722 - CHEGA, PASSAR O RUBICÃO, OU VITÓRIA DE PIRRO
A questão coloca-se unicamente na
dimensão da vitória do Chega nas próximas autárquicas, pois não tendo nenhuma
câmara, mesmo que venha a ganhar uma única poderá cantar de galo. Isto é, cantar
vitória. Preparemo-nos portanto para o que aí vem já que, por pouco ou muito que
seja, é o que nos espera. É o nosso destino, é o nosso fado, é a nossa sina.
Fado ou fadinho, destino ou sina, gostemos ou não, a
mais que previsível vitória do Chega a nível nacional é um dado certo e, até um
mal necessário, adiante veremos por quê.
Aos partidos do sistema, incapazes de
mudar e de se reformarem, ficaremos a dever essa grande vitória do Chega, que eles
mesmos construíram, da qual já se queixam e de que se irão lamentar muito mais
a partir de 26 de Setembro.
André Ventura irá averbar uma vitória
como não se vê igual há décadas. O problema, problema que já se nota por aqui e
por ali, em casos pontuais que de pontuais estão passando a normais, se é que
se pode chamar normal à anormalidade, o problema dizia eu, é e será gerir essa
vitória, gerir essas tropas, ter mão nessa tropa fandanga que o segue como a um
Deus e que como tal lhe obedecerá cegamente, não esquecendo que a cegueira
nunca foi boa conselheira.
De um modo geral o Chega nunca se
preocupou em arregimentar a classe média e média alta, nunca se preocupou em
dotar as suas hostes de “intelligentsia”, de cultura, de formação, de quadros
médios e superiores. Estas ausências na sua estrutura irão fragilizá-la, irão
desvalorizá-la e torná-la disfuncional.
Resumindo, o grosso da maralha que
irá conquistar votos e lugares, uma vez instalada neles irá agir como macacos
numa aldeia e, pontificarão por todo o país, de norte a sul. Aldeias de macacos
que não terão nem longa vida nem longa duração.
Pedro Baldaia em “O CHEGA VIVE DO NOSSO MEDO E
ESTÁ A VENCER”, publicado no DN, e Pedro Varela num ensaio intitulado “O IMPÉRIO
DE JOÃO MARIA BRAVO: DA ESCRAVATURA À GUERRA COLONIAL, DAS ARMAS AO CHEGA” publicado
no Blogue “Setenta e Quatro”, links no fim deste texto, tocaram no cerne do
problema, abordaram o problema do medo enquanto arma do Chega e das bases fundadoras
ou vice-versa mas não o essencial, e o essencial, as condições criadas pelo
sistema e que permitiram, alimentaram e alimentam o crescimento e engrandecimento do Chega não
foram abordadas, não foram tocadas, não foram analisadas, não foram
questionadas.
No entanto é aí que reside o problema
que iremos enfrentar e com o qual iremos defrontar-nos no futuro, o chauvinismo
dos seus Sans-culottes e o perigosíssimo revanchismo que os anima, e o Chega
alimenta, na ânsia de se alcandorar ao poder, pelos vistos a qualquer preço.
Diria que do mal o menos, é verdade que se aproxima um verdadeiro tornado e por sua vez um tsunami ou arrastão, mas sem que paguemos esse preço algum dia veríamos efectuadas, mal ou bem efectuadas as reformas de que o país padece e carece há décadas e os partidos do sistema, mais focados nos seus umbigos jamais terão a ousadia de deitar cá para fora ? O tão temido Chega é sem réstia de dúvida um mal necessário, há males que vêm por bem.
O povo é mais que certeiro na sua
milenar sabedoria e o Chega vai ser a nossa e a sua própria Némesis…
NOTA. SE GOSTASTE PARTILHA ESTE TEXTO COM AS TUAS AMIZADES, AJUDA-AS NA ANÁLISE CRÍTICA, A ESCLARECER POSIÇÕES E CLARIFICAR ASSUNTOS.