Bem prega
frei Tomaz, faz o que ele diz, não faças como ele faz.
Não tenham a
menor duvida, o segredo da coisa está no lançamento, um bom lançamento é o alfa
e o ómega, o resto são peanuts, depois de lançada a coisa aguenta-se, a coisa
ou o coiso por que o que há a vencer é a inércia inicial, como Newton bem sabia. Há dois mil e duzentos e tal anos já Arquimedes de Siracusa, mais modesto, afirmara que sendo-lhe dada uma alavanca e um ponto de apoio mudaria o mundo,
esclareço aqui ser a alavanca uma das seis máquinas simples da mecânica,
máquinas a partir das quais derivam todas as outras por mui complexas que
sejam. Ressalvo que talvez Arquimedes tenha dito deslocaria, e não mudaria, pretendo
evitar confusões e eventualmente más traduções já que alavanca, fulcro e força
eram tudo o necessário para deslocar ou mover o mundo, cousa bem diferente da
ideia do meu amigo Tomaz que só quer mudar o mundo ou mudar-nos a nós a seu
jeito e desejo, mas por nossa conta e ónus.
Há mais de
setenta anos Wernher von Braun sabia tudo depender do impulso inicial, desde
que houvesse um bom impulso inicial qualquer coisa subiria e se manteria lá em
cima, o impulso era tudo, era tanto que ainda hoje o empuxo ou força dos motores
dos jactos ou dos foguetões, dos Atlas, dos Titans, dos Saturnos, dos Arianes,
dos Soyus e tutti quanti são medidos em impulsos, libras, já os dos automóveis, máquinas
mais modestas, são ainda medidos em cavalos por deferência para com os ditos e a
engenharia das máquinas a vapor e dos cavalos vapor, os designados Horse Power.
A cantilena
de hoje vem a propósito de um choque tido e havido com o meu amigo Tomaz, chamemo-lo
assim, tendo eu dito duvidar estar ele em órbita sem o impulso inicial que levou. Ele não é parvo de todo, e é inteligente, o que não lhe
tolerei foi vir armado em anjinho pregar resignação aos peixinhos, coisa que
nem Stº António se atrevera a fazer. O que sucedeu foi que numa qualquer
publicação na Net desenvolveu o amigo Tomaz uma teoria do sociólogo
Richard Sennett que a Terramar publicara em 2001 “A Corrosão do Carácter” um
influente ensaio sobre as consequências pessoais do trabalho em cada individuo
e que segundo parece permanece perfeitamente actual, segundo o qual “já
ninguém espera trabalhar na mesma organização a vida inteira, embora a empresa
para a qual se trabalha seja um grupo social importante ao qual pertencemos e
que define parte da nossa identidade”.
Esta teoria,
que nem me dei ao trabalho de ver até que ponto plagiou, o Tomaz escreve bem e
nem precisaria disso, nem foi isso que esteve em causa, em causa esteve o facto
de vir consolar-nos, de nos induzir à resignação quando o país está como está
graças em grande parte ao partido em que debutou, ao partido que o impulsionou,
ao partido que não fez pelo país o que devia ter sido feito, e já agora
deixem-me perguntar que partido fez alguma coisa de jeito nos últimos quarenta
anos ? Se assim tivesse sido certamente não estaríamos como estamos e pior havemos de
estar.
Pois este meu
amigo, que como disse é inteligente e tem um curriculum extraordinário, só não
tem inteligência para saber quando deve ficar calado ou que assuntos escolher,
ele que orbita onde orbita e tudo deve ao impulso inicial que, como de inicio
vimos mete lá em cima qualquer merda que posteriormente e com facilidade por lá
se aguentará. Ora sucede ter o dito cujo Tomaz ter sido nem mais nem menos que bafejado
pela oligarquia que aqui na terra põe e dispõe de lançadores, lançamentos,
órbitas e tudo quanto lhes convenha, num impulso que me envergonharia mas que
ele subtilmente escamoteia no vero e lustroso curriculum que publicamente
apresenta, será caso para dizer que com a verdade nos engana.
