Antes
que possais ser induzidos em erro pelo título do texto deixai-me esclarecer-vos
que sim, estou agradecendo a Passos Coelho, e não a qualquer outro, o que tem sido
feito pelo país. Continuará sendo graças a ele que tudo que no futuro for feito
por Portugal será pensado, ponderado e orçamentado. Tudo levará a sua marca, ele constituirá a marca do antes e do depois.
Mas igualmente
vos direi ser pessoa de quem não gosto*, com quem nem simpatizo minimamente e
que, a serem verdadeiras as sondagens, me surpreende pela empatia que, contudo,
logra adquirir. " Se alguém duvida que daqui a
trinta anos PPC será tido e julgado como um PM que cheio de coragem que arregaçou as
mangas e colocou ordem neste país que ponha as barbas de molho porque estará
rotundamente enganado. Os anais da história só lembrarão o nosso actual primeiro ministro." *
Há quarenta
anos que o país era submetido a mentiras constantes e mal governado, com ele passámos
a viver uma mentira permanente e igualmente mal governados. Miragens, lucubrações, visões,
más formações, loucura e idiotice atingiram com ele os limites aceitáveis ou suportáveis,
o paroxismo. Porém esta dose cavalar teve a virtude de acordar finalmente os
portugueses da letargia em que viviam, podendo dizer-se que hoje tudo
escrutinam meticulosamente. Porque pensam vocês que o Costinha não sobe nas
sondagens quando dantes seriam favas contadas ?
Um animal
feroz primeiro e um arlequim louco depois foi demais para a maralha… Ao intuírem
que os social-democratas poderão não os levar a lado nenhum os portugueses finalmente
acordaram e deduziram o modo arrevesado como os socialistas os tinham trazido
até aqui. E enquanto esses dois partidos do arco da desgovernação (os restantes
só têm empatado) andarem de braço dado quando os portugueses estão já fartos e
cansados do seu triste fado, tudo será duplamente escrutinado, avaliado e ponderado.
Deram-nos
alguma coisa de extraordinário os social-democratas ? Deixaram-nos algo por aí
além os socialistas ? Mentiras e divida foi o que sobrou depois de quarenta
anos de desvario, incompetência, irresponsabilidade, desresponsabilização e
oportunismo.
Um problema
de cultura diria eu, quero dizer, da falta dela, um problema de tecnicismo a
mais e humanismo a menos, um problema de excesso de Excel e ignorância de
Heródoto, um problema de ambição desmedida de gente sem estofo, sem tarimba,
sem classe, sem garra. De quarenta em quarenta anos aparece um deputado de
louvar, morreu Sá Carneiro, temos agora a Mariana Mortágua para compensar, entre
um e outra a banalidade, o servilismo à disciplina partidária, o vampirismo de
partidos organizados em função do poder, da avidez, da fortuna fácil, do
politicamente correcto como desígnio e resposta a nada, e o ar balofo de Amorim
& Cª para descompensar…
Abro
o Diário Económico de hoje, 21 de Agosto, e leio esta pérola, «…A Camargo
Corrêa, empresa brasileira que controla a Cimpor desde Junho de 2012, está a
estudar a venda de activos, o encerramento de algumas unidades industriais
menos produtivas e rescisões de pessoal… na Cimpor prossegue com a apreciação
do seu ‘portefólio' de activos não operacionais, não excluindo hipóteses
pontuais de alienação”…» Uma empresa
portuguesa nacionalizada sem qualquer pensamento estratégico (como todas as
outras) está em vias de lançar todos no desemprego, e deixando de pagar
impostos, obedecendo à lei cega do lucro fácil e rápido, sem custos, pois fechada
renderá mais. A falta de cimento nos mercados fará subir os preços e
rentabilizar em 300 ou 400% o investimento do grupo nela. Seguir-se-ão a Secil
? (1) E uma e outra empresa e muitas outras empresas até que emigremos todos e o país encerre de vez ?
Que devemos
aos socialistas que não quarenta anos de fingimento, que é como quem diz, de NINS ? Mesmo
assim, nem sim nem não, ou aos social-democratas que não a morte das pescas, da
industria, da agricultura às mãos de Cavaco, ou este liberalismo suicidário ?
Depois de Salazar e Caetano ninguém soube governar este país. Sentaram-se, estiveram,
desfrutaram da cadeira do poder sem sequer imaginarem o que isso implicaria. Todavia a culpa não é só de quem governa,
quarenta anos de Salazar e mais quarenta desta democracia de merda devem-se a
este povo de grunhos, este povo é uma besta quadrada, e não sei se não merecerá
que todos lhe caguem em cima.
