TEXTO EM CONSTRUÇÃO .......
quarta-feira, 2 de julho de 2025
quarta-feira, 18 de junho de 2025
833 - UMA IDA Á PRAIA, AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM VIÚVO INEXPERIENTE ...
Empurraram-me para isto, p'ra uma ida á praia ... Foi o que foi ...
- Baião, tens que conviver, sair, bla bla bla...
E francamente ou eu escolhia inscrever-me na “universidade” dos velhos, coisa que não suporto, ou alinhava com eles pelo menos uma vez numa das ida á praia, daquelas que o Grupo de Viagens GTI organiza (em tempos fui nalgumas viagens e foram óptimos passeios de grupo) ou os aturava o resto da vida pelo que anui e inscrevi-me numa dessas idas, mas nem tão pouco levei calções de banho…
Tudo pk lá na ideia deles fiquei viúvo há relativamente pouco tempo e não posso continuar sozinho nem a isolar-me ou ainda viro eremita e bla bla bla bla… Aceitei, inscrevi-me, esperei o dia da ida e lá fui num belo autocarro daqueles a que só falta multibanco… Para ser sincero ainda não tinha decorrido meia hora de viagem e já eu concluíra não estar preparado para estas coisas, nem para estas nem para ingressar na tal “universidade” dos velhos, nessa então muito menos !!
Passeio pela vila ou cidade de Ericeira, bonita mas alcandorada numa falésia e com muitas escadas, ladeiras e subidas, tudo coisas demasiadas para velhos, e para novos, até p'ra mim que estou n meia idade, nem desci á praia…. Com tão excelsa companhia não me apeteceu matar a criosidade quanto a essa vila de contrastes, por isso apesar do passeio da manhã ser livre rumei a uma praça apinhada de gente, a maioria velhos, a maioria velhos de excursões como a minha mas oriundos das mais variadas zonas do país, a Ericeira tem mais turistas velhos num dia que ouriços tem o seu mar... E eu a pensar que o negócio dos "mata-velhos" tinha sido das melhores idéias que alguém tivera...
Pelo que para afastar o calor entrei numa das gelatarias que me pareceu menos cheia, pedi um gelado de taça, que me saiu caríssimo, ia ficando sem os olhos e, sentei-me a comê-lo quando … snif snif snif …. Cheirava a merda que tresandava, não era o WC, confirmei, só podia ser um dos velhos ou velhas que por ali abundavam de bunda nas cadeiras em volta das mesas… portuga ? english ? franciú ? bosch ? marroquino ? tailandês ?? Fugi dali a sete pés nem acabei a merda do gelado….
Depois rumámos ao autocarro que
nos levou ao almoço, uma marisqueira daquelas que desistiram de fazer
casamentos e baptizados por já não os haver mas que se reconverteu a dar
almoços de marisco aos velhos turistas….. E ás tantas dou por mim a pensar :
mas que faço eu aqui ? Que faço eu no meio disto tudo ?
Cada mesa levava dez “turistas”, contei as mesas, eram à volta duns 600 os comensais, portanto muita gente de outros autocarros, de outras terras, e eu ali no meio daquele mar de gente velha, eu novo, 71 acabadinhos de fazer, novinhos, ainda a brilhar, e nem uma velha jeitosa, nem uma que valesse a pena levar a dançar, ou a apalpar, ou a engatar, uma coisa para o futuro que o amanhã a Deus pertence e eu tinha que satisfazer os cabrões que me meteram nesta alhada, que lhes vou dizer ? Que tenho má boca ? Que sou esquisito ? Eu a fugir dos olhos gulosos delas, dos perfumes baratos de há 50 anos, dos fedores nauseabundos dos cremes da cara que me fizeram lembrar a minha avó Inácia que Deus tem à sua guarda há 40 e muitos anos….
Sim porque havia música e músicos, de quinta categoria mas havia, eram todos cançonetistas de terceira, e o tal povo que Almada Negreiros tão bem categorizou;
“ O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo
todas as qualidades e todos os defeitos.
Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades.”
Havia música e mesas bem recheadas com tudo, e bem servidas, muita gente a servir, nada de esperas, fartura de tudo mas meu Deus eu estava rodeado de velhas e velhos, algumas mais novas mas ainda assim mais velhas que velhas… Eles idem, só grunhos, broncos, e parvos, até que desbastadas as entradas e o primeiro prato a mesa foi recheada de frutos do mar, do camarão mais pequeno á lagosta maior, da conquilha pequenita à vieira mais grandita, caranguejos, santolas...