No fundo o
que nos opõe e eu lamento é que iguais oportunidades não sejam dadas a todos,
que se vêem obrigados a emigrar à falta de amigos impulsionadores… Fica mal a
quem foi colocado lá em cima pela mão dos seus perguntar aos outros por que não
sobem, ou pior, consolá-los por ficarem cá em baixo, e que se fodam, que
se resignem que isto da democracia não é para todos mas somente para alguns eleitos. Desgraçadamente até no exemplo que foi buscar para ilustrar o seu
escrito foi infeliz, sacar da PT como exemplo é coisa que nem lembraria ao
diabo, a PT enquanto empresa pública foi um modelo de péssima gestão a tal
ponto que meteu 3700 colaboradores, funcionários ou trabalhadores em casa sem
fazerem nada e a pagar-lhes, aliás fomos nós quem lhes pagou e paga ao pagar as
comunicações mais caras da Europa... esquecendo ter sido José Sócrates enquanto
PM e A. Costa enquanto seu Ministro da Justiça ou da Administração Interna quem
fez a cama ao engenheiro Belmiro de Azevedo e à sua OPA, dando desonestamente início ao estrondoso
rebentamento da PT ... Agora é aguentar,
é pregar resignação, é consolar os trabalhadores de quem fizeram gato-sapato, é
obrigar a Altice a adoptar os hábitos estatais de gestão, é espremer todos
quantos ainda cá estão e não debandaram deste paraíso, interrogando-me eu se
isto é que é um verdadeiro democrata, dividindo a sua vasta sabedoria com o
povinho mas esquecendo-se que é por estas e por outras tais que em Portugal as empresas
morrem ou nem chegam a nascer e do Alentejo até fogem...
Para se
pregar moral tem que se ter autoridade (moral) para o fazer... Se o meu amigo Tomaz
não viu essa relação lamento, quanto ao texto, certamente vero e oportuno, nada
tenho a opor, aliás o texto encontra-se noutras plataformas, sérias, onde
Richard Sennett e “A Corrosão do Carácter” são abordados porventura com menos
copy cola que aqui e muito mais meditação e avaliação crítica quanto ao cerne
da questão envolvida... Não basta atamancar qualquer opinião para a tornar
valiosa, sobretudo mal fundamentada como foi o caso, ao abordar o caso nestas
páginas limito-me a expor outra opinião, uma outra perspectiva, e
não a apresentar um mero juízo de valor ou preconceito, para que os leitores ajuízem
da ética tortuosa e dos passos dados por quem nos prega sermões. Falar é fácil
dar conselhos é fácil, o país está pejado de sábios e de conselheiros porém não
temos nada, quarenta anos depois de Abril não temos nada, temos mais emigração, porém mais qualificada, e mais desemprego, temos isso sim mais oportunidades para
boys e amigalhaços, em contrapartida temos mais saídas fechadas para todos,
temos menos oportunidades, menos riqueza. É isto que temos depois de tanto sábio,
tanto democrata e tanta democracia.
Esta minha
página, este blogue está bem reconhecível e acessível. Não costumo atirar as
pedras e esconder a mão, nem tentar parecer melhor ou mais limpo do que sou, ao
contrário de muito boa gente não tenho necessidade disso. O curriculum apresentado
pelo meu amigo Tomaz devia citar as ajudas e empurrões que a oligarquia
socialista de Évora lhe concedeu, a ele, mas que não concede a todos, quero
dizer o PS não criou um país nem uma democracia onde todos tenham iguais
oportunidades, aliás é um partido à deriva e que em quarenta anos não encontrou
a sua identidade nem o seu lugar nem os seus eleitores. Prova disso foi ter
perdido vergonhosamente as eleições depois de quatro anos de asneirada grossa
da direita (a quem continua a dever o sucesso actual) e ter-se agarrado à bóia
de salvação que foi para ele o BE e o PCP, partidos que à primeira oportunidade
lhe farão o que foi feito ao ingénuo Alexander Kerensky, um menchevique que aliás
não merecia outra coisa, como A. Costa um político apagado, untuoso e xico-esperto merece e com quem
jamais iremos longe ou acharemos a salvação.
Resumindo, ter
padrinhos e um bom emprego, e estribado nisso vir pregar aos peixinhos é para
mim coisa que só concebo aos santos ou a gente sem vergonha na cara.
* NOTA: Se não coloco
aqui o link referente ao assunto abordado é tão só por não desejar fazer do
assunto uma questão pessoal, a luta politica ou a exegética é uma coisa, a polemologia
é de âmbito pessoal, completamente diferente e por onde não desejo seguir.
Entretei-vos com “A Corrosão do Carácter” - Richard Sennett - Terramar – 2001. O meu amigo Tomaz fez parte
das estruturas locais do PS/Évora. A partir de 2000 desempenhou, por duas
vezes, funções públicas. Primeiro, entre 1996 e 2001, nos gabinetes do
Secretário de Estado da Juventude, do Primeiro-ministro e, finalmente, do
Ministro da Presidência e das Finanças, do qual foi chefe de gabinete. Entre
2006 e 2009, foi coordenador adjunto do Plano Tecnológico. É membro da direcção
do Centro Nacional de Cultura e co-autor do livro “Terror ao Pequeno-Almoço – A
Gestão Que Preferia Não Conhecer”.