terça-feira, 15 de julho de 2025

835 - ABRE-TE SÉSAMO !!! ABRACADABRA !!!!

 


Não era a fé que me movia, nunca a tive, aliás, peço desculpa, uma vez houve em que me vi tão atrapalhado que supliquei perdão por todas as minhas faltas e roguei pela minha salvação daquele inferno, tudo prometi e todo esse empenho ficou por cumprir. Sou portanto devedor, devedor de mim mesmo, que me obriguei num momento de aflição para depois aligeirar o fardo, quando sobre as costas me não pesavam já os receios, os medos, os terrores.

 No fue la fe lo que me movió, nunca la tuve. De hecho, me disculpo, pero hubo un momento en que me sentí tan confundido que pedí perdón por todos mis pecados y recé por mi salvación de ese infierno. Lo prometí todo, y todo ese compromiso quedó incumplido. Por lo tanto, soy un deudor, un deudor conmigo mismo, quien en un momento de angustia me obligó a aligerar la carga después, cuando los miedos, temores y terrores ya no pesaban sobre mis hombros.


Não era o caso agora, agora tratava-se de cumprir um mandamento tão velho quanto o mundo, tratava-se de dobrar-me sob o jugo de uma força maior que eu, de soçobrar perante o instinto inato que protege as espécies e lhes garante sobreviverem e multiplicarem-se.

 Ahora no era así, ahora se trataba de cumplir un mandamiento tan antiguo como el mundo, se trataba de doblegarme bajo el yugo de una fuerza superior a mí, de sucumbir al instinto innato que protege a las especies y asegura su supervivencia y multiplicación.


Nesse momento mágico, como um crente ante sacra imagem, entrei em transe e, mais que a vergasta com que o desejo soe golpear-me nesse recolhimento, o corpo se me verga sob o truísmo encantado da minha devoção, digo-to para que saibas desta fé em mim e me ofereças o linimento das águas desse cálice que sedento busco, sequioso, na mira de abafar as tormentosas chamas que me queimam e me não trazem nunca a quietude que desejo e só alcanço quando em ti me dessedento.

 En ese instante mágico, como un creyente ante una imagen sagrada, entré en trance y, más que el látigo con que el deseo suele golpearme en este recogimiento, mi cuerpo se dobla bajo la verdad encantada de mi devoción, te lo digo para que sepas de esta fe en mí y me ofrezcas el linimento de las aguas de ese cáliz que busco sediento, sediento, con el fin de sofocar las llamas tormentosas que me queman y nunca me traen la quietud que deseo y sólo logro cuando tengo sed de ti.


Compreende então que não suportando a angústia me ajoelhei ante ti numa penitência de mártir, te abracei como um náufrago suspenso do salvador, arrastando-o na espiral da morte, na vertigem dos abismos em que a redenção não é o meio mas o fim último da submissão, do gesto e da catarse.

Entiende entonces que, incapaz de soportar la angustia, me arrodillé ante ti en penitencia de mártir, te abracé como un náufrago suspendido del salvador, arrastrándolo a la espiral de la muerte, al vértigo del abismo en el que la redención no es el medio sino el fin último de la sumisión, del gesto y de la catarsis. 


Por isso te abri como a um sacrário, ávido de maravilhar-me no teu santo graal, como quem sucumbe ao encanto duma odalisca, ao aroma adocicado das amêndoas, ao sabor agridoce de travo suave dos pêssegos rosa, por isso me quedei como se ante um cibório, não antevendo mas vivendo os prazeres do êxtase, vogando no paraíso prometido por todos os profetas em todos os sonhos e em todas as vidas.

 Por eso te abrí como a un tabernáculo, deseoso de maravillarme ante tu santo grial, como quien sucumbe al encanto de una odalisca, al dulce aroma de las almendras, al sabor agridulce del suave regusto de los duraznos rosados, por eso permanecí como ante un copón, no previendo sino viviendo los placeres del éxtasis, navegando en el paraíso prometido por todos los profetas en todos los sueños y en todas las vidas.


E feliz sucumbo à minha voracidade, por ser aí que finalmente me perco e me encontro, porque então, sim, só então sublimo a tentação que me arrastara, sôfrego, ao âmago de ti, por em ti encontrar o carrasco e a salvação dos tormentos em que me deleito e suplício, qual cilício e cura desta paixão que me consome.

 Y yo sucumbo felizmente a mi voracidad, pues es allí donde por fin me pierdo y me encuentro, porque entonces, sí, sólo entonces sublimo la tentación que me había arrastrado, ávidamente, hasta el núcleo de ti, pues en ti encuentro al verdugo y la salvación de los tormentos en que me deleito y torturo, como cilicio y remedio para esta pasión que me consume.


Somente isso explica a profusão de beijos com que, enlouquecido, numa fúria aparente, cubro o objecto da minha fé, da minha devoção, da minha entrega, ciente de ser este paroxismo avassalador que simultaneamente me subjuga e liberta da sensação, em mim somatizada,* que me guia e me cega enquanto se não cumpre o destino, a sina, o fado, e os lábios te tocam, a língua te procura, porque a sede é tortura consumindo-me as entranhas.