Parecia a mesa das bacantes, quando
repentinamente dou por eles todos levantados, de telemóvel na mão p’ra registar
o momento, parece que nunca tinham visto marisco, ou comido marisco, impressionou-me
a atitude, eu que nem aprecio nem um nem outro além de camarão, e eles numa
atitude pasmada e generalizada, de todos sem falta focados no centro da mesa, no rei marisco, não neles, não uns nos outros, mas no ídolo do momento, no que lhes iria tirar a barriguinha de misérias, afinal o 25 de Abril valeu a pena, ali estão eles manducando o manjar dos ricos, é a igualdade prometida cumprindo-se ….
E eu para com os meus botões, isto ainda vai demorar ? Felizmente a velharia cansa-se depressa e daí a pouco, todos felizes, todos de bandulho atolado de marisco, babando-se mas rumando, ainda que aos encontrões para o autocarro, eu olhando-os com pena e trocando sorrisos maliciosos com a guia, às tantas um piscar de olho, a coisa promete, a ela o espectáculo também a diverte…
ela disse-me que têm programas muito variados e dessas coisas percebe ela, há casos em que o melhor é a gente deixar-se levar, o universo tem mistérios que a gente nem sonha nem sabe desvendar…. Além disso o meu futuro ta escrito na palma da minha mão garantiu-me ela, pelo que nem valerá a pena eu esbracejar não acham ????
O pior foi mesmo o regresso, o autocarro
no regresso cheirava mais mal que a tal gelataria, alguém estava borrado mas mesmo borrado, agora com aquelas cuecas para a incontinência cagam-se todos e só o
cheiro sai de mansinho, mais nadinha de nada, mas olham todos uns para os
outros sem que ninguém se descaia e é aí que está a piada…. Alguém viaja
confortavelmente em cima de uma almofada de merda e nem diz nada…
Depois, depois a toda hora caem, perdem-se, cada vez que o autocarro faz uma paragem na volta chegam atrasados, finalmente entram e depois ou antes de entrarem vomitam-se e mijam-se, se sentados e em andamento nunca se calam, nem sabem o que dizem nem dizem o que sabem, não têm maneiras mas têm suores frios, guincham e falam gritando desaustinadamente, palitam os dentes com a unha, desmaiam quando menos se espera, têm uma admiração mórbida por igrejas e santos, não sabem nada nem conhecem nada nem ninguém, que terão andado fazendo uma vida inteira ?
Eis o que me espera, tou com 71 e
para lá caminho… para lá do inferno …. Ainda não estou preparado para estas cenas…………….
HUMBERTO BAIÃO
AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM
VIÚVO INEXPERIENTE ...
sexta-feira, 9 de maio de 2025
832 - VOTANDO COM OS PÉS ......
A
entrevista que a líder do MCE e vereadora da CME por esse movimento de
cidadania deu à Rádio Diana no dia 9 de Abril pp, sobressai como uma pérola no
mar dos discursos políticos proferidos de norte a sul, quer pela inteligência
demonstrada, quer pela segurança das afirmações proferidas, todas elas
fundamentadas e passiveis de serem confirmadas, comprovadas. Eu diria tratar-se
de afirmações à prova de bala, reais, sérias, nada de patranhas ou de promessas
eleitorais.
Essa
pérola, essa entrevista, cujo link
vos deixo no fim deste texto, merece ser ouvida. Devemos ouvi-la para que
saibamos e venhamos a compreender porque está Évora como está, órfã de pai e
mãe há muitas décadas, pobre, sem presente nem futuro, atolada numa divida
incompreensível que só a má gestão de comunistas e socialistas pode justificar,
e que estamos pagando com um palmo de língua de fora, já que o acordo para
combater essa divida penaliza munícipes, afasta investidores, coarcta o futuro
e corta cerce a esperança em dias melhores.
Quando
digo que a entrevista expõe um discurso inteligente faço-o por o mesmo se
basear em factos concretos, visíveis, comprováveis, mensuráveis, negando-se ao
vazio balofo dos demais, aqueles aos quais já nem nos damos ao incómodo de
ouvir. Em especial os três gráficos que FF Florbela Fernandes apresenta, um
sobre o volume de negócios no concelho, que terá aumentado, outro sobre o
emprego, que igualmente terá aumentado, e o último, sobre a população da urbe
eborense, que se tem mexido, se tem posto a andar, tem partido, abalado, ido
embora, gráficos que todavia foram apresentados isoladamente, coisa que na
minha mesa de café, digo a minha tertúlia de café se tem recusado a aceitar.
