……
“não estou por dentro desse assunto”…………
Que
raio de resposta mais descabida !
Eu,
que vivi com uma mulher cheia de porras e não sei que mais me agradava nela,
talvez tudo, habituei-me a pensar como ela, a ver o mundo como ela, e como ela
nem sempre a gostar do que via, e do que vejo.
Era
uma mulher inteligente confesso, pelo menos eu assim a pensava, mas, mulheres
inteligentes… apanhá-las… Sempre gostei desse tipo de mulheres, sempre me
atraíram, sempre me seduziram, e são cada vez mais raras, ou mais subtis, mais
camufladas, mais inacessíveis.
Por mim que as topo à distância e de imediato,
posso jurar deparar-me cada vez com menos, por mim haverá menos, até pode ser
mal meu, que estou mais velho, mais bonito e mais interessante, assim me penso
e julgo, não garanto que assim seja… Muitas ainda me acham um viúvo
interessante e a não perder pois esporadicamente vejo- me surpreendido, prova
de que nem são capazes de me conhecer a fundo, por gente com quem convivo.
Eu
teria dado uma resposta do género;
Ando veementemente a tentar ficar por
dentro desse assunto mas nã tá fácil… tem-me faltado tempo.
E
pronto, estava salva a honra do convento. Não suporto que, havendo igualmente bué
de homens que não estão por dentro de coisa nenhuma, apareça uma ela a admitir
clara e humildemente que a coisa é preta….
A
vidinha nã tá nada fácil, decerto ela terá vindo dum mundo justo e será ingénua, inocente,
e que certamente ficará constrangida e confrangida com o que é e c’a situação
em que se encontra, volvidos cinquenta anos sobre aquela tal madrugada *
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
…
* Sophia de Mello Breyner Andresen
Por
isso, por tudo isso, por tudo em que te transformaram e que és quero pedir-te
desculpa, quero assumir perante ti a minha cota parte no estado a que as coisas
chegaram, pois humilde e vergonhosamente declaro, também eu acreditei na
democracia prometida. E também eu, como julgo ter acontecido contigo, com o
passar do tempo acabei por ficar desiludido, tu certamente terás sofrido igual
desilusão, já que a imagino ou a pareço ver em ti sempre que contigo me cruzo.
Culpa
minha portanto que, como muitos outros, também votei e acreditei demasiadas
vezes nos políticos venais que temos. Também eu tenho culpa que a tua cidade, a
minha, a nossa cidade seja a mais pobre e atrasada deste atrasado país, mea
culpa, mea culpa, mea culpa… Espero pois sinceramente que me compreendas e me
perdoes.
Em 79 podia ter ficado na Suíça e não o fiz
por acreditar nas promessas de Abril, mais tarde viria a dar completamente
razão a José Mário Branco no seu celebérrimo Lp FMI **
Uma porra pá, um autêntico desastre o 25
de Abril
Esta confusão pá, a malta estava
sossegadinha,
Estás desiludido com as promessas de
Abril, né ?
Com as conquistas de Abril !
Eram só paleio a partir do momento que
t'as começaram a tirar e tu ficaste quietinho, n'é filho ? E tu fizeste como o
avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, não
é ? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é
não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de
consciência, não andas aqui a brincar, n'é filho ? Precisas de ter razão,
precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da
frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de
Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, hã ?
**Extracto da letra de "FMI"
por José Mário Branco
Claro
que me lixei, não ter ficado na Suíça foi o meu azar. Este país nunca foi nem é
para novos, nem para velhos, neste país as oportunidades são para queimar, para
perder, por isso se dantes estávamos trinta anos atrasados em relação à Europa
agora estaremos cinquenta, talvez mais, há peculiaridades aqui que ninguém já
estranha, por exemplo sermos o único país do mundo onde os ladrões não assaltam
bancos, aqui são os donos, os banqueiros que os roubam, nós somente somos
chamados para pagar os prejuízos, é isto ter juízo ?
Talvez
vivamos numa das poucas cidades e dos poucos países do planeta onde em
cinquenta anos não resolvemos um único dos problemas que nos afligiam mas
cuidámos de arranjar outros, de arranjar mais, muitos mais. Que desiderato é
este que em simultâneo nos cala e anima como se vivêssemos no melhor dos mundos
?
Nem
sei nem consigo imaginar quantas oportunidades terão sido perdidas por ti, por
mim, por tantos outros nesta cidade e neste país por incúria, cegueira,
incompetência, ignorância, arrogância e estupidez das autoridades instituídas
e, por que não dizê-lo, dos cidadãos, dos intelectuais, dos sábios, dos
académicos, dos eleitores e tutti quanti preenche a fauna da urbe e do
rectângulo…
Quanta
gente pessoalmente irrealizada ? Frustrada nos seus sonhos ? Travada nas suas
aspirações ? Quantos caminhos barrados ? Quanta pesporrência ? Prepotência ?
Partidarismo ? Seguidismo ? Sectarismo ? Nem Estaline alguma vez terá ido tão
longe quanto por aqui, por cá, e é esta a democracia que nos querem impor ?
Lamento
amiga XXXXX, lamento que nos tenhamos vindo meter na caverna de Ali Babá. Por
aqui só há ladrões, tratantes, patifes, agiotas, facínoras, gatunos, biltres,
sicários, salafrários, especuladores, usurários e, nem o facto de sermos comedidos
ou por vivermos isolados nos safará desta cáfila que de há cinquenta anos p’ra
cá tomou conta da nação.
Quantas
vezes não me interroguei já se terá valido a pena aquela madrugada *…
E tu
??????????
Adeus
cara amiga, até que nos vejamos de novo, um grande abraço e votos sinceros de
Boas Férias.
Gosto
de ti.
P.S.
Não, não estou a querer engatar-te, nem a pensar nisso sequer…
https://mentcapto.blogspot.com/2018/07/519-mulheres-inteligentes-apanha-las.html