 Sólo esto explica la profusión de besos con que, enloquecido, en una aparente furia, cubro el objeto de mi fe, de mi devoción, de mi entrega, consciente de que es este paroxismo abrumador el que a la vez me subyuga y me libera de la sensación, somatizada dentro de mí,* que me guía y me ciega mientras el destino, la suerte, el sino no se cumplen, y mis labios te tocan, mi lengua te busca, porque la sed es una tortura que consume mis entrañas.


Apazigua-me esta dor o néctar dos deuses, ou d’uma flor, é vibrando que o procuro, e então, num estremecimento, guloso, sorvo-o num estertor, alarvemente, esquecido do tempo e do lugar, esquecido de mim precisamente quando eu um outro, quando e se ousas derramar sobre mim essa taça, ou me obrigas, também tu já toldada, já possuída da mesma fé, da mesma devoção, a beber do cálice a cicuta da vida, por sentires e saberes que só a ressurreição nos limpa do pecado se por amor nele mergulhámos.

 El néctar de los dioses, o de una flor, me alivia este dolor, es vibrando que lo busco, y entonces, en un escalofrío, ávido, lo sorbo en un estertor de muerte, tontamente, olvidando el tiempo y el lugar, olvidándome de mí mismo precisamente cuando otro, cuando y si te atreves a derramar esa copa sobre mí, o a obligarme, tú también ya cegado, ya poseedor de la misma fe, de la misma devoción, a beber del cáliz la cicuta de la vida, porque sientes y sabes que sólo la resurrección nos limpia del pecado si nos sumergimos en ella por el amor.


Cegamo-nos, cegamo-nos, e só o turbilhão da nossa mente nos acompanha, não nos guia, mas acompanha-nos, enquanto a nossa língua tacteia o caminho, o cruzamento, enquanto a nossa boca clama, vorazmente, por veneno e paz, por tudo e por nada…

Nos cegamos, nos cegamos, y sólo la mente en torbellino nos acompaña, no guía, acompaña, mientras la lengua tantea el camino, la intersección, mientras la boca clama, voraz, por veneno y paz, por todo y nada...


E antes que tudo termine caio a teus pés, prostrado, numa pausa redentora, porque agora sim, estamos prontos, pois a tarde é nossa e chegada a hora de nos cumprirmos,

           Y antes de que todo termine caigo a tus pies, postrado, en una pausa redentora, porque ahora sí estamos listos, porque la tarde es nuestra y ha llegado el momento de realizarnos,     


                   seja...

                   así sea

* NOTA: Em psicologia, "somatizar" significa manifestar problemas emocionais ou psicológicos através de sintomas físicos. É o processo em que a angústia ou dor psíquica é expressa através de sensações e dores corporais, muitas vezes sem a pessoa ter consciência disso.

A somatização, então, ocorre quando a mente, incapaz de lidar com o sofrimento emocional, o transforma em sintomas físicos. Isso pode acontecer em casos de transtornos mentais, dependência química, traumas, ou quando a pessoa está tentando ignorar ou evitar a dor emocional.




quarta-feira, 2 de julho de 2025

834 - A PSICOLOGIA DO ESQUERDISMO ...

               


     

PSICOLOGIA DO ESQUERDISMO

 

Um dos mais notáveis e certeiros diagnósticos do esquerdismo como fenómeno psicológico com que me deparei, em abono da verdade através do meu amigo Rodrigo Penedo já que sem a sua contribuição eu só conheceria metade da história, aquela metade que foi muito badalada na altura pelos mídia. Académico exemplar, Ted Kaczynski, que mais tarde viria a cair em desgraça, soube contudo diagnosticar, demonstrar e descrever a famigerada doença do esquerdismo....

.  

Sim Rodrigo, concordo ser indiscutivelmente o Manifesto do Ted Kaczynski a mostrar- nos a faceta multifacetada do esquerdista, o qual por natureza dissimulado é afinal e essencialmente um perturbado mental afectado por duas grandes tendências psicológicas: “sentimentos de inferioridade e afectação negativa durante o processo de socialização”.  


Vejamos o brilhantismo analítico de alguns excertos da obra de Kaczynski onde o autor analisa a forma como a tara da inferioridade se manifesta no esquerdista:

  «Por “sentimentos de inferioridade” entendemos não só os sentimentos de inferioridade em sentido estrito, mas todo um espectro de características inter-relacionadas: baixa auto-estima, sentimentos de impotência, tendências depressivas, derrotismo, culpa, ódio a si próprio, etc. Defende o autor que os esquerdistas modernos tendem a ter alguns destes sentimentos (possivelmente mais ou menos reprimidos) e que os mesmos são decisivos para determinar a direcção do esquerdismo moderno. (…)

Muitos esquerdistas, a grande maioria deles, identificam-se intensamente com os problemas de grupo que carregam a imagem de fraqueza (mulheres), derrotados (índios americanos), repelentes (homossexuais) ou inferiores. Os próprios esquerdistas sentem que esses grupos são inferiores. Nunca admitirão para si próprios terem tais sentimentos, mas é precisamente porque vêem esses grupos como inferiores que se identificam com os seus problemas, logo com eles.

