terça-feira, 2 de novembro de 2021

736- LINGUAGEM E METALINGUAGEM ...



737 - "LINGUAGEM E METALINGUAGEM"

 

É pela linguagem que exprimimos o que pensamos,  que sentimos, sendo através dela que de igual modo recebemos as informações sobre nossas relações e o que ocorre no mundo em nosso redor. Podemos ora transmitir ora receber essas informações sobre a realidade de maneira objectiva, focando conceitos, aspectos científicos, teorias, dados concretos, e estados de alma específicos. Podemos também expor os nossos sentimentos, e o que quer que pensemos, através de pareceres permeados por emoções e impressões. Podemos ainda dar atenção à forma de falar, tendo como foco o impacto pretendido na comunicação que estabelecemos.

 

Para a filosofia "ikigai", a metalinguagem visa entender como nos expressamos e reforçamos o nosso comportamento através dela. Desta forma, é possível remodelar este modo de expressão, evitando o fortalecimento das crenças limitantes e promovendo uma estruturação de crenças positivas, ideias e, paradoxalmente, de preconceitos positivos. *  1980.

* Hofstadter, Douglas R.  An Eternal Golden Braid. New York, Vintage Books.

 


"E AGORA A PROPÓSITO DA LINGUAGEM"

Naturalmente sou um sujeito polido, membro civilizado da pólis, da civitas, capricho no trato urbano se calha dirigir-me a outros membros da urbe e também de modo muito natural e somente entre barreiras seguras, íntimas, me excedo ao expressar-me.

 

 Confesso mesmo que aí, seguro nesse casulo “privati” me excedo sem medo, crente que o cimento que une a argamassa, mental e muscular de que quer a linguagem quer um determinado momento são feitos, não passarão de um segredo ferozmente partilhado e nunca cantado aos quatro ventos em espaventos que de extraordinários nada tenham, antes pelo contrário.

 

Portanto, é uma linguagem mais espiritual que banal ou casual aquela que nesses momentos a inspiração me trará aos lábios, como que uma metalinguagem, propositadamente intimista porque o momento poderá não ser de recolhimento mas sê-lo-á certamente de oração, de devoção, de consagração e, havendo fé haverá que dar testemunho dela em especial se ela, a linguagem, a devoção, essa fé e consagração me são exigidos pelo instante vívido que se está vivendo ou atravessando.

 


Resulta dos factos que o seu uso, a sua fala, o recurso a essa terminologia mui própria e no momento exacto, torna a tarefa mais intimista, o ambiente mais leve e, já que estamos falando de leveza, eleva a relação através da espeficidade dessa mesmissíma linguagem e, quiçá dos seus elementos, dos falantes, engrandecendo o resultado final, qualquer que ele seja.

 

Cuidados extremos e atenção pressurosa à linguagem, poderão não nos engrandecer, mas certamente não nos deixarão cair numa frivolidade fútil, mantendo a dignidade que nunca deixámos ou deixaremos de cultivar com parcimónia.


Nessas ocasiões e quando eu despontava para a adolescência, minha avó Imelda, alheia e avessa aos aspectos práticos e semânticos da linguagem, optava por me prantar um escapulário preso à camisola, benzia-me e forçava-me a beber, de um trago e de olhos fechados, uma mistela horrenda cor de capilé e cujo mau cheiro nem a adição de licor de poejo dissipava.

 

Ainda hoje, calhando embriagar-me, acode-me às narinas essa pestilência e o vómito vem-me à goela. Felizmente não tenho esse hábito, contando-se pelos dedos as vezes que tal me sucedeu ao longo de uma vida de exemplar virtude. Vida dedicada ao estudo da linguagem, da semântica, da semiótica, da verdade, do saber, da fratrenidade, do amor e da felicidade.