sexta-feira, 21 de março de 2025

830 - AMIGO, TANTA FELICIDADE IRRITA-ME... *

 

 

Olá meu caro amigo, bons olhos o vejam, tenho passado amiúde por aqui mas não há quem lhe ponha a vista em cima, você anda decididamente desaparecido.

 

Não que isso me incomode, para ser franco prefiro não o ver pois sempre que o vejo, em fotos ou vídeos claro, irrito-me, a sua felicidade irrita-me, tanta felicidade exaspera-me.

 

Saber que nem dá pelo dias passarem enquanto para mim cada um deles é um tormento sem fim à vista, como se tivessem não 24 mas 48 ou mais horas, e em que cada minuto é uma agonia sem fim à vista convoca a minha cólera.

 


Invejo-o, não há direito que uns tenham tudo e outros nada, é uma questão de equidade, de justiça, se a houvesse, divina, igualitária, admirável, surpreendente, impossível, mas não há e vivo como que uma sensação oculta mas inevitável, como uma ferida como se eu tivesse simplesmente sido expulso do paraíso.

 

Um mesmo amor bate em nós, frémito inevitável do corpo criando em ambos a sensação de existir perceptível hoje e todos os dias em que em mim a tristeza me atinge com violência inaudita enquanto a solidão me sufoca...


Pensei em falar contigo amigo, mas o amor que vives é-me impossível de suportar, fico sempre longe, enredado na saudade e pergunto-me que ganharia se nos encontrássemos ?

 


Só agora descobri esse teu grande amor, essa paixão que não posso igualar mas somente invejar ou apostrofar pois vives esse amor entre braços e abraços que já não me são permitido alcançar.

 

Que saudades de um abraço, nunca me arrependo por ter amado demais por isso tanto sofro enquanto fico aqui a esperando as sobras de um amor que me enlouquece, satisfazendo-me com simples recordações, com palavras que se vão apagando na memória quando meu desejo seria estar com ela entregando-me a esse amor que me vai sendo proibido até em meras lembranças.

 

Passo horas acordado lembrando os imensos momentos em que estivemos juntos e a imensa saudade sentida por não estar já ao seu lado. Sinto-me um escravo desse amor impossível que me consome de dor todos os instantes desta infelicidade com motivo e mistério que me tem sido tão absurdamente revelado.

 


Invejo-te tanto quanto te odeio meu amigo e espero que me perdoes a afronta, é que o amor também se alimenta de egoísmo e narcisismo, um amor para a eternidade assim o exige, quero enganar-me a mim mesmo, acreditar que haverá juventude e amor para sempre, quero encontrar ainda um sentido para esta vida para além do saber que todos iremos morrer um dia e essa a única certeza que me resta.

 

O amor é uma ilusão sem a qual não posso viver, é um fenómeno da ordem dos céus e do espírito, não mais que uma demanda na Terra, um profundo desejo de vivermos numa paz absoluta. Daí haver quem sem quaisquer dúvidas ame o infinito, deseje o impossível, quem não queira nada e quem deseje impossivelmente o possível, mas eu quero tudo, queria, porque amo algo "absoluto" e para mim ainda sem dúvida infinitamente finito, sim quero tudo ou um pouco mais, se puder ser, ou até não pudendo ser...

 

O teu amor a tua paixão exasperam-me. Todo o amor tem que ter um não sei quê de impossível, de angústia, de saudade que mata, de verdade, de fazer doer o coração, de fazer perder a razão, de sofrimento e sacrifício, de redenção... É isso que te invejo meu amigo.

 


Como posso eu amar alguém sabendo ser esse amor impossível, não lhe poder dizer quanto a amo, dormir e acordar pensando nela em sonhos tão perto de mim e não a poder abraçar, beijar, fazer um carinho sentir o cheiro do seu perfume, como amar tanto assim se não a encontro em lugar nenhum que não nesse sonho lindo que alimenta ainda este amor impossível se minha alma me sussurra para não desistir nunca, que me segreda e faz renascer em mim a esperança de que é possível seguir um e mais um dia desejando-a, amando-a e, ainda assim, persistir no logro, no engano, na ilusão.

 

Como não te invejar, odiar e apostrofar meu amigo se é por ela que passo os dias enganando-me que me visto e deambulo sob o sol até que Deus me mostra o rosto dela e eu, sem saber o que me espera teimo nesta vida impossível que alimento com o ódio que destilo. 


Perdoa-me meu amigo, perdoa-me mas como te disse o teu amor e essa tua paixão exasperam-me, cegam-me, roem-me por dentro, dão-me vida, alimentam-me….  




* NOTA: Entre as muitas apreciações que este texto não deixou de ter escolhi ao acaso uma delas, a da minha amiga Ana R por me ter parecido que engloba magistralment o sentir de todas as outras ; 

" Bom dia. Embora no texto refiras muitas vezes a palavra inveja, creio entender este texto como um elogio, quase uma ode ao amor.

Um amor que agora não tens mas que percebes por já o teres tido. Será uma inveja boa, não de raiva.

Quando se tem um amor como o do Francisco não pode haver crítica, "apenas" raiva por não viver um igual e o desejo de ter um semelhante ou de o encontrar.

Eu entendi assim.

Bom Domingo para ti também."  

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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE :

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DITO PELO DR MIGUEL CASTELO BRANCO no Facebook :

Alguma gente cheia de afectações intelectuais que se diz representante da "Academia" no hemiciclo parlamentar não me surpreende desde que recebi por incumbência rever duas dezenas de textos de senhores professores doutores, com toda a titulatura de pós-docs, coordenações científicas, prémios e aulas dadas nas europas e nos states, mas que cometem erros ortográficos palmares, desconhecem as concordâncias, os tempos verbais, as regras básicas de pontuação e se refugiam num indigno registo escrito pejado de marcas de oralidade, para além de uma pobreza vocabular própria de crianças de 12 anos, chegando alguns a cometer a proeza de escrever frases sem um único verbo.   (28-03-2025)