A história da Europa é pródiga em guerras, a última,
que deixou destruído meio mundo e a quase totalidade dos países europeus começa
a ficar esquecida.
Dessa em especial, Portugal safou-se, e, para mal dos
nossos pecados, não abraçou a catarse colectiva que viria a fazer dos países reconstruídos
da Europa central e ocidental o paraíso que foram, e ainda são, se comparados
com o purgatório em que estamos atolados.
Esses países renasceram das cinzas, das cinzas e de um
sofrimento atroz, qual Fénix redimida dos seus pecados. Nós, mais recentemente, atravessámos 38
anos de democracia, atravessámos mas não aprendemos nem aproveitámos.
Há cerca de sessenta e poucos anos falhámos o Plano
Marshall, mas de há quase quatro décadas para cá falhámos todos os planos que nos
prometeram e que nunca vimos cumpridos…
É pacificamente aceite entre nós que o melhor que os nossos democratas conseguiram foi atolar-nos num buraco sem fundo de onde
os mesmos, sempre os mesmos, se escapam, escorregadios, como enguias entre os dedos.
Evidentemente a culpa não é só dos oportunistas a
quem demos oportunidades, mais difícil é assumirmos que parte da culpa também
cabe a cada um de nós individualmente. A propósito você já fez este ano, este mês, esta semana ou hoje mesmo o que devia por este país que é de todos ?
Esta arenga não vem a talhe de foice, isto anda tudo
ligado, é terça feira, são dezoito horas, e em menos de quarenta e oito já me
deparei com um funcionário público exemplar, que também os há e felizmente cada
vez em maior número, e devo dizer-vos em abono da verdade que raramente perco a
ocasião para ali mesmo no momento e perante o menos óbvio lhes agradecer a
postura, a amabilidade, a simpatia e a disponibilidade.
Em contraponto hoje cedinho, logo pela manhã, choquei de
frente com uma besta-quadrada, e claro, também não dei por perdido o meu tempo
e atirei-lhe com o ignóbil desempenho à cara.
Das dez da manhã até agora meditei e arrefeci, não
quis escrever este texto debaixo da emoção e da revolta que me causou a
ignorante atitude de quem não me atendeu como devia.
Das minhas deambulações meditativas conclui que
parece estarmos precisados da nossa própria catarse. Superado o conflito de 39 – - 45 sem destruição nem desgraça catártica, amodorrámos.
Temo que os tempos de desemprego maciço pobreza e
fome que temos pela frente nos levem à redenção que tão longa paz e
prosperidade levou aos outros países que aqui citei mas não a nós. Temo que
seja necessário um tão desumano sofrimento para percebermos que todos somos em
simultâneo responsáveis e culpados da difícil situação em que nos encontramos.
Um dos problemas de Portugal pós 25 de Abril foi a
existência, até hoje mantida, de quatro portugais, o Portugal socialista, o
social democrata, o comunista e o cristão democrata... Ora enquanto não
aceitarmos as nossas diferenças e diferentes interesses, enquanto
democraticamente não delimitarmos a possibilidade de acção de cada um, e
enquanto cada um não funcionar como parte de um todo, nunca seremos um país. E
quem diz um país diz uma cidade.
Será necessário o sacrifício de 50.000 funcionários públicos
para aceitarmos as nossas culpas e nos redimirmos ? Eu sei que há muitas culpas
e ainda mais culpados, eu sei que há muitos caminhos e muitas mais opções, mas isso
não me desvia um milímetro da arenga que pretendo impingir-vos, a
responsabilidade de cada um de nós no estado em que todos nos encontramos.
E você funcionário público que hoje, como sempre,
cultiva uma atitude reactiva ? Já se compenetrou que está a contribuir para o
desemprego da sua classe e para o de milhares de portugueses ?
Espero que já tenha vociferado contra este texto e
contra mim todo o fel da sua alma e pare para pensar, estamos no mesmo barco,
se você não me ajudar a mim como posso ajudá-lo a si ?
Quer vir para o meu lugar ?
Quer trocar de actividade comigo ?
E promete passar a ter uma atitude proactiva ?
Ou ficamos cada macaco no seu galho e macaco não
empata macaco como amigo não empata amigo ??
Medite…
Eu prantei aqui as minhas meditações…
Deixe aqui as suas, deixe aqui o seu comentário.
Mas sob anonimato não por favor.
Tenha coragem a assuma-se, ao menos todos saberemos
claramente quem tem e quem não tem culpas no estado desgraçado a que nos
alcandorámos…