Atenção, não se está a sugerir que as mulheres, os índios, etc., sejam inferiores; está apenas a fazer-se uma observação sobre a psicologia esquerdista). (…)

Os esquerdistas tendem a odiar tudo o que tenha agarrado ou identificado com uma imagem forte, bom e bem-sucedido. Odeiam a América, odeiam a civilização ocidental, odeiam os homens brancos, odeiam a racionalidade. As razões que os esquerdistas dão para odiar o Ocidente e o resto não correspondem claramente aos seus verdadeiros motivos.

Eles DIZEM que odeiam o Ocidente porque é belicoso, imperialista, sexista, etnocêntrico, etc., mas onde ou quando esses mesmos defeitos aparecem em países socialistas ou em culturas primitivas, o esquerdista encontra desculpas para eles, ou, na melhor das hipóteses, admite RESSENTIDO que eles existem; minimiza-os tanto quanto os ENFATIZA, muitas vezes exagerando imenso esses defeitos quando os mesmos aparecem na civilização ocidental.

Assim, torna-se claro que esses defeitos não são o verdadeiro motivo do esquerdista para odiar a América e o Ocidente. Ele odeia a América e o Ocidente porque são fortes e bem-sucedidos.

 Palavras tão simples como “auto-estima”, “autoconfiança”, “auto-suficiência”, “iniciativa”, “empreendedorismo”, “optimismo”, etc., têm pouca relevância no vocabulário de esquerda. O esquerdista é anti-individualista e pró-colectivista. Quer que a sociedade resolva os problemas de cada um, que satisfaça as necessidades de todos, que cuide deles. O esquerdista não é o tipo de pessoa que tenha um sentimento interior de confiança na sua capacidade de resolver os seus próprios problemas e satisfazer as suas próprias necessidades. Ele é antagónico em relação ao conceito de competição porque, no fundo, se sente um falhado, um perdedor

As formas de arte que apelam aos intelectuais de esquerda modernos tendem a ser subjectivas, ambíguas, a centrar-se na sordidez, na derrota e no desespero, ou então assumem um tom orgiástico, descartando o controlo racional, como se não houvesse esperança de conseguir nada através do cálculo racional e tudo de válido que nos restasse fosse mergulhar nas sensações do momento..

Os modernos filósofos de esquerda tendem a rejeitar a razão, a ciência, a realidade objectiva e a insistir que tudo é culturalmente relativo. (…) O esquerdista odeia a ciência e a racionalidade porque estas classificam certas crenças como verdadeiras (ou seja, bem sucedidas, superiores) e outras crenças como falsas (ou seja, falhadas, inferiores). Os sentimentos de inferioridade do esquerdista são tão profundos que ele não pode tolerar qualquer classificação de algumas coisas como bem-sucedidas ou superiores e outras como falhadas ou inferiores.

Isto também está subjacente à rejeição, por parte de muitos esquerdistas, do conceito de doença mental e da utilidade dos testes de QI. Os esquerdistas são profundamente contra as explicações genéticas das capacidades ou do comportamento humano porque essas explicações tendem a fazer com que algumas pessoas pareçam superiores ou inferiores a outras. Os esquerdistas preferem dar à sociedade o crédito ou a culpa pela capacidade ou falta dela de um indivíduo. Assim, se uma pessoa é “inferior”, a culpa não é dela, mas da sociedade, que não a terá, como seria sua obrigação, educado correctamente.

O esquerdista não é tipicamente o tipo de pessoa cujos sentimentos de inferioridade o tornem um fanfarrão, um egoísta, um rufia, um auto-promotor, um competidor implacável. Este tipo de pessoa não perdeu totalmente a fé em si próprio. Tem um défice profundamente intuído do seu sentido de poder e de auto-estima, mas ainda consegue conceber-se como tendo a capacidade de ser forte, e os seus esforços para se tornar forte produzem todavia o comportamento desagradável que lhe conhecemos e que a caracteriza.

Mas o esquerdista está demasiado longe disso. Os seus sentimentos de inferioridade estão tão enraizados que ele não consegue conceber-se como individualmente forte e valioso. Daí o colectivismo do esquerdista. Ele só se pode sentir forte como membro de uma grande organização ou de um movimento de massas com o qual se identifica.

 


Reparem na tendência masoquista das tácticas da esquerda. Os esquerdistas protestam deitando-se na frente dos veículos, provocam intencionalmente a polícia ou os racistas para que os maltratarem, etc. Estas tácticas podem muitas vezes ser eficazes, mas muitos esquerdistas utilizam-nas não como um meio para atingir um fim, mas porque PREFEREM tácticas masoquistas. O ódio a si próprio é uma característica da esquerda.



Pensamentos e reflexões extraídas da obra do insigne académico Theodore Kaczynski, no caso da sua obra “Industrial Society and its Future”, de 1995.


