Vive
no Algarve ao alto da praia do Vau e de onde, manhã cedo, adora ver o mar que o
Infante conquistou enquanto toma o pequeno-almoço.
Na
larga chávena de leite com chocolate inventa o mar e as ondas enfrentadas pelos
marinheiros de então, agitando o leite com a mesma palhinha plástica por onde
sorve a beberagem que a marinhagem não tinha mas havia de trazer num
torna-viagem, o célebre chocolate com que ela se delicia.
Não
fosse a mãe chamá-la na pressa de a levar para a escola e a Milinha ficaria
horas olhando o mar e inventando histórias de mares e de mostrengos, de fogos
de S’Antelmo e d’outras diatribes tais que a professora Benevides lhe ensinava
e contava pacientemente nas aulas.
Às
aulas Milinha preferia as histórias, ouvidas ou inventadas, pegando as naus
imaginadas pela ponta do mastro, a tal palhinha servindo-lhe de bebedouro e por
onde sorvia a beberagem dos marujos dizia ela, até que um dia…
Até que um dia, depois do sorvo final e do
qual gostava de ouvir o som rouco da palhinha sugando o ar acabado o leite com
chocolate, xxxxrrrrrrrrrrr, ao pegar nela e no preciso momento em que a atirara
para o balde do lixo se lembrou;
- Que viagem faria aquela
palhinha, aquele mastro de cesto da gávea se á deriva fosse deixada ?
E disso se foi lembrando p’lo caminho, e na
escola toda a manhã, até que aos poucos e devagarinho foi riscando num mapa
mundi que o paizinho lhe arranjara, o percurso da deriva imaginada dum mastro
levado por medonha tempestade e arrancado á Nau Catrineta, digo à palheta ou a
palhinha que em cada dia ela atirava, não para a gaveta donde as retirava, mas
para o balde de onde se sumiam da sua vista e consciência.
A
verdade é que dia após dia e com a ajuda do professor de geografia e da amiga
Bia, lá foi marcando, escrevendo, anotando e registando o inimaginável e
sinuoso avanço da palhinha. A coisa começou sendo sabida primeiro na turma,
depois na escola e aos poucos todos e cada um vinham acrescentando uma
hipótese, todas elas plausíveis e como tal todas elas registadas, já que era
suposto e admissível a cada uma dos milhares de palhinhas ter uma deriva, digo
um rumo, um percurso diferente das demais.
Até
os pais, desejosos de participar na aventura da palhinha sugeriram á Milinha
que somasse, ou pelo menos tentasse por alto calcular qual o número de
palhinhas nesse dia em movimento, em deriva, pois tantos mastros haviam de ser
muitos mais que pinheiros teria o pinhal de Leiria. E assim fez a Milinha,
coisa de que incumbiu igualmente toda a turminha, dando o mote ou o pontapé de
saída para a corrida dos números, números inteiros, números primos e não
primos, pois havia que apurar a verdade verdadeira, como muito bem disse a
professora Piedade, que professava matemática e há muito esperava com ansiedade
por uma oportunidade de participar na demanda, dela se servindo para motivar na
aprendizagem as mais burrinhas das suas educandas.
Praia
do Vau, em Portimão, palmeiras, 90.000 habitantes, e se um terço deles fossem
crianças seriam elas 30.000, e se um terço desses milhares de crianças usasse
palhinhas, seriam 10.000 as palhinhas atiradas cada dia com ousadia para os
baldes ou lixeiras.
10.000
palhinhas por dia Milinha ! Dez, vezes 365 dias, dariam qualquer coisa como
3.650.000 palhinhas ao ano só em Portimão. Era muita palhinha. Eram demasiadas
palhinhas. E quanto pesariam lembrou nos dias seguintes a professora de
ciências, uma loira de Avintes. Com um peso de 3 gramas por palhinha X os tais mais de 3
milhões delas, seriam nada mais nada menos que Y toneladas. É muita tonelada, muitas
mais que sardinhas pescava a traineira do paizinho do Morais, pescador e
pecador diria o Padre Amador, que amava o senhor Deus e os demais.
Ademais
com tanta palhinha à solta ou á deriva, algumas escapariam de ser enterradas no
aterro Municipal, uma estrumeira descomunal, qual delas de todas a maior, já
que quaisquer cidadezinhas as tinham, de Portimão a Campo Maior. Foi quando a
Guiomar se lembrou de imaginar o percurso aleatório duma palhinha ocasional,
fugida a um aterro monumental e andando p’la vida aos trambolhões, como se ao
desterro tivesse sido condenada pelos beberrões.
