Quando
no recuado ano de 1851 Wagner compôs
a sua célebre Cavalgada das Valquírias,
ou em 1964 The Animals lançaram um celebérrimo
álbum contendo a popular canção The House
Of Rising Sun, ou ainda quando em 1969 os CCR
Creedence Clearwater Revival lançaram a feroz critica Fortunate Son não imaginavam que essas canções, e músicas, excepção
para Fortunate Son, uma música de
protesto criticando o envolvimento americano na Guerra do Vietnam e os privilégios
dados aos filhos da "elite" que não eram mandados para o combate, dizia eu não imaginavam que tais canções, uma vez retiradas do contexto em que foram concebidas e integradas
num outro mudariam por completo a nossa percepção dessas mesmas composições cujo
sentido ao ouvi-las num diferente ambiente muda completamente.
Foi
assim que Wagner se viu conotado com
a ideologia Nazi, tendo sido acusado de com essa sua composição glorificar em
especial a dominadora blitzkrieg, uma
cavalgada rápida e eficaz que em pouco tempo dominou a Europa, ainda que rapidamente essa cavalgada viesse a sucumbir debaixo das forças democráticas do resto do mundo. Essa reposição ou recomposição democrática não se fez sem custos, mas os milhões que por nós morreram parecem
ter agora sido esquecidos, confirmando que o mundo está pejado de pobres (de
espírito) e de mal agradecidos.
Essas
músicas, e muitas outras, tornaram-se arma apontada, músicas de intervenção porque intervieram, mudaram o mundo e, parafraseando um poeta e cantor que não recordo agora, a canção é uma arma. Em vez de um fotógrafo, que de acordo com a
perspectiva que deseja captar assim manobra ou manipula a objectiva da sua
máquina, o seu olho de boi, o seu olhar, para que precisamente vejamos o que
nos quer mostrar e nos alheemos de quaisquer outros contextos, o músico, a
música, a canção centra-nos no alvo ao qual aponta a sua mira, num alvo pré determinado.
Até
eu sou sensível a estas aparentemente pequenas coisas que só a psicologia parece explicar, a erudita ou
a de massas, tendo sido assim que passei a detestar Penny Lane dos Beatles, 1967, por a ela estar associada detestável
lembrança e, depois da Tessa me ter deixado a ver navios e sozinho enquanto ela
se punha a milhas com um paraquedista prenhe de tatuagens, desporto que pela mesma razão passei a abominar. Foi disco que nunca mais ouvi nem a minha vista dele sequer jamais se acercou.
Muda
o contexto muda a perspectiva, ou muda a perspectiva conforme o contexto, isto
é conforme a música assim será a dança, o que parecendo a mesma coisa não o é.
Embora parecendo a mesma coisa não é a mesma coisa, parece não haver nunca duas
coisas nem duas situações iguais a não ser nas palavras do ilustre professor doutor
Francisco Ramos da Universidade de Évora, meu saudoso mestre de antropologia, e
que uma vez me atirou à cara por o tentar ludibriar com um trabalho, ou melhor gritou
para mim:
- Baião,
a mesma coisa é meter dois dedos no cu e cheirá-los ao mesmo tempo percebe ? E
quanto a esse trabalho (de antropologia) estamos conversados.
E lá
tive que fazer outro trabalho, à pressa diga-se, por acaso óptimo e que veio a
merecer uma nota que nem imaginam um vinte !
Dito
isto imaginem o que é a vontade de regressar a casa do soldado que está no
Vietname ou do filho que está no Iraque, a canção ou as canções e as próprias
letras tomam nesses casos, nesses contextos, um novo sentido apesar de serem as
mesmas ganhando uma dimensão gigantesca e avassaladora, como aconteceu especialmente
com a canção The House Of the Rising Sun.
De Penny Lane esqueci-me com o tempo, até
por ter passado a preferir a filosofia e Trafalgar
Square, ou o jardim e a pedra, digo Speaker’s
Corners* ou Recanto do Orador, 1855.
