QUER QUEIRAM QUER NÃO, A
GUERRA É A SOLUÇÃO …
A propósito de Zelensky, actor, palhaço ou presidente, herói, o personagem deixa tema á escolha
e até eu, que comecei por não ir à bola com ele, agora me penitencio dessa
minha avaliação e aceito não estar certo quanto ao lugar onde o colocar mas
reconheço que não posso alimentar uma dualidade de critérios e me sinto confundido
quanto ao patriotismo, coragem e heroicidade do homem, digo deste senhor.
Tão
confundido ando, e tão incerto quanto ao lugar e em que prateleira o colocar
que, há uns dias, um meu amigo se serviu dessa minha duplicidade/hesitação para
me alegrar a manhã zombando-me e zurzindo-me a torto e a direito. E se dantes
era a minha gata Mimi pulando em cima de mim para lhe ir abrir os estores e dar
a paparoca, ou a Rádio Comercial e as suas manhãs musicais a acordarem-me e
alegrarem-me, desta foi ele, esse amigo de reinar, de adorar o sol, a praia, a
paz, o bem-estar e do lirismo.
Chamava-me
ele numa mensagem matutina a atenção para o que dizia ser a minha fixação pela
guerra, ora só posso deduzir que o ingénuo seja um admirador do sol. Verdade
que muitas vezes a refiro, não que a defenda ou a aprecie, porém, e dado que
ela se impõe desde que há homens neste planeta não enterro a cabeça na areia.
Para além disso gosto de ser claro, faço questão que não confundam o que digo
ou o que defendo, não volto atrás nas minhas opiniões a menos que a razão me demonstre
estar totalmente enganado, caso em que as revejo, corrijo e altero, o que
felizmente acontece poucas vezes.
Como
deixei claro atrás não defendo a guerra nem aprecio, porém ela é uma realidade
e em simultâneo uma constante transversal a todos os lugares do mundo e a todo
o tempo histórico. Já na pré-história o homem resolvia muitos dos seus problemas
à traulitada, caso exemplar do Otzi, do homem de Grauballe, do de Lindow, e até
hoje se mudanças houve elas se deveram e se concentraram no aperfeiçoar das
técnicas e das estratégias a adoptar. A guerra sempre foi vista como um
recurso, por vezes o único, por vezes o primeiro, outras vezes o último. É um
assunto tão sério que se considera a extensão natural da diplomacia, isto é, se
não vai a bem vai a mal, mas irá, e assunto tão sério, tão fulcral, tão
importante que a partir de Georges Clémenceau e Carl von Clausewitz a decisão
de guerrear deixou de ser deixado em exclusivo nas mãos dos militares, passou
para as dos políticos, o que, a julgar pelo que sabemos, não nos deve deixar
nem mais descansados nem mais confiantes.
Há
várias considerações a considerar, ou, para não cair em redundâncias, vários
assuntos a ter em conta, ou vários aspectos, como queiram. Raras nações terá
havido ou haverá que não tenham nascido da guerra, e Portugal não foi excepção,
D. Afonso Henriques guerreou a mãe, é sabido e é dos livros. A liberdade sempre
foi conquistada por meios guerreiros, a revolução francesa não foi um
piquenique, nem tão pouco o nascimento da América, digo dos USA, primeiro
contra o domínio colonial inglês e depois contra a escravidão do homem.
A este último propósito e dada a
imoralidade que neste mundo se tornou epidémica e transversal, talvez esteja na
altura de outra guerra como a IIWW, libertadora,… Tal qual a revolução russa de
1917, que contudo o pretendeu ser mas não foi. Andamos perdendo demasiado tempo
com o acessório e estamos a descurando o essencial, ninguém imagina o que era a
vida do povo russo antes dessa revolta de Outubro, os abusos, a
desconsideração, a fome, a miséria, a iniquidade, a desigualdade obscena, um
pouco à imagem de hoje, poucos com muito, com demasiado, e muitos sem nada,
espoliados até nos direitos que nessa época nem sequer eram um sonho, embora
tenha sido aí que esse e outros sonhos começaram.
Ninguém
dá nada de mão beijada a ninguém, a guerra é uma constante na história do homem
e do mundo. Curiosamente durante séculos e séculos foi sobretudo aos guerreiros
que se abriram os caminhos da glória e todos os outros. Aos melhores, na Grécia
e em Roma tornaram-nos chefes, presidentes, imperadores, não quero cansar-vos
mas vejam um dos últimos casos conhecido, o que aconteceu com Eisenhower, com
Churchill, aliás com Churchill há uma história curiosa que muita gente
desconhece. Durante a IGG fora ele o estratega da tomada dos Dardanelos,
operação conhecida como a Campanha de Galipoli, um épico falhanço das forças
armadas vitorianas que Churchill assumiu como seu, dado ser ele o Primeiro
Lorde do Almirantado, qualquer coisa como Ministro da Marinha, ou Comandante do
Estado-maior da Armada, derrota que todavia se deveu à incompetência de
generais e almirantes do British Army e da Royal Navy.
Muitos
lhe vaticinaram então o fim da carreira politica e militar, o caso era sério e
ele sabia não ser para menos, muitos navios afundados, muitas centenas de
homens dizimados, todo o seu prestígio estava em causa, demitiu-se de imediato
e antes que a sua cabeça fosse exigida numa bandeja, e que fez ele depois de se
demitir ? Recolheu-se no conforto material do Parlamento ? Refugiou-se na
rectaguarda confortável de uma qualquer universidade ? Nada disso, alistou-se
na guerra e pediu que o enviassem para a linha da frente.
