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segunda-feira, 9 de julho de 2018

E A REITORIA AOS COSTUMES DISSE NADA …



A reitoria da UE fez dar à estampa na edição nº 2384 do Expresso de 07-07-2018, no passado sábado, um artigo de opinião que o Diário do Sul já aflorara levemente no editorial de sexta-feira dia 6 mas de um modo tão pela rama que tornou o assunto incompreensível para a maioria dos seus leitores. A citada reitoria, e prefiro socorrer-me do termo reitoria por não desejar pessoalizar esta questão, portanto nem vou usar nomes pessoais nem tão pouco os substantivos reitor ou reitora, a questão implica e envolve a instituição universidade, portanto e apesar de estar ciente de que cada reitor lhe imprime o seu cunho pessoal, é de toda a justiça que não torne pessoal esta melindrosa questão.

Abordo-a contudo por julgar que nem os seus pares na academia nem os seus companheiros de partido ou sequer os amigos, receosos de perder uma prebenda, um jeito, um favor, se atreverão a pedir meças às suas palavras, e tanto pano que elas têm para mangas, que é como quem diz tanto que têm para ser cuidadosamente analisadas, já que se trata da posição oficial da academia sobre o candente tema das vagas no ensino superior, pois o citado artigo vem mencionado como tendo origem na senhora tal, identificando- a e identificando a sua qualidade na hierarquia da instituição. O artigo em causa será apresentado no fim destas minhas linhas a fim de que as mesmas possam ser bem interpretadas e julgadas por quem me ler, e inclusivamente conhecer a posição da academia, que como acabei de dizer, foi expressa pela sua máxima entidade em semanário público de grande circulação e tiragem.

Fez-nos a reitoria da UE saber a sua posição quanto à atitude governamental agora inclinada para unilateralmente cortar vagas no ensino superior nas metrópoles de Lisboa e Porto para as abrir nas instituições de ensino superior do interior do país, desse modo pretendendo o governo colmatar as assimetrias que se vêm acentuando a favor do litoral e em prejuízo desse interior. Ora um combate deste tipo contra as assimetrias sentidas esbarra com a mesma falta de lógica que as tem originado, mas a reitoria eborense, como o desiderato lhe convém, a universidade e o Alentejo têm perdido estudantes e população a um ritmo galopante, depressa aderiu à esdrúxula ideia governamental de, por decreto equilibrar este normal, natural e lógico desequilíbrio.

Estudantes e populações sempre se deslocaram para universidades de maior prestígio e áreas com melhor nível de vida, sobretudo para áreas que ofereçam melhores oportunidades e garantias de futuro. É dos livros, é normalíssimo, o êxodo rural em Portugal é velho de séculos. Deste modo arrevesado e caricato serão os estudantes obrigados por decreto a frequentar não as suas escolhas, mas por imposição as sobras das escolhas ou seja, cursos sem procura em cidades que ainda a têm menos e de onde todos fogem. 

Quanto às causas que a umas universidades dão prestígio e a outras o tiram a reitoria disse nada, e quanto ao facto duma região onde ela está instalada ter vindo paulatinamente a tornar-se a região mais pobre do país e da Europa, uma região de que vive divorciada ainda disse menos. Na realidade a reitoria foi clara ao afirmar que a transferência de vagas de Lisboa e Porto para universidades do interior não pode ser dissociada das assimetrias visíveis a todos os níveis entre litoral e interior, e eu sublinho, não pode ser dissociada das assimetrias visíveis a todos os níveis entre litoral e interior, sendo precisamente aqui que temos o busílis, a ilógica e aberrante transferência de vagas não pode ser dissociada das assimetrias, mas podem-no ser os anos e anos de acção / actuação / actividade da faculdade eborense que nada fez para impedir a sua própria queda e da região.

