A
barragem de Alqueva foi inaugurada em 2004, e a legislação que regulamentaria o
perímetro da barragem deveria ser conhecida e estar publicada no dia da
inauguração. O bom senso e a demonstração de competência assim o aconselharia,
ou ordenaria. Contudo e após anos e anos de peripécias, tal como se pode
constatar pela notícia que o Diário do Sul de hoje, 26 de Abril de 2016
publica, continuamos como em vésperas dessa inauguração, que teve lugar vai já para
doze anos.
Metido
por essa circunstância numa encruzilhada, o meu partido tornou-se um alvo de
anedotas veladas, não tanto por ter construído a barragem, mas por se gabar desse
feito ante os alentejanos de modo impante e sempre que a oportunidade lho
permite, sem que se veja um reflexo notório no desenvolvimento por ela induzido
e que dela era esperado. Pois o meu partido volta agora a impar novamente de
orgulho, agora que a comunicação social o apresenta não simplesmente como o
defensor do progresso, que nunca deixou de ser, mas como a vanguarda da luta actual
e envolvendo a barragem, exigindo ao ministro respectivo, agora outra vez,
agora de novo, o que não foi capaz de concretizar ou resolver em doze anos.
Eu
não acredito em coincidências, e nestas coisas de tacticismos partidários nem
tão pouco creio em casualidades, pelo que ao ver a notícia de hoje do Diário do
Sul rejubilei, eu tinha há dias atrás feito uma análise bastante crítica da
situação* e, com orgulho meu, embora não acredite, parece que alguém me terá
lido. Acresce que o meu camarada deputado que hoje arvorou e conduz o
estandarte dessa luta é o mesmo que durante estes doze anos liderou o município
que mais se identifica com a barragem e que debalde se esforçou por levar a
água ao seu moinho, saiba ele que conta com o meu apoio e espero sinceramente
que desta vez seja capaz de levar essa velha tarefa a bom porto, a cabo.
Senão
vejamos; “ A história que vos vou
contar, verdadeira, embora lhe desconheça os pormenores, ilustra bem a anedota
que somos ou que mentes ilustradas fizeram do Alentejo. Era uma vez uma
barragem que deu origem ao maior lago artificial da Europa, coisa grande,
grandiosa, e a que era necessário regulamentar o perímetro evitando-se a
construção clandestina ou o aproveitamento selvagem das margens. Alguém criou
um rascunho de regulamentação que antes de ser vertido em lei foi colocado sob
apreciação de todos os autarcas ribeirinhos. Deram o seu parecer e opinião
tendo a lei avançado para publicação. Poucos anos mais tarde os mesmos autarcas
desataram a criticar vivamente a mesma lei que tinham escrutinado, desta vez
com a acusação de que o regulamentado era demasiado restritivo, nada permitindo
fazer na orla da barragem, tendo a lei sido de novo mudada, não sem antes obter
de novo o seu escrutínio e aprovação. Resultado, qualquer dia para fruirmos da
barragem teremos que ir à margem espanhola, por cá continua a não se permitir
que alguém faça o que quer que seja, ficámos com uma marina e um restaurante
sobranceiro a esta e agora, agora, para dinamizar a coisa, e sendo a esperança
a última a morrer, deparei há dias num jornal da terra com o maior investimento
alguma vez efectuado nas margens de Alqueva, o maior e certamente o único, na
página principal desse diário e com desenvolvimento nas interiores,
anunciava-se ter sido sinalizado “o início de um percurso pedestre” ligando as
aldeias ribeirinhas, tendo sido inaugurado o momento com pompa e circunstância.
Embora não passe de um projecto, segundo percebi, ligará todos os concelhos dos
14 municípios ribeirinhos, existindo para o BTT idêntica intenção. Haja pois
esperança, o Turismo do Alentejo estava solenemente representado dando ar de
seriedade à coisa, estamos salvos, vão chegar via aeroporto de Beja resmas de
caminheiros ou caminhantes, e paletes de ciclistas ou ciclo-alpinistas do BTT
amantes. “ *
Ora está
explicado porque o que o Diário do Sul hoje nos apresenta como uma luta e uma
exigência novas, não passa afinal da assumpção e demonstração de um enorme
fiasco, enorme fracasso, enorme incapacidade e em último grau da capacidade
manifesta das competências envolvidas. Chama-se a isto, a esta opereta
mediática de hoje, tentar dar a volta às coisas ou atirar com poeira aos nossos
olhos, esta matéria é velha, é um contencioso que se arrasta e é exemplo
taxativo das vicissitudes que amarram o desenvolvimento do Alentejo. Todavia,
desta vez e a julgar pela importância do personagem envolvido, e da focagem
colocada no objectivo, creio firmemente que a coisa se resolverá, se
conseguirá. Não é o meu camarada deputado um homem que toda a vida averbou
sucessos ?
