o sonoro e inesquecível nome do álbum.

10 – Aos povos de onde os migrantes são oriundos é deixada como única possibilidade de sobrevivência o cultivo de plantas psico-trópicas que todavia são posteriormente consideradas ilegais. Manu Chao não defende as drogas mas o absurdo e contradição da situação.

11 – A inteligência das letras, o seu entrosamento entre e dentro de cada canção, demonstram uma forma elaborada de raciocínio e exposição, suficientes para guindar este CD a uma obra de culto e de cultura, cujas peculiaridades deveriam ser alvo de estudo sociológico mais aprofundado, dada a natureza da sua riqueza, quer musical, quer instrumental e profissional.
                    
12 – Comparativamente a outros trabalhos anteriores deste cantor, (era a alma dos Mano Negra), é de destacar uma grande evolução e maior riqueza instrumental, interpretativa bem como a nova “indumentária” com que velhos temas são tratados. Este álbum foi alvo de cuidado arranjo, quer a nível musical quer das letras das canções, o que faz de cada canção um hino de exaltação, cativante da nossa empatia, empatia que aliás o cantor e grupo conseguiram perfeitamente conquistar, não somente naquela mas em todas as em actuações, e mesmo unicamente através das audições gravadas a que vamos temos acesso.  
  

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domingo, 18 de setembro de 2011

89 - EU E O PAULO PAULINO...............................


 

Claro que estranhei !!!! Pois se nem conseguia fazer avançar o carro até ao alpendre que ele me tinha indicado !

De cinco em cinco metros via-me obrigado a parar, descer e retirar literalmente debaixo das rodas um pato ou um ganso. A capoeira passeava-se por inteiro pelo vasto quintal como se este fora o Paraíso.

Mas é melhor começar pelo princípio.

Dei com ele na Net por mero acaso. Há uns largos anos que o não via, aliás toda a nossa vida tinha sido assim até aí, entrecortada por períodos sem nos vermos, contrapondo com outros em que chegámos a trabalhar juntos.

Desta vez há uns bons três anos que não lhe punha a vista em cima e todos os contactos que dele guardara tinham ido abaixo.

Não tive dúvidas, era ele ! A foto estava maculada por nevoeiro de palco mas era ele, o tronco largo, os braços nus, o cabelo apanhado em rabo de cavalo, inusitada a foto e a postura, a viola, nem o sabia artista, mas era ele, impossível estar enganado, conhecia-lhe bem a faceta de homem dos sete ofícios e sete instrumentos, portanto nem o estranhei e logo ali lhe atirei um gentil comentário:

- Então meu mariconço ! meu cabrão ! Onde tem a menina andado que ninguém te põe a vista em cima meu panasca ?

Na volta do correio recebi mensagem comedida, educada mesmo, sobretudo tendo em conta a liberdade de linguagem por mim utilizada…

- Que deseja meu amigo ? Não estou a percebê-lo…

- Assim mesmo ! Embatuquei ! 

                Claro que vi de imediato que me enganara na pessoa  e me apressei a fazer o que devia ter feito antes de tudo, ver o perfil completo de quem tão delicada e educadamente punha em questão os inconcebíveis mimos que eu lhe havia prodigalizado.

Expliquei-me, pedi escusas e desculpas, justifiquei-me com a parecença, ele aceitou, ficámos amigos.

Encetei então a caça ao homem e jurei que não pararia enquanto não encontrasse o Paulo Paulino.

Encontrei ! Alguém me deu o número dele, liguei-lhe e fui de imediato convidado a visitar a sua nova quinta, que habitava sozinho e era demasiado grande para um homem só. E que ficasse para jantarmos.

No dia aprazado lá me apresentei na quinta do Paraíso para o jantar combinado. Abriu-me o portão automático e pelo intercomunicador instruiu-me para que deixasse o carro debaixo do alpendre no espaço livre deixado entre a mota e o carro dele. O problema começou aí, chegar ao alpendre atravessando um quintal pejado de bichos de capoeira que se passeavam ostensivamente frente a mim fazendo questão de frisar que o quintal era deles…

Logo me intrigaram os patos e os gansos, já que galos galinhas e coelhos não os igualavam naquele comportamento absurdo. Para percorrer cinquenta metros apeei-me cinquenta vezes afim de retirar debaixo do carro cinquenta patos ou gansos que pura e simplesmente ficavam deitados no chão, esperneando e grasnando, de patas para o ar e sem serem capazes de se endireitarem. Retirava-os, colocava-os em pé, longe de mim, mas volvidos dois ou três passos voltavam a cair na mesma posição intrigante da qual os acabara de safar. Estranho. Andava ali coisa.

