segunda-feira, 4 de abril de 2016

330 - UNIVERSIDADE DE ÉVORA, O IMPACTO !!!


Muito senhora do seu nariz, virou-nos as costas e desandou, aliás, como sempre faz se as coisas lhe não agradam, é de gancho esta Marília, bastou o Amadeu picá-la foi-se, grunhindo disse ele, que se esforça amiúde por lhe ser simpático. Tudo por dá cá aquela palha, perguntara-lhe qual o quadro de professores e de funcionários da U.E., coisa naturalíssima atendendo a que ela é lá funcionária do quadro superior, mas ela, para quem a universidade é o Delta e o Ómega (diz o Amadeu), como habitualmente não sabia nada de nada e muito menos do que quer que tivesse que ver com a preclara instituição onde trabalha, mal mas julgou estar ele a gozá-la, pelo que lhe respondeu como faria com o marido (que morreu às sua mãos, afirma o Amadeu);

- Mas que merda tem o café e os relógios a ver com a porra da conversa ? Estás-me a gozar ou o quê ó parvalhão ?

Na minha tertúlia é assim, e a semana que passou não acabou nada bem, um deles vira ou ouvira em qualquer lado quaisquer observações sobre o impacto causado pela Universidade (U.E.) na região e foi o suficiente para que quinta e sexta-feira se tivesse desencadeado um tufão à mesa. A questão deixou-nos todos com os neurónios ligados e a ferver, teria esquecido o assunto não fosse dois deles terem voltado à carga com emails que me enviaram. A coisa é capaz de mexer com a pacatez habitual do burgo, que mexeu com a minha roda de amigos lá isso mexeu.

Foram dois dias de intensos e acalorados debates, monopolizámos as conversas do café e, antes que me esqueça ou que alguém mais assoberbado me dê com a mesa na cabeça e o balanço se me varra do disco duro vou passar para o papel as impressões finais, as que me ficaram gravadas na massa encefálica.

Em primeiro lugar, e foi opinião unânime, é muito difícil ao comum dos mortais avaliar em consciência ou com alguma exactidão esse tipo de impacto, desde logo porque a própria academia propositadamente se fecha sobre si mesma, o que já é um mau sinal, um mau indicativo ou mau sintoma. Poucos canais são por ela abertos que excedam a informação burocrato/institucional, e se o excedem é para o fazer de modo muito conciso, muito propagandístico, muito laudatório e sempre restrito. Poucos ou pouquíssimos departamentos se publicitam e ao trabalho que desenvolvem ou aos resultados obtidos, os seus mestres, os seus sábios, mantêm-se generalizada e propositadamente na sombra.

Na tertúlia foram contudo reconhecidas duas excepções, seja-lhe pois feita justiça, uma delas o Prof. António, outra o Prof. C. C. qualquer deles de vez em quando exprimem o seu saber e opinião nas páginas do Diário do Sul, a outra o Prof. José Alberto que, além de opinar diariamente sobre diferentes temas, nos brinda de vez em quando com um texto de sua autoria, sempre sobre algum assunto candente na sua página do Facebook. É pouco, mas o pouco que fazem fazem-no a título individual, pessoal, e privado, não esclarece nem compromete a academia, portanto por pouco que seja é muito, porém nada nos diz sobre o que dela irradia.   

Diz-se, deduz-se, intui-se, supõe-se que a academia terá algum impacto sobre a região, e certamente terá, qual a sua dimensão ou qualidade é segredo que ela esconde como coisa que a envergonhe. Através dos seus sábios pouco ou nada se sabe, nem tão pouco o que pensam sobre a civitas que os acolhe, donde, à mesa do café extrapolámos o seguinte pensamento; “não vivem para a civitas, vivem da civitas”, tendo sido deduzido entre nós ser o seu impacto real muito inferior ao que o vulgo lhe atribui, o que, e ninguém o negou, constituía para todos uma vera preocupação.

Quantos professores albergará ?  Em que categorias ? E quanto a funcionários ? E o seu Orçamento Anual onde poderá ser consultado ? E o Plano de Actividades ? E o Balanço e Prestação de Contas ? E na esteira destas interrogações àquela mesa de café foram gizadas, ao longo dos últimos dois dias da semana, outras tantas para as quais não se arranjou resposta nem me recordo de que alguma vez alguém as tenha dado.

