Poesia é sol que rompe as nuvens do quotidiano. A vida,
essa, quantas vezes não é mais que um sarcasmo, um desalento. Chegar-nos-á um
cansaço dela, uma qualquer doença, como abismo que se aproxima, qual tentação,
quantas vezes anseio de partida.
- Tinhas noventa anos. Eras velho, dorido, as
mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados, o cérebro cansado. *
É um momento de renúncia, os gestos abandonam-se-nos, as
sensações confundem-se-nos. Vivemos uma vida cheia, mas só até entrarmos na solidão,
na penumbra, a vida nunca é mais que um parêntesis.
- Criaste pessoas, e gado, meteste pobres na
tua própria cama, quando o frio ameaçava gelá-los.
Melhor
se a não vivemos de incongruências, se a não conduzimos por atalhos. Se não
fizemos dela coisa a atirar para a indiferença, porque um dia, milhares de
crepúsculos nos rodearão e, momento chegará em que tudo se evapora.
- Contaste-me histórias de aparições, de
príncipes, rainhas...
Mau
é quando nos sobra silêncio, a vida só é plena quando vivida para os outros.
- Por vezes lembro-me de ti...
Ficar-nos-ão
saudades de coisas que nunca fizemos, dos sonhos nunca cumpridos, de tudo quanto
não fomos. Ter vivido é ter sido outra, conformar-se é ser vencida.
- Histórias... Que até hoje trago guardadas
no meu coração.
A
vida é um sonho a que por vezes faltamos, e, se os não temos, os sonhos, a
esses faltamos também.
- O meu coração ficou de rastos. Chorei
lágrimas...
Não
deitemos queixas ao mundo, nada peçamos à vida, tudo lhe demos. Somos todas
escravas de determinismos que nos fogem.
- Estarás sempre guardado no meu coração. **
Tememos
a morte com estranho fascínio, por quê? se ela é alívio, libertação...
*
by Maria Luísa
Baião, criado sexta-feira, 4 de Abril de 2003, pelas 17:44h e certamente publicado
no Diário do Sul, Coluna KOTA DE MULHER nos dias ou semanas seguintes.
** Em itálico e negrito, palavras da Celeste,
16 anos. DS