A
coisa não é tão simples pois as questões abordadas (correcta e
inteligentemente) nos três gráficos, na prática não funcionam isoladas,
influenciam-se mutuamente nuns casos, interpenetram-se noutros, nuns casos são
causa noutros efeito ou fruto dos primeiros ou anteriores… Longe vai o tempo em
que o INE disponibilizava pronta e gratuitamente qualquer informação
estatística que lhe fosse solicitada, não é assim agora que nos obriga ao
cumprimento de uma burocracia desmotivadora e em alguns casos exige saber o
motivo da consulta e ou o pagamento das informações requeridas. De veículo de
consulta e transparência parece ter volvido tempestade de areia para cegar os
olhos do cidadão empenhado em analisar, divulgar, contestar, criticar ou
denunciar com bases sólidas algum aspecto menos claro desta democracia, cada
vez mais opaca com que nos vêm cegando e enganando.
1º Gráfico – Volume de negócios.
Em
momento algum encontrámos erros na interpretação que a senhora vereadora fez
dos gráficos. Analisou-os, um a um, pelo que eram, como é lícito, e não se alongou
em problemas que neles possam estar subtilmente escondidos pois serão assuntos
para resolução na AR ou governamental, nunca a nível municipal ou concelhio.
O
volume de negócios aumentou, não há a menor dúvida, o gráfico porém não nos diz
a razão desse aumento. Com o INE a filtrar a informação para o exterior
restou-nos especular e concluímos que a Embraer, as apostas espanholas na
azeitona, na amêndoa (com uma fábrica perto da Vendinha), os lagares, o azeite,
e as culturas extensivas/intensivas, ainda que sejam entidades de capitais
brasileiros, espanhóis ou outros, podem ter contribuído para o aumento do
volume de negócios verificado no nosso concelho. Sendo um concelho pequeno, com
poucas empresas de envergadura, a mínima oscilação poderá parecer-nos
gigantesca.
Resta
a questão final, a ter havido lucros, porque um aumento de transacções nem
sempre corresponde a proveitos, basta o exemplo do turismo que deixará somente
o dinheiro gasto numas bicas, nuns gelados, numas castanhas assadas e num ou noutro
souvenir (ver “DÓLARES REDONDOS” link no
fim do texto), ou o caso das imobiliárias que movimentam importâncias
significativas mas não acrescentam um chavo à riqueza da nação, ou do concelho,
que são parcialmente culpadas na inflação que fustiga o sector da habitação e
cuja valência maior, como no caso do turismo, é a criação de um ou outro posto
de trabalho não especializado e na generalidade indiferenciado. Pouco, muito
pouco, só quem tenha baixas ambições admira ou ambiciona estes postos de trabalho
apesar de alguma coisa ser melhor que nada. Estamos habituados a ficar com as
migalhas… Portanto, e voltando à vaca fria, partindo do principio que sim, que
aumentaram positivamente, quem beneficia com este “tão grande” avolumar dos
negócios no concelho ? Nós respondemos, essencialmente brasileiros e espanhóis…
2º Gráfico – Emprego / postos de
trabalho.
Podendo
o volume de negócios/produtividade ter aumentado sem acréscimo de emprego,
bastaria que os factores de produção tivessem sido utilizados na sua capacidade
máxima, e talvez tenham sido, a verdade é que também foram criados novos postos
de trabalho, o que é positivo e um bom augúrio. Estejamos atentos à situação
nos próximos tempos não vá a “coisa” ser apenas um qualquer fenómeno sazonal
passageiro e ditado por condições que poderemos imaginar mas não conhecemos. Há
que ver se a situação se solidifica ou se oscila, se tem alicerces e se, para
além de quaisquer suspeitas nos demonstra ser durável, ser para ficar, para
continuar.
Seria
bom saber se esses novos contratos de trabalho correspondem a situações
consideradas duradoiras, se deixaram de reflectir o mau hábito criado com os
contratos a prazo e a precariedade inerente e, já agora e se não é pedir muito,
que tipo de empregos foram criados, em que sector da economia, se de baixo
nível, nível médio ou superior, e em termos de idade e género como se
distribuíram ? Em que percentagem corresponderam à necessidade de acolher gente
estigmatizada com o desemprego de longa duração ou tratou-se meramente da
criação de novos postos, subsidiados, e por isso contemplando situações de
primeiro emprego ?
3º Gráfico – A cereja no bolo, os
residentes.
Este
terceiro gráfico, tão verídico como os anteriores, não deixa a menor duvida
quanto à sua interpretação, vindo ornar com uma coroa mortuária quer o volume
de negócios quer a questão do emprego. Que raio de cidade / concelho é este em
que, com o volume de negócios a aumentar e o fugidio emprego a mostrar oportunidades,
ainda que tímidas, vê a população a debandar ?
Não
esqueçamos que, as observações a nível de emprego são do mais enganador que há,
já que, teoricamente, se toda a população desempregada, e revoltada, com as
esperanças perdidas, rumasse à GB, à França, Alemanha, Nova Zelândia,
Austrália, USA, Canadá etc etc etc o desemprego cairia a pique para zero !
