O
homem, e espero que enviem também alguma mulher a fim de garantir a igualdade
de géneros, prepara-se para conquistar Marte, e os cientistas, astrofísicos e
astrónomos têm tudo previsto, estudado e pensado, antecipado, no sentido de que
o improviso os não venha a solicitar. Estudo, previsão, cautelas e caldos de
galinha parecem ser, segundo um programa por mim visto no Canal Odisseia a
receita da NASA, aliás já experimentada, testada e comprovada anteriormente com
sucessos assinaláveis. Lá estava a órbita da Terra e a de Marte, e no ano no
dia na hora no minuto e no segundo em que as duas mais se aproximarem, o tal
alinhamento astrológico de que os astros e o zodíaco por vezes nos falam, zabumba
na caneca ! Será lançada uma nave há muito programada ao segundo e ao pormenor.
Antecipar
situações e resolvê-las antes que se lhes deparem é o pão de cada dia daquela
gente, mas, bem vistas as coisas, antecipação tem sido o que tem permitido aos
homens e às mulheres chegarem onde chegaram, e às nações, e empresas, e
poderíamos adiantar que a tudo que, de uma forma ou de outra implique
conquista, superação ou sucesso, do jogo de futebol ao xadrez, das damas às
cartas de poker. Claro que há sempre um ou outro pormenor e um ou outro detalhe
inesperado, há quem diga que o diabo se esconde precisamente nos detalhes, mas
um detalhe é isso mesmo, um detalhe, um pequeno pormenor fácil de contornar mas
igualmente capaz de emperrar uma engrenagem, porém uma excepção, não a regra.
De
Tróia e Esparta à Roma de César, a Napoleão, Trafalgar, Wausterlitz, Wellington,
Waterloo, Solferino, à Guerra Russa Patriótica de 1812 que deixou Napoleão
vencido às portas de uma Moscovo deserta e incendiada, à batalha de Balaclava, tristemente
lembrada como exemplo da falta de coordenação, ou de estudo, ver a “Carga da
Brigada Ligeira”, imortalizada no poema homónimo de Tennyson, à guerra da independência
e à guerra da Secessão dos EUA, Verdun, Galípoli, Ardenas, invasão da Normandia
no dia D, Estalinegrado, Midway, Guadalcanal, até onde quer que se esperou pela
sorte ou pelo destino, os estrategas e os tacticistas debruçaram-se sempre
antecipada e cautelosamente sobre as situações procurando antecipar tudo, calcular
tudo, dos movimentos do inimigo à sua força e composição.
Em
Portugal, a última vez que que alguém procurou antecipar e acudir ou remediar
de modo minimamente atempado, minimamente programado, pensado, premeditado e
ponderado resultou num grito de guerra que inda hoje ecoa nos ouvidos de muita
gente;
-
Para Angola rapidamente e em força !
e foi proferido em 13 de
Abril de 1961 aos microfones da Radiotelevisão Portuguesa porque o bandido que foi
Salazar não entendia, ou não concebia, vir um dia mais tarde a entregar aos
seus pares o testemunho dum país dotado de menos património do que ele
recebera. O resto são peanuts. Aquele bandido não quis (morreu sem o ter dado),
não quis abrir mão do nosso património, aliás a sua falta de carácter e de
respeito para com o próximo levou-o a amealhar durante quase quarenta anos,
tendo-nos deixado os cofres cheios, muito dinheiro, muito ouro, mas um país
carente de infra-estruturas, e que agora temos vindo a construir à pressa,
pagando-as caríssimas, sendo um encargo para toda a nação e uma bênção ou um
maná para alguns. Bem, nem tudo foi mau, escolas por exemplo construiu umas
quinze mil em perto de quatro décadas, das quais Nuno Crato só em três anos
fechou metade, trabalhando bem e depressa como Nuno Crato o fez haverá bem
poucos. Enfim, peanuts.
Assim
como assim o Nuno só antecipou, afinal já quase nada é nosso, nem o pilim que o
bandido cá deixou. Qualquer dia somos todos emigrantes sem sair da nossa
própria terra, nada será nosso a não ser as chicotadas que nos caírem no lombo.
Isto está entregue à bicharada, a caucasianos, chinocas e pretos, o bandido
deve estar a rebolar-se de raiva na cova, tão nacionalista e patriota ele era. Portanto confirma-se uma vez
mais, antecipar ou não, eis a questão, o factor crucial.
“Orgulhosamente
sós”, foi outro grito lançado por esse bandido que foi Salazar, proferido como um
grito de orgulho, o grito de uma nação que não sucumbia ao revoltoso mar que o
mundo era nessa altura. Hoje, por tudo e por nada benzemo-nos e “antes só que
mal acompanhado”, mas a verdade é que dei por mim pensando no dia em que a UE
anunciou a extensão da linha do TGV até Badajoz, que chegada ali parou, dei por
mim pensando que estamos ficando de novo sós, já não orgulhosamente sós, nem
por o desejarmos, mas porque não interessamos a ninguém, nem como gentes nem
como economia e todos nos cagam em cima, a começar pela UE que depois de
durante anos nos ter enterrado ingloriamente em dinheiro se deve ter fartado de
nos aturar.
