Caríssimos amigos, desejo em primo testemunho expressar
quanto me é grato encontrar-me esta noite entre vós, e o prazer que me é
concedido pelo facto de no vosso seio ter sido acolhido.
É evidente que a minha presença aqui tem que ver
exclusivamente convosco, sois vós o motivo dela, é para vós que me dirijo,
humildemente, em atitude de gratidão, de reconhecimento pelo que hoje sou, pelo
homem em que me tornei, pelo ser humano em que me haveis transformado, pela
felicidade que me haveis trazido.
Recordo, quando ainda pequeno, o deslumbramento que em mim haveis provocado, primeiro com as imagens, posteriormente com a lúdica abstracção da
criação delas, partindo de linhas simples que aprendera a decifrar.
É grande como podeis constatar o conforto que sempre, ou
desde cedo me haveis prodigalizado, as aventuras proporcionadas, os desafios em
que me haveis estimulado a participar, as metas que a cada dia haveis colocado à minha frente para atingir, o saudável e pausado crescimento dessa forma
obtido, a maturidade calma e segura cuja culpa a todos vós atribuo e agradeço.
De vós me alimentei a vida inteira, em vós encontrei a fonte
da eterna juventude e o pote recheado de ouro da sabedoria. Foi através do
arco-íris nele enraizado que, saciado de vós, ousei imitar-vos, pois já me não
bastava nutrir-me do que sois, uma vez a necessidade satisfeita exigia que me
transformasse, que fosse mais um entre vós, que sempre me haveis rodeado do
melhor que sinceridade, amor e amizade podem facultar e, em cujo seio me
acolhi, cresci e debutei ainda bem jovem.
Parte de mim está hoje aqui convosco, a outra parte sou.
Muito de mim cresceu à vossa imagem e semelhança, o resto de
mim tornou-se naturalmente ou metamorfoseou-se sacramente no que sois, no que
somos.
É portanto chegada a hora de reconhecer quão grato me sinto e
sou, porque entre vós, porque como vós, partilhando uma avidez, uma ânsia de, a
vosso exemplo, outros contaminar ou influenciar, como comigo haveis
diligenciado, e único modo de vos compensar ou perante vós quitar tamanha
divida e gratidão.
Modesto, tento imitar-vos, singelo, ouso timidamente entre
vós estar e permanecer. E nem me conheço mais grata ou maior ambição que esta de me
elevar pelo valor e mérito que convosco aprendi a cultivar, a par da humildade
e da simplicidade que somente o saber ensina e a luz aponta.
Convosco em mim as trevas viraram fulgor, as incógnitas
soluções, as variáveis certezas, as dúvidas fundamentos, as consequências
causas, a insegurança probidade, a hesitação um rumo. Inimaginável se tornaria sem este meu testemunho quanto vos
devo e quanto de benéfico em mim resultou de vós.
Jamais renegarei ou esquecerei tudo quanto a vós devo, da
meninice ao homem em que me tornei ou me haveis tornado.
E, num tempo em que as amizades leais escasseiam, nunca vós
haveis regateado o altíssimo valor que em minha feição sempre experimentei e do
qual me servi, numa dádiva que sempre pressenti desinteressada mas cujo merecimento nunca
deixarei de reconhecer ou serei capaz de amortizar por muitos anos que viva.
Hoje sinto-me orgulhoso, entre os meus, e, ao sentir-me
rodeado por vós, um conforto inexprimível me envolve, e, como que num abraço,
vos confesso o reconhecimento de que a minha vida tem sentido, tem causa e
consequência, tem motivo validade e razão, porque hoje tenho por adquirida a
certeza de ter que ser perante mim e para mim que esta satisfação, esta
avaliação de como sou e quem sou tem forma, conteúdo, substância e importância.
Obrigado.
“PALESTRA AOS LIVROS” – Apontamento da palestra proferida
por mim na Bibliocafé INTENSIDEZ em 28/02/2010
http://abarrigadeumarquitecto.blogspot.pt/2008/10/intensidez-bibliocaf.html
http://porosidade-eterea.blogspot.pt/2008/07/intensidez-bibliocaf-em-vora.html
http://www.holaportugal.net/es/e/intensidez-bibliocafe-20105
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