Mal entrei na ampla cozinha do monte disparei:

- Que coisa esta pá ! Os teus bichos parecem estar com a camada !

O Paulo largou as amêijoas em lume brando, agarrou-se à barriga morrendo de riso e respondeu-me:

- Raio dos bichos ! Já se soltaram outra vez ! Sabes Baião, é que os patos e os gansos quando se soltam vão direitinhos a uns vasos de cannabis que nem sei quem ali deixou a enfeitar o perímetro da piscina e, até onde o pescoço lhes consente, comem toda a rama que podem !!! Não fica uma folha verde como hás-de ver !! Apanham cada pedrada que nem eu !!!

Estava explicado o mistério.

As entradas muito muito boas, as amêijoas melhores ainda, os queijos e as tapas mais que optimas, o vinho e a cerveja sublimes, os finalmentes de matar, e a tardada acabou já passava das duas da manhã e nós dois piores que gansos…

Valeu a pena.

Matámos mesmo as saudades !!!!!!!!!

hi hi hi hi hi hi hi hi
eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
grrrrrrrrrrrrrrrrrr
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah

uh uh uh uh uh uh uh uh uh uh uh uh uh uh

Foto; o Paulo Paulino inadvertidamente incomodado, foto ao vivo, salvo erro no Restaurante Snak Bar Concerto -  MOLHÒBICO – Portugal – Alentejo - Évora - 2010



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

88 - A FAUNA QUE SOMOS (estudo)


Tinha prometido dar-vos notícias de um estudo académico que, a título meramente pessoal, andava e ando desenvolvendo, mais para satisfazer a curiosidade que me anima do que a um qualquer dever, imposto ou não, entendei que estou  a referir-me à fauna que habita este espaço de virtuais virtualidades.

Esclareço-vos já que este estudo, não obedecendo embora a uma pesquisa exaustiva, pauta-se todavia pelos requisitos mínimos dos aspectos essenciais a um trabalho científico.

Não se trata portanto de uma opinião, bem ou mal fundamentada, muito menos de um trabalho que ao empirismo deva os seus predicados, antes da constatação nua e crua, deste universo que convosco partilho e onde, agora já o estou antevendo, arrisco e desbarato o meu prestígio, prestígio aliás impossibilitado do justo e merecido reconhecimento, ainda que tal prejuízo seja um problema meu, nem tão pouco como tal contabilizado, uma vez que é lançado na rubrica entretenimento, donde não espero quaisquer mais valias palpáveis.

Muito honestamente sou contudo obrigado a reconhecer que, os parâmetros alardeados pelos média quanto aos padrões de iliteracia existentes no país, foram total e plenamente confirmados por este meu singelo estudo.

Outro resultado igualmente animador para mim, se confrontado com as estatísticas oficiais, o que me dá um certo orgulho, visto o meu trabalho ver o seu rigor e validade científica comprovados por padrões tornados públicos oficial e largamente divulgados, é o que concerne ao analfabetismo funcional da generalidade dos “amigos” deste caricato universo, já que os resultados por mim obtidos os colocam umas escassas décimas acima dos números oficiais, o que, não sendo um valor considerável é contudo um valor a considerar, e um motivo para que não se sintam tão desmotivados e insistam apostando no uso destas novas tecnologias, coisa em que até o governo tanto desvelo coloca, motivo mais que suficiente para que todo este pessoal se sinta deveras orgulhoso do seu desempenho.

As mensagens, ou tráfego comunicacional, foram outro dos items analisados exaustivamente e, com garbo vos assevero que as impressões colhidas no dia a dia encontraram plena justificação, tendo sido registadas num mapa diário e comprovadas largamente, pelo que é sem a menor sombra de dúvida que vos asseguro a completa vacuidade da quase totalidade das mesmas e uma futilidade simplesmente assombrosa, atingindo índices incrivelmente inéditos !

Sei que o entusiasmo que transparece da minha linguagem terá que ser provado pela exactidão dos números, e espero em breve poder dar-vos uma panorâmica completa, com tabelas e registos anexos e relativos a todas as observações efectuadas.

Por enquanto entendam esta crónica como uma breve e ligeira apresentação, que não somente vos devia, como tinha prometido aos mais curiosos e atentos, quer do meu blogue quer da minha página pessoal.