Acordou
finalmente, ensonado este povinho, tacteando a parede em busca do papel higiénico, ignorante
de tudo e por isso ainda mais desconfiado de todos. Por inacção ou omissão
todos somos culpados e essa é a verdadeira questão. Mas afinal em quem
poderemos confiar ?
Por
que razão nunca se responsabilizaram os concelhos pelas suas taxas de desemprego
? É fácil e cómodo atirar as culpas para cima do IEFP. Por que nunca se
responsabilizaram os concelhos pelas taxas de PIB alcançadas por eles mesmos ? É
mais fácil culpar os sucessivos governos… Por que nunca se estabeleceram metas
e exigiram resultados aos responsáveis, em cada município, pelos departamentos
de desenvolvimento económico ? Que pariram esses departamentos ao longo de quarenta
anos a não ser bons empregos públicos ? E o interesse público ? O interesse dos
eleitores ? O interesse dos munícipes ? Alguém conheceu a esses departamentos
de “desenvolvimento” os planos de actividade ? Alguém lhes conheceu os resultados ? Alguém
viu alguma vez os seus mapas de execução ? Alguém foi corrido ? Mudado ? Substituído
? Não culpemos somente os governantes, nem os presidentes, ou os vereadores, há
por aí muito director e deputado municipal a precisar ser guilhotinado.
Há poucos
dias ia matando uma criança com a mota, e nem ia a mais de vinte à hora, para a
evitar quase esbarrei com um carro que se apresentava em sentido contrário,
felizmente com a brusquidão da travagem a mota derrapou e atirou-me ao chão antes
de colidir com ele. Esfolei o joelho, a mão, o cotovelo, desloquei um ombro,
mas não toquei no cabrão do gaiato, que ficou mais branco que a cal da parede. Saíra
repentinamente pela porta traseira esquerda do carro da mamã que parara no meio
da via, por culpa da inconsciência, mas também do planeamento da via junto à
escola, nova, e da incompetência de quem
desenhou os acessos e da irresponsabilidade de quem os aprovou. Um outro dia
abordarei esta questão, por hoje já desabafei. Como se pode ser um bom
presidente, ou um bom vereador, com subordinados ou colaboradores deste jaez ? Para
já fica a questão ou a pergunta no ar…
Portugal
carece de reformas há quarenta anos, imensas e profundas, a minha crítica a
Passos Coelho deve-se ao facto de ter tido uma oportunidade de ouro para as fazer e não as ter feito. Sim, porque somar meia dúzia de freguesias não pode
confundir-se com uma reforma da administração local, ou o corte de pensões com
uma reforma da Segurança Social. Reformou por encomenda de quem nem o país
conhecia e até já admitiu ter errado, sim o FMI, e Victor Gaspar antes,
admitiram ter errado a solução preconizada para o ajustamento do país. António
Borges antes de falecer também admitira o erro da nossa integração e causa parcial
do desastre económico que se lhe seguiu.
A ignorância
larvar, e o desconhecimento do seu próprio país conduziram Passos Coelho a um
beco sem saída que agora nos quer vender (o comissionista não era o 44?) como
se fosse o paraíso, por isso as mentiras não param claro, agora é encadeá-las
umas nas outras para que pareçam verdade*.
Os portugueses
toparam-no logo, e responderam-lhe com os pés, emigrando em massa, mas também
sabem que nem todas as culpas lhe cabem, Passos Coelho recebeu um país
moribundo e ficou com ele na mãos sem saber o que fazer-lhe*, e como é um
trapalhão, atrapalhou-se e trapaceou o melhor que soube*.
Eu pelo
menos, e julgo que mais portugueses, agradeço-lhe, agradecemos-lhe. O país nunca
mais será o mesmo, nem a oposição, que mudará forçosamente, não mudou ainda o
suficiente, nunca mudará o suficiente, mas o país tem mais gente, e mais gente
significa mais opções e mais respostas, mais alternativas.
No que
eu não creio mesmo é que quem nos trouxe até aqui daqui nos tire, porque para
essa gente, “a oeste nada de novo”, continuam pensando como pensavam,
imaginando continuar a servir-se de nós como serviram.
É hora
de dizer basta.
Abre
os olhos besta…………………………