Chamava-se Mimi e cantava só para ele,
E ele chorava... Mesmo em festas, fosse qual fosse a festa chorava ...
E ele chorava... Mesmo em festas, fosse qual fosse a festa chorava ...
E isso ainda hoje muito lhe pesa na
consciência em que ancora fundo um complexo de que acredita jamais livrar-se. No entanto desde há muitos anos que Mimi lhe inflava
o ego. Tempos idos afagara-o dando-lhe a conhecer a aura de
guerreiro invencível que, de quando em vez inda hoje enverga.
Fora criado em ambiente de floreados e jogos florentinos,
dominava como ninguém o comando da Play Station e ganhara a admiração de
muitos, em especial da recatada Mimi, a quem dedicara todas as suas vitórias. De sua natureza era contudo trapalhão, precipitado,
impaciente, desorganizado, o que, mais vezes que desejaria, o teria exposto ao
ridículo. Dotado de tão deploráveis atributos não nos admira
que Mimi paulatinamente dele se tivesse afastado e, tanto mais quanto mais ele,
naufragando, se colava a ela numa ânsia desmedida de se salvar de si mesmo.
Renegado, agarrou-se às hostes de apaniguados e
admiradores, gizou um esquema manhoso, coisa nada rara nele, e atirou-se a luta
catártica, mergulhando nela despojando-se de tudo, tendo sido durante essa luta
purificadora que, interpretando a seu modo a sabedoria de um xamã, fez-se amarrar num totem e, em sacrifício redentor e num apelo lancinante, implorou a
ablação dos testículos, certo de serem eles os culpados pelas execráveis
palavras e ignóbil atitude com que Mimi o afastara :
- Nem foder sabes e tudo te atrapalha…
Não quiseram os deuses que fosse chegada a sua hora,
tendo-lhe sido concedido um período sabático que o rapaz aproveitou com surpreendente empenho e a que se entregaria com denodo.
O moço havia de provar a Mimi, e a todos, ser mais
que um desgraçado, para esquecê-la, afogou-se em formações esotéricas,
creditou-se doutras aptidões e, c’o desemprego a subir, sem competências que
lhe pudessem valer, encaminhou-se p’rá única saída restante e com desesperada paixão e
inusitado desempenho abraçou uma carreira politica. Não chegara Hitler a condutor de povos por lhe terem
negado entrada em belas artes ? Quem quer e acredita sempre alcança, contassem com
ele que estava aí para o provar.
Liderando grupo vasto de acólitos pouco escrupulosos
logrou guindar-se a lugar cimeiro, e, num reino de cegos e zarolhos onde ele,
com dois olhos verdadeiros, facilmente construiu uma alternativa tecida de fio
a pavio em premissas discutíveis, pouco elaboradas e ainda menos aprofundadas
que os exames da lusófona, lugar por excelência do seu guia espiritual e de um
certo Dux de má nome e pior sina, mas também de outros forçados e doutorados
que tais…
Solenemente empenhado em mostrar à Mimi que seria
capaz nem ouviu o pai, que muitas vezes lhe sussurrou:
- Toma tacto pá, isto não tem conserto.
Conselhos que não ouviu, tantas vezes quantas a
paternal figura lhe tentara incutir juízo. Todavia o que tem que ser tem muita
força e ei-lo aí, ante nós, alardeando os bíceps, feito alter-ego e patrono da
ignorância que sempre governou o reino. E então foram anos foram dias foram horas de
assumpção e desespero, mas conseguiu.
Neste ponto da narrativa terei que dar o braço a
torcer porque passou a merecer o meu respeito, não a minha gratidão, mas o meu
respeito. Podia ter olhado para o pântano de um pedestal,
poderia ter-nos imaginado a todos de tanga com altivez, mas não o fez. Creio
que terá sofrido uma desilusão, creio que terá pensado serem favas contadas e
afinal saiu-lhe Braga por um canudo, mas não fugiu.
Outros, arvorados de maiores pergaminhos o haviam já
feito. **
Não ele, não fugiu, ao invés arregaçou as mangas e
lançou-se a fazer o que ninguém ousara desde o Infante D. Henrique o tal da
ínclita geração, vocês lembram-se ? Qual D. Sebastião investiu, avançou contra a moirama
à espadanada, apresentou um programa, apresentou-se a eleições, e ganhas estas
apresentou-se ante nós qual João sem Medo.
Traçou um rumo e uma meta, e, atabalhoadamente,
cegamente (como era seu mister fazer antes de implorar a ablação, lembras-te?),
avançou aos zigues zagues, aos avanços e recuos, pisando e empurrando,
prometendo e abjurando, dando num dia tirando no outro, aldrabando e
confundindo, e de tal modo levou a peito o seu papel que acabou acreditando nas
mentiras que paria, nas vitórias que não tinha e nas guerras que perdia.
Em terra de cegos quem tem olho é rei, e passou aos
óculos, ao ar grave na Tv, aos fatos de bom corte, a limusina e três choferes. Sofreu, torceu-se e contorceu-se com as dores de
malabarismos sem igual, mas aguentou-se e, num dia em que todos o davam por
perdido e a Europa deu meia volta, ei-lo de novo, já não vencido e, para nosso
horror, sem ter quem se lhe igualasse !!
E vencedor !!
No meio do balanço a que votava o mundo o seu saldo
nele nem era dos piores, beneficiou da onda negra, do vómito negro da gárgula
europeia cujo hausto fétido lhe disfarçou as nódoas e diluiu o bolsado.Tentou convencer-nos, sem sucesso, e virámos-lhe as
costas desandando para os quatro cantos do mundo.
Por isso, por tudo isso, calai-vos almas de má fé e
pior perder, calai-vos adamastores do reino porque ao leme desta chalupa não
vai quem sabe, nem vai Deus, vai alguém mais forte que todos ! Alguém mais
forte que Ele, vai quem da tômbola a sorte tirou primeiro, vai quem aos céus as
mãos já ergueu três vezes, e quem já por três vezes ao leme as prendeu…
- “ Aqui ao
leme sou mais que eu.
E mais que o medo de quem me teme, manda a vontade
que me ata ao leme !! “ .... (sic)
E continua rindo-se de nós... Até quando ?
Até quando até quando até quando até quando ???
* Foto 1 : Trabalho manual sobre imagem do grupo musical " Doces "
* * Guterres em 2001 e
Barroso em 2004.
P.S.
– Se alguém duvida que daqui a trinta anos PPC será tido e julgado como o PM
que cheio de coragem arregaçou as mangas e colocou ordem neste país que ponha as
barbas de molho porque estará rotundamente enganado. Os anais da história só
lembrarão o nosso primeiro.