Não a filosofia nem a Pedra Filosofal**
devida a António Gedeão, uma canção
de que é difícil não gostar, mas a pedra em cima da qual todos falam ou podem
falar se o quiserem, ou orar, discursar, praguejar, contestar, vociferar contra
tudo e contra todos e, prova de veracidade e idade da democracia da velha Albion, essa
pedra designada por Speaker’s Corner
é tão respeitada quanto é garantido o respeito por uma ainda mais velha
tradição, A Magna Carta*** 1215, outra
peculiaridade inglesa.
Ouvi
quando muito jovem uma banda ou uma canção, ou música, não me lembro bem, nem de
quem mas alguém cantava essa canção intitulada Magna Carta. Recordo-vos porém que com o tempo a perspectiva de
quem detém o mando passa a ser outra, a objectividade talvez seja a mesma, mas
o objectivo muda, hoje nada de modas como a de Speaker’s Cornner
nem de imprensa livre, mas sim uma imprensa subsidiada, vendida, comprada,
amordaçada, domada, manipulada. Verdade que o palrar e o ensino se democratizaram,
quer dizer massificaram-se, estupidificaram-se. Hoje a escola é uma máquina
trituradora que produz estupidez e estúpidos a granel, mas democraticamente
iguais, democraticamente estúpidos, democraticamente parvos.
Razão
tinham os Pink Floyd já há umas
décadas quando escreveram ou compuseram o álbum Another Brick in The Wall, de 1979, ou Stanley Kuprik com a Laranja
Mecânica, um filme de 1971, o filme e o CD, ou antes o vinil e o LP, isto
para não ir mais atrás a Orson Welles,
Nietzsche, a Kafka
a Muzil, a George Orwell, a Kundera e outros do mesmo jaez que muito gritaram mas a quem ninguém deu ouvidos, por isso hoje temos a parvoíce
elevada à condição máxima e a governar o mundo.
Andava
eu matutando nestas coisas quando da estante tirei à sorte O APELO DA TRIBO de Mário
Vargas Llosa, Nobel 2010 e de quem já li outras belíssimas obras, como A CIVILIZAÇÃO DO ESPECTÁCULO e outras. Este
novo titulo, O APELO DA TRIBO, que adquiri
há tempos na FONTE DE LETRAS aguardava
vez para ser lido, como outros continuam aguardando, porém conseguiu prender-me
desde o primeiro momento e a sua leitura está a tornar-se-me viciante. É sem a
menor sombra de dúvida a melhor leitura que eu podia ter encontrado nos
conturbados tempos que atravessamos, parecendo ter sido escrita para eles, não
foi, mas a aposta ou o prognóstico do escritor saiu acertado. Talvez Vargas Llosa, como Kundera, nalgumas das suas obras tenham tido uma premonição ou
estivessem ambos melhor preparados para, partindo de indícios aparentemente inócuos
e aleatórios, estabelecerem conexões, avançarem projecções e formularem
deduções.
Vinha
eu meditando nisto quando o comboio que me trazia do Porto pára finalmente na
estação de Évora, inaugurada em 1863. Porém foi remodelada há cerca de dez anos e a CP passou a
disponibilizar quatro comboios diários Intercidades na ligação entre Lisboa e
Évora, com um tempo de trânsito inferior a 90 minutos. As obras iniciaram-se em
2010. A nossa linda estação, agora renovada, mantém felizmente a sua antiquíssima,
riquíssima e belíssima azulejaria. Todavia foi com desgosto que há uma semana
reparei pela enésima vez em catorze placards publicitários
estrategicamente espalhados ao longo dos cais, painéis duplos, de dupla face,
portanto vinte e oito, eternamente vazios, parecendo mesmo estarem ainda por
estrear.
Enquanto
noutras estações e noutras cidades a publicidade enxameia e é rainha, aqui o
fenómeno é precisamente o contrário. Fenómeno, epifenómeno, curiosidade,
aberração ? Adivinhe quem souber, puder ou for capaz, mas é assaz curioso que
ninguém, nunca, tenha apostado um cêntimo em publicidade na estação de Évora. Receio
de que o investimento não tenha retorno ? Será o número potencial de
consumidores que não justifica o investimento ? O nível de rendimentos e de
vida da população do concelho não aconselha gastos em publicidade ? O índice de
desemprego é tal que o investimento é de todo desaconselhado ?
