Tu por aqui Baiãozinho ?
Pensei que disseras não voltar mais e afinal cá estás, tu não és passarão
destas bandas e aqui nem se passa por mero acaso.
- Olá ó merceeiro,
como tá tu ? E a minha prima como vai ? Tens tratado bem dela ? Nunca ouviste
dizer que o criminoso volta sempre ao local do crime ? E o pasteleiro ao local
do creme ? Posso ter feito uma afirmação
dessas em relação a alguma coisa especifica, de resto nunca pensei deixar de
fruir o que me é sugerido e até gosto do café daqui, da esplanada e dos
gelados, evidentemente que no tempo deles.
- Mas saberás haver
quem não aprecie os teus passeios por aqui, ou não percebeste ainda isso ?
- Claro que já
percebi isso ó caramelo, isso e muito mais, nem é coisa de que me admire, porém
acho que o país e a cidade e todos nós perdemos muito com esta doentia falta de
critica e de críticos, vê só onde chegámos, ao buraco a que chegámos sem que
ninguém aparentemente tenha dado pelos maus caminhos trilhados, um país inteiro
numa fossa. Claro que sei, folgo até com a atenção que me prodigalizam ainda
que eu faça os meus juízos mais para me entreter que outra coisa, mas olha, reparaste, por exemplo, que a iluminação da igreja foi melhorada ? Pois não te esqueças de agradecer cá
ao "je".
- Pois pois Baião,
era mesmo aí que eu queria chegar, as tuas opiniões, digo as tuas criticas
parecem não ser bem aceites, não digo que sejam injustas ou despropositadas,
digo apenas que não cairão bem em certos meios.
- Amigo Hermes, há
uma diferença considerável entre critica, criticismo e má língua, se não me sentisse capaz
de avaliar alguma coisa nem abriria a boca, quanto ao resto, e sendo a coisa
pública está sujeita a criticas, e eu no direito de as criticar, tanto mais que
há ali dinheiros públicos, dinheiro dos nossos impostos, e dos meus, vejo ali
anunciados apoios da DRCA, da CME, provavelmente haverá subsídios da DGA, há
patrocínio de uma importante fundação da terra, cabe-me portanto todo o direito
a formular as minhas apreciações e avaliações e a torná-las tão públicas quão
públicas são as exposições ou as instalações que uma qualquer associação
promove aqui nesta igreja. Quem se aventura em público tem que ver a critica
como algo que faz parte do ar que se respira, evidentemente falo de criticas
justas, isentas, desprovidas de sectarismos, sem quaisquer engajamentos a
lealdades morais, politicas ou religiosas.
- Sim sim Baião
tens razão, uma crítica justa deveria até ajudar a melhorar as coisas, a
assinalar o que esteja menos bem, mas como sabes o tuga convive mal com
qualquer critica, para ele critica é sinónimo de destruição…
- Tal qual Hermes,
mas eu não funciono assim, procuro um certo distanciamento e evito emitir um
juízo formal ou especifico contaminado pelo preconceito ou pela subjectividade,
e nunca esqueço que a apreciação de uma obra ou o prazer que ela nos
proporciona ou não, envolve uma atitude subjectiva que ninguém consegue impor
ao observador, pois os valores e sentimentos estéticos que este carrega,
chamemos-lhe grelha de referência, é-nos anterior à apreciação e, se por um
lado nos ajuda a “ver” o exposto, por outro também dificulta que nos imponham
um gosto ou um ponto de vista.
- Estás a dizer-me
que quando entras numa exposição já vais com uma ideia preconcebida Baião ? Já
vais de faca afiada pá ?
- Não ! O que eu
estou a dizer-te é que vou munido de bagagem, de conhecimentos, de uma grelha
que me permite ver como se levasse binóculos e que essa visão é mais rica por
ser informada mas não deixa de ser minha, e de ser subjectiva, repara nas unhas
da Tininha, eu aprecio o fúxia mas tu podes preferir o lilás, sendo essa liberdade
de opção ou de gosto que gera o tipo de subjectividade que não deve nunca
passar para a critica.
- Então as más
vontades contra ti poderão resultar de mal entendidos Baião ? A verdade é que ainda que tenhas razão, e sei
que tens, alguém preferiria que não aparecesses, que não te pronunciasses, e se
assim for só pode ser má fé contra ti ainda que eu não entenda o seu
fundamento. Realmente dizer as verdades ou ter razão pode ser prejudicial, só
neste país, assim estamos como estamos...
- Não, julgo que não Hermes, sou sempre
objectivo nas minhas criticas, e suficientemente cuidadoso para não gerar os
mal entendidos a que aludes, aliás uma critica, ou o facto de se criticar algo
ou alguém tem um protocolo ético que nunca mas nunca ultrapassei amigo Hermes,
senão nota, é um código de conduta que adoptei para mim mesmo há muito tempo:
Primeiro:
a crítica deve ser justa, justificada, objectiva, precisa e claramente
especificada ou dirigida, a fim de não existirem duvidas quanto ao seu
objectivo e identificar sem rodeios o alvo, que deve ser único em cada caso, deverá
portanto ser inequívoca. A crítica deve cingir-se a situações concretas.
Segundo:
a crítica deve ser sempre bem elaborada, clara, concisa, a critica deve ser
educada, correcta, comedida, não deve amesquinhar o destinatário e muito menos
apoucar o emissário.
Terceiro:
a critica deve evitar opinar, preconceitos e juízos de valor, a critica
refere-se a coisas, a situações, não a pessoas, a doutrinas, a confissões,
credos, pontos de vista ou posições, para estes casos existe a contestação.
Quarto:
a crítica deve basear-se em factos concretos, a critica não pretende formar mas
informar e influenciar; alertar, a critica deve avaliar expondo e contendo razões
fundamentadas.
Quinto:
a crítica carece de conhecimento, se desconhecermos ou não entendermos o que
observa não critiquemos. A crítica exige conhecimento e coragem não devendo
comportar hesitação ou cobardia.
Sexto:
a crítica vale pela substância, deve ser frontal e incontestável, e não sub-reptícia
ou subterrânea, a critica não é um boato, não deve ser baixa (de baixeza) nem
soez.
Sétimo:
a crítica exige frontalidade, criticar não pode ser confundido com o acto de
atirar a pedra e esconder a mão, nem deve ser feita por ignorância, mau caracter ou estupidez.
Oitavo:
a crítica está certa ou errada. A crítica deve credibilizar quem a elabora sem
desonrar quem a recebe.
Nono:
a crítica é uma atitude pessoal e deve estar isenta de má fé, sectarismo,
dogmatismo, engajamento e todo e qualquer partidarismo.
Décimo:
a crítica deve ser fácil de ler e mais fácil ainda de compreender.
- Belos princípios Baião,
mas não sei se sabes que certa gente não funciona assim, há gente que atropela toda
a ética e toda a moral e para quem os fins justificam os meios, e isso é o que
mais se vê por aqui. Mas afinal quanto à exposição o que me dizes ?
- É um peso pesado,
tive o cuidado de pesquisar na net, mais de mil entradas no Google.
- Um peso pesado
? É só o que tens para dizer ?
- Estás a dois
passos dela, se queres saber mais levanta o cu da cadeira e vai vê-la.