Poderíamos então bater palmas ? Lançar fogo de artificio ? Sabemos que o
desespero e a desesperança, aliados à falta de fé no IEFP leva imensos
desempregados a simplesmente desvincularem-se de tal organismo e portanto
colocando-se fora das estatísticas do desemprego, ajudando na ilusão de que o
mesmo estará a descer quando poderá mesmo estar a aumentar…
O
fenómeno de debandada da população não me admira, é o chamado voto com os pés,
abalar, pôr-se a andar, dar com os pés, pôr-se a milhas, virar costas… Ora é
sabido que nos últimos 50 anos Évora não resolveu um único dos problemas que
tinha, que continua tendo e que continuam a afligir-nos nos mesmíssimos locais
e situações, só que agora com um volume gigantesco. Finalmente, e após 50 anos,
as pessoas começam a perceber não haver aqui nem condições nem futuro, e
começam a partir. Há pelo menos 40 anos que deviam ter embalado a trouxa e
zarpado, as preocupações do MCE são legítimas, os partidos do sistema em cinco
décadas não quiseram resolver as candentes questões desta cidade, nem da região
nem do país. E não esperem os eborenses que venha algum paraquedista de
Portimão, de Viseu, de Aveiro ou de Oeiras resolver os nossos problemas, isso são histórias para os
livros de banda desenhada.
A
verdade porém é que apesar, contudo ou todavia, entre as cidades portuguesas
Évora continua sendo a mais pobre, a que oferece menos oportunidades e menos
futuro. Por causa da dívida colossal do município e que podemos agradecer aos
comunistas e socialistas os eborenses são castigados e pagam taxas e taxinhas
pela tabela máxima ! O mau tornou-se péssimo, o MCE tem sobre os ombros uma
tarefa ciclópica, uma responsabilidade imensa ! Não iludir, não mentir, não
enganar os eborenses e sobretudo fazer o que ainda não foi feito, e que é quase
tudo … Comunistas e socialistas têm de há 50 anos para cá contribuído
culposamente para o descalabro em que a cidade se encontra.
E não esqueçamos que há meia dúzia de meses foi declarada em sessão pública da CME pela boca do seu presidente a falência do município !
Como
é possível que tantos e tantos cidadãos ignorem este desiderato ? Por que razão
ou razões os mídia locais não pegaram nesta noticia e a debateram até à
exaustão ?
Quem
beneficia com o ocultar de um escândalo desta dimensão ?
Quem,
tem interesse em esconder a falência do município à população do concelho ?
Acordem
eborenses, a URSS caiu, as torres gémeas caíram, por que razão a derrocada
delas originou tanto barulho e a de Évora não ?
O
município faliu e a sua falência mais não é que o expoente máximo da gestão
comunista e socialista de Évora, essa falência será para a história o maior
impacto que irão deixar nos anais desta urbe tão sacrificada, urbe com um
passado rico mas com um presente que envergonha e sem futuro algum a menos que
os cidadãos tomem em mãos o futuro de Ébora e voltem a erguer bem alto o
significativo estandarte de Liberalitas Júlia !
Hoje,
no dia 18, em Setembro ou Outubro e sempre que for votar lembre-se de quem faz
e de quem atrapalha…. Obrigado.
ENTREVISTA VIDEO:
https://www.youtube.com/watch?v=68B4DJUgJ5M&t=1450s
DÓLARES REDONDOS:
https://mentcapto.blogspot.com/2014/02/177-redundancias.html e
https://mentcapto.blogspot.com/2016/09/o-alentejo-sua-riqueza-e-pobreza.html
domingo, 4 de maio de 2025
ESSA AVÓ QUE ME ENCONTROU by Luísa Baião*
Perdi minha Mãe muito cedo, foi uma dor que ainda é, e que julgo me acompanhará durante toda a vida. Não só por isso, mas também, estreitei os laços que então existiam com meus avós, todos muito queridos, e que também já são para mim, infelizmente, saudosas recordações.
Escrito sexta-feira, 8 de Setembro de 2006, 11:05h
quinta-feira, 1 de maio de 2025
831 - ENCONTREI O AMOR DA MINHA VIDA ...
Se
não foi uma catrefa de anos andou lá perto. Neste momento de dor e introspecção
enquanto o corpo lhe desce à terra dou por mim olhando em redor as gentes que o
acompanham acreditando conhecê-lo, digo tê-lo conhecido melhor que a família,
melhor que quaisquer amigos que teve, e teve bastantes …
Foram
muitos anos, muitos meses, muitos dias, muitas horas lado a lado, partilhando
trabalho e conversas, sonhos e promessas, razões, esperanças e, por que não
dizê-lo, também desilusões. Eram mais de oito horas por dia se tivermos em
conta que, muito antes de Abril e muito antes dos nossos vinte partilhámos diariamente
e juntos centenas de almoços em quaisquer dos muitos e bons restaurantes desta
cidade.