Passaram
dez anos desde as obras de remodelação da estação, os vinte e oito painéis mantêm-se vazios
já há dez anos porque a situação no concelho não melhorou ? Porque piorou mesmo
? Devo deduzir que do ponto de vista do Investidor publicitário e das marcas dominantes
Évora não interessa a ninguém ? Nem sequer ao menino Jesus ? Há coisas que me
deixam a pensar, a matutar, a remoer, em boa verdade não só agora, já ando ruminando
interrogações há mais de 40 anos, e não encontro respostas para elas.
Ou
encontro, mas recuso-me a aceitar o absurdo.
HOUSE OF THE RISING SUN
The Animals
Há uma casa em Nova
Orleans
There is a house in New Orleans
Eles chamam o Sol
Nascente
They call the Rising
Sun
E tem sido a ruína de
muitos meninos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy
E Deus, eu sei que sou
um
And God I know I'm one
Minha mãe era alfaiate
My mother was a tailor
Ela costurou meu novo
jeans azul
She sewed my new blue jeans
Meu pai era um homem
de jogo
My father was a gamblin' man
Em Nova Orleans
Down in New Orleans
Agora, a única coisa
que um jogador precisa
Now the only thing a gambler needs
É uma mala e um
porta-malas
Is a suitcase and
trunk
E a única vez que ele
está satisfeito
And the only time he's satisfied
É quando ele está todo
bêbado
Is when he's all drunk
Oh mãe, conte aos seus filhos
Oh mother tell your children
Não fazer o que eu fiz
Not to do what I have done
Passe suas vidas em
pecado e miséria
Spend your lives in sin and misery
Na Casa do Sol Nascente
In the House of the Rising Sun
Bem, eu tenho um pé na
plataforma
Well, I got one foot on the platform
O outro pé no trem
The other foot on the train
Vou voltar para Nova Orleans
I'm goin' back to New Orleans
Para usar essa bola e
corrente
To wear that ball and chain
Bem, há uma casa em
Nova Orleans
Well, there is a house in New Orleans
Eles chamam o Sol
Nascente
They call the Rising
Sun
E tem sido a ruína de muitos
meninos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy
E Deus, eu sei que sou
um
And God I know I'm one
Fonte: LyricFind
Compositores: Alan Price
Letras de House of the Rising Sun © Universal
Music Publishing Group, Kobalt Music Publishing Ltd.
FORTUNATE SON
Creedence Clearwater
Revival
Algumas pessoas nascem
feitas para balançar a bandeira
Some folks are born made to wave the flag
Ooh, eles são
vermelhos, brancos e azuis
Ooh, they're red, white and blue
E quando a banda toca "Hail to the chief"
And when the band plays "Hail to the
chief"
Ooh, eles apontam o
canhão para você, Senhor
Ooh, they point the cannon at you, Lord
Não sou eu, não sou
eu, não sou filho de senador, filho
It ain't me, it ain't me, I ain't no senator's
son, son
Não sou eu, não sou
eu, não sou um afortunado, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate
one, no
Algumas pessoas nascem
colher de prata na mão
Some folks are born silver spoon in hand
Senhor, eles não se
ajudam, oh
Lord, don't they help themselves, oh
Mas quando o
contribuinte chega à porta
But when the taxman comes to the door
Senhor, a casa parece
uma venda de remédios, sim
Lord, the house looks like a rummage sale, yes
Não sou eu, não sou
eu, não sou filho de milionário, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no
millionaire's son, no
Não sou eu, não sou
eu, não sou um afortunado, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate
one, no
Algumas pessoas herdam
os olhos estrelados da estrela
Some folks inherit star spangled eyes
Ooh, eles te mandam para
a guerra, Senhor
Ooh, they send you down to war, Lord
E quando você pergunta
a eles: "Quanto devemos dar?"
And when you ask them, "How much should we
give?"
Ooh, eles apenas
respondem "Mais! Mais! Mais!"
Ooh, they only answer "More! More!
