quarta-feira, 14 de março de 2018

494 - O MARMITA JORNALISTA E O BEM MAIOR


Em volta da mesa comentávamos uma entrevista dada por alguém sob o tema “O Alqueva corre o sério risco de não ser utilizável já a partir de 2019” * em que o empresário José Roquette acusava os partidos de estarem como sempre estiveram em relação a tudo, num estado de negação sobre a seca em Portugal. “E nem falam da única solução: ir buscar água ao mar” acrescentava ele.

O amigo Marmita, sempre mui sério e distinto, cofiou a barbicha afirmando tratar-se esta entrevista dum alerta bem atento, lúcido e a ter em conta pelas implicações que no Alentejo terá o agravar da situação, com reflexos negativos no abastecimento público, na viabilidade dos investimentos e na atracção turística, agricultura em geral com destaques para a vitivinicultura e pecuária.

           O homem sabe da enxertia, exclamei para o Marmita. 

Eu, como sabem farto de os aturar a todos, contrapus terem sido os ceguetas dos presidentes das câmaras da zona do perímetro da barragem quem, por mais que uma vez tornou a legislação reguladora da zona ribeirinha somente acessível a milagreiros ou a amigos. Alguns desses ignorantes e incompetentes foram promovidos a deputados, como o de Portel. Quando a comunicação social não cumpre o seu papel a tempo e horas é o que acontece... Ninguém fez perguntas, ninguém levantou questões, tudo se agachou ante os barões... Agora chupem... Naturalmente a piada era para o Marmita, ele é que se arroga de jornalista. Mas o amigo Marmita acusando a cotovelada respondeu-me, manhoso:

- Amigo tu que és uma pessoa inteligente e sem compromissos partidários, percebes que isto é uma manobra que interessa a muitos, para dividir o Alentejo, colocando Beja contra Évora. O Alqueva foi a salvação do Alentejo e estas teorias catastróficas só ajudam ao descrédito do nosso território e das nossas gentes. Tu sabes bem como é difícil conseguir realizar qualquer projecto aqui no Alentejo. Infelizmente há sempre alguém disposto a fazer falhar ou desistir. Por vezes há que fechar os olhos a pequenas tricas locais em nome do bem maior que é o Alentejo.

Eu naturalmente retorqui, até porque quem não sente nem é filho de boa gente;

- Primeiro toma nota desta ó Marmita, antes de mais nada o Alqueva foi a salvação do PS, foi feito por haver uma necessidade enorme de ganhar votos para o PS e depois o que não ajuda nada é um povo amorfo, e menos ainda que alguma comunicação social o mantenha ignorante das realidades da terra, eu gosto de jogar aos dados e às cartas, mas com dados de seis faces, ou baralhos com as cartas todas. É difícil fazer qualquer coisa aqui porque em vez de derrubarmos barreiras as erguemos, e por serem os partidos e os seus interesses pessoais e mesquinhos quem cria as dificuldades... No Alentejo ou no país, e quando não vamos a jeito somos acusados de bota abaixo... De não estarmos a contribuir para o bem maior, pois isso ... E digo-te mais ó Marmita, alguém que não eu tem o dever de saber quais os responsáveis pela legislação reguladora da zona ribeirinha do grande lago e conhecer o modo como essa legislação foi criada, modificada, recriada e as razões pelas quais continua sem surtir efeitos práticos...


Disse-o, disse isto numa clara alusão ao papel do Marmita, o jornalista e quem deveria conhecer e mostrar todo o baralho ao invés de o esconder, como ele dizia em nome dum bem maior… Foi o suficiente para se pôr nas putas que é como quem diz dar de frosques, abalar, tanto melhor, eu e o Olavo daríamos conta do almoço.

O bem maior, o que é o bem maior ? Achei graça a essa de ser confrontado com tal teoria, empírica, esdrúxula, ilógica, pragmática, estúpida, do bem maior. O melhor é eu contar como acabou a coisa.