A questão levantada e que a todos tanto envolveu, a de avaliar o impacto da academia na cidade e na região, há muito deveria ter-nos colocado a todos nós arquitectando perguntas, para que não fique pedra sobre pedra, ou antes dúvida sobre dúvida. Mas no entanto também aceitámos pacificamente ser muito difícil o povo desta cidade desatar a clamar por respostas quando nem sequer o ensinaram a formular as perguntas. Os meios de comunicação da urbe, da urbe e da região, por norma, por receio ou submissão, ou talvez devido a distorcidos conceitos de educação e de deferência, ou de reverência, nunca questionaram o paquiderme, nunca ousaram interrogá-lo (1) e muito menos se atrevem a colocá-lo em causa, o paquiderme paira assim majestático sobre todos, mas o problema é que o paquiderme além de pesado tem um apetite voraz e para o trazer bem tratado andamos todos cada vez mais famintos, mais pobres. Na India as vacas são sagradas, por cá são os elefantes, em especial os de cor branca.

Evidentemente todos na mesa se interrogaram; Que farão ? Que produzirão de positivo tantos departamentos e tanta gente que os contribuintes sustentam ? É que na ausência de informação cabal e insuspeita quaisquer teorias da conspiração nos acodem ao espírito, como foi quando do caso da atribuição do Doutoramento Honoris Causa ao senhor comendador Rui Nabeiro, um must na ligação entre o tecido empresarial e a academia, perdão, entre uma empresa regional exemplar, quase única e uma academia a precisar de milhões como de pão para a boca. Sabe-se que Évora terá, por alto, em época de aulas e graças à população flutuante, os estudantes, um pouco mais que cinquenta mil habitantes. Porém, mau grado a frenética vida nocturna, que a eles é dedicada e por eles economicamente animada e suportada, é uma cidade apagada, cara, sem vida para além destes focos juvenis, uma cidade sem industrias que não pontuais, com um comércio debilitado, moribundo, uma cidade sobrevivendo sobretudo dos serviços. Assim sendo não admira que a faculdade surja como o sustentáculo maior de uma economia paralela, subterrânea ou informal bem estruturada e medindo meças a qualquer outro sector ou mister na cidade. Quartos, quartinhos, corredores, vãos de escada, garagens e logradouros, tudo serve para alugar a estudantes, sem recibo claro, que o governo é um sovina. Arrendamentos clandestinos e uma rede de bares, casas de pasto, tascas e tasquinhas imbricadas, entretecidas nas vielas estreitas, medievas, e a sua exploração a qualquer preço são o único contributo visível da faculdade para o enriquecimento da urbe, tudo o mais não passará jamais de boas intenções e loas académicas.

E neste item volto à carga com a falta de informação séria, e carrego na falta de informação, porque o comum do cidadão não tem net, não navega, procura retirar as dúvidas que tem através dos jornais locais, das rádios locais, daí a importância de que se reveste o canal de comunicação que a U.E. deva utilizar pois dele dependerá o público-alvo atingido, que não deve ser a reduzida elite beneficiária mas a maioria pagante, para quem o pessoal da U.E. continua a discutir o sexo dos anjos ou a entreter-se ainda com a velha questão de quantos anjos podem dançar ou dançam mesmo e em simultâneo na cabeça de um alfinete (2). Esta foi a abordagem crucial do último dia do nosso debate e que ia provocando a queda da mesa do café, a percepção que a população em geral tem da U.E. e do trabalho que esta desenvolve, e quem diz desta diz dos seus sábios, população para quem a vida está cada vez mais difícil e que, ao olhar as estatísticas que jornais e televisões diariamente apresentam nada mais vê do que Portugal consecutivamente no fim de qualquer tabela, e a descer, e atrás dele, ou nele, o Alentejo como região mais pobre no seio da pobreza. Observando os números sérios que estatísticas e estudos ou sondagens várias nos proporcionam, forçoso se torna concluir que a academia não tem tido impacto nenhum no desenvolvimento da região, que a ter será mesmo negativo, pois a dor de um povo que sofre e cuja sina não medra não se compadece com o alheamento a que o votam, a ele que tudo paga, quando uma academia inteira pelo seu alheamento e estilo de vida mais parece estar instalada no vale do Ródano.