Nessa
altura podia-se e sobrava dinheiro ao fim do mês. Partilhávamos tarefas numa
multinacional derivada da Exide inglesa e os salários nivelados com os da
capital, condiziam com a dimensão desse empório comercial com agências e
fábricas por todo o mundo. Por esses anos, ainda que não fossemos propriamente
qualificados, a empresa era-o, o país era-o, a economia era-o, sendo o escudo
uma das moedas mais fortes e mais seguras do mundo. Fora da empresa poucos
amigos partilhávamos, ele frequentava tertúlias intelectuais em grupelhos de
esquerda, eu pontificava em tudo que estivesse ligado às motas e nelas percorri
o Alentejo primeiro e, anos depois muito mundo europeu.
O
serviço militar, que cumpri com galhardia, separar-nos-ia, porém o bambúrrio de
Abril se encarregou de nos voltar a juntar. Ambos contribuímos para evitar que
a África austral se tivesse transformado num novo Vietnam. Eu soube-o sempre,
ele e uma maioria, nunca acreditaram no que quanto a esse aspecto da questão
lhe dizia e, como milhares de outros nunca soube o que por lá esteve fazendo ou
por que tal desiderato lhes aconteceu. Lembro com saudade um dia em que puxei
dos galões e trouxe a Évora vários autocarros azulinho escuro cheios de
marinheiros, quais gaivota em terra e que haviam de infestar a Praça do Geraldo
e o Arcada. Parceiro em Évora nesse dia ? Ele ! Quem mais poderia ter sido ?
Não
foi com ele que partilhei, partilhámos durante o PREC com Francisco Louçã numa
casa cedida à UDP e pegada à taberna do Pinto, a feitura de cartazes gigantes ?
Eram lençóis pintados à mão e gritando palavras de ordem de que a revolução se
alimentava e aos quais nos dedicávamos com fervor e fé. Foram tempos em que
cada dia trazia uma surpresa, ou era o agrário/latifundiário Mendonça que
encomendara um Mercedes último modelo na Lagril e se recusava a recebê-lo por a
matrícula ser PC qualquer coisa, ou era o Orvalho da Rainha do Sul a exigir
recibos manuscritos e mal paridos em papel pardo p’ra dar contas aos camaradas,
ou o Mário Leitão, um reaça de primeira entoando o vozeirão e em quem vi as
primeiras atitudes democráticas e disposição para lutar por elas e pela
legalidade nesse tempo caótico em que os fins justificavam os meios e todos
atropelavam todos, menos o amigo Leitão, qual penedo ou sentinela vigilante
denunciando arbitrariedades e fazendo-lhes frente pois não suportava atropelo
atrás de atropelo numa democracia que de tal só tinha o nome e que eram o pão
nosso de cada dia …
Voltando
ao Mendonça, que como muitos era considerado reaccionário, agrário,
latifundiário, num tempo em que não se podia ser lavrador inquiro-me hoje, hoje
que tudo pertence aos espanhóis, que a agricultura virou intensiva/extensiva em
campos a perder de vista e não emprega ninguém, que têm inclusivamente improvisadas
pistas de aterragem de onde partem e onde chegam sem dar cavaco a ninguém em
pequenas avionetas, já não são reaccionários, nem agrários, nem latifundiários
? Não ! Agora são investidores, agricultores, nossos donos e os donos disto
tudo e quem leva daqui os lucros da terra deixando-nos as taças e os títulos dos
jornais; Alentejo um dos maiores produtores de azeite do mundo ! Esquecendo que
a terra, os olivais, o azeite, os alentejanos e os lucros tudo isso é dos
espanhóis ! Digam-me lá se não somos um povinho ceguinho e ignorante como nunca
tínhamos sido !?
Era
assim, e nós olhando e pasmando com o à vontade e simplicidade com que se
levantavam estandartes que às escondidas eram pisados e repisados para fazer
valer quaisquer doutrinas para as quais nitidamente não estávamos preparados. Eça
tivera de novo mais que razão, ainda tem, a democracia ficava-nos e fica-nos
curta nas mangas, hoje nem a conseguimos envergar tão encolhida torcida,
retorcida, tão pisada quão repisada ela está.