Não podemos esquecer a imensa alegria que muita gente, a maior parte certamente, tirará destes resultados, lamento que nem todos concluam pela mesma satisfação, uma minoria haverá que não se reverá neles, lamento imenso mas a estatística e o rigor cientifico o exigem e com falsidades, incorrecções e manipulações não posso pactuar, a verdade acima de tudo e de quaisquer suspeitas, doa a quem doer.

Proximamente serão editados os fascículos posteriores deste trabalho, os quais se debruçarão sobre os mecanismos de intervenção e interacção de que podemos socorrer-nos aqui neste meio, e que vulgarmente conhecemos pela designação de novas tecnologias.

Para o fascículo final ficará a caracterização das tipologias humanas que designei por fauna deste universo, virtual, porém, a julgar pelas indicações e leituras já permitidas ou pelo menos antevistas, nada virtuoso, e que constituirão certamente a parte mais curiosa, interessante e esperada deste estudo.

Solicito-vos calma e paciência, pois o rigor factual e histórico não me perdoariam a mínima veleidade ou inexactidão.


Obrigado, até para a próxima…

domingo, 28 de agosto de 2011

87 - CONTIDO ...............................................................



Como, nem eu sei. Sei apenas que, contra todas as expectativas e contra tudo que são os meus hábitos e as atitudes repentinas que me caracterizam, contive-me.

A custo mas contive-me.

Assinalei o facto, lançando foguetes, dando ordens à banda para tocar e festejar, mas obriguei-me a ficar ali, contido, expectante, não fosse inadvertidamente tocar nalgum botão que disparasse coisa perigosa ou não pretendida. 

Por uma vez na vida terei que volver propositados sacrifícios, tanto mais se as coisas valerem a pena, mor das vezes, nem tanto pelo seu valor intrínseco, que nem estará em causa devido à incapacidade da sua avaliação ou estabelecimento dos seus limites, mas por uma questão de ética ou de princípios, coisa em que fui educado a rigor e jamais ousaria pensar sequer que tal alvitrar pudesse.

Ali fiquei portanto, quieto e calado, mudo e quedo, numa alegria interior que, por cinismo nunca repartiria e egoisticamente fruía. Por momentos pareceu-me o planeta ter parado, estacado, enquanto eu, contido, gozava, desfrutava essa sensação inenarrável que cambiou em remanso toda a visível inquietude do mundo. Até o sol me pareceu ter ficado por momentos suspenso no seu aparente movimento de translação, as aves quietas, pairando imóveis nos ares, enquanto eu, travando a fulgurante, impetuosa ou arrebatada e fogosa exuberância que permanentemente me anima, estoicamente subjugava o espartano que já era, que sempre fui.

Por uma vez na vida tomara uma decisão em três minutos, e por uma vez na vida me pareceu ir pagar cara essa decisão. Ainda hoje não sei se por ter sido demasiado breve e espontâneo na resposta, se por ter demorado muito mais que habitualmente demoro em qualquer aspecto da minha vida. Viver comigo é, por vezes ou quase sempre, como que viver com o cobrador de bilhetes de uma montanha russa. Muita gente o sabe e jamais lhes ouvi um queixume, os meus amigos mais próximos o sabem melhor que ninguém, sem que lhes tenha escutado um único lamento, comigo nunca há desânimo, ninguém tem a vida parada, mas por esta vez, três semanas de meditação me aconselhei e impus, porquanto sei quão pesadas analisadas e ponderadas vão ser as minhas atitudes e palavras.

Arriscar-me-ia apostar que à milésima, e submetidas no final a um escrutínio de coeficiente de ponderação cuja amplitude, ou margem de erro, que por certo adivinho ínfima. Tudo porque contra todas as expectativas e contra tudo que são os meus hábitos e os comportamentos repentinos que me caracterizam, me contive, a custo mas contive-me. Agora é já um outro tempo, é tempo de dar tempo ao tempo, de deixar assentar a poeira, de me remeter a mim mesmo a um período de resignação, de contenção, de renúncia, contemplação, abdicação, de sujeição a outros desígnios.

Com paciência me conformei já, e de antemão confirmo não ser o mesmo, agora privado da minha impetuosidade orgânica, da minha impulsividade natural, pelo que, durante nem sei quanto tempo, provavelmente nem me reconhecerão como eu, mas um outro, a quem a espontaneidade tenha sido roubada que, cabisbaixo, sonhador e saudoso, caminhe por uma vez como alguém designou, nem sei com que autoridade, de “caminhada com os pés assentes no chão”. Pois que pelo menos a alguém sirva esta atitude, esta imolação, a alguém cuja subtileza capte quanto sacrifício cabe neste meu tão pequeno quão grandioso gesto.

