A agência espacial americana NASA sabe
muito bem o que quer, sabe não somente o que quer como sabe para onde vai,
terraformar Marte, colonizar Marte, e toda a gente conhece o desígnio e se
mobiliza em seu torno. São milhares de empresas e milhões de empregos. Em
Portugal ninguém sabe nada, há décadas que ninguém sabe nada de nada, sabemos
apenas estarmos algemados pela irresponsabilidade e pela incompetência, sabemos
que quanto mais grunho mais burro e oportunista mais longe irá na vida, sabemos
que tivemos e temos ao leme um marinheiro que nunca viu uma carta de marear e
que entre os tripulantes todos eles foram arregimentados à saída das tascas,
tasquinhas, tasqueiros e chiqueiros, lugares de eleição para arrebanhar
tripulações para esta nau.
À parte os mais loucos e as piores
tabernas, e as algemas que nos peiam como grilhetas, estamos condicionados pelo
voluntarismo de tanta IPSS, animados pelo carisma das Jonets e embalados pelo
iluminismo de milhares que festejam diária semanal ou mensalmente a
solidariedade caseira, as dádivas, as sobras, as sopinhas dos pobres, as
roupitas usaditas, as esmolinhas anunciadas. Muitos municípios, que deviam no
meio do caos ser o ponto de referência, a âncora, entregaram-se de corpo e alma
a distribuir cabazes de natal aos pobrezinhos, e estafam o dinheirinho em
livrinhos e caderninhos para os mais necessitadinhos, que nunca se acabam nem
acabarão mau grado tanta ajudinha, tanto voluntarismo, tanto iluminismo, tanto
carismático guiando-lhes os passinhos de passarinhos, incapazes de se assumirem
como os culpados do despovoamento, do desemprego, da miséria e da pobreza que
espalham ou da dignidade que coarctam, sem ao menos uma ideia em que invistam e
os tire do marasmo e resgate ao eterno ciclo de empobrecimento. Atender só os
amigos e apaniguados foi no que deu, agora não hã pão para nenhuns.
É uma dor de alma ver tanto miserabilismo
de ideias e ideais, de espírito, de práticas, de visões. O máximo que tanta
gente bem-intencionada conseguiu fazer por este país foi nada, nada de nada,
está à vista o resultado da soma de tantas boas intenções, nada mais que
grandes barrigas e maiores fortunas, no que parece estar encontrado e
concentrado o desígnio do país, um desígnio há muito repudiado por outras
nações mas que faz o pleno e o gáudio do Portugal dos pequeninos. Estamos
entregues aos bichos. Decididamente Portugal está sucumbindo àquilo que se entendeu designar-se por “superiores interesses do país“.
Quanto tempo irá durar ainda a
cowboyada ninguém saberá, com todos fingindo que nada se passa e, a barlavento um cata-vento
preparando-se para substituir o boca de favas, um marialva que cursou economia sem
nunca ter lido Adam Smith e se entreteve lendo as pagelas da Virgem Maria.
Quanto tempo ainda até que os trinta anos que nos separavam do “purgesso” se
transformem em quarenta, cinquenta, sessenta, enfim numa muralha da China mas
já sem ninguém cá dentro ? Ou, como em 1926, rezamos por um advento ? Ou rezamos
para que alguém tenha uma epifania ? Não riam, pois o momento assim parece, a
história repete-se, a história repete o momento, a democracia em cacos,
arrastada p’las ruas, os democratas gordos e os burocratas sólidos nos seus
postos e nas suas certezas tanto mais quanto mais incapazes de resgatarem da
lama para que a atiraram esta democracia de papel. Duvidas ? Pergunta ao desgraçado que depois de três dias à espera morreu em S. José... Por cá a vida ainda não é um direito adquirido...
Uma democracia de papel onde a
vacuidade impera, a incompetência governa, a irresponsabilidade subindo,
escalando, pisando, mandando, quanto tempo mais até que alguém dê um murro na
mesa e ponha fim aos debates estéreis de um parlamento vendido ? Para quando um
novo esclarecido tomando conta disto, conduzindo isto, não para Marte nem
Saturno ou Plutão mas na senda do bom senso, da rectidão, devolvendo este
cantinho à beira mar plantado à originalidade, ao virtuosismo, à criação, à
criatividade, à imaginação, para que, como em Maio de 68, nos surpreendamos com
“la plage en dessous de la chaussée” (a praia por baixo da calçada). Irmãos, 68
– 2016, já acumulámos quase cinquenta anos de atraso, o mundo gira, o mundo é
lá fora e nós, cá dentro, de lamento em lamento, confundimos o dia com a noite,
a sombra com a luz, o avançar e o recuar, tanto que nem sabemos ou nos
esquecemos de exigir um homem novo, um homem probo, um homem do povo e não um
marciano ou um selenita como os que nos têm calhado em cada rifita.