Todavia Theodore John Kaczynski não é flor que se cheire, licenciou-se na conceituada Universidade de Harvard em 1962, integrando de seguida o corpo docente da Universidade de Michigan onde obteve o seu mestrado (1964) e o doutoramento (1967) em Matemáticas, sendo-lhe atribuído o Galardão Myers Para Melhor Dissertação do Ano.

 

Apesar dos diplomas e de ter dedicado a vida fazendo ressoar o alarme quanto ao que considera o principal problema da humanidade: a omnipresente subjugação à força destrutiva do progresso tecnológico. Nos seus escritos articula uma extensa crítica ao "sistema tecno-industrial" antevendo as consequências catastróficas deste para a humanidade e para a biosfera, daí a autoria de A SOCIEDADE INDUSTRIAL E O SEU FUTURO....

 

Kaczynski nascido em 1942 em Evergreen Park, Illinois, foi um prodígio intelectual, ingressou na Universidade de Harvard aos 16 anos, onde se licenciou, tendo tirado o mestrado e doutoramento aos 24 anos na Universidade de Michigan, tendo sido aos 25 anos o mais jovem professor de Matemáticas na história da Universidade Califórnia Berkeley. Passados dois anos abandonou o ensino e mudou-se para uma área remota do Montana para concretizar a ambição pessoal de viver de modo autónomo e auto-suficiente, adoptando um estilo de vida sobrevivencialista, vivendo da terra e da caça durante cerca de vinte anos.

 

Tendo sido condenado a uma pena de prisão vitalícia pela campanha de atentados à bomba em que ficou conhecido como Unabomber, Kaczynski encontra-se encarcerado em regime de cela solitária numa Prisão Federal no Colorado desde 1998, onde continua contudo escrevendo ensaios tecnofóbicos.

 

Em 14 de Dezembro de 2021 e de acordo com Donald Murphy, porta-voz do Departamento prisional, Kaczynski foi transportado para o centro médico prisional FMC Butner, na Carolina do Norte. Murphy recusou-se a fornecer qualquer detalhe sobre a situação clínica de Kaczynski ou a razão pela qual foi transferido. No entanto, numa conversa por meio de carta, Kaczynski indicou estar sofrendo de cancro terminal e que a sua expectativa de vida seria de dois anos ou menos, mas isso nunca foi confirmado. Porém, na manhã de 10 de Junho de 2023, funcionários da prisão descobriram que Kaczynski tinha morrido em sua cela na cadeia da Carolina do Norte.

 

Obras

O Manifesto Unabomber

Industrial Society And its Future. The New York Times e The Washington Post, 1995. ISBN 0-9634205-2-6

A Sociedade Industrial e Seu Futuro. Editora Baraúna, 2014. ISBN 978-85-437-0127-1

Artigos e Ensaios

Morality and Revolution (Moralidade e Revolução), 1999.

Ship of Fools (O Navio dos Tolos), 1999.

When Non-Violence is Suicide (Quando a Não Violência É um Suicídio), 2001.

Hit Where It Hurts (Atinja Onde Dói), 2002.

The Coming Revolution (A Revolução que se Aproxima), 2005.

The Road to Revolution (O Caminho para a Revolução), 2005.

Coletâneas

The Road to Revolution. Éditions Xenia, 2008. ISBN 978-2-88892-065-6

L'effondrement du Système Technologique, 2008. ISBN 978-2-88892-027-4

Technological Slavery. Feral House, 2010. ISBN 978-1-932595-80-2

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ted_Kaczynski



quarta-feira, 18 de junho de 2025

833 - UMA IDA Á PRAIA, AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM VIÚVO INEXPERIENTE ...

 



          Empurraram-me para isto, p'ra uma ida á praia ... Foi o que foi ...

          - Baião, tens que conviver, sair, bla bla bla...

          E francamente ou eu escolhia inscrever-me na “universidade” dos velhos, coisa que não suporto, ou alinhava com eles pelo menos uma vez numa das ida á praia, daquelas que o Grupo de Viagens GTI organiza (em tempos fui nalgumas viagens e foram óptimos passeios de grupo) ou os aturava o resto da vida pelo que anui e inscrevi-me numa dessas idas, mas nem tão pouco levei calções de banho…

          Tudo pk lá na ideia deles fiquei viúvo há relativamente pouco tempo e não posso continuar sozinho nem a isolar-me ou ainda viro eremita e bla bla bla bla… Aceitei, inscrevi-me, esperei o dia da ida e lá fui num belo autocarro daqueles a que só falta multibanco…  Para ser sincero ainda não tinha decorrido meia hora de viagem e já eu concluíra não estar preparado para estas coisas, nem para estas nem para ingressar na tal “universidade” dos velhos, nessa então muito menos !!

          Passeio pela vila ou cidade de Ericeira, bonita mas alcandorada numa falésia e com muitas escadas, ladeiras e subidas, tudo coisas demasiadas para velhos, e para novos, até p'ra mim que estou n meia idade, nem desci á praia…. Com tão excelsa companhia não me apeteceu matar a criosidade quanto a essa vila de contrastes, por isso apesar do passeio da manhã ser livre rumei a uma praça apinhada de gente, a maioria velhos, a maioria velhos de excursões como a minha mas oriundos das mais variadas zonas do país, a Ericeira tem mais turistas velhos num dia que ouriços tem o seu mar... E eu a pensar que o negócio dos "mata-velhos" tinha sido das melhores idéias que alguém tivera...

