Eu quis oferecer-te
uma flor amor, uma flor que cantasse um anseio, um receio de te perder, uma
flor que encerrasse intimidades, lembranças de ti, que te levasse puras e quentes,
palavras ardentes.
Eu queria viver
sempre em melodia, eu queria que não tivesse fim o dia, eu queria estar contigo
agora e sempre, quero ser teu confidente, eu sou alegria, gente. E não esqueço
esses teus olhos, o sorriso, o peito ufano, porque te amo. Cobicei há muito teu
ventre materno, que venero. Ser mãe é sortilégio, foi dádiva dos deuses, mais
te quero.
Eu quis oferecer-te
um ramo de camélias e corri doido por floristas, campos e revistas, sem que em
parte alguma o alcançasse, por isso te abracei e te beijei. Talvez pensasse que
pétalas pudessem florir de meus braços e cobrir-te, que o seu aroma preenchesse
espaços, fazendo-te sorrir. Ver-te sorrir apesar desse teu cabelo em desalinho
que a tentação me leva a querer domar só porque não quero que esconda um rosto lindo,
cujo sorriso sempre me fez sentir bem vindo e ao pé de ti ficar.
Sou aquele que mente,
pensavas tu, mas era já crescido, gente, em que vivia e vive um coração que
sente, alma temente, sonho persistente, atrevido e consciente, que o tempo
ensinou a ser sincero, porque te queria e quero.
Voo por cima dos meus
pensamentos, sonho acordado, monto o cavalinho, parto à desfilada delirante, e
só tu acalmas meu caminho errante, me tornas à terra de mansinho. Queria saber-te
a meu lado a vida inteira e que ela fosse festa, bebedeira, ter-te sempre
comigo p’ra me consolar, para conspirar, guiar na cegueira, sossegar em mim
esta canseira.
Canseira de
incertezas e temores, de não poder sonhar-te eternamente, receios e pesadelos
de perder-te, medo de procurar-te em vão e não te achar, olhar, não te ver e te
chorar. Vivo inquieto, E recordando-te tudo me parece um sonho lindo, céus
multicores, cheirinhos a mil flores, e irrequieto temo o sonhar findo. Febril,
em alvoroço me ergo do sono desvairado, procuro-te a meu lado, sento-me à beira
da cama angustiado, a noite profanada novamente me enleia no seu seio deixando
uma lágrima, um esboço. Um esboço que sonhei e se sumiu, que horrorizado vi
fugir do meu alcance, que temi perder, ficar distante e foi essa saudade que
aquela lágrima traiu.
Não te esqueço, não te
abandono, não quero ficar sozinho neste mundo, foste tanto para mim, meu doce
amor, não deixes que estoire no meu peito um grito agudo, porque para mim tu és
vida, tu foste sempre tudo !
* versão
2
Foto roubada a Luísa Castro |