Quem não achou graça a nada do que se passou foi o meu amigo Joaquim pois deve ter ficando a pensar qual e quando será que um destes caramelos, ou os dois adianto eu, lhe aparecerá porta dentro pagando os almoços já que não tendo havido unanimidade quanto ao livre arbítrio ou arbitragem do bem maior eu e o Olavo, de Bensafrim, é lá de xima não pode ser bom, nos levantámos de rompante tendo abalado, um para cada lado e deixado a conta por pagar. Da última vez, e já la vão uma boa dúzia de anos, voltámos passadas duas semanas, dessa ficou o senhor Joaquim a ganhar, pagámos dois almoços cada um, ele servira dois, mas mais tarde alegou juros de mora e prejuízo na expectativa de rendimento, logo justo motivo para indemnização, e fechou-se em copas, aquilo não era a A.R. resmungou, nem ele era a S.S. alvitrou …

Engolimos em seco e calámo-nos, afinal a atenção e os mimos com que nos serve valem muito mais do que estava em causa. Adiante, ou em frente que atrás vem gente como costuma dizer uma amiga minha, por acaso igualmente galega.


A discussão começara logo na definição do que seja o bem maior, teria que ser uma coisa de força, de peso, eu puxara da artilharia que me acudira ao espírito, as lições da Dr.ª Escária Santos, ou da Rosa Silva, já não lembro qual delas, são coisas com quarenta anos, mais, eram assuntos que, tirando Ferrel, a Tv ou a imprensa, nunca ninguém abordava nem aborda, mas lembro-me bem das lições do peso, da densidade, do peso específico, do quilograma padrão, do peso atómico e da massa atómica, a qual ela fazia questão de nos frisar serem coisas bem diferentes, e depois avançava por aí não havendo quem quisesse perder uma aula sua, sua dela, nem quando comecei namoriscando a Luisinha perdia uma aula dela, ou delas, Einstein, E=mc2, a fórmula que mais vezes verão e ouvirão na vida, toda ela ligada ao peso específico, ou atómico, E, energia, é igual ao produto, produto enquanto resultado produzido, da massa ou matéria utilizada multiplicada pela velocidade da luz, qualquer coisa como trezentos mil quilómetros por segundo, portanto meus meninos, se pegarem num berlinde e o atirarem a essa velocidade ao chão deste laboratório originarão uma explosão da qual resultará uma libertação de energia suficiente para rebentar com toda a escola,

- Férias! Eram férias pa todos sôtora !

se ficasse alguém vivo volvia ela, e continuava, agora imaginem que em vez de um berlinde de vidro o seria de algodão, puf, um fiasco, o mesmo não diríamos de um berlinde de urânio, mais “pesado” que o chumbo, pois mandaria Évora e todo o distrito desta para melhor,

- Ohhhhhhhhhhhhhhh, exclamámos todos à vez.

só quero que entendam o valor do peso atómico, as diferenças de peso específico, massa atómica, que entendam que o petróleo, a gasolina, o gasóleo são leves, o produto da sua combustão faz muito mas seriam precisos dois milhões de camiões cisterna explodindo em simultâneo para libertarem a mesma energia libertada em Hiroxima,

- Professora tome esta rosa, é a Rosa de Hiroshima **

- Caluda, não estamos brincando, estou vendo se vocês não ficam estúpidos, estou cuidando se aprendem alguma coisa.


- E a ver se não ficamos como o Relvas ou o PPC sussurrei eu ao Olavo, meu colega de carteira que almoçava ali a meu lado sob o olhar cuidado e atento do senhor Joaquim.

atenção, todos atentos, portanto e recapitulando, é importante o peso, a massa, o peso atómico quando se trata de obter resultados do produto pela velocidade daí que, olhem ali naquele quadro a Tábua dos Elementos, o maior produto se obtenha dos elementos mais pesados como o urânio, o qual tem um potencial de força enorme e cujos segredos estamos agora começando a dominar como se viu em Nagasaki, Olavo guarda a tua rosa, e como se vê pela proliferação de centrais nucleares por todo o mundo as quais, se não bem controladas, pum, ou pim, ou como diria a Sandra plim plim acabou-se chegou ao fim, kabummmm !