Durante dias, qual estilita, ou asceta, de olhos em baixo, observarei as condutas do mundo, as consciências do mundo, a elas me submeterei com parcimónia, examiná-las-ei sem a mínima severidade, e vos juro, tentarei pela segunda vez saber para que serviu e qual o proveito de quase cinquenta anos de vida exemplar. Mas igualmente vos garanto, que se o resultado a que chegar, concluir, como por uma vez aconteceu já, nada ter de proveitoso ou sequer valer a pena, erguer-me-ei do meu retiro, do meu recolhimento, e farei o que não fiz então, gritar-vos que NÃO !

NÃO VALE A PENA O QUE QUEREIS !

NÃO ACEITO A VOSSA VIDA !

A VOSSA UNILATERAL, FALSEADA E REDUTORA FORMA DE VIDA !

QUERO SER EU PORRA !

DEIXAI-ME SER EU ! DEIXAI-ME !

LARGAI-ME DA MÃO ! VOCÊS ESTÃO LOUCOS !

SOIS TODOS LOUCOS !

MAS EU AINDA NÃO !!!!!




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

86 - UMA SIMPLES PERGUNTA ? ...



Uma pergunta fácil tem por vezes uma resposta difícil, “Qual a importância de Vasco da Gama e de “Os Lusíadas” no Processo de Globalização”?
A pergunta foi-me atirada por um painel de gente, motivada e interessada neste fenómeno que nos rouba empregos e dificulta a vida, numa sessão ricamente participada de uma Associação Cultural e Recreativa de uma vila dos arredores de Évora, há bem pouco tempo elevada a cidade e que busca, com estes encontros culturais, suprir o que a economia lhe recusará sempre, seja por falta de dimensão ou massa critica.
Mas essa é outra questão que não desejo abordar aqui hoje, pois se repararem a minha preocupação do momento é portar-me bem, como se portam os homens cultos, e dar-vos de mim uma imagem que não conhecem, também ela verdadeira, tanto que nem vou botar aqui alarvices nem excessos desses a que me dou liberdade sempre que de coração nas mãos escrevo para o meu blogue.
Voltando ao discurso, diria que não foi uma pergunta fácil, muito exigiu que eu dissesse, muito ficou por dizer, como aliás ficará em todas as perguntas que a este título façamos, por muito bem organizado que tenhamos o discurso o saber e o pensamento.
Esta questão teve o desaforo de amigos chegados, alguns velhos alunos, hoje homens de ciência e, como eu, amantes da história e do saber, ainda que não tenhamos tido o apoio da “Comissão Para os Descobrimentos”.
Mesmo essa comissão, acredito, teria sido insuficiente para recordar tudo que aprendemos na escola sobre o tema, e que hoje é, enquanto fenómeno global, uma preocupação essencial de países pobres, sobretudo como Portugal, agora atirado para a periferia do centro de gravidade económico e europeu.
Em primeiro lugar, como terão sido os encontros de culturas e trocas de influências a esse nível durante os descobrimentos? 
Sabemos alguma coisa, delas nos falam “Os Lusíadas”, de Camões, “A Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, e um ou outro testemunho que foi ficando da nossa presença, um ou outro escrito de historiadores e sábios nossos de então, ainda que pouco acesso tenhamos ao que de importante em nós contou para os outros.
Não é despicienda esta posição, éramos os melhores na altura, demos mundos ao mundo. Como então e ainda hoje se diz, revolucionámos os saberes, levámos a dianteira na observação directa das cousas, directa e sistemáticamente, exercida sobre a natureza e seus fenómenos, sobrepusemo-nos ao empirismo vigente, subvertemos lentes e escolásticos, fizemos ciência...
Mitos mantidos durante séculos viram a sua gratuidade e inutilidade despedaçada pela realidade concreta das nossas observações e experimentações. Fizemos verdades.
Matámos os monstros falados em textos eruditos e velhos de séculos, que deixaram de o ser, demos a conhecer novos povos, novas raças e cores, novos costumes, novos animais e plantas, novidades inimagináveis, explicado fica o eco " ter Portugal dado novos mundos ao mundo "...
Esses novos mundos, ou o novel conhecimento de outros povos, raças, nações e sistemas, foi o princípio de uma nova era de que Portugal foi a vanguarda, mas do qual é hoje, tristemente, a periferia.