More!"
yoh
yoh
Não sou eu, não sou
eu, não sou filho militar, filho
It ain't me, it ain't me, I ain't no military
son, son
Não sou eu, não sou
eu, não sou um afortunado, um
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate
one, one
Não sou eu, não sou
eu, não tenho sorte, não não não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate
one, no no no
Não sou eu, não sou
eu, não sou filho de sorte, não, não, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate
son, no no no
Fonte: LyricFind
Compositores: John C Fogerty
Letras de Fortunate Son © The Bicycle Music
Company
ANOTHER BRICK IN THE WALL
Pink Floyd
Nós não precisamos de
educação
We don't need no
education
Não precisamos de
controle de pensamento
We don't need no thought control
Nada de sarcasmo na
sala de aula
No dark sarcasm in the classroom
Professores deixam
crianças sozinhas
Teachers leave them
kids alone
Ei professores, deixe
as crianças em paz
Hey, teachers, leave them kids alone
Em suma, é apenas mais
um tijolo na parede
All in all it's just another brick in the wall
Em suma, você é apenas
mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the
wall
Nós não precisamos de
educação
We don't need no
education
Não precisamos de
controle de pensamento
We don't need no thought control
Nada de sarcasmo na
sala de aula
No dark sarcasm in the classroom
Os professores deixam
essas crianças em paz
Teachers leave those
kids alone
Ei professores, deixem
essas crianças em paz
Hey teachers, leave those kids alone
Em suma, você é apenas
mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the
wall
Em suma, você é apenas
mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the
wall
"Errado, faça de
novo! Errado, faça de novo!"
"Wrong, do it again! Wrong, do it
again!"
"Se você não come
carne, não pode comer pudim
"If you don't eat yer meat, you can't have
any pudding
Como você pode comer
pudim se não come carne? "
How can you have any pudding if you don't eat
yer meat?"
"Você, sim, você
atrás dos galpões da bicicleta, fique parado, laddy"
"You, yes, you behind the bike sheds,
stand still, laddy"
Fonte: LyricFind
Compositores: Roger Waters
Letras de Another Brick in the Wall © BMG
Rights Management
PENNY LANE
Os Beatles
Em Penny Lane, há um
barbeiro mostrando fotografias
In Penny Lane, there is a barber showing
photographs
De todas as cabeças
que ele teve o prazer de conhecer
Of every head he's had the pleasure to know
E todas as pessoas que
vêm e vão
And all the people that come and go
Pare e diga: "Olá"
Stop and say, "Hello"
Na esquina é um
banqueiro com um automóvel
On the corner is a banker with a motorcar
E crianças riem dele
pelas costas
And little children laugh at him behind his
back
E o banqueiro nunca
usa um mac
And the banker never wears a mac
Na chuva, muito estranho
In the pouring rain, very strange
Penny Lane está nos
meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes
Lá embaixo do céu
suburbano azul
There beneath the blue suburban skies
Eu sento e, enquanto
isso, volto
I sit, and meanwhile
back
Em Penny Lane, há um
bombeiro com uma ampulheta
In Penny Lane there is a fireman with an
hourglass
E no bolso está um
retrato da rainha
And in his pocket is a portrait of the Queen
Ele gosta de manter o
carro de bombeiros limpo
He likes to keep his fire engine clean
É uma máquina limpa
It's a clean machine
Penny Lane está nos
meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes
Quatro tortas de peixe
e dedo
A four of fish and finger pies
No verão, enquanto
isso de volta
In summer, meanwhile
back
Atrás do abrigo no
meio da rotatória
Behind the shelter in the middle of the
roundabout
A enfermeira bonita
está vendendo papoilas de uma bandeja
The pretty nurse is selling poppies from a tray
E embora ela se sinta
como se estivesse em uma peça de teatro
And though she feels as if she's in a play
Ela é assim mesmo
She is anyway
Em Penny Lane, o
barbeiro depila outro cliente
In Penny Lane, the barber shaves another
customer
Vemos o banqueiro
sentado esperando por uma guarnição
We see the banker sitting waiting for a trim
E então o bombeiro corre
And then the fireman rushes in
Da chuva, muito estranho
From the pouring rain, very strange
Penny Lane está nos
meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes
Lá embaixo do céu
suburbano azul
There beneath the blue suburban skies
Eu sento e, enquanto
isso, volto
I sit, and meanwhile
back
Penny Lane está nos
meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes
Lá embaixo do céu
suburbano azul
There beneath the blue suburban skies
Penny Lane!
PENNY LANE!
Fonte: LyricFind
Compositores: John Lennon / Paul McCartney
Letras de Penny Lane © Sony/ATV Music
Publishing LLC