Claro que estranhei !!!! Pois se nem conseguia fazer
avançar o carro até ao alpendre que ele me tinha indicado !
De cinco em cinco metros via-me
obrigado a parar, descer e retirar literalmente debaixo das rodas um pato ou um
ganso. A capoeira passeava-se por inteiro pelo vasto quintal como se este fora
o Paraíso.
Mas é melhor começar pelo
princípio.
Dei com ele na Net por mero
acaso. Há uns largos anos que o não via, aliás toda a nossa vida tinha sido
assim até aí, entrecortada por períodos sem nos vermos, contrapondo com outros
em que chegámos a trabalhar juntos.
Desta vez há uns bons três anos
que não lhe punha a vista em cima e todos os contactos que dele guardara tinham
ido abaixo.
Não tive dúvidas, era ele ! A
foto estava maculada por nevoeiro de palco mas era ele, o tronco largo, os
braços nus, o cabelo apanhado em rabo de cavalo, inusitada a foto e a postura,
a viola, nem o sabia artista, mas era ele, impossível estar enganado,
conhecia-lhe bem a faceta de homem dos sete ofícios e sete instrumentos,
portanto nem o estranhei e logo ali lhe atirei um gentil comentário:
- Então meu mariconço ! meu
cabrão ! Onde tem a menina andado que ninguém te põe a vista em cima meu
panasca ?
Na volta do correio recebi
mensagem comedida, educada mesmo, sobretudo tendo em conta a liberdade de
linguagem por mim utilizada…
- Que deseja meu amigo ? Não
estou a percebê-lo…
- Assim mesmo ! Embatuquei !
Claro que vi de imediato que me enganara na pessoa e me apressei a fazer o que devia ter feito antes de tudo, ver o perfil completo de quem tão delicada e educadamente punha em questão os inconcebíveis mimos que eu lhe havia prodigalizado.
Claro que vi de imediato que me enganara na pessoa e me apressei a fazer o que devia ter feito antes de tudo, ver o perfil completo de quem tão delicada e educadamente punha em questão os inconcebíveis mimos que eu lhe havia prodigalizado.
Expliquei-me, pedi escusas e
desculpas, justifiquei-me com a parecença, ele aceitou, ficámos amigos.
Encetei então a caça ao homem e
jurei que não pararia enquanto não encontrasse o Paulo Paulino.
Encontrei ! Alguém me deu o
número dele, liguei-lhe e fui de imediato convidado a visitar a sua nova
quinta, que habitava sozinho e era demasiado grande para um homem só. E que
ficasse para jantarmos.
No dia aprazado lá me apresentei
na quinta do Paraíso para o jantar combinado. Abriu-me o portão automático e
pelo intercomunicador instruiu-me para que deixasse o carro debaixo do alpendre
no espaço livre deixado entre a mota e o carro dele. O problema começou aí, chegar ao
alpendre atravessando um quintal pejado de bichos de capoeira que se passeavam
ostensivamente frente a mim fazendo questão de frisar que o quintal era deles…
Logo me intrigaram os patos e os
gansos, já que galos galinhas e coelhos não os igualavam naquele comportamento
absurdo. Para percorrer cinquenta metros
apeei-me cinquenta vezes afim de retirar debaixo do carro cinquenta patos ou
gansos que pura e simplesmente ficavam deitados no chão, esperneando e
grasnando, de patas para o ar e sem serem capazes de se endireitarem. Retirava-os, colocava-os em pé,
longe de mim, mas volvidos dois ou três passos voltavam a cair na mesma posição
intrigante da qual os acabara de safar. Estranho. Andava ali coisa.
Mal entrei na ampla cozinha do
monte disparei:
- Que coisa esta pá ! Os teus
bichos parecem estar com a camada !
O Paulo largou as amêijoas em
lume brando, agarrou-se à barriga morrendo de riso e respondeu-me:
- Raio dos bichos ! Já se
soltaram outra vez ! Sabes Baião, é que os patos e os gansos quando se soltam
vão direitinhos a uns vasos de cannabis que nem sei quem ali deixou a enfeitar
o perímetro da piscina e, até onde o pescoço lhes consente, comem toda a rama
que podem !!! Não fica uma folha verde como hás-de ver !! Apanham cada pedrada
que nem eu !!!
Estava explicado o mistério.
As entradas muito muito boas, as
amêijoas melhores ainda, os queijos e as tapas mais que optimas, o vinho e a
cerveja sublimes, os finalmentes de matar, e a tardada acabou já passava das duas da manhã e nós dois piores que gansos…
Valeu a pena.
Matámos mesmo as saudades
!!!!!!!!!
hi hi hi hi hi hi hi hi
eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
grrrrrrrrrrrrrrrrrr
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
uh uh uh uh uh uh uh uh uh uh uh
uh uh uh
Foto; o Paulo Paulino inadvertidamente incomodado, foto ao vivo, salvo erro no Restaurante Snak Bar Concerto - MOLHÒBICO – Portugal – Alentejo - Évora - 2010