Foram
muitos os anos que partilhámos naquela multinacional capitalista onde além de
um bom vencimento dispúnhamos de condições de trabalho invejáveis e sobretudo
de um ambiente laboral inigualável, todavia era tanta greve e tantas as tempestades
que o país ia vivendo e atravessando que o maná acabou-se, a empresa não fechou
como milhares de outras mas encolheu, tendo ficado reduzida a vinte por cento
do que era… Metemos ao bolso chorudas indemnizações, as leis do trabalho vinham
ainda do tempo de Salazar e, com, umas décadas de casa, como ambos tínhamos,
saímos no mesmo dia, cada um de nós com uma pequena fortuna no bolso. Não sei
se no bolso, pela época ainda não havia a moda das transferências bancárias,
nem multibanco, acho que nos pagaram em cheque.
Eu
acabara o curso por essa altura, um curso que em parte agradeço a esse meu
amigo que “tapava” as minhas ausências quando ia às aulas. Eu ia á noite e aos
fds dar um jeitinho no trabalho que por esse motivo deixara atrasado mas, no Font
office foi ele quem durante cinco anos sempre me tapou e me salvou. Tenho noção
de que me prestou um inigualável favor. Tive oportunidade de, por diversas
vezes lho lembrar e lhe agradecer.
Foram
tempos felizes num ambiente de trabalho memorável sem as preocupações que hoje
assaltam todos os jovens e menos jovens, a precariedade, a injustiça nas
classificações de categorias profissionais, a incapacidade de se construir uma
carreira, nada disso, nessa época as leis de trabalho eram poucas mas claras,
fiáveis, defendiam efectivamente quem trabalhava não havendo patrão que não
temesse a IGT, Inspecção Geral do Trabalho. É caso para dizer que democracia e
direitos laborais eram coisas daquele tempo, agora qualquer trabalhador é um
escravo sem valor, sem dormir, sem dinheiro que chegue até ao fim do mês, nem
para viver mínima e dignamente qualquer dia chegará se é que para muita gente esse dia não chegou já…
Foram
anos em que a vida fluía e se vivia, tão bem ou melhor que agora e com muito
menos preocupações, menos sobressaltos e menos impostos para pagar. Esta
democracia está a matar-nos, já não somos ninguém, já nada é nosso, a não ser
essa enorme divida claro … Dizia eu que a vida fluía, e no entretanto,
apaixonado casei-me, encontrei o amor da minha vida, já esse meu amigo não
poderia dizer o mesmo ainda que tivesse igualmente casado poucos anos depois. A
intimidade da nossa amizade permitia-nos conhecer as forças e fraquezas de cada
um. Por vezes penso, e acredito piamente que o conhecia melhor que a família.
Foram muitos anos, muitas horas, muitas conversas, muitos assuntos, muitas confidências,
muitos almoços, muita confiança mútua, muita amizade.
Fomos
felizes enquanto colegas e amigos desde aqueles tempos tumultuosos em que vivi
uma paixão assolapada e conheci o amor da minha vida, casara-me, ele casou-se
penso que sem paixão nem amor e, a julgar pelas suas atitudes e comportamentos
tê-lo-ia feito por necessidade e tradição social. Em momento algum senti que
houvesse amor na sua vida, e bem precisava, aliás, quem não precisa ? Ter
sentido ter ele vivido um casamento sem amor terá sido para mim o facto
relevante da vida desse meu amigo e colega que mais me marcou, quanto a ele não
sei, sei apenas ter deixado de ir dormir a casa da avó ou da tia, ali á rua da Azaruja e
ter passado a fazê-lo algures, nunca soube bem onde, só muito tardiamente tive
de tal conhecimento.
Após
a saída dessa multinacional capitalista onde fomos tão felizes a vida nunca
mais lhe sorriu, o país afogava-se numa crise de que ainda não saiu, a
instabilidade, a precariedade no emprego davam descaradamente os primeiros
passos sorvendo-o para uma dança macabra da qual nunca mais logrou sair, facto
do qual culpava amigos de longa data, bem na vida, com tachos ou lugares
cativos em municípios, ministérios, direcções gerais e regionais, delegações, a
quem culpava de só o verem e convidarem para comícios, manifestações e arruadas
ignorando infantilmente a situação dele, as aflições dele, a ansiedade dele, a
insegurança, o constrangimento familiar etc etc etc …
Rápida
e facilmente tracei um paralelo entre a sua situação e o pensamento dela
resultante e o meu próprio pai, engajado desde longa data mas desiludido nos
últimos anos de vida, senão mesmo até falecer com as promessas de Abril, com os
amanhãs em que nunca ouviu cantar, com a democracia por cumprir. Tenho a
certeza absoluta, o meu querido amigo e colega não morreu esquerdista, morreu
traído, arrependido, desiludido. Já quanto ao meu pai apostaria igualmente, que
também mas, ao contrário desse meu querido amigo, essa foi confissão que nunca
me fez, contudo levou-me a deduzir e concluir ter morrido revoltado com as
mentiras de Abril, com os políticos que Abril pariu, com a corrupção
generalizada, o atraso endémico, o seguidismo cego, a partidarite saloia, o
amiguismo sem pudor.