A reitoria desliga-se de responsabilidades nesse aspecto, a universidade, vistas as coisas pelo prisma da reitoria nada tem a ver com a quebra de estudantes e de população na cidade e região. Ela está cá para receber e beneficiar, e não para dar e distribuir, ela protegeu-se com uma cúpula doirada, sente-se lá bem, está lá bem, e a realidade circundante a ser mudada que o seja a seu desejo e por decreto. Poupem-na a trabalheiras porque há quase quarenta anos que a universidade vive sem uma verdadeira coluna vertebral, sem influenciar o meio nem o contexto, ainda que vivendo nele mas à margem do dito. A UE transformou-se numa casta vivendo alheada e desligada / divorciada da região, vive virada para o seu umbigo. Dum modo egoísta a UE raramente nos dá conta da sua interacção interior / exterior, a UE é mais amiga de aproveitar os louros do exterior em seu benefício travestindo-os de fama e proveito seu. Fê-lo com a tecnologia desenvolvida pela Embraer, fê-lo com a tecnologia desenvolvida pela TecniDelta II no ramo dos cafés. *

Noutro passo afirma a reitoria que tendemos muitas vezes a simplificar matérias que são complexas, como será o caso, eu acrescentaria que a faculdade simplifica a sua habitual e crónica apatia, marasmo, torpor, indiferença, indolência e paralisia pois jamais dei por ela reclamar por algo mais que fundos e mais fundos, e nada lhe ouvi alguma vez sobre a razões para a perda de estudantes por si ou quanto à perda de população pela região.

Insiste a reitoria não se tratar de opor as universidades dos grandes centros urbanos (Lisboa e Porto) versus universidades do interior, e na sua veemência quase garantir não se tratar de universidades com índices de qualidade elevados versus universidades mais mal cotadas, mas é precisamente disso que se trata ! É que quanto a mim, a queda de população estudantil que afecta a universidade e a queda de população do interior, ao contrário do que a reitoria diz tem de deixar de ser argumento para ser culpa e responsabilidade, a UE não contribuiu para reter nem aumentar o número de alunos nem populações, portanto não contribuiu para o desenvolvimento da região em que está inserida e com a qual, volto a insistir, vive um pleno divórcio há muitos anos mas à custa da qual vive sem que contudo preste contas.

Estou habituado a medir o resultado de politicas ou de acções pelos seus resultados, ao manter paralelo com a visão governamental unilateral que tanto apoia a UE volta a ignorar a região e o contexto e circunstâncias em que esta se inscreve e às quais a UE não pode ser alheia, logo não pode armar-se em defensora e apoiante da visão unilateral e governamental só por interesse, por comodidade, por essa visão lhe ser conveniente e vir ao encontro dos seus proveitos. Esta faculdade foi aqui instalada entre outra razões para promover (não digo ajudar) o desenvolvimento do Alentejo e do país, vê-la definhar e agarrar-se desesperadamente a soluções aparentemente conciliadores e repositoras de um equilíbrio entre assimetrias que a UE com a sua ineficiência ajudou a criar não lhe fica bem. Não estou a usar demagogia, é uma verdade aceite pela UE a perda de estudantes, tal como a demografia é exacta ao assinalar a perda de população e portanto, a julgar pelos resultados obtidos a UE falhou na sua missão, a menos que atire as culpas para cima de outros ou as deixe morrer solteiras. Embora eu aceite que as culpas são muitas, múltiplas e antigas, destas porém nunca ouvi a UE lamentar-se.

É a UE quem tem que defender os nossos interesses, nossos dos portugueses, alentejanos e eborenses, tem que ser ou devia ser a nossa vanguarda e não escudar-se atrás de nós, atrás das fraquezas que não nos ajudou a superar para todavia de modo oportunista aproveitar todos os meios para “facturar” em defesa dos “seus” interesses. A universidade de Évora terá que deixar o individualismo egoísta em que há muitos anos se encerrou, qual casta protegida, e ir à luta, fazer, abraçar a práxis, parar de engordar teóricos ávidos e gulosos, espremer a práxis, queremos coisas materiais, concretas, físicas, reais, produção, riqueza, emprego. Menos dialéctica balofa e mais trabalho, mais resultados, menos lamentos, menos queixas, mais acção, mais produtividade. 