Ainda hoje é incalculável o preciosismo que demos ao surto do espírito europeu moderno. Foi nosso o maior contributo para a revolução cultural da Idade Moderna, já que o valor da experiência se impôs ao saber livresco estabelecido até então.
Quanto mais os nossos descobridores recorriam aos livros legados pelos antigos, mais os crassos erros de que enfermaram durante milénios eram por nós denunciados de forma evidente. Pela observação directa se chegou à verdade, a experiência tornou-se a matriz de todas as coisas; “Sabe-se mais agora num dia pelos portugueses que se sabia em cem anos pelos romanos”, o que destronou de um dia para o outro todo o saber das autoridades clássicas.
A cultura letrada, livresca, tornou-se prisioneira do cepticismo em toda a parte e em todas as latitudes era confrontada com as verdades que diariamente dávamos ao mundo. Ptolomeu, aquele que foi um dos maiores “geógrafos” da antiguidade clássica estava enganado, nós não somente redesenhámos as suas “cartas marítimas”, como evidenciámos e corrigimos outros erros seus, como o da inabitabilidade dos equadores, erro que permaneceu até que os portugueses o desmistificaram, e desmentiram, foram portanto os portugueses quem revelou à Europa a forma geográfica e correcta do mundo.
Como nos víamos por essa época uns aos outros? 
Nós europeus, desde a antiguidade, sempre víramos os Africanos como caricaturas grotescas e monstruosas, fruto do pouco conhecimento que sobre eles tínhamos.
Durante a Idade Média o africano e o ameríndio eram assimilados à noite, ao mundo das trevas, às forças do mal, ao diabo, com origem num misto de animal e vegetal.
Não esqueçamos que durante este período da história o negro era a oposição do branco, o branco a pureza, o maravilhoso, a luz, o que levou a que não tivesse havido dificuldades em associar a cor negra dos africanos e ameríndios ao diabo, o senhor das trevas.
Mais tarde os mesmos africanos e ameríndios são vistos ou representados como servidores domésticos, fruto da sua sina na época da escravatura, mas sempre como selvagens.
Veja-se a este propósito como estão caricaturados no lado direito do Claustro da Sé de Évora os personagens negros ali esculpidos.
E africanos e ameríndios, e outros, como nos viam eles a nós europeus?
Naturalmente como seus senhores, e ainda que a arte seja por natureza e regra subjectiva, obras há, gravadas ou esculpidas em bronze ou em dentes de marfim, dentes de elefante, em pau-preto, e outras cenas e gravuras ou relevos que nos dão essas imagens. Que imagens?
Imagens em que o europeu é identificado pelas roupas, pelos narizes pontiagudos, lábios finos, cabelos longos e lisos, barbas aparadas. Mais tarde, em plena época colonizadora, essa imagem irá reflectir a sátira social e a crítica, englobando o lado grotesco do colono e ou do cipaio, funcionário negro ou mulato, (este ultimo filho da rica miscigenação que promovemos) ao serviço do branco.
E desta forma, prenhe de empatia e vinhos alentejanos, acabámos a nossa noite cultural, rica de conteúdo e ensinamentos, em que me portei como um senhor, vejam só, provavelmente nunca me imaginariam assim, tão franco e directo sou noutras crónicas espetadas neste blogue.
Na realidade não fora o excesso de acolhimento a estragar a festa e tudo teria corrido pelo melhor. A minha participação foi muito aplaudida, considerada e comentada, não fora isso e não teria apanhado a bebedeira que apanhei, de caixão à cova, acordei com um rosto angelical erguendo-me a cabeça a tempo de não me afogar no meu próprio vomitado, com a mão segurei-me ao seu corpete, que de imediato se rompeu deixando antever quatro seios alvos e mais redondos que a bola com que jogou a selecção, e ainda não sei como, mas recuperei a tempo de um internamento a soro no hospital local, pois acabei de ver a primeira janela do dia sem ser em duplicado !
Estou pronto para outra mas, conferências, a partir de hoje só pagas, ficam já sabendo, bem caro me custou o último fato que caguei todo.
Ficou sem conserto.

85 - MULHER DE TRINTA ANOS * ...


Percorro o cais devagar, e enquanto mantenho um olho na moto à minha frente, pelo canto do outro espreito o Sado, ali ao lado. Longe vai o tempo em que nos obrigavam à sua travessia nos velhos ferrys até Tróia.

