terça-feira, 24 de julho de 2018

519 - MULHERES INTELIGENTES, APANHÁ-LAS


 Naturalmente o que mais aprecio, do que mais gosto é da companhia duma mulher inteligente, há lá coisa mais agradável, acompanhando-a com uma cerveja, com uma bica, de mão dada ou aos beijinhos, passeando, falando, divagando, sonhando, ou por que não almoçando, jantando, lanchando ou tomando o pequeno almoço ?


Sempre gostei desse tipo de mulheres, sempre me atraíram, sempre me seduziram, e são cada vez mais raras, ou mais subtis, mais camufladas, mais inacessíveis. Por mim que as topo à distância e de imediato, posso jurar deparar-me cada vez com menos, por mim haverá menos, até pode ser mal meu, que estou mais velho, mais bonito e mais interessante, assim me penso e julgo, não garanto que assim seja. A massificação do ensino tem acabado com elas, agora são só Samsungs, Galaxys, Apples, Iphone 7 And sisters & brothers, pestanas de palmo e mamas, cus e pernas, tatuagens e piercings, sendo já muito raro encontrar um bom livro, sim um livro porque uma mulher inteligente é como um bom livro, até a gente fica com pena quando acaba de o ler.

E há cada livro, de leves, estreitos e maneirinhos a grossos volumes, encadernações cuidadas, capas duras, títulos gravados a ouro, lombada reforçada, páginas cosidas, há-as parecendo enciclopédias, cartapácios lindos, põem-me em bicos dos pés e com cuidado, meto e tiro ou tiro e meto, devagar, no espaço próprio da estante, respeitando o alfabeto, a numeração, o IX entre o VIII e o X, cada um em seu sítio, cada coisa no seu lugar, sou meticuloso.

Há mulheres que são livros, melhor ainda, são livros abertos, a inteligência ali à mão de semear, à vista, esbugalham-se-me os olhos, eu que de olhos gosto tanto, espelhos da alma, janelas, gosto deles redondos, amendoados, achinesados, pequenos, grandes ou pestanudos, grandes ou pequenos, sim pestanudos ou não. Tanto quão gosto de lábios, carnudos ou finos, dá gosto vê-los mexer, entreabrirem-se, adoro ouvi-los, adoro confrontar-me com uma mulher falando, já vos disse que adoro qualquer mulher inteligente, adoro ouvi-las falar, sempre e em quaisquer ocasião ou lugar. Antes ou depois de, ou enquanto fumamos um cigarrinho, já não fumo mas ficou-me o gosto pela conversa, p’lo prazer de conversar.

Esse prazer nunca me abandonou, eu sim, gosto do abandono, de me abandonar, sentir-me levar pela língua pátria, ouvi-la, sentir-lhe as vibrações, senti-la entrando-me no ouvido, ter o saber na ponta da língua, o saber e o sabor, sentir a ponta de outra ponta, o toque, o tocar, o sabor acre, ácido, álacre, o sabor das maçãs verdes, verdes como o vinho. Numa jarra uma rosa, num candelabro duas velas, toalha e guardanapos em pano cru, há mulheres que nos fazem esquecer o jantar, fica frio, a gente ouvindo-as falar embevecidos, não há como jantar com uma mulher inteligente, ou almoçar, ou cear, e beber, q.b. Não abusando porque também as mortalhas são de pano cru.

E os lençóis de linho de que serão feitos, de linho claro, clarinho, branco, branquinho, até que tudo em desalinho, depois o tal prazer de que vos falei há pouco, um cigarrinho, dois dedinhos de conversa, dois dedinhos bastam, ou só um, a conversa é tudo ou não é nada e é indiferente, um ou dois bastam p’ra contentar a gente. E pasma a gente de ouvir uma mulher inteligente, e embalamos, e quando assim é, não é que não nos calamos ?   As conversas fluem, são como as cerejas, a gente puxa uma e atrás vem um cento, atrás dumas vêm outras, como as conversas sim, uma coisa lembra a outra e a sequência sem fim, cerejas, morangos, mousse, chantilly ou chocolate, na hora da sobremesa que diferença faz, nenhuma, faria não havendo escolha, ou uma cereja no bolo que é como quem diz uma cereja na conversa, ou morango que nem caroço tem.