          Pelo que para afastar o calor entrei numa das gelatarias que me pareceu menos cheia, pedi um gelado de taça, que me saiu caríssimo, ia ficando sem os olhos e, sentei-me a comê-lo quando … snif snif snif …. Cheirava a merda que tresandava, não era o WC, confirmei, só podia ser um dos velhos ou velhas que por ali abundavam de bunda nas cadeiras em volta das mesas… portuga ? english ? franciú ? bosch ? marroquino ? tailandês ?? Fugi dali a sete pés nem acabei a merda do gelado….

 


          Depois rumámos ao autocarro que nos levou ao almoço, uma marisqueira daquelas que desistiram de fazer casamentos e baptizados por já não os haver mas que se reconverteu a dar almoços de marisco aos velhos turistas….. E ás tantas dou por mim a pensar : mas que faço eu aqui ? Que faço eu no meio disto tudo ?

          Cada mesa levava dez “turistas”, contei as mesas, eram à volta duns 600 os comensais, portanto muita gente de outros autocarros, de outras terras, e eu ali no meio daquele mar de gente velha, eu novo, 71 acabadinhos de fazer, novinhos, ainda a brilhar, e nem uma velha jeitosa, nem uma que valesse a pena levar a dançar, ou a apalpar, ou a engatar, uma coisa para o futuro que o amanhã a Deus pertence e eu tinha que satisfazer os cabrões que me meteram nesta alhada, que lhes vou dizer ? Que tenho má boca ? Que sou esquisito ?  Eu a fugir dos olhos gulosos delas, dos perfumes baratos de há 50 anos, dos fedores nauseabundos dos cremes da cara que me fizeram lembrar a minha avó Inácia que Deus tem à sua guarda há 40 e muitos anos….

          Sim porque havia música e músicos, de quinta categoria mas havia, eram todos cançonetistas de terceira, e o tal povo que Almada Negreiros tão bem categorizou;

          “ O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos.

          Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades.”

 


          Havia música e mesas bem recheadas com tudo, e bem servidas, muita gente a servir, nada de esperas, fartura de tudo mas meu Deus eu estava rodeado de velhas e velhos, algumas mais novas mas ainda assim mais velhas que velhas… Eles idem, só grunhos, broncos, e parvos, até que desbastadas as entradas e o primeiro prato a mesa foi recheada de frutos do mar, do camarão mais pequeno á lagosta maior, da conquilha pequenita à vieira mais grandita, caranguejos, santolas... 

          Parecia a mesa das bacantes, quando repentinamente dou por eles todos levantados, de telemóvel na mão p’ra registar o momento, parece que nunca tinham visto marisco, ou comido marisco, impressionou-me a atitude, eu que nem aprecio nem um nem outro além de camarão, e eles numa atitude pasmada e generalizada, de todos sem falta focados no centro da mesa, no rei marisco, não neles, não uns nos outros, mas no ídolo do momento, no que lhes iria tirar a barriguinha de misérias, afinal o 25 de Abril valeu a pena, ali estão eles manducando o manjar dos ricos, é a igualdade prometida cumprindo-se ….

          E eu para com os meus botões, isto ainda vai demorar ? Felizmente a velharia cansa-se depressa e daí a pouco, todos felizes, todos de bandulho atolado de marisco, babando-se mas rumando, ainda que aos encontrões para o autocarro, eu olhando-os com pena e trocando sorrisos maliciosos com a guia, às tantas um piscar de olho, a coisa promete, a ela o espectáculo também a diverte…

        Quem sabe se nós um destes dias ireamos ver uma ópera, coisa fina, ou uma sessão de variedades no Estoril, ou quem sabe uma noite vendo as estrelas num dos programas do Dark Sky Alqueva, fica aqui o link caso vos interesse, 

          https://darkskyalqueva.com/

ela disse-me que têm programas muito variados e dessas coisas percebe ela, há casos em que o melhor é a gente deixar-se levar, o universo tem mistérios que a gente nem sonha nem sabe desvendar…. Além disso o meu futuro ta escrito na palma da minha mão garantiu-me ela, pelo que nem valerá a pena eu esbracejar não acham ????

 


          O pior foi mesmo o regresso, o autocarro no regresso cheirava mais mal que a tal gelataria, alguém estava borrado mas mesmo borrado, agora com aquelas cuecas para a incontinência cagam-se todos e só o cheiro sai de mansinho, mais nadinha de nada, mas olham todos uns para os outros sem que ninguém se descaia e é aí que está a piada…. Alguém viaja confortavelmente em cima de uma almofada de merda e nem diz nada…

          Depois, depois a toda hora caem, perdem-se, cada vez que o autocarro faz uma paragem na volta chegam atrasados, finalmente entram e depois ou antes de entrarem vomitam-se e mijam-se, se sentados e em andamento nunca se calam, nem sabem o que dizem nem dizem o que sabem, não têm maneiras mas têm suores frios, guincham e falam gritando desaustinadamente, palitam os dentes com a unha, desmaiam quando menos se espera, têm uma admiração mórbida por igrejas e santos, não sabem nada nem conhecem nada nem ninguém, que terão andado fazendo uma vida inteira ?