Como pode a UE considerar inclusivas as reduções de vagas se um decreto não hesita em atirar pela força com alunos para fora das suas vocações, afim de os colocar contranatura no cesto dos interesses da UE e de outras faculdades do interior sem mérito para os atraírem ? Estaremos então a penalizar as faculdades eficientes e meritórias que ao longo dos tempos souberam criar uma tradição de honorabilidade que certamente não lhes terá saído barata, pois muito tempo e dinheiro devem ter investido em si mesmas para beneficiar quem as procure. Haverá alguma lógica em devolver, abusivamente apelando e usando a coerção, vagas a quem as perdeu ? É a velha irresponsabilidade e incompetência nacional, castigar, penalizar quem procede bem, aliviar e ajudar a quem pela sua prática e resultados já demonstrou que não chegou onde devia. Experimentem fazer o mesmo com as empresas cotadas na bolsa…

Talvez por termos atravessado o S. João a reitoria tenha puxado a brasa à sua sardinha, ela que puxe antes pelo desenvolvimento do interior. Sim sei o que tem feito e o que faz, mas é pouco, a julgar pelos resultados é pouco, muito pouco, pouquíssimo. Seja o Alentejo repovoado e os constrangimentos de que padece desaparecerão e não lhe faltarão alunos. Temos que ter presente e lembrarmo-nos constantemente que, ou todos por um e um por todos ou a coisa não funcionará…






Reprodução do Expresso de 07-07-2018 Ed 2384 
Reitoria da Universidade de Évora sobre as vagas no Ensino Superior

OLHAR O PAÍS COMO UM TODO

A proposta do Governo relativa à distribuição regional dos estudantes do Ensino Superior, que prevê a transferência de vagas de instituições de Ensino Superior (IES) dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto para as restantes IES do país vem abrir uma discussão há muito necessária e que não pode ser dissociada da assimetria, a todos os níveis, entre interior e litoral.

Tendemos muitas vezes a simplificar matérias que são complexas. É o caso. Não se trata aqui de universidades dos grandes centros urbanos (Lisboa e Porto) versus universidades do interior. Não se trata de universidades com índices de qualidade elevados versus universidades mais mal cotadas. Não se trata aqui de “proteger” umas instituições em relação a outras ou de beneficiar uns em detrimento de outros, nem IES nem populações. É, aliás, profundamente errado abordar a questão universidade a universidade.

O assunto não deve portanto ser encarado como estando a retirar-se vagas às instituições de Lisboa e Porto, mas antes como estando a devolver vagas retiradas às restantes instituições de ensino superior nos últimos anos. Os números são elucidativos:

O elevado número de vagas em cursos de formação inicial em Lisboa e Porto tem contribuído para uma deslocação privilegiada de estudantes para esses centros urbanos, em detrimento de outras regiões — 36% do total de inscritos nas IES Públicas de Lisboa e Porto têm residência fora dos Distritos do Porto e Lisboa, num número de cerca de 50.000 estudantes deslocados;

A queda de população no interior deixa de ser argumento quando se verifica uma disparidade entre o crescimento da população de Lisboa e Porto em relação ao ritmo de aumento de vagas nesses mesmos centros urbanos — enquanto, entre 2001 e 2016, a população residente aumentou 5% em Lisboa e reduziu 3% no Porto, o número de vagas iniciais atribuídas aumentou 42% no distrito de Lisboa e 13% no distrito do Porto.

As IES públicas de Lisboa e Porto têm 44% de vagas do Concurso Nacional de Acesso, 48% do total de inscritos no ensino superior público, mas apenas 36% dos estudantes bolseiros. Logo, a população potencialmente mais afetada pela redução de vagas tem características de menor carência socioeconómica que o resto do país. A proposta de redução de vagas é portanto, também, fortemente inclusiva.

Se tivermos em conta que a proposta do MCTES, que prevê a redução de 5% de vagas nas IES públicas sedeadas nos distritos de Lisboa e Porto e o mesmo aumento nas IES sedeadas noutros distritos do país, apenas vem reduzir 1103 vagas em dois distritos do país e devolver 1430 aos restantes, podemos facilmente concluir que não se trata de introduzir uma medida artificial que obriga os candidatos a deslocarem-se para o interior do país, como tem sido afirmado, mas sim corrigir um caminho que tem apontado no sentido único da concentração em Lisboa e Porto.