É urgente que a gente aguente e, antes
que todos ou tudo se vá pela Ryanair ou pela EasyJet, se descubra quem de entre
os dementes tenha tomates para agarrar a trela do trenó desgovernado que nos
atropela, cilindra e trucida, numa gesta infinda em que quem faz o mal faz a
caramunha e se acha normal a desfaçatez que a história regista e acumula.
Como diz o poeta* em relação a tanta
miséria,
Venha a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que
em mim resta;
e eu fique rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas
serras;
Venha a ânsia do peito para os braços
!
e
a lucidez me guie neste mar de sargaços, neste país em pedaços, neste
atoleiro de faceiros que transformou em bode expiatório* quem, em tempos o
tirou do lameiro. Que esse ser maquiavélico*, esse ser infernal esse mal sem
igual volte a conduzir-nos, a meter-nos nos eixos, a encarreirar-nos de novo na
linha porque, meus amigos, é de todos sabido que sem um pé no pescoço jamais
entenderemos o que faz bem ou faz mal, o que fazer ou pensar, o que dizer ou
jurar. A inconstância em nós é como a incontinência num velho, e desse velho
astuto*, sempre de má-fé, oportunista, pérfido, ardiloso e velhaco disseram cobras
e lagartos, e muito mais que por pudor eu calo, nele desfizeram, sobre ele
tripudiaram, sem jamais o conseguir igualar, sequer aparentar, ou no mínimo
imitar.
Ele* foi bera, foi fera, foi ruim,
pois sim, mas tendo sido tal, é demais afinal que não se consiga fazer ao menos
igual, ou melhor que esse animal, é imperdoável, é vergonhoso que o invejoso
diga do tinhoso não ter ele igual.
Por isso o que eu espero neste Natal e
no próximo, é que algum animal de bota marcial e tacão pesado agarre nesta
merda e nos ponha a pensar que caminho afinal temos andado a trilhar. Não
merecemos mais.
Isto assim não pode ser, é muita gente
a roubar e mui poucos a pagar, é muita gente a mandar e bem poucos a obedecer,
nunca como hoje se sentiu a falta de uma ordem corporativista, ou estalinista,
escolhei vós, uma ordem nova que separe o trigo do joio e de uma vez por todas
encoste alguns à parede para que os poucos que restam e inda não se piraram
possam respirar em paz e aspirar a serem algo, ou alguém que não Zé Ninguém,
sem vintém, como o miserabilismo vigente elege diária e intensamente, e que em
vez dessa gentinha que no parlamento e à vez exibe estupidez e vaidade,
codilhando-nos o porvir, se abra de vez o caminho a alguém sapiente, inteligente.
Exija-se um ditador que por amor nos
proteja de tanta democracia e de nós mesmos, que nos salve de tanto democrata
de intenção vazia, de tanta besta quadrada que por aí circula enfeitada e desta
vã liberdade por tanta gente apregoada que aos poucos nos vai matando de vera
morte matada.
Só mesmo quem ande dormindo poderá não
admitir que esta democracia ingrata aos poucos nos mata, pois mate-se ela num
instante e, no seguinte, se aceite alguém bem pensante e com tomates para agir
no tanto que está por fazer ao fim de quarenta anos, em que brincámos às
criancinhas e regredimos umas coisinhas, nas nossas tão caras
liberdadezinhas.
Acabe-se de uma vez por todas com as
Jonets e coiso e tal, com as sopinhas no Natal e a caridadezinha a pataco,
eleja-se a dignidade, a humildade e o mérito e, se preciso for a tiro, não
queiramos assim viver nem aceitemos o pretérito. Então, se assim não for direi
que;
Virá
a miséria maior que todas
secar
o último restolho de moral que em mim resta;
e
eu ficarei rude como o deserto
e
agreste como o recorte das altas serras:
E
virá a ânsia do peito para os braços !
Eu
lutarei…..
* António de Oliveira Salazar
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Manuel da Fonseca – Poema “Domingo”