          Eis o que me espera, tou com 71 e para lá caminho… para lá do inferno …. Ainda não estou preparado para estas cenas…………….

 



HUMBERTO BAIÃO

AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM VIÚVO INEXPERIENTE ...


sexta-feira, 9 de maio de 2025

832 - VOTANDO COM OS PÉS ......

                  


A entrevista que a líder do MCE e vereadora da CME por esse movimento de cidadania deu à Rádio Diana no dia 9 de Abril pp, sobressai como uma pérola no mar dos discursos políticos proferidos de norte a sul, quer pela inteligência demonstrada, quer pela segurança das afirmações proferidas, todas elas fundamentadas e passiveis de serem confirmadas, comprovadas. Eu diria tratar-se de afirmações à prova de bala, reais, sérias, nada de patranhas ou de promessas eleitorais.

 

Essa pérola, essa entrevista, cujo link vos deixo no fim deste texto, merece ser ouvida. Devemos ouvi-la para que saibamos e venhamos a compreender porque está Évora como está, órfã de pai e mãe há muitas décadas, pobre, sem presente nem futuro, atolada numa divida incompreensível que só a má gestão de comunistas e socialistas pode justificar, e que estamos pagando com um palmo de língua de fora, já que o acordo para combater essa divida penaliza munícipes, afasta investidores, coarcta o futuro e corta cerce a esperança em dias melhores.




Quando digo que a entrevista expõe um discurso inteligente faço-o por o mesmo se basear em factos concretos, visíveis, comprováveis, mensuráveis, negando-se ao vazio balofo dos demais, aqueles aos quais já nem nos damos ao incómodo de ouvir. Em especial os três gráficos que FF Florbela Fernandes apresenta, um sobre o volume de negócios no concelho, que terá aumentado, outro sobre o emprego, que igualmente terá aumentado, e o último, sobre a população da urbe eborense, que se tem mexido, se tem posto a andar, tem partido, abalado, ido embora, gráficos que todavia foram apresentados isoladamente, coisa que na minha mesa de café, digo a minha tertúlia de café se tem recusado a aceitar.

 

A coisa não é tão simples pois as questões abordadas (correcta e inteligentemente) nos três gráficos, na prática não funcionam isoladas, influenciam-se mutuamente nuns casos, interpenetram-se noutros, nuns casos são causa noutros efeito ou fruto dos primeiros ou anteriores… Longe vai o tempo em que o INE disponibilizava pronta e gratuitamente qualquer informação estatística que lhe fosse solicitada, não é assim agora que nos obriga ao cumprimento de uma burocracia desmotivadora e em alguns casos exige saber o motivo da consulta e ou o pagamento das informações requeridas. De veículo de consulta e transparência parece ter volvido tempestade de areia para cegar os olhos do cidadão empenhado em analisar, divulgar, contestar, criticar ou denunciar com bases sólidas algum aspecto menos claro desta democracia, cada vez mais opaca com que nos vêm cegando e enganando. 



1º Gráfico – Volume de negócios.

 

Em momento algum encontrámos erros na interpretação que a senhora vereadora fez dos gráficos. Analisou-os, um a um, pelo que eram, como é lícito, e não se alongou em problemas que neles possam estar subtilmente escondidos pois serão assuntos para resolução na AR ou governamental, nunca a nível municipal ou concelhio.

 

O volume de negócios aumentou, não há a menor dúvida, o gráfico porém não nos diz a razão desse aumento. Com o INE a filtrar a informação para o exterior restou-nos especular e concluímos que a Embraer, as apostas espanholas na azeitona, na amêndoa (com uma fábrica perto da Vendinha), os lagares, o azeite, e as culturas extensivas/intensivas, ainda que sejam entidades de capitais brasileiros, espanhóis ou outros, podem ter contribuído para o aumento do volume de negócios verificado no nosso concelho. Sendo um concelho pequeno, com poucas empresas de envergadura, a mínima oscilação poderá parecer-nos gigantesca. 


Resta a questão final, a ter havido lucros, porque um aumento de transacções nem sempre corresponde a proveitos, basta o exemplo do turismo que deixará somente o dinheiro gasto numas bicas, nuns gelados, numas castanhas assadas e num ou noutro souvenir (ver “DÓLARES REDONDOS” link no fim do texto), ou o caso das imobiliárias que movimentam importâncias significativas mas não acrescentam um chavo à riqueza da nação, ou do concelho, que são parcialmente culpadas na inflação que fustiga o sector da habitação e cuja valência maior, como no caso do turismo, é a criação de um ou outro posto de trabalho não especializado e na generalidade indiferenciado. Pouco, muito pouco, só quem tenha baixas ambições admira ou ambiciona estes postos de trabalho apesar de alguma coisa ser melhor que nada. Estamos habituados a ficar com as migalhas… Portanto, e voltando à vaca fria, partindo do principio que sim, que aumentaram positivamente, quem beneficia com este “tão grande” avolumar dos negócios no concelho ? Nós respondemos, essencialmente brasileiros e espanhóis…



2º Gráfico – Emprego / postos de trabalho.