Jovem ainda eu deliciava-me então com essas travessias, cavalgando as ondas mansas e buscando reter no rosto os salpicos arrancados às águas pela afiada proa do barco. A travessia era coisa para menos de meia hora, um quinhão de fantasia em que, ancorado nas imagens dos navios amarrados às docas, deixava a imaginação deambular pelos mares das Caraíbas logrando ver um paquete, coisa rara nesse estuário. Júlio Verne despertava em mim à simples visão de um submarino se calhava vê-lo, dada a proximidade de uma base da nossa marinha na península. Como disse, tal bastava para que as “20.000 Léguas Submarinas” me acudissem ao espírito.

Grandes petroleiros descansavam nas docas secas da SeteNave, num sono reparador que se prolongava por meses, mas eram as “dragas” que, quando jovem, mais me impressionavam, quais “catrapilas” dos fundos aquáticos, raspando e cavando caminhos no imenso espelho de água, com os seus mecanismos, veros alcatruzes da “nora” de Neptuno, e para mim a maravilha das maravilhas. Olhando-as perdia-me no tempo, e, tal como as formigas humanas que nas docas secas rodeavam infatigavelmente os monstros marinhos em hibernação revitalizadora, também os seres humanos que nelas manobravam impressionavam os meus pensamentos de jovem imberbe e cru adolescente. Corpos de Adónis, despidos cintura acima, deixando reluzir ao sol o aço de músculos que invejava, troncos em V, bíceps e peitorais ameaçando abandonar aqueles corpos suados. Numa ocasião dei por mim pensando a minha sexualidade e a licitude da inveja que esses corpos me provocavam. Dúvidas de jovem, que, se desde cedo me assaltaram, também depressa as transpus. Outras ficariam anos esperando resposta, foi-me difícil a adolescência, é difícil a vida. Pior se a não interrogamos, questionamos, provocamos.

De modo que talvez pela inveja desses corpos cedo pendi para o culturismo. Recordo-me vagamente de um dia, na brincadeira, ter imaginado um homossexual naquela equipa de machos, a bordo de uma draga dançando nas águas do Sado. Coitado, pensei, e por aí me fiquei. Cada um no seu mundo, e o mundo das dragas e dragões é o das grandes obras, tendo o meu pensamento derivado para as épicas e heróicas aberturas do Canal de Suez e do Panamá, as dragas ainda meninas à época, ao pé de super-homens que morreram aos milhares para que as obras ficassem.

Regressei pelas complexas e eternas obras do Porto de Sines, um elefante branco em transformação, e deslumbrei-me mirando veleiros na marina, de onde derivei para uma draga acostada ao cais, onde Apolos se atarefavam manobrando pesadas cordas de amarração, suados, musculados, corpos batidos por leve brisa correndo apressada, agitando pavilhões de navios, flâmulas tremeluzentes, mantendo pairando no ar as gaivotas, como magia, e tornando o mundo menos real. 

Uma mulher de trinta anos passeava-se pelo cais, parecendo deixar-se conduzir pelo vento ébrio que de tempos a tempos lhe levantava a saia azul clara e pregueada. Ao fazê-lo descobria-lhe as pernas altas, esguias, bem desenhadas, coxas firmes, bronzeadas, contrastando com o negro rendilhado das calças. Cabelo louro, revolto, a que ela não ligava e mais acentuava a ideia de que a brisa a conduzia, fechada em pensamentos por adivinhar.

Uma horda ululante de dragões largou a draga, de mimos e vernáculo a rodearam mal se aproximou. Cães que ladraram porque lhes invadiram o território, mas cujos latidos se esfumaram nos seus sentidos à medida que ela, indiferente, se afastou. Não se deixou intimidar, altiva, e de sorriso nos lábios seguiu o seu caminho até desaparecer na intensa luminosidade do dia. Os cães calaram-se, voltaram ao cordame, deixaram de ladrar à lua, lua que a técnica conquistara, e onde o homem ensaiara os primeiros passos. Agora promete-se Marte para breve, não se sabe quanto teremos que esperar, mas teremos.

Para onde vamos? Porque será que o homem teima transpor difíceis obstáculos, tão longínquos, descurando a miséria que o rodeia, a pobreza, o analfabetismo... Mas essas parecem metas que não seduzem ninguém. Só queremos o que não temos, desgraças já temos quanto baste. Agora queremos Marte, Vénus, o Sol na eira e a chuva no nabal, estamos vendendo a alma a troco de missangas e lantejoulas.