Podendo
abusar de subterfúgios não meteu cunha nenhuma para que o inscrevessem nos
abastecimentos, ele sabia ser na guerra e à sua frente (da guerra) que o homem
sempre se superou, superar de superação, no sentido moral, ético, filosófico,
ontológico. Claro que sabemos não ter morrido apesar dos muitos riscos que correu,
e até conhecemos o fim desta história, ganhou-a. Voltou a merecer a confiança
dos ingleses de novo e, surpresa das surpresas, quando Neville Chamberlain
fazendo a triste figura que fez colapsou (cá batemos palmas ao Passos Coelho e
ao Costa que ajoelharam perante a troika), foi a ele Churchill que o povo
inglês entregou a difícil tarefa de enfrentar o nazismo. Guterres e Barroso
deviam ter estudado bem esta parte da biografia de Churchill…
Uma
constante da historia é que aos artistas e literatos, e aos sábios, raramente
honram com mais que a velha coroa de louros que os gregos instituíram há mais
de três mil anos como o mais alto louvor, contudo aos guerreiros sempre foram
concedidos os maiores encómios e para eles guardados os melhores lugares,
olhe-se para a história de Israel, para não irmos mais longe, e veja-se como os
lugares de presidente e de primeiro-ministro têm sido preenchidos, e por quem.
Relembremos o caso de De Gaulle, de
Kadhafi, de Saddam e, já que em tempos a imprensa não largou a luta de Luaty
Beirão em Angola, repare-se como toda aquela macacada assumiu o poder depois da
independência. Nem um general sabe ler, nem um conhece uma letra, mas treparam
às arvores durante os treze anos de guerras coloniais e mais trinta de guerra
civil. Hoje têm as estrelas e detêm o poder, e não são caso único, é o costume,
é a praxe em todo mundo, o saque dos despojos, o poder na ponta das
espingardas, as fidelidades e os sacrifícios têm que ser recompensados… E quando
os povos angolano e moçambicano quiserem libertar-se da tirania dos seus macacos
que irão fazer ? Declarar-lhes guerra naturalmente…
Por falar em macacadas a quem
demos ouvidos, quem ouvimos nós a seguir ao 25 de Abril ? Os poetas ? Os
escritores ? Os pintores ? Músicos, arquitectos ? Ouvimos Melo Antunes, os
Generais Spínola, Costa Gomes, Silvério Marques, Vasco Gonçalves, Galvão de
Melo, Soares Carneiro, os almirantes Rosa Coutinho e Pinheiro de Azevedo, foram
estes que ouvimos, estes e outros canastrões do género, e como se isso não nos
bastasse de seguida demos guia de marcha aos ordenanças, depois ainda se
admiram de termos chegado aqui, ou de como foi possível termos chegado onde
chegámos…
Na outra face da moeda cientistas, escritores
e etc. eram ignorados, até que, pela mão de Alfred Nobel se arranjaram uns
dinheirinhos para os parabenizar e honrar. Mas como foi que Nobel arranjou a
bagalhoça para tão altruisticamente assim esbanjar ? Cabum ! Com o poder de
violentíssimas explosões ! Com material
explosivo claro ! Até ali manusear nitroglicerina era assunto sério que
anualmente ceifava imensas vidas. Alfred Nobel descobriu uma forma de a
estabilizar sem lhe retirar a força destruidora. Criou a dinamite, foi o céu na
terra ! Doravante só se morreria, ou mataria, calculadamente e não mais
aleatória ou inadvertidamente.
Caricato este caso, contudo,
todavia mas porém, de entre todos os nobelizados têm sido mais distinguidos e
mais considerados os que surgem ligados a maior força ou capacidade destrutiva,
Einstein e a bomba atómica, Edward Teller e Hans Albrecht Bethe e a bomba de
hidrogénio, cinquenta vezes mais potente que a anterior, e na generalidade
todos os sábios nos ramos da física, da química, da matemática e da física
nuclear. Somente atrás desses grandes heróis e guerreiros virão então os Nobel
da Paz, da Medicina, da Literatura, da concórdia, da felicidade e do turismo e
lazer.
Eu
não desejaria vestir a camisola de Zelensky, um homem atormentado com os
trabalhos de Sísifo e de Tântalo, um homem que certamente já sabe estar a
solução do conflito na continuação da guerra, na guerra, como sempre foi, como
é e sempre será pois até quando em vias de conversações de paz os contendores se
esforçam ao máximo no seu esforço de guerra lançando ofensivas que lhes
permitam alcançar uma posição que lhes permita sentarem-se à mesa desfrutando
de uma melhor situação, mais vantajosa, apresentar mais trunfos que lhes garantam
sair desses acordos de paz como vencedores. Portanto não sou eu que o digo ou
defendo, é a história que no-lo diz, que no-lo conta, a guerra, é a solução,
sempre foi e continuará sendo.
O
tal meu amigo só tem desculpa porque deve ter passado tempo demais respirando
ares e olores que lhe plasmaram na cabecinha a bondade, o altruísmo, a
educação, os bons modos, a misericórdia, a dádiva, a entrega, o perdão, o amor,
a devoção, a dedicação, a atenção, a deferência, a moral, a ética, enfim,
princípios que igualmente partilho mas que nunca moveram o mundo.
Há
dois mil anos um tipo, digo um Senhor, apostou em todas essas coisas, e que
ganhou com isso ? Nada, népia, nadinha.
Foi
crucificado…