Morreu
sem conhecer o amor esse meu amigo, nem o amor nem a solidariedade, nem a
coesão popular que tanta influência tiveram na sua vida. É este o meu
diagnóstico e opinião formal e final. Só quem não privou com ele, quem não conheceu
o calvário que atravessou por o mano mais velho, o mano economista, o mano com
quem entre 75 e 7 ou 79 passara os sábados trabalhando as escritas das
cooperativas da zona de Arraiolos e que, como as demais, faliriam todas poucos
anos mais tarde.
Foi
principalmente esse mano quem lhe dissipou a fortuna que recebera quando, no mesmíssimo
dia em que abandonáramos os lugares na tal multinacional capitalista a troco de
chorudos cheques. Estávamos no inicio dos anos noventa, os telemóveis apareciam
e seduziam, o mano mais velho, conhecedor e com olho para o negócio juntou os
outros dois irmãos, o do meio e o mais novo, o meu amigo, juntaram capitais e
esforços tendo iniciado um investimento e aberto uma loja de telélés,
acreditando em quem lhes terá dito ser Évora uma terra de futuro. Claro engano
que deitaria por terra o sonho dos manos e esturraria a massa empatada na
coisa. Sem maçaroca, aliás com as mãos cheias de maçaroca queimada, sem emprego
certo, regular, estável, sólido, sobrevivendo na crista da onda da precariedade
esse meu amigo ouviria das boas em casa… Sem culpa, sem culpa, porque o mano
tinha razão, o negócio era de futuro, somente se enganou na cidade e zona em
que lançou as redes, ou âncora, uma cidade sem vida, um Alentejo sem mercado, tivesse-o
feito em Lisboa ou em Setúbal e os três manos estariam hoje ricos.
Em
Évora só o atraso subsiste e vinga, o atraso e o passado, é uma terra sem
presente e sem futuro. A história dos telemóveis foi várias vezes aflorada
entre nós, sei que o meu amigo acabou por compreender as limitações que conduziram
à falência da ideia e ao esturro de muita massa, sei também que acabou
perdoando o mano, os manos, tão crentes e inocentes na coisa quanto ele. O pior
terá sido o que passou em casa, o pior terá sido falta de compreensão e
solidariedade de familiares e amigos, o pior terá sido o engano em que Abril se
transformou, o pior terão sido as tais promessas que passados cinquenta anos
continuam por cumprir e um povo ignorante como nunca fora e que ainda festeja com
esperança o descalabro em que caiu acreditando sem razão para isso e esquecendo
que cinquenta anos não são cinquenta meses, são uma vida, esquecendo que em
cinquenta anos a China de Mao, atrasada, se guindou aos píncaros depois de
ouvir Nixon e Kissinger em 1972, enquanto esta nação velha de quase 9 séculos
nos mesmíssimos cinquenta anos se atolou num buraco do qual nunca mais ou mui
tarde e dificilmente sairá.
Razões
tiveram o meu amigo e o meu pai para partir, ou partirem desiludidos, eu idem,
assim partirei, e vós ?
Ainda
acreditais que este torrãozinho tem futuro ?
Deixai-me
rir …..
Ou
fugir para a ilha !!!!
sexta-feira, 21 de março de 2025
830 - AMIGO, TANTA FELICIDADE IRRITA-ME... *
Olá
meu caro amigo, bons olhos o vejam, tenho passado amiúde por aqui mas não há
quem lhe ponha a vista em cima, você anda decididamente desaparecido.
Não
que isso me incomode, para ser franco prefiro não o ver pois sempre que o vejo,
em fotos ou vídeos claro, irrito-me, a sua felicidade irrita-me, tanta
felicidade exaspera-me.
Saber
que nem dá pelo dias passarem enquanto para mim cada um deles é um tormento, como se tivessem não 24 mas 48 ou mais horas e em que cada minuto
é uma agonia sem fim à vista convoca a minha cólera.
Invejo-o,
não há direito que uns tenham tudo e outros nada, é uma questão de equidade, de
justiça, se a houvesse seria divina, igualitária, admirável, surpreendente,
impossível. Mas não há e vivo permanentemente com uma sensação oculta mas inevitável, como uma ferida, ou como se tivesse simplesmente sido expulso do paraíso.
Um
mesmo amor bate em nós, frémito inevitável do corpo criando em ambos a sensação
de existir perceptível hoje e todos os dias, mas porém a tristeza atinge-me com
violência inaudita enquanto a solidão me sufoca...
Pensei
em falar contigo amigo, mas o amor que vives é-me impossível de suportar, fico
sempre longe, enredado na minha teia de saudade e pergunto-me que ganharia se nos encontrássemos
?
