Uma pergunta fácil tem por vezes uma resposta difícil, “Qual a importância de Vasco da Gama e de “Os Lusíadas” no Processo de Globalização”?
A pergunta foi-me atirada por um painel de gente, motivada e interessada neste fenómeno que nos rouba empregos e dificulta a vida, numa sessão ricamente participada de uma Associação Cultural e Recreativa de uma vila dos arredores de Évora, há bem pouco tempo elevada a cidade e que busca, com estes encontros culturais, suprir o que a economia lhe recusará sempre, seja por falta de dimensão ou massa critica.
Mas essa é outra questão que não desejo abordar aqui hoje, pois se repararem a minha preocupação do momento é portar-me bem, como se portam os homens cultos, e dar-vos de mim uma imagem que não conhecem, também ela verdadeira, tanto que nem vou botar aqui alarvices nem excessos desses a que me dou liberdade sempre que de coração nas mãos escrevo para o meu blogue.
Voltando ao discurso, diria que não foi uma pergunta fácil, muito exigiu que eu dissesse, muito ficou por dizer, como aliás ficará em todas as perguntas que a este título façamos, por muito bem organizado que tenhamos o discurso o saber e o pensamento.
Esta questão teve o desaforo de amigos chegados, alguns velhos alunos, hoje homens de ciência e, como eu, amantes da história e do saber, ainda que não tenhamos tido o apoio da “Comissão Para os Descobrimentos”.
Mesmo essa comissão, acredito, teria sido insuficiente para recordar tudo que aprendemos na escola sobre o tema, e que hoje é, enquanto fenómeno global, uma preocupação essencial de países pobres, sobretudo como Portugal, agora atirado para a periferia do centro de gravidade económico e europeu.
Em primeiro lugar, como terão sido os encontros de culturas e trocas de influências a esse nível durante os descobrimentos?
Sabemos alguma coisa, delas nos falam “Os Lusíadas”, de Camões, “A Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, e um ou outro testemunho que foi ficando da nossa presença, um ou outro escrito de historiadores e sábios nossos de então, ainda que pouco acesso tenhamos ao que de importante em nós contou para os outros.
Sabemos alguma coisa, delas nos falam “Os Lusíadas”, de Camões, “A Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, e um ou outro testemunho que foi ficando da nossa presença, um ou outro escrito de historiadores e sábios nossos de então, ainda que pouco acesso tenhamos ao que de importante em nós contou para os outros.
Não é despicienda esta posição, éramos os melhores na altura, demos mundos ao mundo. Como então e ainda hoje se diz, revolucionámos os saberes, levámos a dianteira na observação directa das cousas, directa e sistemáticamente, exercida sobre a natureza e seus fenómenos, sobrepusemo-nos ao empirismo vigente, subvertemos lentes e escolásticos, fizemos ciência...
Mitos mantidos durante séculos viram a sua gratuidade e inutilidade despedaçada pela realidade concreta das nossas observações e experimentações. Fizemos verdades.
Matámos os monstros falados em textos eruditos e velhos de séculos, que deixaram de o ser, demos a conhecer novos povos, novas raças e cores, novos costumes, novos animais e plantas, novidades inimagináveis, explicado fica o eco " ter Portugal dado novos mundos ao mundo "...
Esses novos mundos, ou o novel conhecimento de outros povos, raças, nações e sistemas, foi o princípio de uma nova era de que Portugal foi a vanguarda, mas do qual é hoje, tristemente, a periferia.
Ainda hoje é incalculável o preciosismo que demos ao surto do espírito europeu moderno. Foi nosso o maior contributo para a revolução cultural da Idade Moderna, já que o valor da experiência se impôs ao saber livresco estabelecido até então.
Quanto mais os nossos descobridores recorriam aos livros legados pelos antigos, mais os crassos erros de que enfermaram durante milénios eram por nós denunciados de forma evidente. Pela observação directa se chegou à verdade, a experiência tornou-se a matriz de todas as coisas; “Sabe-se mais agora num dia pelos portugueses que se sabia em cem anos pelos romanos”, o que destronou de um dia para o outro todo o saber das autoridades clássicas.
A cultura letrada, livresca, tornou-se prisioneira do cepticismo em toda a parte e em todas as latitudes era confrontada com as verdades que diariamente dávamos ao mundo. Ptolomeu, aquele que foi um dos maiores “geógrafos” da antiguidade clássica estava enganado, nós não somente redesenhámos as suas “cartas marítimas”, como evidenciámos e corrigimos outros erros seus, como o da inabitabilidade dos equadores, erro que permaneceu até que os portugueses o desmistificaram, e desmentiram, foram portanto os portugueses quem revelou à Europa a forma geográfica e correcta do mundo.
Como nos víamos por essa época uns aos outros?
Nós europeus, desde a antiguidade, sempre víramos os Africanos como caricaturas grotescas e monstruosas, fruto do pouco conhecimento que sobre eles tínhamos.
Nós europeus, desde a antiguidade, sempre víramos os Africanos como caricaturas grotescas e monstruosas, fruto do pouco conhecimento que sobre eles tínhamos.
Durante a Idade Média o africano e o ameríndio eram assimilados à noite, ao mundo das trevas, às forças do mal, ao diabo, com origem num misto de animal e vegetal.
Não esqueçamos que durante este período da história o negro era a oposição do branco, o branco a pureza, o maravilhoso, a luz, o que levou a que não tivesse havido dificuldades em associar a cor negra dos africanos e ameríndios ao diabo, o senhor das trevas.
Mais tarde os mesmos africanos e ameríndios são vistos ou representados como servidores domésticos, fruto da sua sina na época da escravatura, mas sempre como selvagens.
Veja-se a este propósito como estão caricaturados no lado direito do Claustro da Sé de Évora os personagens negros ali esculpidos.
E africanos e ameríndios, e outros, como nos viam eles a nós europeus?
Naturalmente como seus senhores, e ainda que a arte seja por natureza e regra subjectiva, obras há, gravadas ou esculpidas em bronze ou em dentes de marfim, dentes de elefante, em pau-preto, e outras cenas e gravuras ou relevos que nos dão essas imagens. Que imagens?
Imagens em que o europeu é identificado pelas roupas, pelos narizes pontiagudos, lábios finos, cabelos longos e lisos, barbas aparadas. Mais tarde, em plena época colonizadora, essa imagem irá reflectir a sátira social e a crítica, englobando o lado grotesco do colono e ou do cipaio, funcionário negro ou mulato, (este ultimo filho da rica miscigenação que promovemos) ao serviço do branco.
E desta forma, prenhe de empatia e vinhos alentejanos, acabámos a nossa noite cultural, rica de conteúdo e ensinamentos, em que me portei como um senhor, vejam só, provavelmente nunca me imaginariam assim, tão franco e directo sou noutras crónicas espetadas neste blogue.
Na realidade não fora o excesso de acolhimento a estragar a festa e tudo teria corrido pelo melhor. A minha participação foi muito aplaudida, considerada e comentada, não fora isso e não teria apanhado a bebedeira que apanhei, de caixão à cova, acordei com um rosto angelical erguendo-me a cabeça a tempo de não me afogar no meu próprio vomitado, com a mão segurei-me ao seu corpete, que de imediato se rompeu deixando antever quatro seios alvos e mais redondos que a bola com que jogou a selecção, e ainda não sei como, mas recuperei a tempo de um internamento a soro no hospital local, pois acabei de ver a primeira janela do dia sem ser em duplicado !
Estou pronto para outra mas, conferências, a partir de hoje só pagas, ficam já sabendo, bem caro me custou o último fato que caguei todo.
Ficou sem conserto.