Suscitou
pesar, choro e Lágrimas entre a turma a sorte dessa palhinha perdida, e logo
cada um se pôs a cismar o que lhe aconteceria até chegar um dia ao mar.
Choveram redacções e composições que o professor Simões viu e reviu, gabando ou
criticando o português de cada aluno e chamando a atenção para a língua pátria,
para a gramática, a sintaxe e a semântica.
Que
coisa mais romântica pensou a Milinha, sugerindo á turminha a compilação dos
textos e que lhes dessem o nome de Romance Da Palhinha. Coisa mais
engraçadinha. E já agora também eu vou meter a palhinha, ou melhor meter a
perninha, o pezinho ou a mãozinha nesta história da palhinha, e juro oferecê-la
á Leonor, a minha já nada pequenina netinha, ela como eu amante da palhinha,
digo e emendo para que não haja confusões, amantes de chupar pela palhinha,
digo chupar o leite ou qualquer outra bebida pela coisinha, pela palhinha.
Esclarecidos
e esclarecidas ? Não quero aqui confusões !
E
vai daí choveram lições, Isto é textos com milhentas razões pelas quais não
devemos usar as simpáticas e práticas palhinhas, as piores inimigas dos animais
em terra e nos ares, nos mares e oceanos, aspecto que atingiu dimensão tal
estando fazendo dos humanos autênticos seres, mas desumanos. Pensemos e oremos
pois a Isabel Avó, uma menina pequenina escreveu sozinha ela só, a história da
palhinha Verdinha, uma história de meter dó e peninha. Ora vejam só;
Levada
ao acaso pelo vento da mesa da Esplanada do Parque como se soprada por um
cata-vento, a palhinha Verdinha rolou, voou, rebolou por um momento, até cair
num terreno lamacento onde ficou a coitadinha da nossa palhinha Verdinha. Ali
esteve dias, semanas e meses, até que um cão rabugento raspando o chão em busca
de ossos, soltou do seu tormento e cativeiro a tal palhinha Verdinha, que nem
um momento hesitou e se levantou para de novo e logo ser arrastada p’lo vento.
Todavia
pouca sorte teve, pois foi parar a um tubo de descarga que na estação de
tratamento de esgotos a descarregou, um sítio deveras fedorento que a
aprisionou e donde só um milagre a soltou. Valeu-lhe ser magra e esguia,
comprida e fininha, magrinha, flexível e ginasta contorcionista, o que lhe
permitiria passar apertadinha entre os intervalos de uma rede já gasta, para de
novo se encontrar livre a atribulada palhinha Verdinha, para que logo depois de
novo uma rajada de vento pegasse nela, apesar de suja e mal cheirosa. Contudo
na ânsia de ser livre, mesmo assim voou, voou, levantou e aterrou.
Voou,
voou, levantou e aterrou, até que num golpe de sorte amarou em rio do
barlavento algarvio, o qual lhe deu banho e ao mar a entregou, quando chegado á
foz desaguou. Até que enfim o mar, o mar primevo onde tudo começou, a primeira
célula, o primeiro ser vivo que do mar galgou para terra, evoluiu e viveu
milhares de milhões de anos, até aprender ou desaprender a beber por mim, a
palhinha Verdinha, verdinha como a cor que eles humanos elegeram na defesa de
um ambiente limpo e são, mas que raio de contradição.
E de
contradição em contradição caminha para a perdição o ser humano, anuiu
Sebastião Transmontano, filósofo e coveiro no cemitério dos Remédios, onde
acabam por ir parar aqueles para quem a vida não encontrou remédio ou condenou,
c’o amianto, c’a legionela, com os gases de estufa, com as mil e uma doenças
que as alterações climáticas com que as agressões ao ambiente ripostam, qual
vingança contra quem sem pudor e sem vergonha, como ferro que brilha mas oxida,
enferruja, devolvendo-nos todas as malfeitorias de que contra este mundo somos
capazes de urdir e perpetrar.
Perpetrar
e não amar, o busílis da questão. Quanto às palhinhas verdinhas, amarelinhas,
azulinhas, vermelhinhas ou branquinhas, matam nos oceanos tudo que se lhes
atravesse na frente, dizem-nos com palavras e vídeos a Isabel Avó e a Greta.
Matam que se fartam e são aos milhões, caso para termos pesadelos e visões. Saberemos
nós quantos animais essas palhinhas e outros objectos plásticos diariamente matam ?
E tu
ainda usas a palhinha ou vais mudar de intenções, de práticas ou de orações ? E
são Veras essas tuas intenções ? Parabéns á Zabelinha e á Milinha e a quantos
deram azo esta pequena historiazinha.
Milhões
de beijinhosss <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3