A draga vai cavando devagar devagarinho, parando, partindo, até que descobriu, enterrado na lama dos fundos, o corpo daquele rapaz que se matou num domingo. Paro de pensar, paro para pensar, como vão longe estas recordações, como a vida depressa me fez homem, esquecer o culturismo, Adónis, gays, mulheres de trinta anos, homens perdidos, vento, gaivotas, docas, dragas e dragagens.

Só agora reparo como tenho andado ocupado com a vida, demasiado ocupado, tão ocupado que pensar, recordar, parece um sonho lindo, um luxo caro, mas não é ainda uma heresia pois não?
                    
                                Eu, 30 anos depois do passeio relatado...                  

* Nota: texto escrito e publicado no Diário do Sul no ano de 1998 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

10 HISTORIAS ALEATÓRIAS SEM CAUSALIDADE OU NEXO...............


 1 - Firmou as costas no encosto, baixou-se para forçar a patilha e fez deslizar lenta mas resolutamente o banco para trás. Debruçou-se sobre o manipulo das velocidades, repuxou-lhe com a violência das urgências incontidas o elástico do fato de treino beijando-o sofregamente, sorvendo-o…
  
2 - Mal a viu esbugalhar os olhos atirou o banco para trás recostou-se no assento, semicerrou as pálpebras, cruzou as mãos acima da nuca e não conseguiu evitar um sorriso largo, rasgado, que somente o sol, incidindo-lhe no rosto de forma obscena o distraíu da tão adivinhada e desejada fruição. Para se proteger deu uma sapatada na pala do sol com a ponta dos dedos e inspirou profundamente o cheiro a eucalipto que inundava a manhã…

3 - Quase oito da manhã, sentindo fome dirigiu o caminhar no sentido da vila, até lá ainda havia muito a palmilhar, o bosque parecia não ter fim, nem fim nem caça, até a espingarda lhe pesava já, mais meia hora e sairia dali, a mata de eucaliptos nunca lhe tomara mais que esse tempo e se a sede não atormentasse tudo estaria bem no reino da Dinamarca.
  
4 - Mas, olha esta, por esta não esperava eu. Reconheceu-a de imediato, já uma vez ou duas o atendera por causa de assuntos de licenças, de caçador e da arma, involuntariamente encolheu-se sob a protecção de uma ramada. Era demais, aquele descapotável também não lhe era estranho, algumas vezes se cruzara com ele na cidade. Sem saber porquê apontou cuidadosamente e disparou três ou quatro vezes se tanto, não mais porque o telemóvel acusando bateria fraca se foi abaixo desligando-se.

5 - Sim, era ela, Sonja Santos Madevski , e era dela também o apelido ainda que errado, o apelido teutónico prestava-se a erros, tivesse ela tantas notas de cem euros quantas as vezes que o apelido lhe aparecera errado e estaria podre de rica, mas para a frente que atrás vem gente, que lhe queriam ? Um envelope ? Anónimo ? Nunca lhe acontecera, nem era seu hábito, mas sendo a curiosidade maior que o gato, ou a gata, viesse ele, sim, devia ser para ela, nem havia na repartição mais ninguém com aquele nome, muito menos com aquele apelido, ainda que errado, e esta ? Mas, olha esta, por esta não esperava eu, pensou ao abrir no recanto e no recato da sua secretária o misterioso envelope.
Merda.
Mas que é isto ? 

6 - Encostou nele ternamente a face inflamada, soltou a patilha da coluna de direcção e levantou o volante ao máximo para que não lhe trilhasse a orelha. Viu-a desenhar um anel fechando o indicador contra o polegar, e, dizer que não se lembra de mais nada será mentir, lembra-se e bem, aliás duvido até que alguma vez esqueça, recostado, sorriu e distendeu-se, o que pensou não se lembra mesmo, aliás nesse momento nada mais interessava, nem saberá dizer quanto durou a eternidade, segundos ? Minutos ?
E ela, e ela e a manhã, tão frescas… Não aguentava mais, não aguentaria mais, repentinamente retesou-se, sentiu os dentes ranger, fecharem-se os olhos, a terra tremer… 
E, oh ! E esta ? Era por esta que eu esperava ! Já está, tão bom, tão bom mas acabara, tudo tem um fim, amanhã há mais, sorriu, adormeceria se pudesse, se adormeceria…