Diz-nos
o Diário do Sul, os sublinhados são de minha autoria; “ O deputado interpelou o
ministro João Matos Fernandes durante uma audição parlamentar, recordando que a
última revisão do plano que gere o ordenamento do maior lago artificial
da Europa tem dez anos, condicionando alguns investimentos já que qualquer
projecto com vocação turística tem que ter um mínimo de cem hectares com plano
de pormenor e plano de urbanização. “Foi um retrocesso, o único
investimento de qualidade é a Amieira Marina com 20 hectares, que não
seria hoje possível”, sublinhou o parlamentar do PS, sublinhando que a
albufeira tem um plano de ordenamento que “limita o desenvolvimento da região”,
enquanto alertou para o “enorme potencial da barragem do grande lago”. Norberto
Patinho destacou ainda estar em causa o crescimento económico, defendendo que
deverão ser criadas condições para inverter a actual situação, recorrendo “ a
um correcto ordenamento do território, em que se garanta a preservação e
valorização ambiental e do património, mas que permita um correcto
aproveitamento do potencial turístico do plano de água e da sua envolvente”.
“Sendo evidente o enorme potencial da Barragem e do extenso plano de água,
sendo o crescimento económico determinante para o futuro do país, existindo por
parte do actual governo uma atenção especial para com o interior, é fundamental
que se criem condições para se concretizarem objectivos iniciais que não se
concretizaram na dimensão das expectativas criadas”, sublinhou ainda o
deputado. Patinho sugeriu a criação de “um instrumento que potencie a
“dinamização e diversificação da base económica, uma nova cultura empresarial,
a promoção do emprego através da dinamização da actividade turística… ”. E mais
blá blá blá…
E eu
pergunto, estavam a guardar a barragem para algum investidor amigo aproveitar a
situação ou para Marcianos verdinhos aqui aterrarem ? Cem hectares ? A título meramente informativo digo-vos que o novo
Hotel Vila Galé em Évora com piscina exterior relvados e tudo nem chega aos 5
hectares…Outra pergunta que mui justamente coloco é quem é que nessa altura
presidia e tem presidido aos concelhos da zona ribeirinha ? Doze anos depois as
palavras são as mesmas, dinamização, potencial, potencialidades, mas folgo em
saber que finalmente agora alguém assume o clamoroso fracasso, aliás coisa
comum em todo o Alentejo, do investimento turístico em Alqueva, pois nessa
altura e durante esses anos nem a Região de Turismo, tão lesta a inaugurar
veredas para caminhantes e pistas para bicicletas denunciou ou sequer para ele
alertou; “é fundamental que se criem
condições para se concretizarem objectivos iniciais que não se concretizaram na
dimensão das expectativas criadas” , pois não, temos pena mas realmente não
se concretizaram, eu diria mais, em dimensão nenhuma, nem uma pequenininha, só
a demagogia atingiu a dimensão da planície…
O meu
partido tem é que, para gerir a informação, arranjar gente mais capaz, sob pena
de cair num descalabro, na risota, na anedota. Espero não seja com estas
habilidades que pretenda conquistar a maioria das câmaras alentejanas, como afirmou
o camarada deputado e presidente da federação e no qual eu creio, é um homem
habituado à luta, um bom gestor de expectativas, um homem experiente, um homem
de sucesso, nem por um momento duvidei que desta vez e com ele os concelhos
tresmalhados serão todos conquistados, do mais remoto ao mais próximo.
Ora
uma reconquista desta envergadura comparada com o convencimento de um ministro
para a causa de Alqueva, ministro que até é do mesmo partido, parece-me uma
brincadeira de crianças. O meu camarada deputado goza felizmente de fama,
respeito e reconhecimento de sobra para que finalmente o Alentejo, com ele,
inflicta o rumo e acelere na senda do desenvolvimento e do progresso que tardam,
não fez ele de Portel um concelho exemplar através do seu cunho pessoal e
experiência de vida ?
Alguém
dúvida ?