É doloroso admiti-lo, mas se com a U.E. não podemos contemporizar, também não podemos esgrimir a nosso favor argumentos que pequem por falta de exactidão, estamos lidando com gente que por tudo e por nada puxa do método cientifico e dispara, portanto meus senhores, sabem ser as conclusões desta tertúlia evidências certas e facilmente comprováveis, Portugal e o Alentejo têm vindo a perder gentes, riqueza, oportunidades e futuro na razão directa do tempo que a academia leva aberta entre nós, o que por este andar significa terem que a fechar depressa ou estaremos todos condenados a morrer à fome… O que provocou tudo isto foi o facto de a U.E. pretender manter-nos parcialmente informados, como quem diz atirem-lhes com umas coisitas de prestígio que eles “calarar-se-ão” e irão pagando, do que resultaram as conclusões que acabei de vos apresentar, todavia o problema não está no pretenso controlo ou descontrolo da informação por parte da U.E. que já por várias vezes meteu os pés pelas mãos, contudo avante que o assunto não é a opacidade mas sim a transparência da U.E. e qual o impacto na cidade e na região da acção de tantos excelsos e magníficos reitores, porém devemos aceitar que na prática a teoria é outra, e por mais académicos que a academia encerre pouco se sabe ou conhece da parte que a cada um cabe no sucesso total da instituição, pelo que me pergunto muito legitimamente quantas patentes a U.E. registou nos últimos trinta ou quarenta anos, a quantas empresas se ligou, quantas formou de raiz, e quantas vezes a U.E. fez ouvir a sua voz aconselhando, corrigindo, reclamando ou sugerindo uma estratégia de curto ou longo prazo para a região em que se insere e que cada vez mais ocupa o fundo da tabela, de todas as tabelas.

Como sempre andam todos, andamos todos de costas voltadas uns para os outros, a U.E. nunca se intrometeu nos assuntos da urbe, e a urbe nunca o fez nos assuntos da U.E., assim chegámos, quarenta anos depois de Abril onde chegámos. Todos gostaríamos de saber onde, em que região arranjam colocação se é que arranjam, os licenciados por Évora, e atendendo aos milhares que têm emigrado nos últimos anos, perguntámo-nos também naquela tertúlia se não estaremos nós eborenses a “dar” licenciados a outras regiões e ao estrangeiro, posto isto, e para além do impacto negativo que as praxes não deixam de acarretar é hora de perguntar, alto e bom som, sem medo;

- Que fez ou faz afinal a U.E. por Évora ou pela região ?

e não me venham com a desculpa do prestígio ou com o facto de dar emprego a 671 professores e 377 funcionários (dados de 2015, poucos funcionários e com muitos edifícios ! assim me foram cedidos, com observação, exclamação e tudo!), porque o problema não são esses mil e poucos, o problema são os largos, larguíssimos milhares desempregados em toda a região e a quem o prestigio nem mata a fome nem as aspirações, o problema  não é quanto custam esses mil e poucos à comunidade, o problema é que o contribuinte que somos todos tem que alimentar esses, mais os milhares que foram arrastados para o desemprego porque ninguém se lembrou deles, nunca se lembraram deles pois cada um só pensa em si, na sua carreira, no fim do mês, nas diuturnidades, nos seus escalões de vencimento, porque esqueceram que o cidadão contribuinte lhes paga, e bem, mas para que devolvam à comunidade a dobrar, a triplicar ou a decuplicar  o favor que assim lhes prestamos.

E já que estamos em maré de avaliação de impactos, deixem-me dizer-vos que o resumo daquela minha tertúlia foi muito negativo, foi concluído naquela mesa redonda que os impactos não têm sido fundamentais nem na fixação de pessoas, nem de talentos, nem no desenvolvimento de quaisquer projectos ou na atractividade local ou regional, porque se o tivessem sido nem o Alentejo se despovoava nem o desemprego cavalgava as estatísticas do modo que o faz. Mais concluímos, que nem a investigação foi de molde a sentir-se proveitosa, ou produtiva, replicando os custos, nem se deu conta de qualquer transferência de tecnologia para empresas regionais ou nacionais, antes pelo contrário, empresas de tecnologia de ponta que se estão instalando arrastam atras de si tecnologias novas, pelo que concluímos, e julgo que bem, andar a U.E. beneficiando há anos e anos do marasmo português e alentejano, vogando ao sabor dos acontecimentos, sem uma visão para o futuro nem do futuro, esperar que respondam às necessidades que o país e a região atravessam será para ela como tentar mudar de lugar um petroleiro soprando-lhe as velas…

Todavia é um bom lugar, dá bons empregos, poucas chatices, haverá sempre pessoal que lhe queira preencher os quadros embora o caminho seja negro e os alunos venham a faltar, afinal neste país para quê estudar ? Qualquer emprego manual promete mais futuro e não obriga à espera de mudanças políticas nem de parcerias regionais, nacionais, transfronteiriças ou internacionais que, se não se concretizaram em quarenta anos de paz e democracia daqui em diante se tornam cada vez mais impossíveis de alcançar. 

1-     A não ser em casos pontuais a professores isolados, representando e respondendo por eles somente ou quando muito pelos seus departamentos.