- Tás a ver Olavo, A tal teoria do bem maior é uma cagada como foi Chernobil pá,

e foi mais ou menos isso que nos incompatibilizou, ele não gostou da palavra, ou do exemplo escolhido, foi o primeiro a levantar-se, agarrou no telemóvel e abalou, eu segui-lhe o exemplo, o senhor Joaquim ficou ardendo e olhando, feito cara de parvo, pensando de si para si, soubemo-lo mais tarde, estes cabrões deviam ter ido para Fukushima ou para a puta que os pariu.
A verdade é que o Olavo foi sempre um esquerdista pouco democrata, ou por outra, democrata desde que todos fizessem o que ele desejava no que não era muito diferente do bochechas, tudo bem desde que façam o que ele manda, e eu não lhe estava a ir ao jeito pois a teoria está enferma de inúmeras incongruências;

O que poderemos considerar ser o bem maior ?
Quem decide o que é o bem maior ?
Decidem os eleitos ? Um eleito em especial ?
Porquê esse eleito ?
Que tem ele a mais que outros ?
Quem lhe outorgou autoridade para tal ?
E o povo ? E os representantes na AR, toda a AR ?
Porquê esconder / ignorar algo em nome do bem maior ?
O escondido ou ignorado não poderá ser um bem maior ?
E a democracia ?
E a transparência ? 

Será que não temos direito à verdade ? Porque é então o Alentejo a região mais atrasada do país mais atrasado da Europa ? Será isto o bem maior a que temos direito ? Teremos nós os piores políticos ? A julgar pelo estado do país e do Alentejo é justo que assim pensemos mas o Olavo já se pirara, e o Marmita muito antes dele, e muito antes porque arrasta um peso enorme na consciência, como se arrastasse umas grilhetas de bola de ferro, um problema de incompatibilidades, logo de transparência, é que o nosso amigo Marmita, dito, referido e conhecido como "jornalista", mantinha na sua página duma rede social alusões a uma sua ligação a determinada instituição, alusões que em 8 de Setembro tinham sido retiradas, contudo, uma análise actual à secção "sobre" deixa ainda ver essa alusão, agora referida como uma ligação "anterior" todavia, anterior ou não, existiu, portanto ele pecou.

Digo-vos isto para que saibam que eu não minto, nem tão pouco brinco em serviço, conto-vos para que também se riam, se riam e vejam até que ponto estamos necessitados de coerência, os que a devem praticar e os que a devem exigir, porque ambos parecem ter esquecido o seu papel, o papel de cada um. Ainda não vivemos no reino da Dinamarca e até um velho jornal, tem que ser respeitável e renegar a desfaçatez. Um jornal deve respeitar o público leitor a que se destina e albergar gente respeitável. Mas não senhor, um dia destes dei com a pérola que vos acabei de contar, um dos subdirectores ou vice-directores, é, em simultâneo e sem que isso o incomode minimamente, vogal de uma instituição privada, propriedade de figura pública cuja filiação partidária é sobejamente conhecida de todos e que, comummente surge reportada (por tudo e por nada) nas páginas do dito diário.

Que tal desrespeito não incomode os leitores é o que me incomoda a mim, a mim que sou uma besta, até embirrante, isto para não vos dar conta de ápodos piores. São 17:37h de quarta-feira 14 de Março, acabei de confirmar a pagina pessoal do amigo Marmita, “jornalista”, onde ainda persiste essa alusão à entidade a que o liguei e à qual por dever de isenção e de ofício nunca se devia ter submetido. Que dirá acerca disto a lei de imprensa que tanto gostam ele e o seu jornal de invocar ?

Coerência e integridade precisam-se...

Coloquem anúncio… Encontrem-na…


Já no que concerne à tal entidade, não percam tempo, nem um nome lá aparece apesar dos mui vastos e certamente “mui dignos” corpos sociais daquilo tudo tresandarem a transparência…

É preciso coerência, é preciso que não haja contradições entre as palavras e os actos, até eu levo isso a sério neste blogue onde, por princípio brinco, mas com respeito, respeitando-vos até quando mando alguém à merda, o respeito acima de tudo.

Reclamar ?

Que reclamem, mas não é a mim que devem apresentar ou fazer as vossas exigências.






ROSA DE HIROSHIMA

Canta Ney Matogrosso, compositor: Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexactas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas

Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva

Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada.