2 - Mal a viu esbugalhar os olhos atirou o banco
para trás recostou-se no assento, semicerrou as pálpebras, cruzou as mãos
acima da nuca e não conseguiu evitar um sorriso largo, rasgado, que somente o
sol, incidindo-lhe no rosto de forma obscena o distraíu da tão adivinhada e
desejada fruição. Para se proteger deu uma sapatada na pala do sol com a ponta
dos dedos e inspirou profundamente o cheiro a eucalipto que inundava a manhã…
3 - Quase oito da manhã, sentindo fome dirigiu o
caminhar no sentido da vila, até lá ainda havia muito a palmilhar, o bosque
parecia não ter fim, nem fim nem caça, até a espingarda lhe pesava já, mais
meia hora e sairia dali, a mata de eucaliptos nunca lhe tomara mais que esse
tempo e se a sede não atormentasse tudo estaria bem no reino da Dinamarca.
4 - Mas, olha esta, por esta não esperava eu.
Reconheceu-a de imediato, já uma vez ou duas o atendera por causa de assuntos
de licenças, de caçador e da arma, involuntariamente encolheu-se sob a
protecção de uma ramada. Era demais, aquele descapotável também não lhe era
estranho, algumas vezes se cruzara com ele na cidade. Sem saber porquê apontou
cuidadosamente e disparou três ou quatro vezes se tanto, não mais porque o
telemóvel acusando bateria fraca se foi abaixo desligando-se.
5 - Sim, era ela, Sonja Santos Madevski , e era dela
também o apelido ainda que errado, o apelido teutónico prestava-se a erros,
tivesse ela tantas notas de cem euros quantas as vezes que o apelido lhe
aparecera errado e estaria podre de rica, mas para a frente que atrás vem
gente, que lhe queriam ? Um envelope ? Anónimo ? Nunca lhe acontecera, nem era
seu hábito, mas sendo a curiosidade maior que o gato, ou a gata, viesse ele,
sim, devia ser para ela, nem havia na repartição mais ninguém com aquele nome,
muito menos com aquele apelido, ainda que errado, e esta ? Mas, olha esta, por
esta não esperava eu, pensou ao abrir no recanto e no recato da sua secretária
o misterioso envelope.
Merda.
Mas que é isto ?
6 - Encostou nele ternamente a face inflamada, soltou
a patilha da coluna de direcção e levantou o volante ao máximo para que não lhe
trilhasse a orelha. Viu-a desenhar um anel fechando o indicador contra o
polegar, e, dizer que não se lembra de mais nada será mentir, lembra-se e bem,
aliás duvido até que alguma vez esqueça, recostado, sorriu e distendeu-se, o
que pensou não se lembra mesmo, aliás nesse momento nada mais interessava, nem
saberá dizer quanto durou a eternidade, segundos ? Minutos ?
E ela, e ela e a manhã, tão frescas… Não aguentava
mais, não aguentaria mais, repentinamente retesou-se, sentiu os dentes ranger,
fecharem-se os olhos, a terra tremer…
E, oh ! E esta ? Era por esta que eu esperava ! Já
está, tão bom, tão bom mas acabara, tudo tem um fim, amanhã há mais, sorriu,
adormeceria se pudesse, se adormeceria…
7 – Espero estejas atento e vigies, bem sei que tão
cedo o risco é pequeno, quase nem há risco, mas nunca fiando, detestaria ser
apanhada com a boca na botija, salvo seja, com as calças na mão, merda, saiu-me
pior a emenda que o soneto, há dias em que mesmo que a gente não queira nos
foge a boca para a verdade, gosto desta colónia, gosto do cheiro intenso do
after shave pela manhã, ainda activo, não queria mas temos que despachar isto,
não gosto da fazer estas coisas a correr mas detesto chegar atrasada ao
serviço, tipo bombo da festa na repartição, temos que passar a encontrar-nos
mais cedo, mais cedo ou mais tarde, e a trazer o meu jipe, este carro da mau
jeito, aleijo sempre os rins. Adoro quando começas aos estremeções, não
deixarei que fiques retesado ainda,
tens que sofrer mais um cadinho amorrrr
onde puseste a caixa dos lenços que não a encontro
merda……
8 – Já vais ver cabra, há sempre complicações ?
Aposto que se me vão acabar as complicações cabra de merda. Há mais marés que
marinheiros.
Quando não são as fotografias são os documentos, ou
as datas expiradas, e quando não são os documentos é qualquer outra merda, e
quando não é outra merda qualquer são os exames psicológicos ou psicotécnicos
ou o caralho, a carta, a arma, a licença, o BI, o cartão do cidadão, o NIF ou o
número de contribuinte ou simplesmente a merda da puta que te pariu ?
Já vais ver cabra, verás minha grande cabra, vais ver
que se me vão acabar as complicações, todos temos esqueletos no armário minha
puta de merda, e o teu é bem grande minha putéfia, aposto que se acabaram as
complicações grande cabrona, já vais ver cabra, depois me dirás cabra … o
ultimo a rir será o que rirá melhor, a ver vamos…
9 – Isto dos carros é uma coisa tramada. Nunca os
escolhemos pelas boas razões, nem pelas más, depende da opinião claro, do ponto
de vista e do que esperamos ou queremos deles.
Este dá cabo dos rins, nem me permite distender-me se
quiser tirar uma soneca, para alem de dar muito nas vistas claro, e nem é por
ser ou não claro ou escuro este… O jipe é bom mas é claro, vê-se a milhas, ou a
léguas, vê-se ao longe até de noite e só passaria despercebido no pólo norte e
o meu outro carro é aerodinâmico demais e a superior inclinação do pára-brisas
tira-lhe espaço por dentro, tudo que não seja ficar quietinho e sentadinho tem
limitações.
Já não fazem carros como dantes, nem a tradição é
como antigamente, veja-se como planeavam um carro, veja-se o espírito que
presidiu à concepção do Renault Twingo em 1993… Vão ver à net, e como sei que a
preguiça vos alimenta deixo aqui o link e algumas palavras tiradas desse site e
desse projecto…
10 – Extractos verídicos extraídos de publicidade,
divulgação, informação e conversas sobre o Renault Twingo…
“ O Renault Twingo é um citadino de
porte mini da Renault Surgido em 1993. Inicialmente foi concebido para apenas
possuir um tipo de carroçaria uma versão e um motor. A carroçaria é de 3 portas
tipo monovolume (foi este modelo que impulsionou outras marcas a fazerem
citadinos tipo monovolume).
O nome Twingo é uma mistura de "Twist" e "Tango"
versão inicial apenas possuía como opção o Ar Condicionado, o tecto de abrir
panorâmico e estava disponível em várias cores claras e alegres.
Os seus bancos traseiros rebatiam e deitavam, o que juntamente com os da
frente, tornavam-no uma cama. tornou-se objecto de culto em muitos países e deu
lugar a vários clubes de fãs e entusiastas. Com um conceito verdadeiramente
intemporal.
O grande trunfo do Twingo original é o facto de ser pequeno por fora,
grande – enorme! - e modular por dentro. A possibilidade de optimizar ao máximo
o volume do habitáculo fazia com que o Twingo, aquando do seu lançamento, fosse
claramente o líder do seu segmento em altura, largura e no espaço para os
joelhos, graças, ao seu inovador banco traseiro deslizante.
Os bancos do Twingo original podem ser completamente rebatidos e formar
uma “cama” com dois lugares e esta era outra prestação única no panorama
automóvel da altura.
O Twingo é um modelo citadino da Renault, também conhecido como o carro
de fazer filhos. (Uma revista espanhola elegeu-o como
«o carro do amor»). 84/85
http://youtu.be/z4H_NvhAAnA