Está
mais que visto que, quer queiramos quer não, estamos voltando à versão pobre do
“orgulhosamente sós”, nem sei se iremos desenvolver-nos com base no mercado
interno, que isto nem é interno nem é mercado, não é nada, nem dinheiro temos
para mandar cantar um cego, e andamos a discutir décimas de crescimento ou
décimas no desemprego, tudo merdices ridículas que deveriam envergonhar quem as
discute, o problema é que não antecipámos, nunca antecipamos e agora todas as
merdas nos caem em cima. Antecipar, eis a questão, o factor crucial.
Porque
não acautelámos, porque não antecipámos as dificuldades nunca lhes fizemos
frente, nunca as driblámos e hoje, paradoxalmente a nossa esperança radica
no crescimento da miséria, da pobreza e da fome, que tornarão vantajoso
deslocalizar para aqui as empresas da Europa em vez de para a longínqua China
ou para a turbulenta Europa de leste. A fome é assim a nossa última réstia de
esperança, e também muito boa conselheira, dizem, é de tal ordem o labirinto de
situações e de contradições em que Portugal se enleou (em que as nossas elites
o enlearam), que ninguém vê saída nenhuma, a não ser que apareça outro bandido
bem amado. O último conseguimos mantê-lo connosco quase quarenta anos.
O
bandido do Salazar amealhou durante perto de quarenta anos, mas estes
democratas gastaram, esbanjaram, dissiparam outros quarenta, e de tal modo e
com tanto empenho que vamos ficar agarrados aos tomates até 2060, ou seja
outros quarenta. O mal nem está no Pedro nem no Costa, dois parvalhões muito
diferentinhos, o mal vem de há quarenta anos, o mal são 500 mil desempregados,
500 mil emigrados, 500 mil mal empregados e mais 500 mil arruinados... O mal
vem da libertinagem e da desvalorização de valores nos últimos quarenta anos, desvalorização
da ética, da moral, da responsabilidade, da competência, da honestidade, da lealdade,
da fidelidade, da solidariedade, da liberdade, a tudo isso demos sumiço,
contrapondo a quarenta anos do bandido Salazar e de moderação e poupança.
Jerónimo
de Sousa, disse ontem no Algarve e erguendo bem a voz; "Nós precisamos
produzir mais, de produzir mais riqueza e distribui-la melhor" levando-me
a concordar plenamente com ele. Arrastou-me consigo, coisa que há muito não
conseguia, proclamou ele que precisamos produzir mais, ora nem mais, tão simples
como somar 2 + 2, porque ele sabe haver perigo, está vendo o exemplo do Brasil,
desta vez o golpe não virá pela mão de um Pinochet, desta vez a coisa será mais
elaborada, já está sendo, será a mãozinha invisível dos mercados disfarçada de
normas democráticas da UE, ou com qualquer outra roupagem, talvez um suave
figurino McCartista, e descambando aí para onde fugirão os perseguidos e
exilados ? A Leste tudo arde, a Coreia do Norte é fria e tem uma língua difícil
de aprender, a Venezuela anda em bolandas, resta Cuba, onde todos querem tudo
menos ver os portugueses a roubar-lhes os parcos empregos. Se isto cai nem
haverá um lugar onde passar ou viver a clandestinidade.
Mas,
contudo, todavia, porém, a esperança é sempre a última a morrer, olho para o
jornal da terra e deparo com o maior investimento alguma vez efectuado nas
margens de Alqueva, o maior e certamente o único, na página principal e com
desenvolvimento nas interiores anuncia-se ter sido sinalizado o início de um
percurso pedestre ligando as aldeias ribeirinhas, tendo sido inaugurado o
momento com pompa e circunstância. Embora não passe de um projecto, segundo
percebi, ligará todos os concelhos dos 14 municípios ribeirinhos, existindo
igual projecto para o BTT.
Haja
pois esperança, o Turismo do Alentejo também estava solenemente representado
dando ar de seriedade à coisa, estamos salvos, vão chegar via aeroporto de Beja
resmas de caminheiros ou caminhantes, e paletes de ciclistas ou
ciclo-alpinistas amantes do BTT. Se o ridículo matasse e a parvoíce em vez de
fazer rir desse dinheiro, a esta hora estaríamos todos mortos de riso ou no
mínimo ricos…
* NOTA; E porque alguém me perguntou há momentos ingénua e
inocentemente ; “Antecipar o quê ? Que é que há para antecipar ? Não compreendo “. Eu responderei: Antecipar é reformar, conceber e aplicar reformas, atempadamente,
constantemente, porque o mundo gira depressa e nunca meias-reformas ou reformas esfarrapadas…