7 – Espero estejas atento e vigies, bem sei que tão cedo o risco é pequeno, quase nem há risco, mas nunca fiando, detestaria ser apanhada com a boca na botija, salvo seja, com as calças na mão, merda, saiu-me pior a emenda que o soneto, há dias em que mesmo que a gente não queira nos foge a boca para a verdade, gosto desta colónia, gosto do cheiro intenso do after shave pela manhã, ainda activo, não queria mas temos que despachar isto, não gosto da fazer estas coisas a correr mas detesto chegar atrasada ao serviço, tipo bombo da festa na repartição, temos que passar a encontrar-nos mais cedo, mais cedo ou mais tarde, e a trazer o meu jipe, este carro da mau jeito, aleijo sempre os rins. Adoro quando começas aos estremeções, não deixarei que fiques retesado ainda,
tens que sofrer mais um cadinho amorrrr
onde puseste a caixa dos lenços que não a encontro merda……

8 – Já vais ver cabra, há sempre complicações ? Aposto que se me vão acabar as complicações cabra de merda. Há mais marés que marinheiros.
Quando não são as fotografias são os documentos, ou as datas expiradas, e quando não são os documentos é qualquer outra merda, e quando não é outra merda qualquer são os exames psicológicos ou psicotécnicos ou o caralho, a carta, a arma, a licença, o BI, o cartão do cidadão, o NIF ou o número de contribuinte ou simplesmente a merda da puta que te pariu ?
Já vais ver cabra, verás minha grande cabra, vais ver que se me vão acabar as complicações, todos temos esqueletos no armário minha puta de merda, e o teu é bem grande minha putéfia, aposto que se acabaram as complicações grande cabrona, já vais ver cabra, depois me dirás cabra … o ultimo a rir será o que rirá melhor, a ver vamos…

9 – Isto dos carros é uma coisa tramada. Nunca os escolhemos pelas boas razões, nem pelas más, depende da opinião claro, do ponto de vista e do que esperamos ou queremos deles.
Este dá cabo dos rins, nem me permite distender-me se quiser tirar uma soneca, para alem de dar muito nas vistas claro, e nem é por ser ou não claro ou escuro este… O jipe é bom mas é claro, vê-se a milhas, ou a léguas, vê-se ao longe até de noite e só passaria despercebido no pólo norte e o meu outro carro é aerodinâmico demais e a superior inclinação do pára-brisas tira-lhe espaço por dentro, tudo que não seja ficar quietinho e sentadinho tem limitações.
Já não fazem carros como dantes, nem a tradição é como antigamente, veja-se como planeavam um carro, veja-se o espírito que presidiu à concepção do Renault Twingo em 1993… Vão ver à net, e como sei que a preguiça vos alimenta deixo aqui o link e algumas palavras tiradas desse site e desse projecto…

10 – Extractos verídicos extraídos de publicidade, divulgação, informação e conversas sobre o Renault Twingo  “ O Renault Twingo é um citadino de porte mini da Renault Surgido em 1993. Inicialmente foi concebido para apenas possuir um tipo de carroçaria uma versão e um motor. A carroçaria é de 3 portas tipo monovolume (foi este modelo que impulsionou outras marcas a fazerem citadinos tipo monovolume).
O nome Twingo é uma mistura de "Twist" e "Tango" versão inicial apenas possuía como opção o Ar Condicionado, o tecto de abrir panorâmico e estava disponível em várias cores claras e alegres.
Os seus bancos traseiros rebatiam e deitavam, o que juntamente com os da frente, tornavam-no uma cama. tornou-se objecto de culto em muitos países e deu lugar a vários clubes de fãs e entusiastas. Com um conceito verdadeiramente intemporal.
O grande trunfo do Twingo original é o facto de ser pequeno por fora, grande – enorme! - e modular por dentro. A possibilidade de optimizar ao máximo o volume do habitáculo fazia com que o Twingo, aquando do seu lançamento, fosse claramente o líder do seu segmento em altura, largura e no espaço para os joelhos, graças, ao seu inovador banco traseiro deslizante.
Os bancos do Twingo original podem ser completamente rebatidos e formar uma “cama” com dois lugares e esta era outra prestação única no panorama automóvel da altura. 
O Twingo é um modelo citadino da Renault, também conhecido como o carro de fazer filhos. (Uma revista espanhola elegeu-o como «o carro do amor»).  84/85 




http://youtu.be/z4H_NvhAAnA