Só
agora descobri esse teu grande amor, essa paixão que não posso igualar mas
somente invejar ou apostrofar pois vives esse amor entre braços e abraços, sensações que
já não me são permitidas alcançar.
Que
saudades de um abraço, nunca me arrependo por ter amado demais por isso tanto
sofro enquanto fico aqui aguardando esperançoso as migalhas deste amor que me enlouquece,
satisfazendo-me com simples recordações, com palavras que se vão apagando na
memória quando o meu desejo seria estar com ela entregando-me a este amor que me
vai sendo proibido até em meras lembranças.
Passo
horas acordado lembrando os imensos momentos em que estivemos juntos, eu, ela, e esta imensa
saudade sentida por não estar já a seu lado. Sinto-me um escravo deste amor
impossível que me consome de dor todos os instantes, desta infelicidade com
motivo e mistério que me tem sido tão absurdamente revelada.
Invejo-te
tanto quanto te odeio meu amigo e espero que me perdoes a afronta, é que o amor
também se alimenta de egoísmo e narcisismo, um amor para a eternidade assim o
exige, quis enganar-me a mim mesmo acreditando que haveria juventude e amor para
sempre, quero encontrar ainda um sentido para esta vida para além do saber que
todos iremos morrer um dia e essa a única certeza que me resta.
O
amor é uma ilusão sem a qual não posso viver, é um fenómeno da ordem dos céus e
do espírito, não mais que uma demanda na Terra, um profundo desejo de vivermos uma
paz absoluta. Daí haver quem sem quaisquer dúvidas ame o infinito, deseje o
impossível, quem não queira nada e quem tudo deseje, o impossivel e o possível, sim eu quero tudo, queria, porque amo algo "absoluto" e para mim sem
dúvida infinitamente finito, sim quero tudo ou um pouco mais, se puder ser, ou
até não pudendo ser...
O
teu amor a tua paixão exasperam-me. Todo o amor tem que ter um não sei quê de
impossível, de angústia, de saudade que mata, de verdade, de fazer doer o
coração, de fazer perder a razão, de sofrimento e sacrifício, de redenção... É isso
que te invejo meu amigo.
Como
posso eu amar alguém sabendo ser esse amor impossível, não lhe poder dizer
quanto a amo, como posso eu dormir e acordar pensando-a em sonhos tão perto de mim e não a
poder abraçar, beijar, fazer um carinho sentir-lhe o cheiro do perfume, como amar
tanto assim se não a encontro em lugar nenhum que não neste sonho lindo que
alimento, neste amor impossível. Mas minh'alma sussurra-me que não desista nunca, segreda-me e faz renascer em mim a esperança de que é possível seguir
um e mais um dia desejando-a, amando-a e, ainda assim, persistir no logro, no
engano, na ilusão.
Como
não te invejar, odiar e apostrofar meu amigo se é por este amor que passo os dias enganando-me, que me visto e deambulo sob o sol até que Deus me mostra o rosto dela e eu, sem
saber o que me espera teimo nesta vida impossível que alimento com o ódio que
destilo.
Perdoa-me meu amigo, perdoa-me mas como te disse o teu amor e essa tua paixão exasperam-me, cegam-me, roem-me por dentro, dão-me vida, alimentam-me….
* NOTA: Entre as muitas apreciações que este texto não deixou de ter escolhi ao acaso uma delas, a da minha amiga Ana R por me ter parecido que engloba magistralment o sentir de todas as outras ;
" Bom dia. Embora no texto refiras muitas vezes a palavra inveja, creio entender este texto como um elogio, quase uma ode ao amor.
Um amor que agora não tens mas que percebes por já o teres
tido. Será uma inveja boa, não de raiva.
Quando se tem um amor como o do Francisco não pode haver
crítica, "apenas" raiva por não viver um igual e o desejo de ter um
semelhante ou de o encontrar.
Eu entendi assim.
Bom Domingo para ti também."
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE :
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DITO PELO DR MIGUEL CASTELO BRANCO no Facebook :
Alguma gente cheia de afectações intelectuais que se diz representante da "Academia" no hemiciclo parlamentar não me surpreende desde que recebi por incumbência rever duas dezenas de textos de senhores professores doutores, com toda a titulatura de pós-docs, coordenações científicas, prémios e aulas dadas nas europas e nos states, mas que cometem erros ortográficos palmares, desconhecem as concordâncias, os tempos verbais, as regras básicas de pontuação e se refugiam num indigno registo escrito pejado de marcas de oralidade, para além de uma pobreza vocabular própria de crianças de 12 anos, chegando alguns a cometer a proeza de escrever frases sem um único verbo. (28-03-2025)