752 - O MEU
AMIGO MC E O ERRO DE PARALAXE
Na altura
nem texto coloquei, apenas a foto, confiante que os observadores fariam uma
leitura correcta do seu conteúdo. Mas se eu quisesse escrever um texto chamando
a atenção para a violência doméstica, recorreria a fim de fazer recair os vossos olhos sobre o mesmo à figura de uma mulher, encolhida a um canto, no chão, protegendo de um punho
imaginário que a estaria ameaçando, rosto e cabeça com braços e mãos.
Se eu quisesse
chamar a atenção para criminosa, predatória e pecaminosa pesca contra a baleia,
procuraria imagens de um navio baleiro, armado com os seus canhões de arpões,
navegando num mar tingido vermelho como normalmente acontece quando arpoam e
sangram as baleias até à morte. Ou limitar-me-ia a recomendar-vos a leitura ou releitura de Moby Dick, de Melville e a história dessa grande obra.
Se eu
quisesse chamar a atenção para o problema ecológico, para a poluição a que
estamos submetidos e para o factor das árvores através da fotossíntese
libertarem oxigénio, ar puro, conduziria a vossa atenção para a necessidade
delas, árvores e florestas. Provavelmente colocaria no cabeçalho uma imagem
da floresta amazónica, o maior pulmão que a Terra tem.
Se eu
quisesse chamar a atenção para a pobreza franciscana que há anos vem aumentando
em Portugal, colocaria uma foto de um sem-abrigo na rua, ou de dois ou três, ou
até quatro ou cinco dormindo ao relento, talvez dormindo debaixo de uma ponte.
No fundo que interessaria quem eram eles, gente anónima caída em desgraça nesta
democracia que devia acudir a todos ?
No caso
dos sem-abrigo todo o interesse foi colocado em chamar a vossa atenção para a
extrema pobreza que o nosso presidente, quando tomou posse do cargo pela
primeira vez prometeu debelar. Bom, ou antes mau muito mau, o presidente já vai
no seu segundo e confortavel mandato mas a pobreza em vez de acabar tem
aumentado a olhos vistos.
Vem isto a
propósito, e já não é a primeira nem a segunda nem a terceira vez que acontece, do facto de um meu amigo atabalhoadamente colocar em causa as minhas postagens numa
determinada rede social, desta vez chamando-me mentiroso e dizendo (aliás com
razão) tratar-se de uma fotografia velha. E efectivamente aquela foto, no cabeçalho deste texto e que
pesquei na net, já tem 5 anos.
Inquirindo-me num comentário em que lugar
tinha ela sido tirada, respondi-lhe para o despachar ter sido tirada no Porto,
em Portugal, quando eu próprio nem sei onde tal foto foi tirada nem quando, e muito menos quem sejam os
miseráveis que estão nela. Parece segundo ele, ter sido tirada em Madrid, Spain. A mim interessava-me sobretudo passar na net, no
Facebook, uma foto que vos chamasse a atenção para a miséria a fim de vos sensibilizar
em vésperas de eleições, para a pobreza enraizada em Portugal, no sentido de
cooptar a vossa solidariedade e coesão, e caridade, quanto a esse flagelo que
cresce sem parar debaixo de governos e partidos hipócritas, de esquerda caviar
ou não.
Pois o meu
amigo MC viu a árvore mas não viu a floresta. Claro que lhe respondi a desejo,
coloquei gosto em todos os seus comentários e de seguida apaguei-os. Há pessoas
que vêem o geral, outras o particular, e há pessoas que não vêem nada. O meu
amigo MC, que é engenheiro, estará inadvertidamente sofrendo de mal profissional,
sendo daquelas pessoas capazes de ver o particular mas não dar pelo gigantesco
real que o rodeia. Juro ser ele capaz de ver o invisível, e estou certo, ele vê
o pormenor mais ínfimo que se lhe depare.
Não é
qualquer um que lida com electrões, vocês estão a ver o tamanho dos electrões,
dos átomos, de protões, neutrões, provavelmente ele vê tudo aquilo que nós nem
imaginamos, aqueles bichinhos pequeninos movendo-se pelos trilhos que lhes destinam,
saindo daqui para ali a fim de fazerem trabalhar varinhas mágicas, fazerem
trabalhar automóveis, fazerem trabalhar o que quer que calha, querendo passar
todos ao mesmo tempo pela estreita secção do filamento de uma lâmpada e por
isso, por não aguentar em simultâneo o atrito de tantos e tão apressados passando o estreito, fininho, finissímo filamento fica em brasa e dá-nos a
luz que nos alumia.
Talvez o
meu amigo MC, tão bem preparado para dar atenção ao pormenor, devesse alargar
as vistas, acho que devia olhar também para longe, para o horizonte, e treinar ver
o geral, ver o conjunto, o resultado completo de todos aqueles pormenores que
ele gosta tanto de dissecar. Fico-me por aqui, porque como amigo não tenho
interesse nenhum em perdê-lo, afinal de contas não me fez mossa e até aprendi
com ele como a condução do pensamento, quer do geral para o particular,
induzido, quer na generalidade o inverso*, deduzido, nos pode enganar sem que
sequer demos por isso.
E vocês ?
Têm atentado na miséria ? Lutam contra ela ?
* Por existirem várias e
diferentes formas de dedução.
PARA LER TUDO CLICA
NA IMAGEM,
DEPOIS DE LERES E SE
APRECIASTE O TEXTO
PARTILHA-O PELAS
TUAS AMIZADES…
OBRIGADO, E UM ABRAÇO !