 

Podendo o volume de negócios/produtividade ter aumentado sem acréscimo de emprego, bastaria que os factores de produção tivessem sido utilizados na sua capacidade máxima, e talvez tenham sido, a verdade é que também foram criados novos postos de trabalho, o que é positivo e um bom augúrio. Estejamos atentos à situação nos próximos tempos não vá a “coisa” ser apenas um qualquer fenómeno sazonal passageiro e ditado por condições que poderemos imaginar mas não conhecemos. Há que ver se a situação se solidifica ou se oscila, se tem alicerces e se, para além de quaisquer suspeitas nos demonstra ser durável, ser para ficar, para continuar.

 

Seria bom saber se esses novos contratos de trabalho correspondem a situações consideradas duradoiras, se deixaram de reflectir o mau hábito criado com os contratos a prazo e a precariedade inerente e, já agora e se não é pedir muito, que tipo de empregos foram criados, em que sector da economia, se de baixo nível, nível médio ou superior, e em termos de idade e género como se distribuíram ? Em que percentagem corresponderam à necessidade de acolher gente estigmatizada com o desemprego de longa duração ou tratou-se meramente da criação de novos postos, subsidiados, e por isso contemplando situações de primeiro emprego ?



 

3º Gráfico – A cereja no bolo, os residentes.

 

Este terceiro gráfico, tão verídico como os anteriores, não deixa a menor duvida quanto à sua interpretação, vindo ornar com uma coroa mortuária quer o volume de negócios quer a questão do emprego. Que raio de cidade / concelho é este em que, com o volume de negócios a aumentar e o fugidio emprego a mostrar oportunidades, ainda que tímidas, vê a população a debandar ?

 

Não esqueçamos que, as observações a nível de emprego são do mais enganador que há, já que, teoricamente, se toda a população desempregada, e revoltada, com as esperanças perdidas, rumasse à GB, à França, Alemanha, Nova Zelândia, Austrália, USA, Canadá etc etc etc o desemprego cairia a pique para zero ! Poderíamos então bater palmas ? Lançar fogo de artificio ? Sabemos que o desespero e a desesperança, aliados à falta de fé no IEFP leva imensos desempregados a simplesmente desvincularem-se de tal organismo e portanto colocando-se fora das estatísticas do desemprego, ajudando na ilusão de que o mesmo estará a descer quando poderá mesmo estar a aumentar…



 

O fenómeno de debandada da população não me admira, é o chamado voto com os pés, abalar, pôr-se a andar, dar com os pés, pôr-se a milhas, virar costas… Ora é sabido que nos últimos 50 anos Évora não resolveu um único dos problemas que tinha, que continua tendo e que continuam a afligir-nos nos mesmíssimos locais e situações, só que agora com um volume gigantesco. Finalmente, e após 50 anos, as pessoas começam a perceber não haver aqui nem condições nem futuro, e começam a partir. Há pelo menos 40 anos que deviam ter embalado a trouxa e zarpado, as preocupações do MCE são legítimas, os partidos do sistema em cinco décadas não quiseram resolver as candentes questões desta cidade, nem da região nem do país. E não esperem os eborenses que venha algum paraquedista de Portimão, de Viseu, de Aveiro ou de Oeiras resolver os nossos problemas, isso são histórias para os livros de banda desenhada.

 

A verdade porém é que apesar, contudo ou todavia, entre as cidades portuguesas Évora continua sendo a mais pobre, a que oferece menos oportunidades e menos futuro. Por causa da dívida colossal do município e que podemos agradecer aos comunistas e socialistas os eborenses são castigados e pagam taxas e taxinhas pela tabela máxima ! O mau tornou-se péssimo, o MCE tem sobre os ombros uma tarefa ciclópica, uma responsabilidade imensa ! Não iludir, não mentir, não enganar os eborenses e sobretudo fazer o que ainda não foi feito, e que é quase tudo … Comunistas e socialistas têm de há 50 anos para cá contribuído culposamente para o descalabro em que a cidade se encontra. 


 E não esqueçamos que há meia dúzia de meses foi declarada em sessão pública da CME pela boca do seu presidente a falência do município !

 

Como é possível que tantos e tantos cidadãos ignorem este desiderato ? Por que razão ou razões os mídia locais não pegaram nesta noticia e a debateram até à exaustão ?

 

Quem beneficia com o ocultar de um escândalo desta dimensão ?

 

Quem, tem interesse em esconder a falência do município à população do concelho ? 



Acordem eborenses, a URSS caiu, as torres gémeas caíram, por que razão a derrocada delas originou tanto barulho e a de Évora não ?

 

O município faliu e a sua falência mais não é que o expoente máximo da gestão comunista e socialista de Évora, essa falência será para a história o maior impacto que irão deixar nos anais desta urbe tão sacrificada, urbe com um passado rico mas com um presente que envergonha e sem futuro algum a menos que os cidadãos tomem em mãos o futuro de Ébora e voltem a erguer bem alto o significativo estandarte de Liberalitas Júlia !