Adoro cuspir o caroço da cereja para longe, desde que ninguém esteja a ver claro, a ver claro ou a ver escuro, que diferença tem a luz em certas ocasiões, ou conversas, nenhuma, nem sou fotógrafo e a inteligência basta-me, a inteligência é luz, e é sabido ser da conversa que nasce a luz, a luz que alumia, o iluminismo nasceu de conversas, nessa altura ainda nem cigarrinhos havia, e tabaco haveria de chegar à Europa somente no séc. XVI, fui confirmar ao Google. Bem, não quer dizer que no resto do mundo não se converse, mas o iluminismo começou aqui, um pé na Grécia clássica, outro em Roma, depois Paris, e no séc. XVIII espalha-se pela França, Espanha, Portugal, Descartes, Espinosa, Marquês de Pombal. José de Azeredo Coutinho, José da Silva Lisboa, Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Francis Bacon, John Locke, Baruch Spinoza, ou Bento Spinoza, Cesare Beccaria, Voltaire, Denis Diderot, Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu, David Hume, Adam Smith e Immanuel Kant.  O Iluminismo centra ideias na razão como fonte de autoridade e legitimidade, defende ideais como liberdade, progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional, separação Igreja-Estado e liberdade individual.


Foi o séc. de Napoleão, que não sendo propriamente um iluminista nem iluminado defendeu os seus valores, e claro, tinha Josefina * e quem teriam tido todos os outros ? Uma boa conversa exige sempre uma mulher, uma mulher inteligente, por detrás de cada homem que se aproveite há sempre uma mulher inteligente, ou pela frente, diálogos francos, abertos, frontalidade acima de tudo ou por cima de tudo e depois ? Depois os enciclopedistas, eles e elas, na sombra escura claro que a mulher naqueles tempos só santa ou na alcova, com destaque para algumas iluministas que se furtaram ao esquecimento da história como Mary Wollstonecraft, Mary Astell, Catharine Macaulay, Adília Maia Gaspar, Olympe Gouges e a Marquesa de Chatêlet, pois não quero deixar esquecidas estas e estes iluminati, termo abrangente que tanto abrange gente que tinha tudo ou tanto de real quanto de fictício, embora nobres objectivos, opor-se à superstição, ao obscurantismo, à influência religiosa sobre a vida pública e aos abusos por parte do poder do estado. Digamos que os iluminati e os enciclopedistas eram a Wikipédia daqueles dias, a Google da altura.


Mas o que conta é a conversa, o que cada uma delas sabe, o que cada uma delas diz, é isso que delas faz as mulheres inteligentes que são e não o puxarem do smartphone e buscarem no Google, digo pesquisarem, já que não havendo a tal inteligência que seduz também não produz efeito, não encontra a resposta, ou a deixa afogada no meio de milhares d’entradas sem saber qual delas escolher, há muito disso. A massificação do ensino ora aí está, foi no que deu, só valoriza mamas, cu, pernas, um palminho de cara, uma tatuagem estratégica, um piercing excitante, depois dá nisto, uma cambada de gajas boas que mal abrem a boca e a gente foge de ouvi-las, foge de aturá-las, foge duma conversa séria ou menos séria, foge de fumar um cigarrinho, das jarras e jarrinhas, de rosas e rosinhas, de velas e velinhas, de lençóis de pano cru, ou de linho, nem que sejam de seda, a rota da seda é isso, uma desculpa, e qualquer desculpa serve, é preciso é a gente pirar-se, mas uma mulher inteligente ? Apanhá-la é uma sorte e uma felicidade.

É assim ou nã é Luisinha ? 
Tou falando bem ou nã tou kerida ? **