 

Hoje, no dia 18, em Setembro ou Outubro e sempre que for votar lembre-se de quem faz e de quem atrapalha…. Obrigado.

 


domingo, 4 de maio de 2025

ESSA AVÓ QUE ME ENCONTROU by Luísa Baião*

 

                              Escrito sexta-feira, ‎8‎ de ‎Setembro‎ de ‎2006, ‏‎11:05h

        Perdi minha Mãe muito cedo, foi uma dor que ainda é, e que julgo me acompanhará durante toda a vida. Não só por isso, mas também, estreitei os laços que então existiam com meus avós, todos muito queridos, e que também já são para mim, infelizmente, saudosas recordações.

          Talvez por isso a Terceira Idade me sensibilize de forma marcante, ou talvez porque diariamente lido com essa classe etária, tão fragilizada quanto, por vezes, abandonada e tão carente de atenções quanto devedoras somos todas (os) das suas memórias.

          Não esquecerei jamais minha avó Narcisa, com quem aprendi a enfrentar o mundo e a não adiar problemas. Dormir descansada significava para ela não deixar para amanhã o que devia ser feito hoje. Era alegre como poucas pessoas nessa idade o eram, dela herdei certamente esta disposição que me anima mesmo nos momentos mais difíceis.

          De minha avó Joaquina herdei os genes da perseverança e capacidade de trabalho, ainda hoje relembro o seu exemplo, já velhinha mas sempre trabucando, o que lhe permitia ir manducando e estar em paz com Deus e consigo própria. Disputavam as duas a minha presença, pelo que os sábados eram alternadamente vividos com uma e com outra, que para o almoço me preparavam os melhores manjares.

 

            Muito jovem, recém casada, órfã e mãe, nunca elas se aperceberam, do ainda me culpo, não lhes ter dito em vida quanto as amava e lhes devia. Julgo que o sabiam, já que vivendo próximas, e ainda que almoçasse com uma delas, nunca olvidando a outra que, ciumenta, me cobria de beijos e me prodigalizava a ementa para o sábado seguinte.

          Os meus avós não me eram menos dedicados, nem eu a eles, já esqueci os seus sermões, mas não esqueci o espírito que em mim incutiram, o espírito da devoção, da honestidade da solidariedade, da honra pelo trabalho. Eram homens, muito me mimaram, mas era sobretudo com o meu jovem marido, homem como eles, que gostavam de conversar. E claro brincar com o nétinho, que os fazia babar e pouco maior era, à data, que um chorão.

          Rezar-lhes na campa não redime a minha culpa, por isso todos os idosos são para mim avós, os avós que já não tenho, os avós que queria ter, ainda. Por isso um dia destes, quando na rua João de Deus fui surpreendida por uma velhinha muito querida, não pude deixar de ver nela essas avós que recordo com amor e com saudade, por isso a sua presença me foi agradável, por isso me agradou que sem pudor se tivesse dirigido a mim que, com a pressa com que sempre ando a não via.

       Somos vizinhas, embora eu não o soubesse, está internada num lar ali ao Alto dos Cucos, Fontanas, e espera como quem desespera, que os dias se sucedam. O nosso encontro parece ter-lhe sido grato, parece ter-lhe insuflado vida, mal sabe ela quanta gratidão senti em mim por me ter procurado, por me ter tocado, e na verdade tocou-me de perto o coração.

          Sei ser para ela uma amiga por quem espera à sexta-feira, eu não espero, procuro, procuro a amizade e gratidão dessa e de tantas avós que há entre nós e a quem não devemos esquecer dizer quanto amamos, antes que seja tarde, porque o tempo é uma roda, uma roda que não pára.

 


         Mãe é Mãe, e ninguém substituirá na minha mente e na minha dor a sua memória, minhas avós sabiam-no decerto, já que nunca a procuraram substituir, muito pelo contrário, todas as suas atitudes, sem que o assumissem, foram no sentido de atenuar essa dor e não fazer-ma esquecer, o que hoje reconheço acertado. Recordo ainda com saudade os seus mimos, as suas carícias, as suas palavras de consolo, amparo e encorajamento. As minhas avós souberam sabiamente deixar intacto um espaço que jamais alguém ocupará no meu coração, o amor por minha Mãe que ainda venero com mágoa, com saudade, e sobretudo com uma ternura que o tempo apagará em mim.

          Se alguém me amou incondicionalmente foi sem dúvida essa Mãe que todos os dias lembro e ainda me dá forças, para lutar pela vida, por seguir-lhe o exemplo, que tão bem recordo. Como é grande a pena que sinto por não a ter comigo, tão grande como o esforço que diariamente faço para que se orgulhasse de mim se entre nós estivesse.

          A saudade não tem fim. 

 

 * By Maria Luísa Baião. Texto talvez inédito. 

   Escrito sexta-feira, ‎8‎ de ‎Setembro‎ de ‎2006, ‏‎11:05h